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sábado, 11 de outubro de 2014

Made In Portugal, Fado (Alma Portuguesa)

 

Quando escrevi a minha segunda cronica decidi na altura falar da historia do nosso pais Portugal e digo nos porque apesar de distante e ausente nao viro as costas a minha patria nem deixo de sentir orgulho nela. Falei igualmente das maiores riquezas e joias da cultura portuguesa literatura, musica, cinema e desporto. Na musica o Fado e dois artistas musicais que tao bem o representaram tambem estiveram em destaque.

Desta vez irei somente falar do Fado em si deixando Amalia Rodrigues e Tony de Matos para cronicas proximas. A verdade e que nao so por gosto mas tambem por varias pessoas me terem dito e penso ate com razao que aquela cronica era muito extensa comeco agora a escreve-la um pouco em separado e comeco entao pelo Fado, suas origens, culturas e tradicoes.

O Fado e um estilo musical portugues. Geralmente e cantado por uma so pessoa (fadista) e acompanhado por uma Guitarra Classica (dentro dos meios fadistas denominada de viola) e uma Guitarra Portuguesa. O Fado foi honrosamento elevado a categoria de Patrimonio Oral e Imaterial da Humanidade pela propria UNESCO numa declaracao aprovada no VI Intergovernamental desta mesma organizacao internacional de reconhecimento mundial e que tanto faz por defender as culturas e tradicoes de paises dos quatro cantos do mundo, realizada em Bali, na Indonesia, entre 22 e 29 de Novembro de 2011.


A palavra do Fado vem do latim fatum, ou seia, "destino", e a mesma palavra que deu origem as palavras, fada, fadario, e "correr o Fado".

Uma explicacao popular para a origem do Fado em Lisboa remete para o cantico dos Mouros, que permaneceram no Bairro da Mouraria, na cidade de Lisboa apos a reconquista Crista. A dolencia e a melancolia, tao comuns no Fado, teria sido herdado daqueles mesmos canticos. No entanto, tal explicacao e ingenua de uma perspectiva etnomusicologica. Nao existem registos do Fado ate inicios do Seculo XIX, nem era conhecido no Algarve, ultimo reduto dos arabes em Portugal, nem na propria Andaluzia onde os arabes permaneceram ate finais do Seculo XV.

"Na Irlanda, o cantor ou vate tinha o nome de Faith, e no tempo de Francisco I, Fatiste era o Compositor <<de jeux et novalistes>> em que se ve a transicao para a forma dramatica, e a importancia que merece entre nos o nome Fadista dado ao cantor popular".

Uma outra possivel origem e do escadinavo "fata" que significa vestir, compor, que teria dado origem, segundo ainda uma outra teoria, no frances antigo ao termo "fatiste" que significa Poeta. "Assim podemos ver que o Fado e na realidade uma degeneracao da xacara, que pelas transformacoes sociais, veio a substituir a cancao de gesta na idade media".

Ainda numa outra teoria, tambem nao completamente provada como todas as outras restantes ja que nao existem mesmo provas que possam comprovar na realidade as origens do Fado, a origem do Fado parece desapontar da imensa popularidade nos seculos XVIII e XIX da Modinha, e da sua sintese popular com outros generos afins, como o Lundu que por sua vez tem origens em dancas angolanas com o Kaduke de Mbaka, posteriormente uma das mais populares e famosas dancas praticadas em Luanda com nome de Masemba. No essencial e na realidade, a origem do Fado e ainda desconhecida, mas certo e, que surge na mistura de um rico caldo de culturas presentes em Lisboa, sendo por isso considerado uma cancao urbana.


