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domingo, 4 de janeiro de 2015

As Mil e Uma Noites

 

Quem nunca ouvindo falar daquelas historias com um sabor das arabias que nos contavam na nossa infancia como a historia de Ali Baba e os Quarenta Ladroes, do Marinheiro Simbad ou Aladim e a Lampada Maravilhosa. Historias que nos encantavam e por onde passavam os miticos tapetes vermelhos que eram magicos porque tinham o condao e dom de poder voar.

Quem ao ler estas historias nunca ouviu falar no livro As Mil e Uma Noites onde ao longo do mesmo periodo de tempo numa obra de varios volumes se vao contando as historias que nos encantavam. Lembro-me de ter 18 anos e na Biblioteca Municipal de Alhos Vedros pertencente ao Centro Cultural de Alhos Vedros ter um dia na companhia de uma amiga ter requisitado o primeiro livro que era tambem o primeiro volume da historia, lembro-me que terminei esse volume mas talvez por falta de tempo ou outra razao qualquer que agora nao me lembro nao cheguei ao segundo livro ou seja segundo volume com grande pena minha. Ao certo tambem nao me recordo por quantos volumes era composta a colectania As Mil e Uma Noites.


As Mil e Uma Noites (em arabe: كتاب ألف ليلة وليلة; transl: Kitāb 'alf layla wa-layla, "O Livro das Mil e Uma Noites"; em persa: هزار و یک شب; transl: Hezār-o yek šab) e uma coleccao de historias e contos populares com origem no Medio Oriente e no Sul da Asia e que passaram a ser compiladas em lingua Arabe a partir do Seculo IX. No mundo ocidental, a obra comecou a ser amplamente conhecida e divulgada a partir da traducao para o frances realizada ja no Seculo XVIII em 1704 pelo Orientalista Antoine Galland, transformando-se num classico da Literatura Mundial e Universal.

As historias que compoem as Mil e Uma Noites tem varias origens, incluindo o proprio folclore indiano, persa e arabe. Nao existe no entanto uma versao definida da obra, uma vez que os antigos manuscritos arabes no numero e no conjunto de contos (creio entao que sendo assim alem de ser dificil ter-se a versao original a que mais se aproxima do original nao e seguro nem certo que esteja completa). O que e invariavel nas distintas versoes e que os contos estao de forma organizada como uma serie de historias em cadeia narradas por Xerazade, esposa do Rei Xariar. Este Rei, louco por ter sido traido pela sua primeira esposa, desposa uma noiva diferente todas as noites, mandando-as matar na manha seguinte. Xerazade consegue escapar de forma milagrosa mas bem articulada a esses destinos contando historias maravilhosas sobre diversos temas que comecam a cativar sempre a curiosidade do Rei. A cada novo amanhecer, Xerazade interrompe cada conto com a promessa de continua-lo na noite seguinte o que a vai mantendo viva ao longo de um periodo de varias noites - as mil e uma do titulo - ao fim das quais o Rei ja se arrependeu de seu comportamento anterior para com as suas noivas e desistiu de executa-la.


A historia conta que Xariar, Rei da Persia da dinastia dos Sassanidas, descobre que sua mulher e adultera e lhe e infiel, dormindo com um escravo cada vez que ele viaja. Entao o Rei, decepcionado e furioso, atacado por ciumes mata a mulher e o escravo, convencendo-se por esse e outros casos de infidelidade que nenhuma mulher do mundo e digna de confianca. Decide entao que, daquele momento em diante, dormira com uma mulher diferente cada noite e depois a mandara matar na manha seguinte: desta forma nao podera ser traido por mulher nenhuma nunca mais.

Passam-se assim assim tres anos durante os quais o Rei se mantem fiel ao seu juramento e decisao e a tradicao mantem-se cada mulher que dorme com ele e mandada matar na manha seguinte. O Rei deposou e sacrificou inumeras mocas puras, trazidas a sua presenca pelo Vizir (equivalente a um Primeiro Ministro) do reino. Certo dia, quando ja nao havia virgens no reino, uma das filhas do Vizir, Xerazade, pediu para ser entregue como noiva ao Rei, pois dizia saber de um estratagema para escapar ao triste fim que alcancaram as mocas anteriores. O Vizir apenas aceitou depois de muita insistencia da filha, levando-a finalmente ao Rei. Antes de ir, Xerazade diz a irma, Duniazade, que lhe peca que conte uma historia quando for chamada ao palacio do Rei.

