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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Amor, Preconceito e Justica

 
 
Tudo o que estava contra aos ideais e pensamentos da Igreja e sociedade em geral mesmo quando se falava ou tratava de assuntos relacionados com amor parecia ser preconceito mas elas ja tinham lutado tanto, ja tinham enfrentado tanta coisa e tinham conseguido o que mais procuravam e o que mais desejavam, apoio dos familiares e amigos(as), esse era o ponto que consideravam ser de maior importancia afinal fora do grupo de amigos e familiares que importancia tinha a opniao dos outros.

Sentiam que era a sociedade que as tinha de aceitar como aceitara casamentos entre racas e etnias e que nao seriam elas a ter que aceitar e a seguir o preconceito social por causa da sua escolha sabiam que uma das maiores forcas contra a si e a sua luta pelos direitos a igualdade era a posicao da Igreja e a opniao da mesma mas achavam que nisso seria bem melhor se a Igreja se preocupa-se com a podridao que estava no seu interior com os escandalos de pedofilia e abusos sexuais que eram cada vez mais expostos nos jornais.

Alda Dias e Patricia Pinto eram a cara da luta pelos direitos a igualdade para com os gays tanto homosexuais como lesbicas e era o que elas eram nao o escondiam de ninguem amigas de liceu que pela escolha de areas de estudo diferente se separaram e tambem pela partida da familia de Alda para o Porto para onde foram viver. Algumas desilusoes depois voltaram a encontrar-se a poucos anos e agora estavam juntas como nunca tinham estado trocando juras de amor eterno e dando a certeza de lutar contra a tudo e a todos.

Alda Dias era Economista no Banco de Portugal deixara de exercer funcoes na mesma identidade para seguir a carreira politica como Deputada, sentira no inicio que era fortemente descriminada devido as suas tendencias sexuais nao serem as correctas aceites pela sociedade escandalizou tudo e todos quando afirmou numa entrevista na televisao em horario nobre que se tinha tornado lesbica quando se apercebeu de que os homens nao valiam nada.

A Deputada tinha sido casada e tinha um filho um bebe de dois anos que era a sua principal razao de viver mas a alegria do seu nascimento de foi de pouca duracao. O casamento foi-se desfazendo como um castelo feito com pecas de domino apos se tocar em uma so peca e quando o ex-marido comecou com atitudes de violencia domestica foi a gota de agua, a separacao foi o proximo passo seguido do divorcio recente.

A super mae como lhe chamavam sempre tinha tido uma tendencia para gostar de mulheres mas demorara a aceitar essa mesma tendencia. Foi ainda no liceu que conhecera aquela colega de turma e com quem tivera a primeira relacao sexual com uma mulher poucas outras se seguiram mas aquela relacao com Patricia ficara na historia foi a primeira experiencia de lesbianismo das duas e sexual tambem eram ambas virgens.

Patricia ao contrario de Alda nunca procurara esconder as suas tendencias e usara a revista semanal que pertencia a sua familia como arma de luta pelos direitos de igualdade sexual. Nao era facil relacionar-se com os homens no seu dia a dia muitos tentavam aproximar-se dela com intuito de serem o primeiro a come-la como ouviu certa vez um dizer a mesa numa conversa de colegas de trabalho onde ela nao estava ou pelo menos nao estava visivel mas ainda ouviu a afirmacao do sujeito o resultado foi ela preparar-lhe uma cilada e acabar por despedi-lo da revista com justa causa, assedio sexual era uma acusacao grave, era crime e podia causar serios problemas ao sujeito.

O reencontro entre as duas foi ocasional mas acabou por ser magico. Sem saber ainda de quem se tratava Patricia quis ser ela propria a dirigir uma entrevista com uma Deputada lesbica assumida que prometia travar uma luta para levar ao parlamento a aprovacao dos casamentos entre gays, lesbicas e homosexuais. A mesma entrevista era a parte chave, fundamental e quase crucial ou indespensavel para o trabalho que a revista ia publicar.

