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sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O Segredo da Confissao

 
                                               
Ser-se Padre nao era facil sobretudo pelas escolhas que se tinha de fazer e nao era apenas o celibato que estava em questao. Ser Padre fora o que ele, Antonio Amaro sempre quisera ser e nao se imaginava a ser outra coisa.

Amaro como era apenas conhecido na vila sabia o quanto custava celebrar casamentos sabendo que nunca poderia vir a ter o seu, o baptizar criancas recem nascidas quando ele considerava que o baptismo era o simbolo do arrependimento e as mesmas nao tinham pecado mas quem era ele para condenar ou criticar fosse quem fosse. Para Amaro o que mais lhe custava era o que muita fez lhe contavam no segredo de confissao, fosse o que fosse e por vezes coisas bem serias jamais poderia ser revelado.

Era visto quase como um Santo, estimado por todos na vila mesmo aqueles menos crentes e religiosos ou ate aqueles que tinham uma outra crenca e Religiao para todos ate mesmo para os ateus ele era o Senhor Padre Antonio, Padre Antonio Amaro ou Padre Amaro tendo o nome e a profissao do personagem de Eca de Queiroz naquele que era o seu romance mais conhecido de todos o Crime de Padre Amaro. Porem as comparacoes ficavam por ali. Aquele Amaro, aquele Padre que ali estava nada tinha a ver com o do famoso romance.

Amaro escolhera viver no cimo do cimo de um monte no meio da serra nao so porque a casa era junto da Capela que desde de longa data era cuidada pelo Padre da Igreja da aldeia mas porque ele considerva que ninguem subiria o monte numa noite fria e escura inutilmente e so Deus sabia o quanto lhe custava ser chamado para uma extrema-uncao, pior mesmo so quando tinha que realizar um funeral de um amigo ou de uma crianca pequena.

Amaro tinha a particularidade de nao esconder o que pensava e considerava vivamente que uma crianca recem nascida nao tinha pecados e nao tinha que ser baptizada, nao se recusava a faze-lo mas nao escondia a sua opniao. Amaro era contra a ideia do celibato na sua opniao deveria ser uma opcao de escolha embora ele mesmo que se pudesse casar nao o faria. Defendia a ideia de que na Igreja Catolica deveria ser como na Igreja Ortodoxa em que os padres tem o direito de optar e escolher entre o casar ou ficar no celibato antes de se tornarem padres.

Na rua mal chegava a vila e todos lhe sorriam, todos lhe davam um bom dia consideravam Amaro o seu lider espiritual, o seu conselheiro, aquele que lhes podia levar do pecado ao arrependimento e muito mais Amaro considerava por vezes exagero a forma como o tratavam mas era assim em todo o lado.

Era ainda jovem em inicio de carreira e tinha ainda muito para aprender. Amaro ao entrar na idade adulta decidiu ainda mais do que nunca que iria ser Padre era a unica forma de as pessoas olharem para ele de uma forma diferente como tinham feito ate entao e pensou que no seculo passado muitos teriam tido a mesma ideia na idade mediaval era a unica forma de gentes do povo sair da classe social mais pobre e com menos valor e subir um pouco deixando de fazer parte do povo e passando a fazer parte do clero.

O seu Jogging matinal de casa na aldeia para a Igreja na pequena vila era algo que fizesse frio, calor, chuva ou sol jamais deixava de fazer todas as manhas e era nessa actividade que encontrava as poucas almas vivas que estavam ja levantadas o Pastor que ja levava o rebanho a pastar no prado verdejante do monte e o padeiro que ia destribuindo o pao de porta em porta por vezes encontrava tambem Alice. Alice era uma jovem que quebrara todas as regras tornando-se a ovelha negra daquele lugar ao ser toxicodependente e prostituta. As mulheres falavam mal de si os homens por vezes tambem mesmo aqueles que antes ou depois a procuravam em silencio e no maximo sigilo.

Naquela manha algo estava diferente o Pastor nao se via e o Padeira tambem nao Amaro.Como sempre o Sacerdote corria no seu passo de Jogging escutando as noticias do dia da radio local atraves dos auriculares e depois de terminar a musica de ritmo lento viera a noticia que justificava que a rotina daquele dia parecesse um pouco alterada, o corpo de uma mulher havia sido encontrado na berma da estrada e dava indicios de ter havido assassinato.