O Fado no entanto so passou a ser conhecido depois de 1840, nas ruas de Lisboa. Nessa mesma epoca so o Fado do Marinheiro era conhecido, e era, tal como as cantigas de levantar ferro as cantigas das fainas, ou a cantiga do degredado, cantado pelos marinheiros habitualmente na proa do navio. O Fado mais antigo e o Fado do Marinheiro, e este mesmo Fado que se vai tornar de modelo de todos os outros generos de Fado que mais tarde surgeriam como o Fado Corrido que surgiu a seguir e depois deste ainda o Fado da Cotovia. E com o fado como nao poderia deixar de ser surgiram os seus cantantes que foram chamados de fadistas ou faias, com seus modos caracteristicos proprios de se vestirem, as suas atitudes nao convencionais, desafiando por vezes, que se viam em diferentes contendas e brigas com grupos rivais. Um fadista, ou faia, de 1840 seria reconhecido pela sua maneira de trajar.

"Usava um bone de oleado com tampo largo, e pala de polimento, ou bone direito do feitio dos guardas municipais, com fita preta formando laco ao lado e pala de polimento, jaqueta de ganga ou jaqueta com alamares".

"O seu penteado consistia em trazer o cabelo cortado de meia cabeca para tras, mas comprido para diante, de maneira que se formasse melenas ou belezas, empastadas sobre a testa".

Ja na primeira metade do Seculo XX, ja em Portugal, o Fado foi adquirindo grande riqueza melodica e complexidade ritmica, tornando-se mais literario e mais artistico. Os versos ate entao apenas populares sao substituidos por versos elaborados e comecam-se a ouvir as decimas, as quintilhas, as sextilhas, os alexandrinos e os decassilabos.

Durante as decadas de 30 e 40, o cinema, o teatro e a radio vao projectar este genero musical para o grande publico, tornando-a de certa forma mais comercial. A figura do Fadista comeca a nascer como artista. Esta foi simplesmente entao a epoca de ouro do Fado onde os tocadores, cantadores saem das vielas e recantos onde se mantinham escondidos ate ao momento para passarem a brilhar nos palcos do teatro, nas luzes do cinema, para serem ouvidos na radio ou em discos.

Surgem entao as Casas de Fado e com elas o lancamento do artista do Fado profissional. Para se poder cantar nestas casas era necessario a posse de uma carteira profissional e um repertorio visado e aprovado pela Comissao de Censura (gerida pela PIDE), bem como, um estilo proprio e boa aparencia. As casas proporcionavam tambem um ambiente de convivio e aparecimento de letristas, compositores e interpretes.

Ja em meados do Seculo XX o Fado atinge o expoente maximo passando a tornar-se muito famoso tambem fora de Portugal, iniciando assim sua conquista pelo mundo sendo ainda hoje uma marca de referencia do mesmo e por vezes usado em roteiros turisticos para atrair os turistas estrangeiros a uma visita a Portugal.

Os artistas que cantam o Fado trajavam de negro (um costume e tradicao que alguns fadistas ainda cumprem religiosamente). E no silencio da noite, com o misterio que a envolve, que se deve ouvir, com "uma alma que sabe escutar", esta cancao, que nos fala de sentimentos profundos da alma portuguesa. E este o Fado que faz chorar as guitarras...

O Fado canta o sofrimento, a saudade dos tempos passados, a nostalgia, a saudade de um amor perdido, a tragedia, a desgraca, a sina e o destino, a dor, amor, paixao e ciume, a noite, as sombras, os amores, a cidade, as miserias da vida, critica a sociedade... Em contraste com o conteudo melancolico, o compasso do Fado transmite um humor animador e possivelmente este contraste contribue a fascinacao do Fado.


Ainda na segunda metade do Seculo XIX, surge em Lisboa, embalado nas correntes do romantismo, uma melopeia que tanto exprimia a tristeza unanime de um povo e a forte desilusao deste para com o mesmo ambiente instavel em que vivia, assim como tambem abria farois de esperanca sobre o quotidiano das gentes mais desfavorecidas e, mais tarde, penetrava ainda nos saloes da aristocracia, tornado-se rapidamente uma expressao musical nacional.

