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domingo, 3 de maio de 2015

Memorias, Recordacoes, Saudades e Perdoes

 
 

Fazia agora tres anos ele o Coveiro e responsavel por aquele cemiterio sabia que ela nao iria faltar, era sempre todos os dias do mes que se passava mais um mes apos a sua morte ela nunca deixava de ir visitar o tumulo do seu falecido.

No dia do funeral do mesmo e na hora de levar o caixao para a cova nunca vira ninguem mostrar tanto sofrimento e dor pela morte de alguem, ela era agora viuva uma jovem viuva de 25 anos que chorava desesperadamente e mostrava sentimentos de forma sincera por o seu falecido marido um homem que era parecia amar mas era de facto 27 anos mais velho que ela, estava ali uma forma de mostrar se duvidas ainda houvessem que o amor nao escolhia idades e que a idade nem sempre era um factor de extrema importancia, pensava o Coveiro enquanto ia deitando pazadas de terras sobre o caixao para cobrir o mesmo. Todos os dias via cenas assim mas aquela marcara-o mais que qualquer uma.

Talvez por tudo o que aquela cena lhe tocara e comovera o Coveiro do  cemiterio tinha um especial afecto por aquela campa, mal via erva daninhas a volta da mesma logo tratava de limpar depois veio o marmore na mesma e era de facto uma das campas mais bem cuidadas do cemiterio onde a jarra de flores estava sempre bem decorada e o Coveiro tinha uma atencao em especial para uma das duas fotos se na primeira era uma foto de perfil do falecido a segunda foto era ele e a agora viuva do mesmo a beijarem-se.

Um dia o mesmo Coveiro foi surpreendido pela viuva a tocar naquela foto colocada numa moldura de marmore somente a mesma sorriu e disse-lhe que a mesma era uma das melhores memorias e recordacoes que tinha do falecido marido, falou-lhe tambem de saudade e em nada Noberto, o  falecido, parecia ter de mal para a esposa segundo a mesma descrevera parecia ser o homem perfeito.

Sarah uma jovem inglesa nao olhara para tras e nem dera importancia ao mesmo ser muito mais velho quando ao ve-la lhe pediu em namoro isto numa passagem de ano que aquele medio empresario fora passar a Londres.

Sarah contou e desabafou com o Coveiro, alguem com quem nunca tido uma palavra ate ao momento, quanto valia aquele homem que ali jazia agora. Quanto lhe custara a sua ausencia para todo o sempre naquele mundo. Sarah falou-lhe ainda que quando o mesmo partiu depois de uma luta perdida e injusta contra a um cancro que so pensara ir fazer companhia ao recem falecido marido. A mesma nunca regressara a Londres e a sua terra natal porque sentia que mesmo falecido ele ainda era o seu marido e o lugar dela era ao lado do mesmo.

A inglesa naquele momento olhou em volta viu tudo bem cuidado, tudo limpo nem uma erva daninha sequer a volta da campa do falecido marido e olhou em volta o mesmo na se passava com as campa vizinhas tanto do lado esquerdo como direito. Sabia que isso se devia ao trabalho daquele homem que estava agora junto dela e puxou de uma nota de 50 euros que ele logo recusou, ela insistiu e a recusa manteve-se o Coveiro pediu-lhe entao que desse o dinheiro aos pobres ou melhor que fosse comprar uma jarra e flores e colocasse na campa que encontrasse em pior estado ali no cemiterio.

Ela assim o fez e voltou no fim de semana seguinte comecou a olhar em volta passou a pente fino as campas que estavam ali maltratadas. Sim aquela so podia ser aquela e na companhia do Coveiro com quem ja parecia manter uma certa amizade e cumplicidade comecou o trabalho nao reparando que aquele homem ate agora um sujeito frio e de poucas palavras tinha as lagrimas a correr-lhe pelo rosto, a campa que Sarah escolhera era a da falecida esposa dele.

Parecia impossivel e tinha ali uma licao parecia ter-se esquecido por completo da campa e tumulo da esposa. Toda aquela ignorancia era fruto de um casamento infeliz e que sempre fora problematico bem ao contrario do que aparentemente fora o casamento da jovem inglesa com aquele homem mais velho e havia tambem rumores de uma possivel traicao da qual nascera o filho.

Frederico sentia-se culpado era altura de perdoar ou de mostrar-se arrependido ou talvez ate de ser perdoado a mulher falecera pouco depois do filho nascer e ele nunca tivera coragem de fazer o exames para saber se realmente ela o traira, faltara-lhe coragem mas agora que ja se tinha passado alguns anos tinha mesmo que ser.

Sarah e Frederico apesar de serem de mundos diferentes sobretudo em termos economicos passaram a ter uma certa cumplicidade e a mesma fez mesmo questao de acompanhar o caso levando Frederico e o filho a uma clinica particular para fazerem os exames.

O Coveiro nunca se sentira assim, nervoso e ansioso enquanto os resultados dos exames de paternidade nao saissem. O filho ainda nem era adolescente o que fazer se o teste o resultado do mesmo fosse negativo?, O que fazer se ele nao fosse o pai da crianca? Cavava a cova para enterrar o proximo defunto e pensava que se o teste fosse negativo so tinha contribuido para cavar a sua propria sepultura. Se o resultado fosse positivo os remorsos seriam de uma dor infinita a causa do abandono e falta de cuidado para com a sepultura da falecida esposa sempre fora essa suspeita, essa duvida.

Sarah estava ali agora junto dele em silencio e nem se apercebera de ouvir a mesma chegar ao ve-la parou o que estava a fazer e aproximou-se era chegada a hora da verdade. Sarah decidida como sempre fora ela propria buscar o resultado dos testes e estendera-lhe o envelope com o resultado do mesmo ainda fechado.

Como contar a Diogo que nao era seu pai se o teste fosse negativo? Era agora o que o perturbava mas era tarde demais para voltar atras, de uma forma ou de outra mesmo se nao fosse seu filho a verdade e que sempre o tivera como tal.

Frederico saiu dali nao queria abrir o envelope e saber a verdade ali no meio do cemiterio foi juntamente com Sarah dar um passeio no fim do dia de trabalho para um jardim ali proximo, pegou no envelope, as maos tremiam e a voz gaguejava, leu apenas as primeiras frases e nao conseguiu continuar quanto mais terminar aquela carta que tinha poucas linhas, deu a carta para que Sarah a terminasse.

Como pudera ter desconfiado todos aqueles anos de Silvia, como a pudera ter odiado tanto quando agora diante de si? Todos aqueles anos de duvidas, incertezas, desprezo pela alma da falecida esposa, ignorancia pela sepultura da mesma quando como Coveiro daquele cemiterio onde a mesma se encontrava era sua obrigacao e dever tratar disso.

Abracou Sarah ela fora um anjo que lhe aparecera na vida e a ajudara a compreender o erro que cometera e que agora queria reparar.

Dali para a frente sempre que podia Frederico ia passar o tempo livre para junto da sepultura da falecida esposa recordando as memorias daquilo que tinham vivido, falava-lhe mesmo do filho e de tudo mais, chorava as vezes e confessava ter saudades a vida era isso mesmo por vezes o presente era recordar o passado e nao querer viver o futuro. Frederico so queria ter a certeza de que quando Deus o chamasse para se juntar a sua falecida esposa aquele pecado dele nao tivesse tanto peso no seu julgamento final, amava a falecida esposa e levara anos a sentir a falta que mesma lhe fazia. A vida eram memorias, recordacoes, saudades e por vezes perdoes.

                                                                                                          Manuel Goncalves

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