Fosse quem fosse pensava Amaro enquanto ainda corria iria sobrar para ele. Era sempre preciso de um Padre para realizar a missa pela falecida para acompanhar o cortejo no funeral, etc. Isso nao o preocupava fazia parte do seu trabalho. O que preocupava Amaro era nao saber de quem era o  corpo, podia ser de uma amiga, de uma paroquiana mais chegada. Ao chegar ao local do ocorrido so o deixaram passar por ele ser quem era o aparato policial era enorme nada lhe fazia lembrar a calma dos outros dias mas aquele era um dia diferente, nao era  um dia como outro qualquer.

A Igreja ficava no centro da vila curiosamente naquela rua estava praticamente quase tudo o que era mais importante na vila, a Igreja, o posto da GNR quase logo ao lado, a taberna e um pouco mais a frente o pequeno tribunal so mesmo posto de saude era do outro lado da vila.

A porta da Igreja o tema de conversa era o ocorrido e ja se sabia de quem era o corpo, era de Alice, a ovelha negra da vila, a jovem prostituta e toxicodependente havia sido aparentemente primeiro violada, depos degolada e assassinada. Tudo parecia ter sido barbaro e a mesma segundo diziam havia sido apunhalada vezes sem conta, alguns so se deram conta da atrocidade do crime quando viram que o mesmo iria tornar-se noticia, primeira pagina de jornal e ja la estava tambem a televisao. Amaro, o Padre Amaro fora ele o escolhido para falar para a televisao.

Na Igreja sentado na primeira fila de bancos de frente para o altar alguem o esperava parecia que estava ansioso e ligeiramente perturbado com os nervos a flor da pele. Era um daqueles do grupo de ateus e uma das vozes que mais criticava a Igreja chegando ao ponto de colocar em causa a sua doutrina de forma dura e radical publicamente.

Para Amaro era uma surpresa ter ali semelhante pessoa e ainda mais surpreso ficou quando a mesma pediu-lhe para se confessar. Amaro alegou que para se poder confessar qualquer pessoa teria que ter comungado tambem e ter a primeira comunhao, etc. Para surpresa de Amaro Alfredo jurara-lhe que tinha feito tudo isso anteriormente.

O Sacerdote conduziu Alfredo entao ate ao confissionario e no fundo estava para alem de incredulo e surpreendido estava curioso e queria ver o que iria sair dali.

Alfredo de lagrimas nos olhos e realmente arrependido pelo menos assim o aparentava perguntou-lhe se o segredo confissao poderia ser revelado? Amaro respondeu-lhe que no fundo podia mas traria imensos problemas para o Sacerdote que o fizesse a comecar pela excomunhao da Igreja entre outras coisas.

O ate entao ateu com quem ele raramente se cruzava e que ate aquela data nunca tinha tido uma conversa saudavel confessou-lhe aquele que ele considerou o segredo mais pesado que lhe havia sido revelado numa confissao ate aquela data e momento pelo menos logo de inicio assim considerou o jovem Sacerdote. Ele Alfredo havia matado Alice a sua amada de sempre naquela noite tinha so tido tempo de ir a casa mudar de roupa depois de vaguear pelo monte ao tomar nocao do que tinha feito procurou alguem a quem confessar o mesmo, nao aguentava aquele segredo consigo somente. Amava Alice mas ela sempre o recusara na noite anterior fora ate a sua casa para solicitar os seus prestimos, discutiram e ele quase sem saber como matou-a e depois livrou-se do corpo considerava-se arrependido mas recusava a ideia de se entregar e confessar o crime.

Amaro explicou-lhe que ele nao o podia absolver, julgar e muito menos condenar recomendu-lhe que fosse para casa, orar, rezar e disse-lhe que talvez Deus se assim o entendesse o perdoaria um dia mas que o processo nao seria facil, nada dava o direito de se tirar uma vida humana, matar um semelhante mas lembrou igualmente que depois do pecado de Adao e Eva o homicidio era um dos mais antigos e condenados na Biblia Sagrada logo quando Caim matara Abel, Amaro deu-lhe uma Biblia e pediu-lhe que le-se e refletice.