A sua origem historica e incerta mas sabe-se que nao se trata de uma importacao mas antes uma criacao que surge de uma mistura cultural que ocorreu em Lisboa.

O musicologo Rui Vieira Nery, considera que a historia do Fado tem um inicio bem longe de Lisboa mas o investigador Paulo Caldeira mostra mais acuidade com as afirmacoes ao demostrar que o Fado comecou a ser cantado nas chamadas "Casas de Fado", tais como Alfama, Castelo, Mouraria, Bairro Alto, Madragoa, e as suas origens boemias e ate mesmo ordinarias, baseadas nos ambientes das tabernas e bordeis, tambem nos ambientes de orgia e violencia nos bairros mais pobres e violentos da capital, iam tornando o Fado condenavel aos olhos da Igreja, que desde cedo tentou impedir a evolucao de tal movimento.

Porem, e com a penetracao da fidalguia nos bairros do castelo, com a presenca constante dos cavalheiros e mesmo fidalgos titulares, que o Fado deixa de ser uma musica boemia e do povo e passa a ser presenca nos pianos dos saloes aristocraticos. Tais nobres que se aventuraram naquele ambiente bairrista foram traduzindo as melodias da guitarra para as pautas das damas de sociedade, que ate ao momento so investiam nas modinhas. Tal investidura levou a que o Fado, ao passar da Decada de 1880, se tornasse assiduo dos saloes frequentados ja pela fidalguia e nobreza.


As guerras civis da metade do seculo criaram um clima de inseguranca que envolveu as vicissitudes a vida parlamentar e politica, despertando na voz popular a adessao maior ao Fado e ao regozijo que este mesmo lhes trazia.

As tabernas, primordialmente, entre o palco e o ponto de encontro de fidalgos, artistas, trabalhadores das hortas, populares e ate estrangeiros, que independentemente da classe social se reuniam em noites organizadas onde se cantava o Fado Vadio, ou seja, o Fado nao profissional, essas mesmas noites tinham mais como fadistas cantores ainda amadores, iam-se assim ouvindo o Fado, as guitarradas na companhia certamente de alguns petiscos e copos de vinho.

A primeira cantadeira de Fado (fadista) de que se tem conhecimento foi Maria Severa Onofriana que cantava e tocava guitarra nas ruas do Bairro da Mouraria, especialmente e com particular preferencia para a Rua do Capelao. A jovem cantadeira era amante do Conde de Vimioso e o romance entre ambos serviu de inspiracao e tema para varios Fados, a jovem Severa como ficou conhecida nascida em data de dia e mes incerto do ano de 1820 em Lisboa faleceu vitima de tuberculose tambem em Lisboa tinha entao 26 anos.

Mas e com o inicio do Seculo XX que nasce Ercilia Costa, uma Fadista quase esquecida pelas vicissitudes do tempo, foi no entanto a primeira Fadista com projeccao a nivel internacional e a primeira a galgar fronteiras de Portugal, tentando a sorte mais alem.

Os temas mais cantados pelo Fado sao a saudade, a nostalgia, a tragedia e tristeza, as pequenas historias do quotidiano dos bairros tipicos e as lides de touros. Eram temas permitidos pela ditadura de Salazar, que permitia tambem o Fado tragico, de ciume e paixao resolvidos de forma violenta, com sangue e arrependimento. Letras que falassem de problemas sociais, politicos ou quejandos eram reprimidas de imediato pela censura.


Deste chamado Fado "classico" sao expoente mais recente Carlos Ramos, Alfredo Marceneiro, Maria Amelia Proenca, Berta Cardoso, Maria Teresa de Noronha, Herminia Silva, Fernando Farinha, Fernando Mauricio, Lucilia do Carmo, Manuel de Almeida, entre outros.

