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sábado, 25 de outubro de 2014

Baptista, Vitor Baptista o Rapaz do Brinco de Ouro

 

Memorias, sim apenas lhe restavam as memorias embora memorias boas e mas todos as tivessem. Ele vivia das suas, dos seus momentos de gloria, conquistas e vitorias vivia de tudo isso mas era tudo passado que ele nao soubera aproveitar, melhor, aproveitara enquanto o dinheiro nao terminara e enquanto ele nao caira no abismo escuro e profundo, nos dias de hoje como fora um idolo e vedeta nos dias presentes comia de esmola e favor num restaurante da cidade que considerava que tendo ali a antiga vedeta e idolo era uma forma de chamar clientes. Vivia miseravelmente numa barraca num dos bairros mais perigosos da cidade e trabalhava como Funcionario Publico, actualmente era Coveiro, amanha nao sabia o que seria, sabia apenas que nao seria mais estrela, vedeta, idolo. Tivera tudo para que isso acontecesse mas todas as oportunidades que tivera deixara-as fugir com atitudes de gente louca.

Sorria sempre que recordava aquele momento, sempre que lhe falavam nisso. Ele o Coveiro que hoje vivia numa barraca, sem agua, sem luz em condicoes miseraveis no Bairro da Bela Vista em Setubal provocara um dos momentos mais caricatos e insolitos do futebol portugues. Um Benfica-Sporting o classico e Derby de Lisboa portanto ele com uma bomba fora de area em genero de pontape de bicicleta faz um golao, celebrou com os colegas como ninguem, ate que... No meio dos abracos e festejos o seu verdadeiro talisma havia caido da orelha e estava perdido, tinha de o encontrar, fez parar o jogo bem durante dez minutos, primeiro ele, depois colegas de equipa e amigos, adversarios e ate equipa de arbritagem tudo a procura do brinco do Vitor durante mais de dez minutos em vao, o brinco, o seu talisma estava perdido.

Ele havia ou nascido no sitio errado ou na altura errada assim alguem o descrevera so em medos dos anos 90 passou a ser moda os homens usarem brinco em Portugal mas ele era especial ele era o Vitor Baptista e nos anos 70 ja o fazia. Um tal de Tom qualquer coisa como ele o nomeara e que ele nao chegara a conhecer olheiro do Liverpool FC de Inglaterra assistira ao jogo e no fim afirmara que a historia do brinco em Portugal fora caricata e escandalizara varias pessoas em campo um so Jogador parar o jogo por causa de um brinco em Inglaterra ele teria o estadio inteiro a aplaudi-lo e apoia-lo.

Fora o ultimo golo, o ultimo jogo depois disso o SL Benfica em final de contrato queria renovar mas nao pela quantia de 600 contos por mes, ofereceram-lhe por fim 500 e ele recusou por incrivel que pareca assinou contrato com o Vitoria de Setubal onde se contentava com um ordenado de 100 contos. O homem que conduzia um porche na Avenida Luisa Todi em Setubal e que saia do mesmo descalco, sem camisa quando todos esperavam ver um verdadeiro senhor todo engravatado ja nao era Jogador do Benfica, do maior clube portugues.

Depois foi o fim da carreira de sonho e o inicio do abismo da decadencia jamais voltara a ser o que era como Jogador e ate como homem. De Setubal para o Porto onde jogou no Boavista FC e por fim quando ja poucos se recordavam dele foi a curta mesmo curta aventura no estrangeiro, nos Estados Unidos. Ai jogara ao lado daquele com quem era comparado em Portugal George Best. Nao gostou da California e achou o San Jose Earthquakes um clube cheio de vedetismo mas sem classe, voltou depois de completar apenas dois jogos e recusar um contrato milionario.

Estava mesmo no fim jamais voltara a jogar no top, jamais voltara a ser quem um dia tinha sido. Amora FC, CD Montijo, Uniao de Tomar, Monte da Caparica AC e talvez apenas por figura Estrelas do Faralhao, tudo demasiado pequeno para alguem que fora tao grande, que estivera tao alto e fora tao longe.

As algunhas de uma carreira foram muitas, O Maior, O Rapaz do Brinco, O Gargantas, O Rapaz dos Pes de Ouro ou Meu Deus. Tinham sido as suas algunhas de Jogador Medio Ofensivo e Avancado que igualmente nunca se livrara da tal comparacao tanto pela forma de jogar, forma de viver a vida e ate pela semelhanca fisica de George Best portugues.

Acordara de novo para a realidade da vida voltara a cavar a terra tinha uma cova para abrir da parte da manha e uma sepultura para levantar da parte da tarde o dia parecia que ia ser cansativo, Vitor pegava na pa e ia fazendo o seu trabalho e via que afinal tao facilmente se ia da gloria a miseria do Paraiso ao Inferno, drogas pesadas, mulheres e carros de luxo onde estava tudo aquilo que um dia possuira.

PS: Embora seja um conto breve que habitualmente faz trabalhar a ficcao o mais possivel desta vez os mais velhos e os verdadeiros amantes de Futebol saberao bem em quem me inspirei para escrever este conto e que o mesmo tudo ou quase tudo tem de real. Escrevi o mesmo para mostrar aos mais jovens aos que poderao vir a ser futuras estrelas que olhem e tenham na vida de Vitor Manuel Ferreira Baptista um exemplo que nao devem seguir.
                                                                                                         
                                                                                                Manuel Goncalves

1 comentário:

  1. Este exemplo, lembra-nos, como bem dizes, que devemos estar prontos para tudo. Mas também sabemos que nada acontece por acaso. Vamos ter esperança na vida.... sem ela nada é possível. Um abraço

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