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domingo, 2 de agosto de 2015

Os Amantes



Amantes, nao gostava desse titulo, nao a via dessa forma, nao gostava da palavra. Soava-lhe a algo ilegal e clandestino. Era nao so o adulterio mas a palavra desde logo lhe parecia envolvida de imoralidade ou recheada de pecado por outro lado via que a Igreja que condenava tanto o adulterio com todas as letras procurava esconder os casos de pedofilia que tinha dentro da mesma Igreja e que estavam a tornar-se nao apenas publicos mas escandalaos cada vez maiores.

Aceitara a situacao porque tinha esperanca que tudo mudasse e realmente mudara apesar de tudo o que ela lhe prometera e jurara quando a corda nao deu para puxar mais, quando no ultimo esticao tudo tudo rebentou ele viu que tinha sido enganado. Sentiu que ela cometera uma dupla traicao e tambem o traira a ele nao apenas ao companheiro de tres decadas de vida, as juras e promessas que ela lhe fizera tinham naquele momento em que ela pusera um termo em tudo sido falsas e tinham ficado por cumprir, mais uma vez.

No inicio aceitara tudo aquilo porque apesar dela nao ter jurado deu-lhe aquela esperanca e ele simplesmente acreditou nela, dizem que o amor e cego talvez o fosse mesmo pouco importava agora. Iriam ficar as recordacoes dos beijos trocados, das vezes que tinham feito amor, das loucuras cometidas e de todos os momentos de cumplicidade.

Pensara que ela sabia o que estava a fazer quando o desafiou para manterem aquela relacao mas finalmente agora via que estava enganado. Ele nao queria iniciar aquele relacionamento porque ja sabia que o mais certo era tudo acabar assim e quem iria ficar a perder era ele. Nao queria iniciar tudo aquilo mas de uma forma ou de outra ela convenceu-o dando-lhe esperancas de lhe dar tudo o que ele sempre mais desejara, o amor dela mas nao daquela forma mas ela nao lhe prometeu isso mas dera-lhe a esperanca de deixar o marido para ficar com ele.

O divorcio fora algo que nunca, jamais lhe devia ter passado pela cabeca ainda que de uma forma muito remota. Sabia que ela o amava mas sabia igualmente que ela era demasiado fraca para tomar coragem de ter igualmente tomar uma decisao tao forte, tao radical que lhe faria dar uma volta de 180 graus na vida. Ela deveria saber tudo isso quando lhe fez certas promessas mas no entanto mesmo sabendo que nao era assim tao forte para as cumprir fizera-as. Tal como ele sempre pensara os amantes ate podem ser mais amados mas no fim quem ganham sao sempre os maridos.

Ele nao se sentia derrotado perante o marido dela por uma unica razao. O divorcio fora uma ideia que nunca passara pela cabeca dela por isso ele sentia-se enganado, traido por ela mas nao derrotado pelo marido dela, isso nao.

Sentava-se no sofa ou deitava-se na cama e pensava que aquela mulher nao devia saber, nao devia sequer imaginar ou calcular o quanto ele a amara. Aquela mulher que mais uma vez o recusara e o traira como igualmente o recusara e traira a tanto tempo atras  nao sabia ou imaginava o quanto representava para aquele homem. Ela para ele era um pouco de tudo era a mulher que ele amava, a pessoa com ele gostava de fazer amor. Ela era a pessoa com quem ele nao era capaz de viver com a sua ausencia mas agora iria ter de o fazer, ela assim o obrigara, assim o exigira, proibira-o de a voltar a contactar.

Nao suportava as coisas horriveis que ela ainda lhe disse mais tarde. Acusou-o de todo o mal que lhe estava a acontecer, acusou-o de ele ser a pior coisa que acontecera na vida dela, disse-lhe que a relacao deles havia sido um erro que nunca deveria ter acontecido e mais uma vez exigira-lhe que ele nao voltasse a entrar de novo na vida dela.

Chorara, sim um homem tambem chorava afinal. Ao mesmo tempo em que chorava, em que se sentia enganado e traido sentia-se sobretudo revoltado. Ele romantico, meigo e carinhoso como ela enchera-a de amor, ternura, carinho que ela afirmava nunca ter sentido e nem recebido. Para que? Ele via que nada tinha adiantado, nada tinha valido a pena tudo aquilo tivera ate algum valor para ela nao tivera a menor importancia na hora da decisao final.

A decisao final chegara quando por acidente e descuido dela o marido descobrira tudo e agora ja nada havia para esconder a solucao mais facil era terminar tudo com o lado mais fraco e ele era, ou pelo menos parecia o lado mais fraco.

Ela justificara a decisao em que tudo aquilo era imoral, era pecado, era doentio e proibido. Quem era ela agora para vir falar de pecado e de imoralidade, ela!!! Logo ela que tudo fizera para que tudo aquilo tivesse um inicio e agora falava ate em castigos divinos, em comportamentos levianos.

Abria a pagina dum livro que ela lhe oferecera no seu aniversario e sorria ela soubera escolher bem mal o titulo, era um romance, O Tempo dos Amores Perfeitos. Nunca existira perfeicao naquela relacao, as coisas nunca puderam ser como ele queria, como ele desejava, como ele sempre sonhara. Tudo fora vivido de forma clandestina e escondida como em tantas outras relacoes proibidas e ele sempre idealizara algo diferente.

Como um bom entendido em historia comparava a sua relacao com ela como a de algumas relacoes que tao fortes que foram atingiram a fama e ficaram nas paginas da Historia de Portugal como a historia de amor igualmente proibida de Pedro I e Ines de Castro ou a historia de amor de Camilo Castelo Branco e Ana Placido.

O amor dele por ela era maior que tudo na vida mas dificilmente chegaria as paginas da Historia de Portugal mas jamais seria apagado da memoria dele e coracao, amava-a apesar de tudo, amava-a como nunca amara ninguem e defendia a ideia de que levara Miguel Esteves Cardoso a dar nome a um livro seu O Amor e Fodido. Pensara assim apesar do palavrao e talvez por isso preferisse dizer que o amor tinha razoes que a propria razao desconhecia, era nao so um pensamento mais bem comportado como filosofico tal como ele, amo-te C M desabafara no fim.

                                                                                                                   Manuel Goncalves

1 comentário:

  1. Ausência
    Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
    Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausta.
    No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
    E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
    Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
    Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
    Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
    Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
    Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
    Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
    Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
    Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
    Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
    E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
    Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
    Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
    E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
    Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
    (Vinícius de Moraes)

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