Ja o chamado Fado "moderno" iniciou-se e teve o seu apogeu com aquela que e de longe o maior nome e referencia tanto do Fado como de fadistas, Amalia Rodrigues, a diva do Fado. Foi a mesma Amalia da Piedade Rodrigues tao somente conhecida muitas vezes por Amalia quem popularizou Fados com letras de grandes poetas da literatura portuguesa, como o expoente maximo da poesia portuguesa Luis de Camoes e ainda nomes sonantes como Jose Regio, Pedro Homem de Mello, Alexandre O'Neil, David Mourao-Ferreira, Jose Carlos Ary dos Santos e outros como Manuel Alegre e ate mesmo o Compositor e Cantor Carlos Paiao, exemplo no qual foi seguida por outros fadistas como Joao Ferreira-Rosa, Teresa Tarouca, Carlos do Carmo, Beatriz da Conceicao, Maria da Fe ou Misia. Tambem Joao Braga tem seu nome na historia da renovacao do Fado, pela qualidade dos poemas que canta e musica, de alguns dos autores ja citados e ainda de Fernando Pessoa, Antonio Botto, Afonso Lopes Vieira, Sophia de Mello Breyner Andresen, Miguel Torga ou Manuel Alegre, e por ter sido o mentor de uma nova geracao de fadistas. Acompanhando a preocupacao com as letras, foram tambem introduzidas novas formas de acompanhamento e musicas de grandes compositores. Com Amalia entre outros entre outros e justo dar um destaque para Alain Oulman (um papel determinante na modernizacao do suporte musical do Fado), mas tambem Frederico de Freitas, Frederico Valerio, Jose Fontes Rocha, Alberto Janes, Carlos Goncalves.


Quase certo como tendo nascido em Lisboa o Fado e demostrou uma enorme grandeza para ficar apenas pelos bairros historicos e populares da capital, rapidamente se tornou uma cancao nacional que e hoje conhecido mundialmente pode ser (muitas vezes) acompanhado por violino, violoncelo e ate por orquestra mas nao dispensa jamais a companhia da sonoridade da Guitarra Portuguesa, de que houve e continua havendo excelentes executantes, como Armandinho, Jose Nunes, Jaime Santos, Raul Nery, Jose Fontes Rocha, Carlos Goncalves, Pedro Caldeira Cabral, Jose Luis Nobre Costa, Ricardo Parreira, Paulo Parreira ou Ricardo Rocha. Tambem a viola e indespensavel na musica Fadista e ha nomes incontornaveis, como Alfredo Mendes, Martinho d'Assuncao, Julio Gomes, Jose Inacio, Francisco Perez, Andion, o Paquito, Jaime Santos Jr, Carlos Manuel Proenca. Obrigatorio e mencionar um virtuoso da Guitarra Classica que se especializou em viola de Fado, Artur Caldeira, e o expoente maximo da "escola antiga", o Viola-Baixo de Fado Joel Pina, o "Professor".


Actualmente, muitos jovens - Dulce Pontes, Cuca Roseta, Marco Rodrigues, Ana Moura, Carminho, Rodrigo Costa Felix, Raquel Tavares, Helder Moutinho, Maria Ana Bobone, Mariza, Yolanda Soares, Joana Amendoeira, Mafalda Arnauth, Miguel Capucho, Ana Sofia Varela, Marco Oliveira, Katia Guerreiro, Luisa Rocha, Camane, Aldina Duarte, Goncalo Salgueiro, Diamantina Rodrigues, Ricardo Ribeiro, Cristina Branco, Antonio Zambujo - juntaram os seus nomes aos dos consagrados ainda vivos e estao dando um folego incrivel a esta cancao urbana.

O Fado dito "tipico" e hoje em dia cantado principalmente para turistas nas "Casas de Fado" e com o acompanhamento tradicional. As mais tradicionais Casas de Fado encontram-se nos bairros tipicos de Alfama, Mouraria, Bairro Alto e Madragoa. Mantem as caracteristicas dos primordios: o cantar com tristeza e com sentimento magoas passadas e presentes. Mas tambem pode vir a contar uma historia divertida cheia de ironia ou ate proporcionar um despique entre dois cantores, muitas vezes ate com versos improvisados no proprio momento - entao e a desgarrada.


