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segunda-feira, 11 de maio de 2015

Uma Proposta Indecente Mas Bem Intencionada

 

Chegara a Portugal como tantos outros com esperancas de conseguir uma vida melhor. Como tanto outros morria saudades da Ucrania que tinha deixado para tras, agora a vida era outra. Era dificil mas uma realidade estava sozinha em Lisboa mas ao mesmo tempo rodeada de pessoas que nao conhecia, sentia-se feliz e realizada todos os meses quando ia no banco transferir uma parte do seu ordenado para a Ucrania, embora estivesse longe tinha obrigacoes para cumprir por la ajudar os pais idosos que semre se tinham esforcado para que nada lhe falta-se (agora era a sua vez de os ajudar considerava ela) e para o sustento do filho que estava na terra natal e pr quem ela lutava para o poder trazer para Portugal agora que ja tinha uma vida melhor.

Odarka trabalhava agora todo o dia no bar de um clube bem frequentado sobretudo por empresarios onde praticamente punha e dispunha e se tornara  Gerente apos mostrar as suas qualidades. Os colegas nao eram muitos mas adoravam-na, os clientes simpatizavam com a mesma e o patrao esse so la aparecia para o final do dia, se bem que nos ultimos tempos o mesmo era mais visto por la embora confiasse em pleno na empregada de leste. Bernardo um Advogado que se dedicara tambem aos negocios da hotelaria estava cada vez mais certo que fizera bem em ter contratado aquela funcionaria e entregar-lhe a gerencia do mesmo.

A ucraniana sabia que nao tinha sido so a conta das suas qualidades de boa gerencia e profissionalismo que subira no trabalho. Odarka sabia que era sobretudo gracas aos seus atributos fisicos bem evidenciados pelas curvas do seu corpo e pela sua beleza que em parte cativara as boas gracas do seu patrao, no entanto apesar de ver que o mesmo estava caido por si nao sentia o mesmo aproximar-se e fazer alguma proposta indencente, chantagea-la ou algo do genero, admirava isso, era sem duvida um grande homem.

A jovem parecia ter tudo para nao precisar de estar ali com a sua beleza e corpo facilmente triunfaria por exemplo no mundo da moda e faria enorme sucesso nas passereles de desfiles de moda, porem recusava a ideia. Odarka so lutava mesm por uma coisa, trazer o filho para junto de si, sentia necessidade de conseguir isso caso contrario preferia perder tudo em Portugal e regressar a Ucrania nao conseguia viver longe do seu amor, o seu bem mais valioso e tambem nao  podia deixar naquela situacao, ela longe e o pai sabe-se la onde deixara-a um dia para nao mais voltar e nem dar noticias. 

Com ajuda dos conhecimentosde Bernardo que ja a ajudara no seu processo de legalizacao e porque o  filho era uma crianca que nao estava bem de saude Odarka e Bernardo la conseguiram o que pretendiam e o jovem Vsevolod estava mesmo prestes a deixar a pequena aldeia perto de Odessa de onde Odarka era natural.

Algo preocupava Odarka ja nao viva no apartamento miseravel onde a agua escorria pelas paredes e onde o aquecimento era quase nulo. Hoje as coisas ja nao eram bem assim mas a jovem estava preocupada com o estado de saude do filho que segundo os medicos ucranianos era grave, muito grave e fora esse um dos pontos fortes que ajudara a facilitar a vinda do mesmo da Ucrania para Portugal.

Vsevolod chegou e a vida da sua jovem mae alterou-se por completo ja nao era uma mulher livre que ia de casa para o trabalho e que vivia sozinha. Agora passava o tempo entre o trabalho, casa, a escola do filho e as idas ao hospital cada vez mais frequentes.

Odarka chorava e desesperava ja nao sabia para onde se virar Vsevolod tinha um problema de leucemia e precisava de um transplante de medula ossea tinha-se que encontrar um dador compativel com urgencia e a mae para tristeza profunda nao era compativel com o mesmo, ela fizera os exames e nao era compativel com o filho. Ainda que fosse num hospital publico tudo custava dinheiro e a jovem ja havia gasto quase tudo o que tinha nos tratamentos por mais voltas que desse nao encontrava saida e quando se punha a pensar so conseguia encontrar uma solucao, Bernardo.

