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terça-feira, 15 de julho de 2014

Um Amor de Verao, um Amor de Uma Vida

 

Sentado agora ali, algures no areal de areia fria molhado pela agua que estava gelida das ondas do mar porque o sol da tarde ja se fora embora como todos os outros que tinham abandonado a praia deixando-a solitaria, calma e deserta, ouvindo a sinfonia de um vento calmo e fresco ideal para um final de tarde de Verao e o ruido das ondas que teimosamente iam batendo nos rochedos mais proximos um ruido que era acompanhado pelo barulho das gaivotas que sobrevoavam a praia. Suspirava, olhava os barcos dos pescadores que partiam para a pesca e pensava, pensava no futuro! Que futuro? Ele proprio destruira quase toda a sua vida e tudo ao seu redor por culpa daquela hippie americana, raios a levassem para o inferno desejava ele assim como o destino a levara para longe dali como levava os habituais turistas estrangeiros que so ali vinham passar a temporada de Verao, louco fora ele em ter ido atras dela.


Nos ultimos anos desde que entrara para a Faculdade tentara ajudar os pais a custear os seus estudos embora viesse de uma familia com boas condicoes economicas como quase todas as outras ali da zona, aquela zona Cascais - Sintra era de gente rica, importante, influente e a familia dele fazia parte desse grupo de pessoas.

Praticava Surf desde dos primeiros tempos que entrara para a escola preparatoria com muito custo convencera os pais a autoriza-lo a fazer e fora a conta do querer praticar essa paixao que o pai lhe resolvera dar-lhe a primeira licao do que era a vida se ele queria praticar Surf e ter um bom equipamento entao teria de ser ele a compra-lo e entao la o colocou a trabalhar nas ferias no escritorio da empresa de advogados da familia como moco de recados no fim do mes em vez de lhe dar um ordenado levou-o a uma loja de material desportivo comprou-lhe uma prancha de madeira long boards ainda nao havia as modernas pranchas feitas de material polietileno. Comprou o lash, parafina e o neoprene ou seja o fato de borracha dos surfistas, o pai pagou olhou-o sorridente tinham feito um acordo de cavalheiros e ambos haviam cumprido a sua parte.

Os anos passaram Luis Salgado era um jovem promissor na pratica do Surf o unico que estava ao nivel de competir com os grandes surfistas mundiais como o seu idolo de sempre Kelly Slater ou Garrett McNamara, ele Luis embora fosse a principal esperanca do Surf portugues estava enraizado noutros projectos e sabiam que eram nesse que estava o seu futuro, acabara de entrar na faculdade onde iria fazer o curso de Direito para ser Advogado e ter uma carreira brilhante como o pai ainda o tinha e o avo o tivera.

Nas ferias quem o queria ver era ir a praia onde com as economias da mesada abrira uma Escola de Surf em conjunto com dois amigos e o negocio ate prosperava sentia-se feliz e realizado mesmo sabendo que um dia ou ia ter que abandonar aquele projecto na totalidade com com muita dificuldade o manteria como algo secundario na sua vida.

O que era aquilo! Aquela tipa loira a beira mar a bronzear-se seria uma sereia? Nunca vira uma corpo tao escultural e uma imagem tao perfeita  da beleza feminina, levantou-se a correr da esplanada onde estava a beber uma imperial com uns amigos e foi ate ao areal para junto de onde a sereia tinha dado a costa, nao chegara a completar todo o caminho e ela se levantara enrolara uma toalha a cintura e seuguira na direccao da escola de surf, queria ter umas licoes.

Era dos Estados Unidos mas o ingles para Luis nunca fora problema em minutos ja estavam a conversa e a equiparem-se para a primeira licao, chamava-se Helen e era de Sao Francisco na California e tinha o facto curioso de ser de uma familia de hippies. A sua voz encantava-o, o cabelo, os olhos tudo o resto o apaixonava.