Em parte do Seculo XX vive-se em plena censura no regime salazarista, e uma licenca era exigida aos fadistas e instrumentistas e as letras e os poemas eram sujeitos a uma censura rigorosa e apertada. O Seculo XX e a epoca de ouro do Fado, este e projectado para o grande publico, o Fadista deixa de estar limitado so a cantar em tabernas e vielas e surge nos palcos do teatro, no cinema, na radio e em discos, saltando por sua vez para o teatro de Revista. Aparece-nos as chamadas Casas de Fados e o Fadista passa entao a ser considerado Artista profissional, com estilo proprio e boa aparencia, trajando de negro como a escuridao da noite silenciosa. Este novo meio e propicio ao futuro aparecimento de letristas, compositores e interpretes. Na primeira metade do Seculo XX aparece-nos Ercilia Costa a primeira Fadista portuguesa de projeccao internacional embora nao a de maior reconhecimento esse posto esta reservado e de longe para Amalia Rodrigues, Ercilia Costa acaba por ficar apelidada de "Sereia peregrina do Fado", "Santa do Fado" e "Toutinegra do Fado". Empurrado para as luzes da ribalta pelo cinema, radio e mais tarde televisao, o Fado, era adorado por todos, nao havendo quase portugues que nao o ouvisse com prazer. Ainda a pouco cantado nas tabernas e nos patios dos bairros populares como Alfama, Castelo, Mouraria, Bairro Alto, Madragoa, torna-se o simbolo da alma portuguesa. E tambem ainda neste seculo na Decada de 50 que surge Amalia Rodrigues, conhecida nacional e internacionalmente como a maior Fadista de todos os tempos e pioneira do Fado moderno.


Apos um longo periodo de investigacao e estudos, ja no inicio do Seculo XXI e tambem ja na presente decada o Fado e inscrito na lista do Patrimonio Cultural da Humanidade (27 de Novembro de 2011): "O patrimonio cultural imaterial transmitido de geracao em geracao, e permanentemente recriado pelas comunidades e grupos em funcao do seu meio, da sua interacao com a natureza e a sua historia, proporcionando-lhes um sentimento de identidade e de continuidade, contribuindo assim para promover o respeito pela diversidade cultural e a criatividade humana" (Convencao para a Salvaguarda do Patrimonio Imaterial da Humanidade, UNESCO, 2003) Apresentada Pela Camara Municipal de Lisboa, atraves da EGEAC / Museu do Fado, no mes de Junho de 2010, a candidatura do Fado foi distinguida num grupo muito restrito de 7 candidaturas consideradas "exemplares" pela UNESCO, do ponto de vista da sua concecao, preparacao, apresentacao e argumentacao. O turista segue entao de maos dadas com o Fado. Lisboa entao fica ainda mais valorizada.


Muito e fortemente ligado as tradicoes academicas pela propria Universidade, o Fado de Coimbra tem suas origens nos estudantes de todo o pais que levavam as guitarras para Coimbra a capital dos estudantes e, como ainda hoje se assiste, e exclusivamente cantado por homens e tambem igualmente por tradicao tanto os cantores como os musicos usam os trajes academicos: calcas e batinas pretas cobertas por capas de fazendas de la tambem igualmente preta. Canta-se a noite, quase as escuras, em pracas ou ruas da cidade. Tambem por tradicao o local mais tipico e na praca junto ao Mosteiro da Se Velha. Tambem e tradicional organizar serenatas, em que se canta habitualmente em grupo junto a janela da casa da dama que se pretende conquistar.