O Padre com o tempo e como ja calculava desde do inicio comecou a sentir-se mal, com aquele peso na sua consciencia moral. Sabia quais eram os seus riscos ao ser Padre e a ser confessor, sabia igualmente que o segredo da confissao era inviolavel e em caso de quebrar essa regra sabia bem o que estaria sujeito. Amaro conhecera professores seu no seminario que preferiam morrer, ser presos a revelar algo que lhes fosse contado debaixo de confissao.

Com o passar do tempo Amaro sentia-se angustiado chegou quase a amaldicoar Alfredo e todos os dias ao chegar a Igreja olhava para o outro lado da rua e via o posto da GNR todos os dias Amaro tinha vontade de la entrar e revelar tudo mas lembrou-se que tambem ele nao tinha provas de nada era a sua palavra contra a de Alfredo e se a policia nao conseguisse arranjar provas em tribunal de nada adiantava o testemunho dele.

Com o passar do tempo tambem Alfredo nao se sentia bem sobretudo depois de ver alguem ser acusado do crime que ele proprio cometera e ser condenado inocentemente unicamente porque foram as impressoes digitais dessa mesma pessoa inocente que tinham sido encontradas na arma do crime. Alfredo deduziu e bem que aquele desgracado encontrara a arma do crime e depois voltara a deita-la fora e ao ser mais uma vez descoberta visto que Alfredo matara Alice usando luvas ainda na casa da mesma eram as impressoes do inocente que estavam na arma do crime e que lhe custavam 12 anos de cadeia por homicidio voluntario.

Mais uma vez Alfredo procurara Amaro confessou-lhe que nao aquentava o seu sentimento de culpa matara uma pessoa e destruira a vida de outra e de sua familia e via que tambem ele Amaro se sentia mal em saber o segredo e nao o poder revelar. Amaro respondeu-lhe de uma forma seca e fria se ele estava assim tao arrependido que fosse confessar o crime e mandou-o embora com a ordem para nao mais voltar pelo menos com aquela historia.

Na manha seguinte mais uma vez Amaro ao chegar a Igreja antes de abrir as portas da chamada casa de Deus olhou para o posto da GNR e deu uns passos em frente nao aguentava mais ia revelar tudo quanto mais nao fosse para salvar o inocente que estava na cadeia a cumprir 12 anos de cadeia e afinal 12 anos nao eram 12 dias.

Contra a sua vontade fora obrigado a parar para receber os bons dias de uma paroquiana e logo aquela que parecia ser a mais linguaruda que aproveitara ou desculpara-se com o facto de lhe querer cumprimentar com os bons dias para o por a par das ultimas novidades.

A novidade que corria de boca em boca era a morte de Alfredo o mesmo cometera suicidio e ainda deixara uma carta onde confessara o seu crime. Amaro respirou de alivio ja nao era segredo, ja todos sabiam e certamente o inocente preso iria logo ser libertado, gracas a Deus.

Entrara na Igreja e ajoelhado de frente para o altar orou e pensou o quanto era pesado o ter que manter o segredo da confissao orou e pediu para nunca mais ser posto assim perante uma prova tao dura. Levantou-se olhou a imagem de Cristo crucificado no altar e pensou que Deus tinha feito justica talvez por linhas tortas mas tinha feito justica, por agora nada mais a fazer a nao ser rezar tambem pela alma de Alfredo.

                                                                                                            Manuel Goncalves

2 comentários:

  1. Uma história muito bonita e dramática e com um final quase feliz (não se pode chamar feliz quando há um suicídio, mas...). Na vida há muitas histórias semelhantes, muitos dilemas morais. Devemos ter forças para escolher de acordo com a nossa consciência e lembrar-nos que Deus nos ouve e nos protege.

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  2. Revi este comentario hoje porque ando a fazer uma revisao e escolha de textos para um certo trabalho.

    Nao adianta de forma alguma sermos moralistas, ir a igreja e tudo mais quando o nosso comportamento nao e correcto e por vezes ate leviano. Moral, o que e a moral e uma mulher ir a igreja rezar aos olhos de todos e as escondidas ter um amante?

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