Helen deixara-o cego de amor numa cegueira tal que nao viu para os caminhos que a mesma o estava a levar quando deu por ele estava ali dias depois a beira mar  a fumarem marijuana. O dinheiro comecou a faltar, Luis comecou a fazer uma vida diferente da que fazia ate entao, noitadas, dias trocados por noites e as mesmas pelos dias o que comecou a desagradar o pai que sempre vira nele um exemplo de boa juventude.

Luis ja nao queria saber de praticamente mais nada que nao fosse Helen a sua vida estava alterada assim como toda a sua rotina preferia ficar a ver o por do sol que preocupar-se em gerir o negocio da escola de surf, estava a espera dela e vira-a chegar a praia com ar de quem nao trazia nada de agradavel para lhe dizer e assim o fora, o Verao estava a chegar ao fim ela tinha que partir o dinheiro que tinha estava a acabar Luis fez ve-la que dinheiro com ele nao era problema mas ela falara-lhe da familia, dos deveres e borigacoes assim como do continuar os estudos, fumaram juntos o ultimo cigarro com haxixe, entre outras coisas, promessas e juras que ela lhe fizera e agora nao cumpria ele tornara-o um consumidor de drogas.

Tambem ele partiu nao gostava mais daquele lugar ou sentia que ja nao conseguia viver da mesma forma. Sem apoio da familia o pai cortara-lhe a mesada e jurara-lhe nao o ajudar em nada mais, partiu com a cabeca cheia de ilusoes convencera-se a ir trabalhando aqui e ali e ir sempre em frente ate Sao Francisco sabia onde reencontrar Helen. Trabalhou em esplandas de Amesterdao, antes tocara violino nas ruas de Paris e Barcelona ate chegar a Roma e ai conseguiu nao uma fortuna mas dinheiro para chegar a Sao Francisco, partiu sem demora depois de conseguir ter um visto no passaporte.

Sao Francisco ao contrario de outras cidades nao lhe parecia diferente daquilo que vira em postais e na televisao, ate mesmo a California nao era diferente daquilo que vira ate entao. A ponte ali estava Golden gate, Bay Bridge, Coil Tower e tanto mais nada o impressionara. Chegara ate ao ponto onde podia encontrar Helen e encontrou-a sete meses depois do ultimo momento que tinham estado juntos estava casada a ja quatro meses, ignorou-o e pediu-lhe que se fosse embora, ele nao passara de uma aventura, um amor de Verao, os mundos de ambos eram opostos e nada tinham em comum senao o terem trocado uns momentos de prazer. Segundo ela mesmo tinham feito amor era um facto mas isso nao os prendia forcosamente um ao outro se essa fosse uma razao para tal muito antes dele ela estaria forcasamente presa a um verdadeiro batalhao de homens.

Regressou a Portugal como um vagabundo sem rumo o pai nao o aceitara em casa, nao tinha condicoes para manter o estilo de vida a que estava habituado e nem sequer podia continuar os estudos e o pior e que ja se tinha tornado um toxicodependente que consumia heroina e cocaina, nao sabia sequer se estava a beira do abismo se a porta do inferno tudo o que ganhava com a Escola de Surf era para sustentar o vicio.

Com muito custo, com muito custo mesmo a mae convencera o pai a interna-lo para ele ir fazer uma recuperacao e la o aceitou em casa quase um ano depois de ter regressado da viagem que fizera pela Europa ate a California, tiveram uma conversa dura e seria onde o pai o avisara que ia pagar-lhe o internamento mas que seria uma vez sem exemplo e fazia-o mais pela mae. Ele aceitou as condicoes, ouviu o sermao e deu razao ao pai, jurou ali ao mesmo que havia de pagar tudo ao pai ate ao ultimo tostao quando sai-se da clinica e comeca-sse a trabalhar o pai sorriu com uma gargalhada forcada e avisou-o que muito teria ele que trabalhar entao.

Tudo correra como previsto e na clinica e no centro de recuperacao as coisas nao foram faceis mas ele tinha-se curado e estava agora a caminho de se tornar um ex toxicodependente, voltara a gerir a escola de surf, apanhara o trespasse de um bar na praia e voltara a competir, ia tambem voltar aos estudos no proximo ano lectivo e pedira vezes sem conta perdao ao pai e mae por todo o mal que lhes causara, o pai apenas lhe dissera que os erros so serviam para se chegar a perfeicao.

