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domingo, 26 de março de 2017

Os Povos Indigenas do Brasil



Pensava eu como muitos que as tribos de povos indigenas do Brasil fosse mais na Amazonia e no Pantanal mas parece que se estende um pouco por todo o lado onde existe mato e selva no Brasil. Uns mais civilizados que outros sao tambem inumeras as tribos indigenas que ainda existem no Brasil destruindo tambem um pouco o mito de que as tribos indigenas nao se civilizam mas a verdade e que muitas tribos ja vao entrando nos conceitos da sociedade moderna. Mantendo sempre as expressoes caracteristicas de pele morena, corpo pouco vestido, pinturas na pele e varios objectos de aderecos espalhados pelo corpo.

Vivem quase sempre em pleno contacto com a Natureza e conhecem a beleza da mesma assim como certos perigos que a mesma oferece como ninguem. Sao indigenas para uns, indios para outros e muitas vezes ate mesmo activistas lutando pelos seus direitos quando veem que lhes estao a querer nao roubar os seus direitos mas invadir o seu territorio destruindo a selva amazonica.

Chego muitas vezes a invejar esta gente que vive todos os dias, 24 horas por dia sem grandes preocupacoes em pleno contacto com a Natureza, andam quase nus sem pudor e penso que no fundo aparentam ser felizes com o pouco que tem ou esse mesmo pouco acaba por ser para os mesmos uma enorme fortuna.


Os povos indigenas do Brasil compreendem um grande numero de diferentes grupos etnicos que habitam o Pais desde quase sempre ou pelo menos ha milenios e muito antes do inicio da Colonizacao Portuguesa (1500-1815), que principiou no Seculo XVI em 1500 com a chegada de Pedro Alvares Cabral (1468 ou 1469- cerca de 1520) a 22 de Abril de 1500 em Porto seguro e durou ate 1815 ja em pleno Seculo XIXI, fazendo parte do grupo maior dos povos amerindios. No momento da descoberta do Brasil (1500), os povos nativos eram compostos por tribos seminomades que sobreviviam da Caca, Pesca, do que recolhiam da Natureza e da agricultura itinerante, desenvolvendo culturas diferenciadas. Apesar de ser protegida por muitas leis, a populacao indigena foi severamente e amplamente exterminada directamente pelos conquistadores e pelas doencas que os mesmos haviam trazido, diminuindo de um populacao de milhoes que eram para cerca de 150 mil em meados do Seculo XX, quando a descendia da sua raca ainda continuava a diminuir. Apenas na Decada de 1980 a tendencia se inverteu e passou a crescer a um ritmo solido. No Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE) realizado em 2010, foram 817 963 os brasileiros que se autodeclararam indigenas, embora se saiba perfeitamente bem que mihoes de outros tenham algum sangue de indio nas suas veias. Ainda sobrevivem tambem diversos povos bastante isolados e sem contacto com a civilizacao.

Os povos indigenas brasileiros deram contribuicoes significativas para a sociedade mundial, com a domesticacao da Mandioca e o aproveitamento de varias plantas nativas, como o Milho, a Batata-doce, a Pimenta, o Caju, o Abacaxi, o Amendoim, o Mamao (Papaia), a Abobora e o Feijao. Alem disso, difundiram o uso da rede de dormir, a pratica da Peteca e do banho diario, costume que era desconhecido ou nao praticado pelos europeus do Seculo XVI. Para a Lingua Portuguesa trouxeram inumeros nomes de lugares, pessoas, plantas e animais (cerca de 20 mil palavras), e muitas de suas lendas foram incorporadas ao Folclore Brasileiro, tornando-se conhecidas em todo o Pais. Tambem foram importantes aliados dos portugueses, mesmo que involuntariamente, na consolidacao da conquista territorial, defendendo e fixando cada vez mais distantes fronteiras, e deram grande contribuicao a composicao da actual Populacao Nacional atraves da mesticagem.

Suas culturas diversificadas compunham originalmente um rico mosaico de tradicoes, linguas e visoes de Mundo que, depois de serem longamente desprezadas como sendo tipicas de sociedades barbara, ingenuas, sem cultura e atrasadas, ou no maximo apreciadas como exotismos e curiosidades, hoje ja comecam a ser vistas de uma forma diferente e em larga escala como fazendo parte de sociedades com culturas complexa, sofisticadas em muitos e diversos aspectos, interessantes por si mesmas e como sendo portadores e conhecedores de valores importantes para o Mundo Moderno, com enorme respeito pela Natureza e um modo de vida sustentavel, merecendo todo o tipo de consideracao como qualquer outra cultura e modo vida. Mesmo assim, a degradacao das culturas tradicionais pelo contacto mais assiduo com a civilizacao tem sido rapido mesmo dentro das reservas, acarretando penosas repercussoes sociais.