Xerazade, ao chegar na presenca do Rei, pede-lhe que permita a vinda da sua irma, para despedir-se. Nao vendo nenhum inconviniente o Rei o permite, e Duniazade vem ao palacio e instala-se na camara nupcial. Apos o Rei possuir e tirar a virgindade de Xerazade e com o futuro a adivinhar-se curto sendo o seu destino segundo a ideia do Rei Xariar dar-lhe o mesmo tratamento e fim  que a todas as outras virgens que tinha desflorado, Duniazade pede entao a irma segundo estava combinado anteriormente entre ambas antes da ida para o palacio que essa conte uma historia para passar o tempo. Apos respeitosamente pedir a permissao ao Rei e obter a mesma, Xerazade comeca a agir conforme planeara e inicia o extraordinario conto "Historia do mercador e do genio" mas, ao amanhecer, ela interrompe o relato, dizendo que continuara a narrativa na noite seguinte. O Rei, curioso com o maravilhoso conto de Xerazade, nao ordena a sua execucao para poder saber o final da historia na noite seguinte. Assim, repetindo essa estrategia, Xerazade consegue ir sobrevivendo noite apos noite adiando a sua sentenca que parecia ser o seu futuro final, vai contando historias sobre os mais diversos temas, desde fantasticos e religiosos ate ao heroico e o erotico. Ao fim de inumeras noites e contos, Xerazade ja havia tido tres filhos do Rei, e lhe suplica que a poupe, por amor as criancas. O Rei, que desde ha muito se havia arrependido dos seus actos crueis para com as outras virgens que lhe tinham passado pelas maos e pela sua cama durante os anos que ele vivera revoltado e amargurado como louco por causa da traicao da sua primeira mulher com um simples escravo e se havia convencido da dignidade de Xerazade, nao so lhe perdoa a vida como tambem faz dela sua Rainha e esposa definitiva. Duniazade irma de Xerazade agora esposa de Xariar e sua Rainha e tambem ela feita esposa do irmao do Rei, Xazama, ficando a historia com dois irmaos casados com duas irmas.

A mais antiga mencao a um livro arabe das Mil e Uma Noites e um fragmento de um manuscrito do inicio do Seculo IX em que se pode ler o titulo da obra nas suas linhas iniciais, em que Duniazade pede a um narrador nao especificado que conte uma historia. Mais dados sobre a existencia deste livro e sua origem encontram-se nos escritos do Historiador Al-Masudi (888-957), que entao mais propriamente se refere a uma certa coleccao de contos fantasiosos traduzidos do persa, sanscrito e grego, incluindo-se entre os mesmos um livro persa chamado Hazār afsāna ("Mil historias" em persa). Segundo o mesmo Al-Masudi, a dita coleccao era conhecida por todos como "As Mil e Uma Noites" em arabe e contava a historia de "um Rei, seu Vizir, sua filha Xerazade e sua escrava, Duniazade". A existencia desta traducao do persa ao arabe e corroborada pelo Bibliografo Xiita Ibn al-Nadim (m. 995 ou 998), que menciona o livro em sua obra Fehrest (ou Fihrist), escrita em 987-988. Xiita Ibn al-Nadim informa ainda na mesma fonte que o livro possui menos de 200 contos, uma vez que cada conto ocupava mais do que uma noite.

Assim, uma versao arabe das Mil e Uma Noites, estruturada ao redor dos contos narrados por Xerazade para escapar da mais que certa execucao por Xariar, ja existia no Seculo IX e o nucleo de contos era derivado de uma traducao da obra persa Hazār afsāna realizada talvez no Seculo VIII. A historia da traicao do Rei Xariar pela primeira mulher, que explica o comportamento louco e cruel do Rei, nao e mencionada por Ibn al-Nadim e provavelmente surgiu apeas apos o Seculo X. Alem da referencia a traducao do persa ao arabe contida nos escritos de Al-Masudi e Ibn al-Nadim, uma evidencia sobre a origem das Mil e Uma Noites e o facto de que os nomes das personagens do prologo sao persas, como Xerazade ("de nobre linhagem"), Xariar ("Principe" ou "Rei"), Duniazade ("a Deusa den glorificada") e Xazama ("rei do seu tempo"). Por outro lado, a estrutura do prologo das Mil e Uma Noites em que e contada a historia de Xerazade e Xariar e que cria assim o marco narrativo do livro, seguidos por contos estruturados em cadeia, com historias dentro de outras historia (funcionando como uma corrente), e comum na literatura indiana e pode ter sido influenciada por esta. Por exemplo, a coleccao de contos em Sanscritos Panchatantra, compilada entre os seculos III a V DC , tambem esta organizada ao redor de um narrador, neste caso um sabio que conta uma serie de historias de animais para tres principes.

