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sábado, 26 de setembro de 2015

Amor no 11 de Setembro de 2001



Ele saira de casa sem um beijo, uma palavra, um beijo sequer. Depois da violenta discussao da noite anterior nao era para menos, porem ele reconhecia que nao tinha um feitio facil e nao era nada, mesmo nada acessivel.

O tempo passou estavam casados a vinte anos e fora o filho e a filha que tinham mantido aquele casamento e apesar de tudo tanto ele como ela eram muito dedicados a familia pelo que o divorcio era como que destrui-la por completo. Apesar dos problemas no casamento originado por conflitos entre ambos e traicoes mutuas o casamento continuou. O problema com a divisao dos bens tambem era uma forte razao para o casamento estar de pe. Ele comecara a sua fortuna e patrimonio com o dinheiro e nome de familia da sua esposa mas nao estava disposto agora assim do nada a entregar-lhe metade de todos os bens, da fortuna que ele construira praticamente sozinho e entregar-lhe metade de tudo. Ela, a ela, logo a ela pensava ele que sempre fora a filhinha de boas familia mas que nunca trabalhara e nem fizera nada de util na vida para alem da organizacao das festas de beneficiencia e solidariedade. Vindo dela a unica coisa a que dava valor era aos filhos que ela lhe dera.

Ela acordara pela manha e fora ver a sua agenda e o que tinha apontado para aquele dia. Olhou-se ao espelho e pensou que estivesse apontada ou nao uma ida ao salao de cabelereiros era urgente, abriu o armario e viu tambem que nao tinha nada de novo para vestir, ir ao cha da Duquesa sem um fato novo, nem pensar.

Sentia que se tinha esquecido de alguma coisa quando se lembrou de um momento para o outro que estava na segunda semana do mes e conforme estava combinado com Telmo era a semana da mesma ter a mesada para os gastos no bancos nao estando ele em Portugal esperava que o mesmo nao se tivesse esquecido disso mais uma vez. Era insuportavel para alguem comer feijao com arroz sabe-se la com mais o que quando toda a vida fora alimentada com lagosta e caviar, era esse o seu pensamento e era por isso que nunca o trocara por um dos seus amantes. Telmo ja nao a amava e ela pouco amor sentia por ele mas bastava olhar para os seus olhos e parecia-lhe ver o chequezinh de cinco mil euros mensais que embora por vezes caisse no esquecimento mesmo com uns dias de atraso nunca falhava. Por vezes quando as coisas estavam bem e os negocios tinham sucesso 5000 euros ganhava Telmo em minutos.

Telmo era Advogado e tinha escritorios em varias partes do mundo visto ser representante em Portugal de muitas Multi internacionais e representante de muitas Multi nacionais no estrangeiro alem do facto de ser descendente de um Norte-americano e uma portuguesa pelo facto de se ter formado nos Estados Unidos Telmo Monteiro Lewis tambem era um advogado bem conhecido dos tribunais americanos.

Para o Advogado nao havia nada mais emocionante que uma boa causa rodeada de Jurados, gostava de sentir que convencia aquele grupo de pessoas que eram cidadaos normais e que eram escolhidos para considerar um reu culpado ou inocente. Telmo foi com o tempo ganhando a fama de Advogado que livrara da pena de morte alguns condenados levando-os a uma prisao perpetua e em dois casos ate a absolvicao alem de ser bem conhecido nos corredores da morte. O Advogado considerava a justica americana completamente diferente da portuguesa sobretudo porque considerava a justica lusitana demasiadamente branda em comparacao a justica das terras do Tio Sam. Era impensavel num pais onde os julgamentos nem tinham jurados existir penas pesadas como a pena de morte.

Lidia Lewis ligara a televisao naquela manha antes de sair para ir as compras e notara que algo de estranho estava a acontecer no mundo. Aquelas imagens eram horrorosas ja para nao falar dos gritos de medo e dor de quem assistia a tudo aquilo ao vivo.

Entrou em panico primeiro nao conseguia apagar da memoria aquilo que acabava de ver numa fraccao de segundos aquela imagem no seu cerebro mudava de colorido para preto e branco de parecia ter um zoom estando longe e aproximando-se e nisto ao vivo e em directo para o mundo inteiro viu o segundo aviao bater nas torres gemeas do World Trade Center, aquilo nao tinha sido um acidente era um ataque terrorista. Quem teria coragem de desafiar o poder da maior potencia mundial, Estados Unidos? So um louco ou fanatico!

Sabia que Telmo estava em Nova Iorque, sabia que ele tinha o escritorio de advogados no ultimo andar de uma daquelas torres que tinha acabado de cair perante o seu olhar e talvez tivesse sido visto igualmente por milhoes de pessoas.

Ele era de facto o homem que fazia algum tempo que deixara de amar, ele era o homem que desde a muito lhe era constantemente infiel mas nesse ponto reconhecia mais uma vez que estavam perante um empate tecnico. Ele fora-lhe muitas vezes infiel e ela era a primeira a reconhecer que tantas outras vezes lhe repetira a gentileza. Ele pensara ela era de facto o homem com que estava casada por conveniencia apenas mas recordara que aquele era o homem que lhe dava tudo sem lhe pedir nada.

Ainda estava palida sem saber o que fazer e como reagir mas correu a ligar para o telemovel dele, estava desligado, no escritorio igualmente, no apartamento de Midtown Manhattan era o mesmo. Ele estava portanto incontactavel e a hipoteses de saber se ele estava bem comecavam a ser remotas. Tinha que saber alguma coisa antes de os filhos acordarem.

