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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Aquela Mulher


 
Aquela mulher que sempre fora tudo o que ele sempre mais amara e quisera, apesar de tudo (tinha-lhe realmente adiantado muito). Apesar das brigas, discussoes, pontos de discordia e distancia em que se encontravam, apesar da ausencia fisica. So Deus, sabe o quanto ele amara aquela mulher.

Aquela mulher de quem recordava tantas coisas de bem e infelizmente da mesma forma recordava tantas coisas de mal. Era mesmo assim, nao se podia ver as coisas e a historia deles de outra forma quando aquela mulher o fizera sorrir tantas vezes mas tambem o fizera chorar. Durante algum tempo sentiu-se cansado de tudo aquilo e sobretudo muito triste com as decisoes dela, estava magoado era normal mas era aquela mulher que amara toda a vida desde que a conhecera, ainda amava e iria continuar a amar fosse o futuro qual fosse e o que fosse.

Era dificil estar-se assim tao magoado com quem mais se amava mas o que queria ela. Depois de mais uma vez lhe prometer e jurar algo que acabara por nao cumprir. Ele estivera doente, esteve em risco de vida e depois de sobreviver ela mesmo ao longe estava tao perto. Foi ai que ela lhe jurara e prometera que nao o iria abandonar de novo como fizera tantas outras vezes, apenas lhe disse que so o faria se alguem a obrigasse a isso. Ele sabia bem a quem ela se referia.

Sem que fosse obrigada a faze-lo ali estava ela a comunicar-lhe que havia decidido terminar a relacao amorosa que ambos tinham. Alegara que assim ficava mais descansada porque nao havia o risco de a mesma ser descoberta, estava muito ocupada com o trabalho e precisava de concentrar-se no mesmo e chegara a conclusao que no futuro da sua vida nao havia espaco para ele.

Com que direito ela tomava essa decisao mas ele respeito-a mesmo magoado. Com que direito ela agia assim com ele tratando-o como se ele nao tivesse sentimentos, nao fosse gente. Com que direito ela agia assim com ele depois de tudo o que ele suportara nos ultimos tempos que estivera mais proximo dela. A frieza dela em certos momentos quando ia ao seu encontro, a distancia, a forma como o tratava e falava com ele. E ele persistente procurando entender o que ja nao tinha entendimento, procurando desculpar o que ja nao tinha desculpa.

Tinham-se passado alguns meses e ele estava mais calmo estivera doente com os males normais do Inverno mas andava um pouco mais animado agora que ja se sentia melhor. Ele nao sabia o futuro a unica certeza que tinha e que desta vez nao ia haver ameacas, tentativas de chantagem ameacando usar fotos compremetedoras, promessas e juras de vinganca. Nao ia haver nada disso nem qualquer coisa semelhante. A doenca que tivera um ano e pouco antes fizera-o mudar em muitos aspectos e a unica coisa que pedia era que se havia justica a fazer-se que fosse a justica de Deus, essa era a mais certa  e justa.

Aquela mulher que em tempos fizera tudo para se salvar a si propria nao se preocupando o quanto o estava a prejudicar. Por culpa dela ele acabou por ser despedido, acusado inclusive de ter tentado assediar sexualmente uma outra colega e ela aquela mulher saiu daquela situacao no papel de vitima enquanto ele ficara no papel de vilao e mau da fita quando ambos sabiam que a historia era ao contrario. Um dia ela voltou a encontra-lo e pediu-lhe perdao e espantosamente ele nao deixou de o fazer, fora uma das muitas vezes que isso acontecera.

Para que tanto esforco, tanta persistencia da parte dele se ela realmente mostrava que nao dava valor aos seus sentimentos, a sua pessoa e nao queria saber se o magoava ou deixava de magoar com as suas decisoes. Sera que ela o amava mesmo?

Sim ele acreditava que ela o amava mas nao tanto quanto dizia ama-lo. Quem ama faz sorrir e nao chorar, quem ama nao e fria, nao e distante. Onde estava aquela mulher que no passado era mais doce, mais meiga, carinhosa. Onde estava sobretudo aquela mulher que por varias vezes ao telefone disse que o amava, chorou por sentir a sua falta, por nao poder ficar com ele. Onde estava aquela mulher que disse que sentia falta de ser amada, de fazer amor com ele e agora o recusara no ultimo que ia ve-lo e em outros dias quando estava com ele evitava chegar a esse ponto levando-o sempre a sair a algum lado e evitando estar ali naquele quarto.

Ele nao procurava respostas para nada, nao era necessario tudo se devia ao facto de ela o querer deixar mesmo depois de ele ter feito tudo o que estava ao seu alcance para ama-la como ela queria ser amada. No fim ele tambem queria ser amado e ela friamente o recusara era a recompensa de ele ter feito tudo o que ela lhe pedira e mais uma vez viera de longe ao seu encontro.