Os contos que compoem As Mil e Uma Noites sao de diversas origens e foram sempre acresentados e suprimidos ao longo da historia da obra, sendo algumas possivelmente originarias da India, outras da Persia e outras do mundo arabe. As mais antigas referencias a obra acabam por nao mencionar quais os contos que compunham a coleccao e, uma vez que os manuscritos com contos que chegaram ate a actualidade sao ja do Seculo XV, e portanto hoje impossivel saber quais eram os contos que compunham as primeiras versoes das Mil e Uma Noites, inicialmente derivados da obra persa Hazār afsāna. Sobre o estado inicial das Mil e Uma Noites o unico que se pode afirmar com certeza e que a historia basica de Xerade e Xariar, que unifica a obra, ja estava presente desde o Seculo IX.

Os estudiosos da area e do assunto acreditam que os manuscritos das Mil e Uma Noites que existem actualmente sao derivados da reelaboracao realizadas entre os seculos XIII e o XIV no Medio Oriente, a epoca dominada pelos mamelucos. O mais famoso e um dos mais completos e antigos manuscritos e o utilizado por Antoine Galland para a sua traducao publicada ja no Seculo XVIII em 1704. Este manuscrito em tres volumes, originario da Siria e conservado hoje na Biblioteca Nacional de Paris (arabe 3609-3611), data de meados do Seculo XV (alguns pensam e consideram que e do Seculo XIV) e contem um total de 282 noites. Ha ainda a existencia de um pequeno grupo de manuscritos a este aos quais se da o nome de ramo sirio dos manuscritos, todos tendo terminado na noite 282 e deixando incompleto o Conto do Principe Camaralzaman e da Princesa Budura. Um grupo de manuscritos mais recente, e diferentes linguisticamente do ramo sirio, foi compilado entre o Seculo XVII e XVIII e constitui o chamado ramo egipcio, por serem em sua maioria provenientes dessa regiao. Estes manuscritos, compilados em parte para atender a demanda europeia de historias das Mil e Uma Noites apos o exito da obra de Galland, chegou ao numero de noites do titulo, ou seja, Mil e Uma. A compilacao egipcia mais moderna - datada da segunda metade do Seculo XVIII e base de muitas traducoes e edicoes posteriores - e referida como ZER (Zotenberg Egyptian's Recension; edição crítica egípcia de Zotenberg) em homenagem ao estudioso Hermann Zotenberg, Autor de importantes estudos sobre esses manuscritos no final do Seculo XIX. O termo "ZER" tambem e utilizado como sinonimo para o ramo egipcio.

A primeira versao em arabe das Mil e Uma Noites, redigida no Seculo IX ou no seculo anterior VIII, foi uma traducao da obra persa Hazār afsāna, actualmente perdida. Pouco ou nada se conhece, dos contos que faziam parte das primeiras versoes em arabe, uma vez que estas sao conhecidas actualmente apenas por pequenos fragmentos de texto e mencoes em outras obras e os manuscritos mais antigos da mesma obra conservados actualmente datam por sua vez ja do Seculo XV.

A primeira traducao a uma lingua europeia foi realizada pelo Orientalista frances Antoine Galland(1645-1715), que publicou entre 1704 e 1717 sua Mille et Une Nuits. A principal fonte para a versao de Galland foi um manuscrito sirio em tres volumes, escrito em arabe, que terminava na noite 282 e tendo a curiosidade de nao apresentar o final (podendo haver outro manuscrito por encontrar para terminar a obra descrita no documento e manuscrito sirio). De modo a completar a sua obra e aumentar o numero de noites, Galland utilizou outros textos arabes, incluindo manuscritos egipcios (hoje perdidos) com os contos Principe Camaralzaman e a Princesa Budura e o Conto de Ganim. Gallard tambem incorporou na sua obra historias que originalmente nao se encontravam em nenhum manuscrito das Mil e Uma Noites anteriormente conhecido. Uma e a historia que ficou bem conhecida de Simbad o Marujo, traduzido a partir de qualquer manuscrito arabe avulso. Outra fonte de Galland, segundo ele proprio, foi um contador de historias chamado Hanna Diab, um maranita de Alepo, que lhe viria a narrar contos como o Aladino e a Lampada Maravilhosa (conto tambem conhecido por Aladino e a Lampada Magica) e talvez o mais conhecido de todos eles e associado As Mil e Uma Noites, Ali Baba e os Quarenta Ladroes. Estes mesmos contos foram incorporados por Galland, e aparentemente nao faziam parte da versao original das Mil e Uma Noites, embora se tenham tornado extremamente populares e passaram entao a ser incluidos tanto em manuscritos arabes como em traducoes europeias produzidas posteriormente.