Aquilo tinha que ser feito desde que a revista se comecara a dedicar um espaco a esta causa e a outra semelhante com reportagens e entrevistas ao contrario do que os criticos diziam o numero de vendas em algumas edicoes chegou a quadriplicar o que levou a que fossem feitas algumas edicoes extras e especiais. O mesmo facto mostrava nao so que estavam no bom caminho como provava que os portugueses comecavam a ter uma mente mais aberta, a nao serem tao conservadores e a nao seguirem tanto a palavra da Igreja, era de facto igualmente fruto de uma nova geracao se fosse a vinte anos atras as dificuldades seriam ainda maiores. O referendo que aprovarara a pratica do aborto tinha sido apresentado ao povo e dado a escolher o que os mesmos queriam anteriormente o nao saira vitorioso com a nova geracao vencera, Alda e Patricia tinham a certeza que se o caso e a luta a qual elas se dedicavam de corpo e alma com todas as forcas fosse a referendo nacional muito dificilmente o nao a lei de aprovacao dos casamentos entre pessoas dos mesmo sexo sairia a ganhar, era um facto que todos sabiam.

Do outro lado da luta estavam forcas muito fortes mas comecavam a perder pontos com a criacao de piadas de humor negro publicadas em cartoons, cartazes, espacos de banda desenhada em revistas mas os homens eram os mais humilhados. Havia o caso marcante de dois homens que estavam na cama e um se virava para o outro e dizia: "- Nao te esquecas de usar o preservativo que eu nao ando a tomar a pilula" ou o caso de o homem que se virava para o filho e dizia: "- Vai chamar a tua mae para vir Jantar. - o miudo ia e voltava com a seguinte resposta. - Ela ja vem pai esta a acabar de desfazer a barba". Eram casos do genero que iam ganhando espaco mas os homens sem duvida eram os mais marginalizados.

Alda como Deputada na Assembleia da Republica foi a figura principal da luta para que o casamento de gays fosse aprovado. Os seus discursos foram convencendo alguns dos presentes e o facto de ser Deputada do Partido que tinha a maioria ajudou a que se comecasse a falar na aprovacao da lei.

Nas ruas as marchas de luta pela aprovacao e de luta contra a ideia da aprovacao da lei comecaram a ser cada vez mais constantes chegando mesmo a haver confrontos fisicos depois das ofensas verbais. Quem estava de fora comecou a ver que os gays eram mais pacificos respondiam aos confrontos fisicos porem nao eram os mesmos que iniciam com eles, as ofensas verbais eram ignoradas e comecaram a ter cada vez mais apoiantes.

O Presidente da Republica ia falar a nacao sobre o mesmo assunto, finalmente. Era esperado de uma vez por todas se o Presidente ia aprovar ou revogar a lei que aprovaria a lei que permitira o livre casamento entre gays.

O Chefe de Estado sempre com o seu discurso que parecia ter sido preparado com todos os detalhes foi falando no seu tom sereno e calmo. Explicou que com a crise que o pais atravessava era mais preocupante conseguir reunir condicoes para se obter um novo emprestimo do FMI, considerou que era mais importante retirar o pais da grave situacao economica e financeira em que se encontrava. Afirmou mesmo que considerava um absurdo e discrimicao continuar a marginalizar as pessoas por suas opcoes de escolha em democracia e num pais livre isso nao podia continuar a existir e terminou declarando que iria aprovar a mesma lei que passaria a aceitar o casamento em Portugal entre pessoas do mesmo sexo, quanto a um novo problema sobre a aprovacao dos mesmos casais poderem passar a adoptar criancas era algo que se teria de ver mais tarde.

Num bar de gays onde naquela noite se encontravam Alda e Patricia foi a explosao de alegria, abracos, beijos e ate lagrimas era assim que aquela gente mostrava agora o sentimento de vitoria naquela luta tao dura, so eles e Deus sabiam o quanto dificil tinha sido chegar ali.

Alda e Patricia estavam deitadas e faziam planos queriam casar o mais rapido possivel logo assim que a situacao de Alda que lutava em tribunal com o ex-marido pela custodia da filha da mesma estivesse resolvida comecariam a tratar disso.

O ex-marido da Deputada disputava o poder paternal da filha para poder-lhe exigir contrapartidas como pensoes de alimentos, etc. Era um oportunista, tipo que jogava sempre sujo para levar a melhor e que gostava da vida facil. Vivia dos negocios escuros em que estava envolvido e procurava prejudicar a ex-mulher em tudo ate naquela luta em que ela e os que eram como ela tinham acabado de ganhar.

