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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Bodas de Ouro

 

Eram cinco decadas ou se preferissem nem mais nem menos do que 50 anos tambem se podia chamar a data de Bodas de Ouro fosse como fosse era um momento de felicidade, certamento que unico mas nunca se sabe quantos mais anos iriam estar unidos. Nao estavam em crise, nao estavam traindo-se e nao viviam uma relacao de amor de falsa aparencia mas a verdade e que a idade nao perdoava e se na verdade o problema dela era apenas o reumatico em relacao a ele era bem diferente o coracao ja o tentara trair.

Cinco decadas uma vida em comum e com tanto para contar, horas de imensa felicidade todas elas partilhadas, cinco decadas em comum com tantas noites passadas e mesmo naquelas em que o sono demorara a vir jamais o haviam feito separados.

Estavam os dois em casa na manha daquele dia com uma data tao importante tinham tido uma vida inteira de trabalho e a reforma de ambos ja era uma realidade iam vivendo bem apesar da crise porque sobretudo tinham sabido poupar e as profissoes de ambos relacionadas com o turismo haviam feito que tivessem com ajuda das gorjetas ele de Barman num Bar de Hotel e ela como Guia Turistica de uma Agencia de Viagens conseguido guardar muito dinheiro.

Sentado ele esperava que ela lhe servisse o Pequeno-Almoco enquanto lia o jornal que tinha ido comprar enquanto fazia o passeio matinal em que levava o cao a rua. Era assim todos os dias e naquele nao poderia deixar de ser diferente. Sentiu o desejo de abraca-la, beija-la repetir o que ja dissera vezes sem conta e o que todos ja sabiam, amava-a de facto, nao imaginava a sua vida sem ela, ser feliz sem ela durante aqueles cinquenta anos seria tarefa impossivel.

Assistira a muitas cenas de namoro entre casais no bar do hotel onde toda a vida trabalhara, assistira a discursoes, acusacoes verbais, injurias e ate agressoes e muitas vezes pensara qual seria o segredo do seu casamento, nenhuma discussao, nenhuma zanga. Chegava a casa ela esperava-o muitas vezes cansados preferiam ir Jantar a um restaurante onde ela por ser Guia Turistica e ter um acordo com o dono do restaurante levava la os turistas a almocar e Jantar  os filhos esses habitualmente quando eles saiam preferiam uma ida ao MacDonalds coisa que ele aceitava mas nao apreciava para ele comida tinha que ser caseira, tinha que ser feita, cozinhada pela sua companheira de ja 50 anos.

Recordava de como a conhecera colegas de Escola Primaria, parceiros de mesa, dividiam a merenda que levavam para a escola e no recreio recusavam fazer outra coisa que nao fosse estarem a conversa um com o outro. O tempo passara mas a uniao estava mais forte com o passar dos anos deixou de ser uma coisa de miudos e passou a ser algo mais serio eles ja o sabiam mas so agora a sociedade e os familiares comecavam a dar importancia aquele relacionamento e a aceitar tanto um como o outro como possivel futuro familiar.

Ele nao se lembrava de momento mais nervoso que tivesse na vida que nao fosse a primeira noite em que fora convidado a Jantar em casa dos pais dela, ja la tinha estado, ja la tinha ate lanchado mas nunca jamais estivera num Jantar de familia onde estavam todos reunidos a celebrar o aniversario do Patriarca da familia. Ficara sem saber se a ideia da ementa da refeicao havia sido ideia dela, do seu amor, da sua esposa e companheira de 50 anos. Primeiro o Cozido a Portuguesa e depois o Bacalhau Assado no Forno por fim a sobremesa Bolo de Chocolate com Nozes ela sabia que era a sua sobremesa favorita e que ele adorava tanto bacalhau como cozido.

A decisao foi dele de casar antes de ir para a guerra no Ultramar insistira vezes sem conta que havia o perigo de nao voltar, de morrer como tantos outros mas que nao queria morrer sem casar com a mulher que amava. Acabaram por aceitar a sua decisao e casara quase em vesperas de partir nem tiveram direito a Lua de Mel mas ao longo da vida ao longo daqueles cinquenta anos em comum tinham-se desforrado bem da ausencia da Lua de Mel. Ele partira, lutara por defesa de um territorio que ainda hoje considerava portugues e a entrega do mesmo havia sido uma traicao a patria, sua unidade sofrera varios ataques, vira morrer camaradas, alguns amigos do peito mas ele como poderia constar havia sobrevivido.

Vieram depois os filhos a familia em comum hoje alem dos tres filhos e duas filhas havia ainda as esposas e os esposos, havia ja oito netos e tres bisnetos. Por nada do mundo trocaria tudo aquilo e nao se imaginava a viver sem eles, sem aquele passado que o fazia sentir-se tao feliz.

Ela chamara-o a realidade quando o advertera que os ovos mexidos, as torradas iam esfriar. Sim ela sabia aquilo de que ele gostava e fazia de tudo para o agradar naqueles momentos ele estava a pensar convida-la para um passeio no jardim onde tantas juras de amor que haviam sido cumpridas haviam sido feitas.

A noite caira era um dia de semana por isso a comemoracao iria ficar para mais tarde para o fim de semana onde a familia estaria toda reunida. Que pena sentia ele dos pais, dos sogros ja nao estarem presentes restava apenas ele, a esposa, os irmaos, cunhados e cunhados alem dos filhos, netos e bisnetos os outros a morte ja os levara a mesma maldita que ja o tentara levar a ele.

Jantar romantico a dois onde tudo estava a rigor desde a comida, passando pela musica ambiente e a enorme simpatia dos funcionarios. Eram ja velhos conhecidos talvez por isso o tratamento fosse quase mais do que VIP.

Regressaram a casa ele fumava um charuto antes de ir para a cama coisa que ja ia sendo rara e para ela nao se arreliar ia deixando de fumar na frente dela. Ela folhava o Album de Fotografias onde estavam as memorias de toda uma vida, sorriu para ele e esticou-lhe as maos.

- Tao felizes que nos eramos, tao bem que tu estavas - retorquiu ela ao olhar a primeira foto de casados - que saudades.
- Sim de facto estavamos muito bem - concordou ele - so acho mesmo que estas errada ao dizer tao felizes que nos eramos, devias dizer antes tao felizes que nos fomos, tao felizes que nos continuamos a ser.

Ela concordou com um sorriso enorme, um abraco e um beijou selou aquele momento final ate ela quebrar o silencio.

- Sabes Vicente, nao sei viver sem ti.

                                                                                                              Manuel Goncalves

3 comentários:

  1. Uma história bonita... Mas na vida real, é tudo bem mais complexo...os muitos anos passados com uma pessoa não estão isentos de tristezas e incompreensões....

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  2. Depende muito com quem se lida duas pessoas romanticas entendem-se bem melhor. A vida e feita de amores e desamores no entanto por vezes somos nos mesmos que desprezamos quem nos ama.

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  3. A vida e isso mesmo Maria mas repara que a infelicidade e insucesso de alguns casamentos nao impede o sucesso e felicidade de outros.

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