O Fado de Coimbra e acompanhado igualmente por uma Guitarra Portuguesa e uma Guitarra Classica (tambem aqui chamada "viola"). No entanto, a afinacao e a sonoridade da Guitarra Portugesa sao, em Coimbra, diferentes das do Fado em Lisboa na medida em que as cordas sao afinadas um tom abaixo, e a tecnica de execucao e diferente por forma a projectar o som do instrumento nos espacos exteriores, que tradicionalmente sao o palco priviligiado desta cancao. Tambem a Guitarra Classica se deve afinar um tom abaixo. Esta afinacao pretende transmitir a musica uma sonoridade mais soturna, relativamente ao Fado de Lisboa.


Temas mais glosados: os amores estudantis, o amor pela propria cidade que os acolhe durante a vida de estudos academicos e por quem se apaixonam, e mesmo outros temas relacionados com a condicao humana. Dos cantores ditos "classicos", destaques para Augusto Hilario, Antonio Menano, Edmundo Bettencourt.

Nos anos da Decada de 50 do Seculo XX iniciou-se um movimento que levou os novos Cantores de Coimbra a adoptar a balada e o folclore. Comecaram igualmente e da mesma forma forma entusiastica a cantar grandes poetas da literatura portuguesa, classicos e contemporeneos, como forma de resistencia a ditadura de Salazar. Neste movimento destacaram-se nomes como Adriano Correia de Oliveira e Jose Afonso (Zeca Afonso), que acabaram por vir a ter um papel preponderante na autentica revolucao operada desde entao na musica popular portuguesa.


No que respeita a Guitarra Portuguesa, Artur Paredes revolucionou a afinacao e a forma de acompanhamento da Cancao de Coimbra, associando o seu nome aos cantores mais progressistas e inovadores. (Artur Paredes foi o pai de Carlos Paredes, que o seguiu e que ampliou de tal forma a versatilidade da Guitarra Portuguesa que a tornou um instrumento musical conhecido em todo o mundo).

Saudades de Coimbra ("Do Choupal ate a Lapa"), Balada da despedida do 6º Ano Medico de 1958 ("Coimbra tem mais encanto, na hora da despedida", os primeiros versos, sao bem mais conhecidos do que o proprio titulo da cancao), O meu menino e d'oiro Fado Hilario e samaritana - Sao um exemplo de algumas das mais conhecidas Cancoes de Coimbra.

A cancao mais conhecida e, Coimbra e uma licao, que teve um exito assinalavel em todo o mundo como Avril au Portugal ou April in Portugal, levada pelas maos de Amalia e tao bem cantada pela sua voz.


Quase a chegar ao fim resta-me salientar que embora ainda va colocar mais alguns grandes e reconhecidos Fados muitos outros acabaram por nao ser recordados nesta cronica, seria impossivel nomear todos porque sao centenas e centenas. O Fado faz parte da Musica Portuguesa e da propria cultura portuguesa desde ha muito tempo, seculos talvez. Nao importa que suas raizes ou verdadeiras origens estejam ainda por descobrir na totalidade, importante mesmo e ter-se a certeza de que o Fado e nosso, o Fado e bem portugues.


Categorizacao de Fados conhecidos:

. Fado Alcantara
. Fado Aristocratica - Iniciado por Maria Teresa de Noronha, e progredido por membros da sua familia.
. Fado Bailado
. Fado Bate
. Fado-Cancao
. Fado Castico - Fado tradicional dos bairros tipicos de Lisboa.
. Fado Corrido - Caracterizado por ser um Fado alegre, desgarrado e dancavel.
. Fado Experimental
- Dentro do "Fado do milenio" atinge o seu auge com Misia.
- Dentro do "Fado Em Concerto" atinge o seu auge com Yolanda Soares.
. Fado Lopes
. Fado Marcha Alfredo Marceneiro - Criado por Alfredo Marceneiro.
. Fado da Meia-noite - Criado por Felipe Pinto.
. Fado Menor - Caracterizado por ser um Fado melancolico, triste e saudoso
.Fado Mouraria
. Fado Pintadinho
. Fado Tango - Criado por Joaquim Campos.
. Fado Tamanquinhas
. Fado Vadio - Fado nao-profissional.
. Raposodia de Fados - Justaposicao ou mescla de melodias (Fados) tradicionais ou populares.
. Fado Marialva - Caracterizado por ser um Fado alegre, referente a tradicao tauromaquica. - "Cavalo Ruco","Campinos do Ribatejo","Fado das Caldas".