A jovem ucraniana chegara ao bar com as lagrimas nos olhos a sua ultima esperanca tinha-se desfeito como se um castelo de cartas o banco nao lhe aprovara o emprestimo de 5000 euros para a operacao e tratamento do filho. Nao era justo considerava ela que o filho estivesse morrendo e sofrendo e ela nada mais pudesse fazer. Infelizmente o dinheiro nao era tambem a unica solucao para aquele caso e seguia-se o problema da falta de um dador compativel.

Bernardo viu-a naquele estado e mandou-a para casa no dia seguinte passaria em casa dela e falariam talvez nada estivesse perdido no entanto os sintomas eram cada vez mais evidentes Vsevolod ja perdera o cabelo e estava cada vez mais fraco.

No dia seguinte Bernardo chegou a casa de Odarka sentia que a tinha finalmente na mao a proposta que lhe iria fazer podia parecer indecene mas era bem intencionada. Ia-se procurar desde ja atraves de todos os meios um dador compativel nao so no banco mundial de dadores como tambem ate no mercado negro se fosse preciso e quanto as despesas da operacao do transplante e dos tratamentos Bernardo garantiu que ia custear tudo ate ao ultimo tostao, ela so tinha de aceitar a condicao dele de lhe dar uma contrapartida.

Contrapartida pensou Odarka mas em que estaria a pensar Bernardo, tinha-o como uma boa pessoa e um homem de bem e afinal apesar de parecer que o mesmo estava a fazer uma boa accao estava sim na realidade a tentar tirar proveito de uma situacao e sobretudo a tentar conseguir o que na realidade sempre quisera.

A proposta de Bernardo fosse com boas ou mas intencoes era de facto indecente. A ideia do mesmo era pagar tudo operacao, tratamentos e ate o trabalho de se encontrar um dador de medula ossea compativel com Vsevolod desde que Odarka aceitasse como contrapartida passar uma noite com Bernardo e finalmente a mesma fazer o que ele sempre quisera amor com ele.

Odarka estava chocada com a proposta para Bernardo o custo total de tudo aquilo eram uns trocos podia-lhe emprestar o dinheiro ate porque sabia que lhe podia ir descontando todos os meses do ordenado mas o mesmo nao parecia disposto a isso para o mesmo era tudo ou nada. Odarka olhou-o se por um lado via um homem bonito que tambem nao lhe era indiferente desde o primeiro momento que o vira. Por outro lado via agora tambem com as lagrimas no olhos e perante um profundo silencio um homem oportunista, cinico, egoista e sem escupulos, levantou-se e exigiu que o mesmo abandona-se a sua casa que segundo ela era um sitio pobre mas de gente seria.

Bernardo ficara surpreendido mas ao mesmo feliz com a reaccao de Odarka afinal ela como sempre demostrara era diferente das outras mulheres de leste que ele conhecera e comecara a notar o peso e tamanho erro que cometera. O Advogado sentia que tinha que fazer alguma coisa para remediar a situacao ainda que o melhor era faze-lo secretamente em sigilo sem Odarka ter conhecimento.

Odarka em casa no momento tinha ido ao bar e despedira-se nao tinha mais coragem de olhar Bernardo cara a cara e olhos nos olhos, ia vendo a pagina de empregos a situacao estava dificil e arranjar um novo trabalho estava dificil havia algumas situacoes em que era discriminada por ser estrangeira e outras em que se sentia assim, faltva tambem dinheiro. Naquela tarde tinha uma entrevista de emprego que parecia estar quase garantido mas podia faltar aquele quase, tinha esperanca de conseguir uma vaga para um trabalho de limpezas.