Tivera outras mulheres e aventuras amorosas na sua vida mas nenhuma fora tao marcante e nem amara ninguem da mesma forma como a amara a ela. Recordava inclusive o momento em que ele andara enamorado com outra no facebook ela ao descobrir contactou a outra. Desejou-lhe boa sorte e deu-lhe os parabens pelo homem meigo, carinhoso e romantico que ela acabava de encontrar. Para ela ele era tudo isso e no entanto varias vezes ela tinha deitado fora o seu amor, o seu carinho e romantismo.

Quantas outras juras e promessas nao tinham sido cumpridas nao so a envolver aquela altura mas outras anteriores se bem que era o presente que mais contava. Promessas que ela lhe fizera e sabia que nao podia cumprir, que ganhava ela com isso?, Ou sentiria estranhamente de certa forma algum prazer em agir assim?

O novo passeio na Serra da Arrabida que ele nao tanto como Sintra tanto gostava ficara por cumprir, e a serra estava ali tao perto. A ida nocturna a Lisboa a uma casa de fados que ele tanto queria experimentar ficara por cumprir, essas eram mesmo assim promessas de menor importancia. Mais grave, bem mais grave era a mulher que prometera nao o abandonar estar agora a faze-lo e segundo ela por sua decisao propria. Ninguem a obrigara a nada, ninguem o exigira e ela estava a faze-lo mais uma vez. Ele ja nem sabia quantas vezes tinham sido anteriormente, perdera-lhes a conta as suas promessas nao cumpridas e juras que acabavam por ser em falso. No meio de tudo sentia-se usado por ela que so o quisera ali para a satisfazer por uns momentos e tempos.

Uma voz no seu intimo lhe perguntava se ela voltasse a procura-lo ele iria aceita-la? No seu intimo a resposta ia contra ao seu orgulho de homem, nunca se deixava de aceitar a mulher que se amava. Sim, mais uma vez talvez a aceitasse e sabia que a historia de ambos nao chegara ao fim, estava convencido que a mesma do iria terminar quando a morte os acabasse por separar. As coisas estavam complicadas tinha sido a primeira vez em muitos anos que ela nem que ligara pelo Natal mas ele sabia que dia menos dia isso iria acontecer. No entanto fora a primeira vez que ela nao o fizera durante os anos em que estiveram ligados e que tinham o contacto um do outro, ela sempre lhe ligara no Natal, na Pascoa e no aniversario dele.

Ele sempre ficara para o fim nas escolhas e decisoes dela e se no passado ela colocara a famila em primeiro lugar em relacao a ele agora nao era apenas a familia, era o seu trabalho e o seu bem estar que a fazia sentir-se mais segura assim. Ele que sempre lhe demostrara o seu amor, ele que suportara toda a frieza e mal estar dela era mais uma vez abandonado.

Porque a aceitaria de volta? Porque ela era a unica mulher que ele conseguira amar verdadeiramente em quarenta anos de vida. Porque apesar de tudo ela o ajudara em alguns momentos da sua vida e ele estava-lhe grato por isso. Ela tinha sido a sua salvadora na adolescencia, tinha sido a primeira pessoa a acreditar nele, a primeira a mostrar-lhe que ele tinha valor e potencial. Era talvez um diamante em bruto que apenas tinha que ser lapidado com muito cuidado e depois iria longe na vida, iria triunfar. Ela acreditava nisso os outros nao e o futuro veio a mostrar que de uma forma ou de outra ela estava certa e os outros estavam errados.

Estava sozinho e era sozinho que queria estar nao importava ja o futuro e o saber que alguem precisa de uma companhia, precisa de uma mulher em resumo precisa de uma familia. Achava que nao iria fazer outra mulher totalmente feliz quando era aquela mulher que ele amava e nao aquela que estava com ele. Era demasiado sensivel e romantico para conseguir fazer isso de estar com uma e amar outra.

Sentiria ela a sua falta?, Estaria ela arrependida ja da decisao que havia tomado?, Sentiria ela que realmente tinha sido injusta para com ele? Eram perguntas que as vezes ele fazia a si proprio e que nao encontrava resposta.

A vida era dele e aquela era a sua forma de amar era demasiado sincero para se entregar a outra mulher, era demasiado persistente para deixar de amar aquela mulher que sempre amara e certamente iria voltar a amar quando ela sentisse que errara com ele mais uma vez ou simplesmente viesse a sua procura. Ele estava prestes a poder viver um grande momento, a realizar um sonho e nao acreditava que ela nao estivesse perto de si nesse momento.

                                                                                                           Manuel Goncalves

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