Ele estava de facto na segunda torre a ser atingida e assim que vira o embate na primeira torre decidira talvez mais por instinto por-se ao fresco entretanto os elevadores estavam ocupados e ele foi a correr escada abaixo eram muitos andares de facto mas em algum pelo caminho ele havia de apanhar um elevador. Qulaquer coisa era mais segura que estar ali dentro, desde o primeiro momento que suspeitou de um atentado sabia bem  o odio que os clientes das petrolifas arabes sentiam pelo mundo ocidental em especial os Estados Unidos.

Ela tentara de tudo e ja colocara a Embaixada Portuguesa nos Estados Unidos a procurar saber se haviam vitimas portuguesas no atentado e se Telmo era uma dessas vitimas a primeira resposta foi rapida e nao era nada inspiradora. Havia portugueses na lista de vitimas assim como havia dados de que Telmo estava dentro da segunda torre a ser atingida apenas ainda nao sabiam se ele estava entre a lista de pessoas que tinham fugido a tempo e outras que estavam feridas e tinham sido transportadas para o hospital. A situacao estava um caos aquilo que ate a pouco era o centro mundial das financas e da econmia agora parecia apenas um hospital. Das torres ja nada existia senao a montanha de destrocos no chao.

Ele apenas sentira um enorme estrondo e o chao ruir-lhe aos pes pouco depois ficara encurralado e debaixo de alguns destrocos a dor era enorme mas estava vivo, se tinha dores era porque estava vivo nao conseguia libertar-se daquilo que lhe caira em cima e muito menos sequer ver claramente a sua volta. Via apenas a escuridao e sentia uma enorme nuvem de poeira. Comera por fim a sentir uma enorme falta de ar como se tive asfixiado.

Sem saberem disso, sem sequer pensar ou sonhar ambos naquele momento tiveram os mesmos pensamentos e iam pensando um no outro.

Enquanto ela ja rezava por ele e o mundo ia mostrando imagens da da tragedia em que a lista de vitimas mortais aumentava cada vez mais e onde as mesmas eram de varias partes do mundo, ela ia pedindo a Deus que o salvasse, que o trouxesse de volta ao lar, para junto dos filhos e so agora reconhecia a falta que ele lhe fazia e nao apenas pelo interesse financeiro e economico mas tambem para dizer-lhe que ele lhe fazia falta, fazia-lhe falta porque o amava e nunca o deixara de amar mesmo quando o traira com homens que nem chegavam aos calcanhares dele.

Queria sair dali era a unica forma de se salvar e com forcas quase desumanas que ele nem nunca julgara ter conseguiu livrar-se do peso que lhe havia caido em cima e por momentos o deixara caido no chao. Um pouco mais a frente ja conseguia respirar melhor olhou uma janela e viu como estavam as coisas la em baixo com os bombeiros esticando camas elasticas e gente saltando para se salvar. Olhou para cima estava tudo em chamas o cimo da torre tinha deixado de existir. A ideia assustava-o mas certamente nao tinha outra solucao senao subir o parapeito da janela e preparar o salto. A Altura era consideravel.

Mae e filhos anseavam por novas noticias nunca haviam estado tao unidos como naquele momento. Por vezes era necessario uma tragedia para fortalecer os lacos familiares e para se ver a falta que alguem fazia. Mae e filhos insparavam esse sentimento naquele momento.

Ele ia mesmo saltar e a ultima coisa em que pensara antes de o fazer foi pensar naquilo que bem la no fundo sempre considerara ser a sua maior riqueza, os filhos. Queria salvar-se, queria ver os mesmo crescer e sentia a obrigacao de acabar de os criar. Pensara tambem na mae deles. Era assim que nos ultimos anos ele vira a esposa, a mulher com quem casara, unicamente como mae dos filhos e nao como alguem que ele jurara respeitar e a quem ele jurara um dia no altar fidelidade. Se Deus permitisse que ele se salva-se daquela iria fazer tudo para salvar o casamento, para fazer a esposa feliz, amava-a de facto. Saltou.

Os tres mae, filho e filha estavam agarrados a televisao sem deixarem os telemoveis tambem ate que o telemovel de Lidia tocara. Telmo estava no hospital e unicamente chamava pela mulher e pelos filhos. Estava bem e eles eram uma familia com sorte e abencoada era o que eles os quatro pai, mae, filho e filha pensavam ainda que estivessem separados pela distancia por enquanto.

Telmo pensava agora que aquele salto nao lhe salvara apenas a vida mas o casamento tambem. Aquele salto ou o momento em que saltara fizera-o mudar redimir-se de todos os erros que cometera ainda era possivel ainda estava a tempo, pedir perdao a esposa e perdoar os erros dela. Queria tambem dedicar mais tempo aos filhos, tudo seria diferente assim que chegasse a Lisboa.

Noite quente como qualquer noite de Setembro no Aeroporto a familia iria juntar-se de novo dentro de momento agora sentiam-se mais unidos e em maior harmonia aquela terca-feira 11 de Setembro mudara o mundo destruira familias mas no caso deles nao era assim estavam mais unidos depois daquela tragedia, eram uma familia abencoada. Apenas lamentavam que ao mesmo tempo tantas outras familias por culpa daquele momento em que o mundo mudara nao tivessem tido a mesma sorte.

                                                                                                               Manuel Goncalves














2 comentários:

  1. Uma história tocante....
    Desejo ao autor coragem para enfrentar os problemas de saúde, rezo para que fique melhor... um dia todos nós encontraremos a paz que almejamos.

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  2. Caroline obrigado. Nesta horas tambem eu tenho rezado. Sao horas de incerteza ainda nao sabem o que e melhooor esperam-se novos exames, estou farto disso :( mas no fundo aconteca o que acontecer aceito-o como sendo a vontade de Deus.

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