Alda estava a preparar-se para ir ate aos estudios da televisao tinha sido convidada para um debate sobre a lei que o Presidente da Republica tinha acabado de aprovar. Era um debate do tipo Pros e Contras, com convidados que defendiam as ideias e onde iriam apresentar seus pontos de vista. No estudio tambem haveria uma plateia de convidados que podiam lancar questoes assim como qualquer cidadao o poderia fazer em directo via telefone. Era a primeira grande entrevista sobre o tema desde que se soubera que a lei iria ser aprovada.

 Bem preparada, directa, segura e sempre sorridente foi assim que Alda se comportara ignorando as provocacoes na rua a porta dos estudios do canal de televisao onde iria ser o debate. Estivera a altura e desafiara a Igreja a procurar acabar com os escandalos de pedofilia dentro do seu seio em vez de andar a condenar os chamados gays. De um lado ouvira-se aplausos do outro vozes de protestos e minutos depois tudo chegara ao fim.

Patricia esperava Alda no carro queria leva-la para casa ou qualquer outro lugar onde soubesse que a mesma estaria mais segura que ali. Pelo aparato ca fora sabia que a companheira tinha a cabeca a premio e achava que as forcas policiais ali eram tao poucas para tantos manifestantes. Nao se apercebera sequer do carro que parara a sua frente e de onde saira um homem assim que a companheira saira a porta do edificio do canal de televisao. O mesmo sujeito mal se conseguia ver o rosto era Verao mas estava com o rosto escondido encoberto pelo acasalho que vestia e do sobretudo tirou a arma de fogo que apontou a Deputada.

Pum, pum, pum, pum... e um ultimo pum Alda fora brutalmente atingida com cinco tiros quase a queima roupa e a camisa branca que vestia estava agora coberta de um mar vermelho de sangue antes de desfalecer apenas pedira a Patricia que fora a primeira a chegar juntos de si que cuidasse bem de Sonia e fechara os olhos para sempre, ja nao respirava quando chegou os primeiros socorros.

O atirador assassino conseguira meter-se em fuga ninguem o conseguira deter no meio de todo aquele aparato nem mesmo a policia atirar a queima roupa sobre o mesmo era temido por qualquer agente como era obvio mesmo assim conseguiram identificar-lhe o rosto e atraves de um retrato robot chegara-se ate a identificacao da mesma pessoa.

Gervasio Cavalcante era um matador profissional brasileiro pelo que comecou a por-se de parte a hipotese do mesmo ser um fanatico radical contra os casamentos gays que matando Alda poderia considerar que estava a destruir a cabeca de toda aquela luta. Gervasio entrara em Portugal dias antes com um passaporte em que a sua identidade nao era falsa pelo que era esperado que o mesmo fosse sair de Portugal com o mesmo documento e nao havia indicios de que o tinha feito ate a PJ e a Interpol terem lancado uma caca ao homem que comecara por fechar as fronteiras e lancar o alerta maximo nos aeroportos e portos fluviais. O homem nao aparecia mas era certo que ainda estava em Portugal.

Logo assim que fora o funeral de Alda o seu ex-marido procurou Patricia para que lhe entregasse a filha e agora a antiga companheira de Alda atravessava uma nova luta. A vontade de Alda contava muito e havia pessoas que testemunhavam que na hora da morte a mesma pedira a Patricia para cuidar de Sonia mas seria dificil vencer aquela causa. Alda e Patricia nem sequer tinham chegado a casar e a mesma nao era nada em relacao a menina, tinha sido apenas companheira da sua mae. Do outro lado porem, estava o pai. Era um homem que nao inspirava confianca pelos problemas que tivera com a justica anteriormente e pelos negocios em que estava envolvido, mas era o pai e reclamava a filha para si.