Para os padroes actuais, Galland produziu uma traducao fantasiosa, talvez mais uma recriacao do que uma traducao. Alem das misturas de fontes para os contos, Galland nao so omitiu como introduziu textos, alterou mesmo a fala e o dialogo das personagens e mais uma vez alterou a obra retirando muitos dos versos poeticos dos originais. Alem disso, Galland nao se deu ao trabalho de explicitar com precisao que fontes havia usado para apresentar a sua obra, o que dificulta seu estudo nos dias actuais. De qualquer forma, sua versao das Mil e Uma Noites foi imensamente popular e foi o ponto de partida para a influencia da obra literaria arabe no mundo ocidental e ate mesmo na propria revalorizacao que os contos tiveram no proprio mundo arabe de onde os mesmos contos da obra eram provenientes.

Ja no Seculo XVIII o interesse despertado pela obra de Galland levou a busca de manuscritos mais "completos" das Mil e Uma Noites, uma vez que a fonte utilizada pelo frances terminava na noite 282. No Egipto foram produzidas varias compilacoes de contos que eventualmente chegaram a abranger as 1001 Noites do titulo , e baseados nestes manuscritos do ramo egipcio floresceram muitas edicoes e traducoes ao longo do Seculo XIX. Em lingua arabe, a primeira edicao impressa foi publicada na cidade indiana de Calcuta em 1814-1818 (chamada Calcuta I), seguida de outras publicacoes realizadas no Cairo em 1835 (Bulaq I), Calcuta em 1839-1842 (Calcuta II) e novamente 20 anos mais tarde de novo no Cairo 1862 (Bulaq II). Com bases nestas edicoes em arabe foram realizadas importantes traducoes a linguas europeias como ingles por John Paine (Londres, 1839-1841), Edward Lane (1882-1884) e finalmente Richard Francis Burton (Londres, 1885). A traducao deste ultimo, chamada The Book of the Thousand Nights and A Night e publicada em dez volumes, foi baseada em Calcuta II e tornou-se muito influente, para alem de escandalosa na Inglaterra Vitoriana, uma vez que Richard Burton, bem ao contrario do seu predecessor John Paine, teve a ousadia e o atrevimento de nao censurar as cenas eroticas da obra e inclusive ate as enfatizou, enfrentando e indo contra os costumes morais da epoca. Mais tarde, Burton publicou contos de outros manuscritos das Noites em um  Suplemento publicado entre 1886 e 1888.


Lista das historias:     

. O Mercador e o Efreet.
. O Pescador e o Marid.
. A Historia de Mobarak.
. Aladim e a Lampada Maravilhosa (Aladim e a Lampada Magica).
. A Aventura de Judar.
. Almaz, o Principe Brilhante.
. As Botas de Karam.
. Ali Baba e os Quarenta Ladroes.
. Aventura nos Sete Mares.
. Historia do Mercador e do Genio.
. O Principe Narigudo.
. Omar e Yasmin.
. Os Principes do Oriente.
. Simbad.


Deu-me um certo gosto escrever esta cronica embora pense que a mesma nao fica completa sem falar abertamente de alguns dos contos mais populares mas isso fica para uma proxima vez e sera mais em genero tambem de Criticsa e analises literarias mas isso fica para uma proxima vez.

Foi-me dificil escolher as etiquetas desta cronica infelizmente nao se pode colocar tudo o que se pensa e quer como alguns leitores devem saber se tem blogs tambem sabem que o espaco de etiquetas e limitado Cultura Geral teve que ficar de fora assim como Historia e Historia Antiga a ideia nessas etiquetas de Historia tambem nao era colocar uma cronica sobre um livro de contos. Coloquei Civilizacoes Antigas e Persia Antiga porque a Persia Antiga era uma antiga civilizacao da Humanidade de onde estas historias tem origem.

Caro(a) leitor(a) agradeco-lhe desde ja pela sua leitura e tempo disponibilizado lendo a mesma cronica porque na sociedade rodeada de stress em que vivemos diariamente correndo de um lado para o outro. Hoje em dia primeiro de manha e uma habitual corrida para o trabalho e depois ao final do dia uma habitual corrida para casa, ate a proxima.

                                                                                                             Manuel Goncalves







2 comentários:

  1. Gostei muito... ..estas histórias são um bálsamo...mostram-nos um mundo diferente do nosso....
    Abraço

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  2. Sao no fundo historia de uma cultura diferente que penetraram na nossa e se enraizaram para sempre.

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