Em genero de finalizacao fico feliz por mais uma vez estar a criar algo que pode mostrar um pouco ao mundo, aos meus leitores por todo o lado as riquezas da musica, arte e sobretudo cultura que de melhor Portugal tem ao contrario do que muitos ja tentaram insinuar, sei o que digo, o que escrevo e o que defendo. Defendo o que e portugues apesar de estar longe, pela mesma razao ja me perguntaram se tenho tanto orgulho em Portugal porque razao estou fora dele? Estou fora dele por razoes pessoais, profissionais mas talvez de mais valor ao que e portugues do que muitos portugueses que sempre viveram dentro do mesmo, sou portugues entre outras razoes porque sempre recusei e continuarei a recusar pedir uma outra nacionalidade como ja poderia ter pedido, isso serve perfeitamente para muitos que vao para Portugal pedem nacionalidade portuguesa e depois falam e exprimem o odio que tem a Portugal e aos portugueses como ja cheguei mesmo a assistir.

Caro(a) leitor(a) espero que este trabalho tenha sido do seu agrado a sua leitura assim como foi para mim escreve-lo ate a proxima.

                                                                                                         Manuel Goncalves



















5 comentários:

  1. Bom trabalho, Paulo. Eu nem sempre gostei de fado. Um dia, acabada de regressar depois de vários anos fora do país, fui com uma colega a uma casa de fado em Lisboa e fiquei em lágrimas: o fado tinha acabado de me mostrar o amor que tinha pelo país, as saudades do que é nosso e muitos mais sentimentos. Foi uma simbiose. Sim, acho que só gostamos do nosso país a sério quando estamos fora dele.
    Espero que um dia voltes, embora este ano a chuva seja tanta por cá como por aí... :) Abraço e que tudo corra bem....

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    1. Sim Caroline eu nem sequer gostava de fado antes de a vida me fazer imigrar, um dia comecei a sentir saudade, nostalgia aquela tristeza que envolve o fado, passei a aprecia-lo, depois de ter imigrado um dia chegado a Portugal quase na hora do regresso julgo que mesmo numa das lojas do aeroporto dei comigo a comprar um cd de Amalia Rodrigues na hora foi mais para gastar os ultimos escudos que tinha ja que estava de regresso ao Reino Unido mas eis que estava dado o primeiro passo para me tornar o fan que hoje sou de fado e quando for a Portugal faco questao de me perder ainda numa noitada de uma casa de fados algures num daqueles bairros populares de Lisboa embora prefira o de Lisboa por considera-lo mais dentro do sentimento original que esta enraizado no fado tambem simpatizo com o de Coimbra.

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  2. Ressolvim homenagear o fado mais uma vez aqui no blog sobretudo porque recentemente fiz anos com o dinheiro que um casal de amigos ingleses me deu fui a uma loja, a melhor de venda de cds aqui na cidade onde muitas vezes por sorte embora nao em enorme variadade consegue-sse arranjar na area de World Music uns cds portugueses de fado, comprei alguns anteriormente, desta vez optei por um concerto de Mariza ao vivo em Lisboa ao ouvir o fado "O gente da minha terra" as lagrimas chegaram-me aos olhos.

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  3. O Fado e a alma de Portugal que tantas vezes de forma pura e genuina vai contando a tristeza do seu povo.

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  4. Gosto de varios generos musicais mas o Fado para mim e sempre o Fado :) mas tal como para a Sra Caroline no meu caso tambem nem sempre foi assim.

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