A audiencia tinha sido equilibrada e a menina estava entregue a Patricia ate o Juiz tomar a decisao final iria faze-lo naquela manha pelo que Patricia se levantara mais cedo que o habitual. Todas as manhas a mesma coisa chorava a falta de Alda na cama, nao suportava a ideia de ja nao poder reclamar com ela por lhe roubar o espaco na cama ou ate a almofada, ja nao tinha Alda para lhe pentear o cabelo pela manha, ja nao tinha quem lhe apertasse o vestido nas costas e tudo mais. Agora corria o risco de ficar tambem sem Sonia alguem que ela jurara criar e proteger como se fosse sua filha.

O Juiz comecara a leitura da sua decisao e declarou que se tinha visto numa das decisoes mais dificeis de toda a sua carreira. No entender do mesmo o pai da crianca havia tido problemas com a justica mas nunca nada de concreto ficara provado, nunca chegara a ser condenado e actualmente conseguira provar que tinha uma vida digna e honesta na sua decisao so tinha a lamentar ir de contra a vontade da mae ja falecida mas que a lei era assim mesmo e tinha que ser cumprida estando o pai ali presente a reclamar a filha e do outro lado apenas alguem que fora companheira da mae da crianca a lei ditava que o poder paternal valesse e falasse mais alto. Sonia tinha sido acabada de ser entregue ao pai.

Patricia estava fora de si, chorava e nao se conseguia controlar quase desmaiara quando o ex-marido de Alda chegara junto de si e lhe tirara a filha dos bracos tambem essa nao queria ir com aquele homem, Sonia tinha cinco anos e nao sabia quem era o pai ou qual era o significado da palavra ou pessoa.

O que se sucedera de seguida foi tudo muito rapido agentes da Policia Judiciaria chegaram junto do ex-marido de Alda e deram-lhe ordem de prisao imediata alegando que Gervasio Cavalcante tinha sido detido na vespera e que confessara todo o crime.

O ex-marido de Alda tinha contratado o mesmo para matar a ex-mulher e ficar com o poder da filha que por sua vez herdaria os bens da mae como menor de idade o mesmo de seguida seria eleito tutor e gestor de todos os bens ate a filha completar 18 anos entretanto era certo de que iria pode usufruir da mesma fortuna. O crime fora macabro sem duvida mas o ex-marido de Alda tinha dividas escondidas e nao tinha como as pagar. O assassino confessara tudo ao ser detido quando tentava embarcar as escondidas num barco de pesca e tencionava regressar ao Brasil, Gervasio ao ser detido nao aceitou a ideia de pagar por tudo sozinho alem de que a confissao iria ajudar a uma reducao da pena.

Ja com o ex-marido de Alda detido e condenado uma nova audiencia para decidir o futuro de Sonia e dessa vez nao restara ao Juiz entregar a menina a antiga companheira da mae ou manda-la ser entregue a uma instituicao qualquer de abrigo a criancas desamparadas.

Patricia chorou mas desta vez de alegria perdera a companheira mas ganhara aquela filha e ia ser sempre assim que iria considerar aquela crianca que ela ajudara a criar ainda em bebe. Sairam dali e foram para casa enquanto ia preparando para o Jantar a refeicao preferida de Sonia ia pensando que era uma mulher vitoriosa e o amor vencia sempre o preconceito quanto mais nao fosse por uma questao de justica.

                                                                                                                 Manuel Goncalves


1 comentário:

  1. Lembro-me agora que tenho de marcar um
    encontro contigo, num sítio em que ambos
    nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
    das ocorrências da vida venha
    interferir no que temos para nos dizer. Muitas
    vezes me lembrei de que esse sítio podia
    ser, até, um lugar sem nada de especial,
    como um canto de café, em frente de um espelho
    que poderia servir de pretexto
    para reflectir a alma, a impressão da tarde,
    o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
    quando é preciso encontrar uma fórmula que
    disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
    que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
    aquela que permite a passagem à comunicação
    mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
    de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nós
    leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
    ser, como se uma troca de almas fosse possível
    neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
    me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas
    vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
    isto é, a porta tinha-se fechado até outro
    dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
    as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem
    sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
    um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
    para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
    é também a mais absurda, de um sentimento; e, por
    trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
    seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
    do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
    encontrar, que há-de ser um dia azul, de verão, em que
    o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
    que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
    que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
    das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.
    (Nuno Júdice)

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