Vestia-se preparava-se para sair quando a campainha tocara fora abrir a porta ainda em roupao e com o cabelo molhado era o funcionario de uma florista com um enorme ramo de flores uma mistura de rosas vermelhas com rosas brancas e mais uma quantidade de flores coloridas e bem cheirosas, Odarka agradeceu surpreendida nao pelas flores mas pela beleza das mesmas apesar de toda a situacao por momentos sorriu e esquecera todos os seus problemas quando caiu de novo na realidade lembrou-se da entrevista de emprego e que comecara a estar atrasada e por fim que estava ainda em roupao. Pegou no ramo de flores que estava agora caido na mesa da sala e so entao ganhara coragem de ler a mensagem que trazia o bilhete que acompanhava o boquet das flores.

"Nao tenho palavras para pedir perdao pelo meu erro. E tarde demais para o remediar, nunca se pode voltar atras mas pode-se apenas remediar a situacao.

Odarka fiz o que fiz porque sempre te amei em silencio, nunca pensei amar outra mulher como amei a minha falecida mas tu foste a pessoa que conseguiu que isso viesse a acontecer. Podia agora esconder-me por detras do anonimato de um admirador anonimo mas prefiro dar a cara.

Tens razao em ter-me visto como viste fui um aproveitador, cinico e egoista mas e tarde para voltar atras. Acredita que estou arrependido do que fiz. Acredita tambem que mesmo a distancia tentarei ajudar-te no teu problema, beijos para ti que sempre amei".

Ps: A minha proposta foi indecente mas era bem intencionada.

                                                                                                               Bernardo Cabral.

A jovem ucraniana ficou com as lagrimas quase nos olhos mas de pe atras como poderia ele ama-la assim tanto se nunca o demostrara verdadeiramente e apesar de ama-la como dizia lhe fizera uma proposta como a que lhe fizera "A minha proposta foi indecente mas era bem intencionada", isso ajudava a justificar alguma coisa. Iria resolver isso depois agora era tempo de ir acabar de se arranjar para ir a nova entrevista de emprego. O tempo parecia correr ou querer fugir naquela manha.

Bernardo estava no seu escritorio e tinha acabado de receber alguem que era mais do que um cliente mas tambem um grande amigo, tinha que redimir-se do que fizera e contava com a ajuda do velho amigo Jorge Amaro. O mesmo era um dos empresarios da construcao civil portugues de maior sucesso alem fronteiras e passava maior parte do tempo no estrangeiro em viagens de negocios, era praticamente Bernardo que geria com sucesso os negocios do mesmo em Portugal. Bernardo explicou-lhe o que queria e o que ele teria de fazer no fim despediram-se com um abraco:

- Sabia que podia contar contigo. Meu velho amigo lembra-te apenas que ninguem ela em particular pode suspeitar que quem esta por detras de tudo isto sou eu.
- Fica descansado. Ela nem vai perceber. Quanto ao resto era o maximo que podia fazer por ti depois de tudo o que tens feito por mim.

Odarka chegara a casa de lagrimas nos olhos o emprego nas limpezas era uma fachada e nao passava de um chamariz para atrair mulheres para uma casa de massagens. O telemovel tocara era o hospital temeu que tivesse acontecido o pior e que Vsevolod tivesse piorado ainda mais.

Um dador compativel havia sido encontrado no Banco Mundial de Dadores de Medula Ossea o mesmo estava nos Estados Unidos mas nem era preciso deslocar-se la para o transplante ser feito tudo ia ser pago a deslocacao do dador, a operacao e os tratamentos seriam pagos por um grande grupo empresarial portugues que tinha o objectivo de apostar em obras de caridade para ganhar uma boa imagem perante o publico e os clientes.

Tudo estava apostos e Odarka parecia nervosa sobretudo quando a hora estava cada vez mais proxima. Estranhara ter aparecido alguem assim tao rapido tanto dador como alguem a pagar tudo de graca, ainda nao se dera ao trabalho de pensar que nos dias que corriam estava cada vez mais dificil encontrar gente boa. A sua frente estava agora Jorge Amaro o homem forte do grupo que patricionara tudo aquilo. Odarka queria agradecer-lhe era sem duvida um homem diferente de Bernardo acerca desse o seu coracao dividia-se apesar da proposta indecente nao deixava de  considerar uma boa pessoa.

