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sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Uma Triste Viuva Com Sorte



Fim, tudo estava acabado, chegava ao fim o pesadelo dos ultimos dias e que pesadelo! Sentia-se abandonada, sozinha e sem saber o que fazer para continuar a viver, apesar de tudo ela Anastacia gostava do falecido marido.

Gostar de alguem era demostrar afeto, carinho e nao frieza mas era estar presente nos momentos mais dificeis e complicados e ela durante a doenca do falecido nunca o abandonou, nunca deixou de estar com ele embora mesmo sabendo que o amor dele nao era so dela. A paixao da vida dele nao era era e so estava casada com ele porque a mulher que fora a paixao da sua vida o deixara a ele e ao proprio mundo em que viviam.

Apesar de tudo nao lhe tinha muitos defeitos a apontar e nunca tinha conhecido outro homem e nem se imaginava nos bracos de outro embora muitas vezes isso lhe tivesse sido possivel mas ela sempre recusara tal ideia. Sempre lhe fora fiel se ele nao lhe correspondera da mesma forma isso agora seria com a consciencia dele. Haviam homens assim que gostavam de andar com uma mulher, com outra e mais uma ir para a cama e exibir isso para os amigos como quem exibe no seu salao de festas a cabeca de uma peca de caca.

Nunca lhe deixara faltar nada e no entanto ela nao precisara de fazer nada para ter tudo o que tinha o carro, a casa com tudo do bom e do melhor. Fora tudo sempre assim ate os negocios dele entrarem em dificuldades e falencia e por fim so lhe restarem praticamente os bens que estavam a ser geridos por ela e que ele passara para o nome de outra pessoa para evitar que apanhassem os mesmos para pagar as dividas dele e assim as duas botiques dela, contas do banco e joias estavam salvas e durante algum tempo foram praticamente o unico rendimento de ambos que trazia e dava algum lucro.

Ao mesmo tempo que ele ia recuperando o patrimonio financeiro que um dia tivera a doenca ia-o igualmente vencendo a ele e o mesmo escondia de Anastacia o mesmo facto nao a queria simplesmente preocupar no entanto chegara uma altura que ja nao conseguia esconder. Rui emagrecera, perdera o cabelo e nao era ja o mesmo homem, estava sem forcas, sentia-se derrotado.

O seu sonho era recuperar toda a sua fortuna e deixar Anastacia o melhor possivel na vida, ela merecia-o. Nos ultimos tempos Rui gostava de ir dar o seu passeio matinal e aproveitava para comprar o jornal, passear o cao e distrair-se um pouco, ar puro, isso ali no jardim o ar tambem era puro e era num desses seus passeios em conjunto com a altura que comprava o jornal que habitualmente gostava de fazer a sua aposta no Euromilhoes. Rui nunca tinha ganho muito dinheiro no jogo mas sentia-se animado e com esperanca durante aqueles dias entre a aposta e o sorteio.

Eram 85 milhoes de euros e num pais em crise a febre era enorme quase todos se perguntavam o que fariam com 85 milhoes de euros e poucos eram os que estavam indiferentes ao que se estava a passar e a acontecer. Quase todos estavam assim, Anastacia era uma das pessoas a quem tudo isso lhe passava completamente ao lado, ignorava e talvez ate viesse a trocar 85 milhoes de euros pela saude e vida do marido.

Chegara do funeral e nao queria mais nada senao umas boas horas de descanso e aliviar um pouco a cabeca para pensar no futuro, sabia que havia muitas coisas para decidir pela frente e algumas dividas de Rui para pagar, dinheiro, esse e que era pouco.

Durante dias nao se falava em outra coisa senao no misterioso apostador do Euromilhoes que ganhara os 85 milhoes em premio e nao os reclamava, faziam-se varios esforcos para se descobrir quem era o mesmo e o mais certo era que o mesmo ainda nao tivesse querido dar a cara por estar com medo de algo. Estranho pensara Anastacia o apostador praticamente podia ser seu vizinho e de Rui morava em Lisboa como ela e a loja onde fizera e registara a aposta milionario era o cafe onde ela e Rui costumavam ir e onde o mesmo costumava fazer a sua aposta semanal no jogo.

Estava demasiadamente cansada e apatica para comecar a conciliar as coisas o melhor mesmo era ir dedicar-se a certas arrumacoes e comecar por arrumar as roupas de Rui, iria manda-las para uma instituicao de caridade assim como outras coisas do mesmo sem utilidade.