Que era aquilo ao longe viu mais uma vez sereia, loira dar a costa, nao podia ser tinha que ir la meter conversa. Ela estendera a toalha e deixara-se estar no areal a apanhar banhos de sol ele um mulherengo incuravel e incorrigivel ja se aproximava pousou a prancha e olhou o mar, olhou a figura loira, branca, olhos azuis so podia ser nordica talvez dinamarquesa, sueca ou talvez germanica alema, holandesa, qualquer coisa assim. Fosse o que fosse ele jurara a si mesmo que nao iria sair dali sem saber algo mais sobre aquela nova sereia, o nome, sim saber o nome dela era um comeco.

- Podias-me fazer um favor? - pediu-lhe ela com uma pronuncia razoavelmente boa, quase que perfeita e sem grandes esforcos onde somente se notava um acentuado sotaque sobretudo nos r. - Podes passar-me o creme solar nas costas?
- Quem, quem, eu! - gaguejou ele. - Estas a falar comigo?
- Sim, querido esta aqui mais alguem junto de nos. Quando te vi aproximar quase que jurava que querias estar perto de mim.

Foram conversando enquanto ele lhe ia passando o creme nas costas, logo ficou a saber que ela se chamava Eva e que era holandesa mas nao era uma turista, era filha do novo Embaixador da Holanda em Portugal e era por ali mesmo que tinham decidido ficar a morar, foram conversando e foram-se aproximando.

Nao passado muito tempo via-a entrar na sala de estar da casa dos seus pais para um Jantar onde queria apresentar-lhe a nova namorada com quem toda a familia simpatizou o pai deu-lhe os parabens pelo bom gosto era sem duvida uma bela rapariga, do noivado ao casamento fora um passo muito rapido, era sempre assim quando se estava realmente apaixonados ou quando se tinha a certeza de se ter encontrado a pessoa certa.

Vinte anos se tinham passado os filhos estavam a entrar na fase adulta, uma rapariga e um rapaz tudo aquilo que tinham desejado, ele Luis Salgado era agora um dos advogados mais prestigiados e reconhecidos da capital que aproveitava todo o pouco tempo que tinha livre para estar com a familia e em especial com a esposa com quem gostava de ir dar passeios a beira no areal da praia onde se tinham conhecido e quase sempre entre um abraco e um sorriso lhe dizia a mesma coisa.

- Ha amores de Verao, ha amores de uma vida. - sorria entre uma pausa. - Tu foste um amor para toda a vida que me apareceu num Verao.

Sorriam, voltavam-se a abracar como era bom continuar apaixonado da mesma foram que estava a vinte anos atras, aquele era sem duvida, um amor de uma vida.

                                                                                                        Manuel Goncalves

2 comentários:

  1. Estamos sempre agradecidos a quem nos fez conhecer o amor. Sem isso, nunca o conheceríamos. Mas o amor sem anúncio de retorno torna-se o mais difícil dos amores. Mas é amor. Vale sempre a pena e é, em último caso, o que justifica tudo. Mesmo que o outro não nos possa responder, sabendo bem que nos ama também, enquanto o lembrarmos valeu a pena.

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  2. Caroline como voce sabe como diz o grande poeta classico da literatura portuguesa, amor e fogo que arde sem se ver. Por vezes temos que ter cuidado com o fogo senao, somos queimados :)

    Amor é fogo que arde sem se ver ...

    Amor é fogo que arde sem se ver,
    é ferida que dói, e não se sente;
    é um contentamento descontente,
    é dor que desatina sem doer.

    É um não querer mais que bem querer;
    é um andar solitário entre a gente;
    é nunca contentar-se de contente;
    é um cuidar que ganha em se perder.

    É querer estar preso por vontade;
    é servir a quem vence, o vencedor;
    é ter com quem nos mata, lealdade.

    Mas como causar pode seu favor
    nos corações humanos amizade,
    se tão contrário a si é o mesmo Amor?

    de Luís Vaz de Camões

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