A operacao fora um sucesso e tudo correra bem nos dias seguintes Vsevolod comecara a recuperar  cabelo iria nascer de novo certamente como toda a vivacidade de uma crianca de oito anos de idade, chegava de sofrimento. Finalmente tinha frente a frente Jorge Amaro que lhe sorriu os ultimos dias haviam sido complicados mas onde se mostrara uma enorme onda de solidariedade e onde fora criado um fundo para as pessoas poderem ajudar na causa em questao "Todos pelo  Vsevolod", era o slogan mais ouvido nos ultimos dias. Apesar de se saber que tudo estava praticamente assegurado o custo de tudo. Quando o caso chegou a televisao o fundo bancario quase que triplicara:

- Nao tenho palavras para agradecer-lhe! Nao sei como faze-lo senhor Jorge Amaro! - replicou a mesma pela decima vez - Ainda ha gente boa.

Estava na hora de Odarka saber a verdade e saber que essa boa alma ou pessoa era alguem tao proximo de si:

- Odarka as pessoas erram. - Comecou Jorge - mas errar e humano nao me agradeca a mim agradeca antes a alguem que voce bem conhece e que realmente errou mas tudo fez por merecer o seu perdao.
- Quem?
- Bernardo Cabral. Foi ele que procurou um dador por todos os meios, pagou deslocacoes, custos do transplantes e tratamentos, desde o inicio que eu fui apenas a pessoa que deu a cara por ele.

Odarka quase caira ao chao de surpresa. Como era possivel nao ter suspeitado de nada? Bernardo afinal nao era o mau caracter que ela por vezes imaginara, cinico, aprveitador e tudo mais. Correu para o bar onde o mesmo sentado numa mesa parecia esperar por ela e estava de facto.

Abracou-o num ataque de choro monumental e pediu-lhe desculpa e perdao. Agradeceu-lhe por tudo e o mesmo retribuiu-lhe o pedido de desculpa sentaram-se para conversar no entender de Bernardo estava na hora de ela saber que ele a amara desde o primeiro momento que a vira esse amor e paixao foi-se tornando algo possessivo sobretudo depois dele ver que nem todo o dinheiro dele chegava para comprar esse amor em condicoes normais. Viu-a numa situacao dificil e pensou que agora tudo seria mais facil, tinha-se enganado, infelizmente para ele mas viu que Odarka era a mulher que ele sonhara encontrar.

Anos depois Odarka chega a casa o filho Vsevolod jogava num clube de renome portugues e naquele fim de semana marcara mais um golo possivelmente seria vendido a um clube estrangeiro. Odarka da ordens a cozinheira para nao preparar o Jantar pois ela e o marido vao Jantar fora e como sempre vem receber o marido que chega a casa com um beijo e um abraco Bernardo sente-se feliz aprendera com Odarka e com aquela proposta indecente mas bem intencionada que o amor nao se compra... conquista-se. Com tudo aquilo tinha tido uma boa licao na vida, ele ja sabia que o dinheiro nao era tudo na vida Odarka dera-lhe a certeza disso.

                                                                                                         Manuel Goncalves






2 comentários:

  1. Gostei do conto, há histórias semelhantes a esta na vida real. Mas também há outros casos em que os (as) imigrantes não têm tanta sorte. Talvez uma conclusão seja a de que, por mais difícil que nos pareça a vida, algum dia haverá uma hora mais feliz e vale a pena ter esperança que tudo melhorará.

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  2. Sentim isso quando miudo ainda com 20 ans cheguei ao Reino Unido. Miudo que julgava saber mas pouco sabia da vida. As dificuldades foram muitas fase de adaptacao, clima diferente e sobretudo lingua mas nem todas as dificuldades iniciais jamais me deram vontade de desistir e voltar atras.

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