Anastacia estava a arrumar as roupas de Rui quando ao passar uma revista pelo bolsos do ultimo casaco que ele havia utilizado viu que tinha um boletim do Euromilhoes. Pelo sim, pelo nao optou por guardar o mesmo talvez ainda tivesse uns euritos como premio e continuou fazendo a tarefa que estava a fazer ate encontrar um bilhete marcante de lhe deixar as lagrimas no olhos:

"Nada mais me resta, a esperanca infelizmente, foi-se. O que sera de Anastacia, da minha Anastacia sozinha no mundo?

Pergunto-me terei eu sido um bom marido, terei eu merecido tal mulher e esposa delicada e atenciosa na minha doenca, minha doce Anastacia quantas vezes nao te soube compreender, entender e ate amar,

Quando descobrires e leres este bilhete ja nao vou estar neste mundo e sei que vais chorar ao le-lo da mesma forma que eu chorei ao escreve-lo. Entendo que acabes por encontrar outro homem, talvez melhor que eu, que refazas toda a tua vida, ainda es nova e eu sou obrigado a entender isso. Procura, tenta de novo ser feliz como nunca foste ao meu lado, feliz como eu nunca te soube fazer.

As minhas saidas a noite com os amigos eram mais importantes, as partidas de tenis, as pescarias e cacadas eram mais importantes e tempo para ti nao havia, desculpa-me, perdoa-me Anastacia".

                                                                                         Teu:
                                                                                                    Rui.

As lagrimas corriam pelo rosto de Anastacia ao ponto de uma lagrima cair e manchar a caligrafia do bilhete nao sabia o que pensar, afinal o marido amava-a mesmo, amava-a muito mais do que ela sempre julgara, era tarde para lhe agradecer por isso mas jamais iria esquecer aquelas palavras e jamais iria deitar fora aquele bilhete.

Esquecera todos os problemas por um momento e pensara na mensagem do bilhete. Encontrar outro! Quem iria entende-la como ele a entendeu? Apesar da sua frieza e distancia era capaz de o amar mas a sua maneira.

Anastacia tinha que sair, ir a rua, havia coisas a fazer compras a compras e contas, contas pensara ela a pagar e por fim tinha que ir ver como estavam as boutiques e comecou a pensar se nao corria o risco de perder tudo e se entretanto nao seria melhor vender tudo, transferir o dinheiro para o Brasil ou coisa assim e ir-se embora, fugir para assegurar que nao acabava na miseria tinha que tratar disso mas antes queria so por curiosidade conferir o bilhete do Euromilhoes que Rui fizera para 4 semanas. Viera-lhe mais uma vez a cabeca a historia do apostador misterioso que se mantinha no anonimato depois de ganhar 85 milhoes de euros.

No cafe tudo estava calmo e mais uma vez um ou uma cliente habitual bem conhecida vinha-lhe dar os sentimentos e pessames e mais meia duzia de palavras de conforto que nao tinham o efeito devido. Nada a confortava, nada lhe fazia ultrapassar a falta de Rui. Levantou-se ia verificar o bilhete do Euromilhoes era a ultima coisa que lhe faltava fazer e afinal queria encurtar a sua permanencia ali com toda a gente a olha-la como uma coitadinha sentia-se mal.

O gesto era o habitual ir a maquina confirmar-se mas o funcionario foi-se fazendo de todas as cores como se costuma dizer e sem conseguir articular uma palavra de inicio so pode pensar que aquela senhora de meia idade que estava na sua frente, vestida de preta, rosto palido e triste era agora a nova milionaria.

Anastacia nao queria acreditar no que via, ouvia assim que lhe disseram e deram os parabens. Pensava ja que aquele dinheiro todo era mais que suficiente para pagar as dividas e ate salvar os restantes negocios de Rui era o que ela iria fazer.

O caso tornou-se publico e depois dos impostos pagos, do estado levar metade do valor do premio devido a morte de Rui ainda sobrava muito dinheiro que dava e sobrava para ela realizar os seus intentos. Entrevistas atras de entrevistas e quando lhe perguntaram certa vez como se sentia Anastacia apenas respondeu, sou uma triste viuva com sorte.

                                                                                                      Manuel Goncalves























































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