Para muitos observadores e entendidos, o destino dos povos indigenas do Brasil ainda e muito incerto, e os mesmos esperam ainda muitas lutas pela frente. Os conflitos que os envolvem continuam a multiplicar-se, mortes, abusos, violencias e uma rutura interna continuam a afligir e preocupar muitas comunidades, mesmo com todos os avancos que foram efectuados e toda a proteccao juridica, com toda conscientizacao politica das comunidades e sua mobilizacao conjunta, e mesmo com todo o apoio de um expressivo numero da populacao brasileira nao-indigena e de igualmente terem conseguido obter todo o apoio de organismos internacionais para as defesas de suas causas. Existem poderosos interesses politicos e economicos em causa e que estao em jogo tambem, e ate mesmo igualmente importantes muitos interesses culturais. Ainda falta muito segundo alguns para que algumas comunidades indigenas consigam de uma vez por todas conseguir garantir as suas terras em sempre viveram ha geracoes e geracoes e consigam igualmente uma sobrevivencia digna e independente da tutela do Governo brasileiro, que historicamente os viu e entendeu como povos incapazes e chamou a si a responsabilidade de "administra-los", mas tem sido tambem pelos proprios meios incapaz de assegurar-lhes os direitos que ate ja foram definidos constitucionalmente, e vem sendo acusado ate de promover profundos retornos de maneira deliberada que dao continuidade a um genocidio ja secular, atraindo com isso mesmo pesadas e constantes criticas no Brasil e no estrangeiro.

Na Idade Media, a palavra "Indio" era empregada para designar todas as pessoas do Extremo Oriente. Ao chegar as americas, o Navegador e Explorador italiano Cristovao Colombo (1451-1506) acreditou que tinha acabado de encontrar um novo caminho para as indias e entao chamou os nativos que encontrou de "indios". O conceito de "Indio" e, portanto, uma invencao europeia. Os habitantes originais das americas nunca se viram como um povo uno. Pelo contrario, diferentes grupos indigenas nutriam grande animosidade e inamizade e constantemente lutavam entre si. "Uma identidade indigena" so viria a ser criada seculos depois, com a chegada dos europeus. A denominacao mais conhecida das varias etnias quase nunca e a forma como seus membros se referem a si mesmos, e sim o nome dado pelos brancos ou por outras etnias, muitas vezes inimigas, que os chamavam de forma depreciativa e desrespeitosa, como e o caso dos "Caiapos", denominacao que lhes foi atribuida pelos povos "Tupis" e que significa "semelhante a macaco".



Todos os seres humanos sao descendentes dos mesmos antepassados que habitaram Africa, local onde o Homo sapiens surgiu entre 100 e 200 mil anos Antes do Presente (AP). Durante milhares de anos, Africa foi o unico lugar do Mundo onde existiam pessoas. As primeiras a sairem de la o fizeram, acredita-se a 50-60 mil anos atras, e a partir de entao passaram a se espalhar pelo resto do Mundo. Sua primeira irradiacao foi na direccao do Medio Oriente, a unica ligacao terrestre de Africa com o resto do Mundo, e dali as correntes migratorias se foram espalhando e dispersando-se: alguns seguiram para Oeste, atingindo entao a Europa, enquanto que outro numero de pessoas rumou para Leste, atingindo a Asia. O isolamento prolongado entre essas populacoes acabou por vir a transforma-las, dando-lhes diferentes caracteristicas fisicas e habitos de vida, adaptando-se a novos ambientes.

Os povos das americas (amerindios) sao descendentes do grupo que seguiu para o Leste e que povoou a Asia. Sua chegada a America foi explicada com varias teorias, e actualmente a que parece ter mais valor e ser mais aceitavel diz que a passagem da Asia para a America foi feita atraves do Estreito de Bering, em data ainda incerta e ate controversa, mas que com toda a certeza tera sido durante a Era do Gelo tambem conhecida como a Idade do Gelo. Naquele tempo, com o declinio da temperatura mundial, o gelo do Mundo se expandiu, rebaixando o Nivel do Mar e expondo terra seca entre Peninsula de Chukotka ou Peninsula de Chukchi que fica em frente da americana Peninsula de Seward, sendo ambas os extremos do Estreito de Bering, no extremo Nordeste da Asia, e a Penisula de Seward que fica na Costa Ocidental do Alasca, na America do Norte, criando uma ligacao transitavel entre os dois pontos ate entao impossivel. Com o fim da Era do Gelo o Nivel do Mar voltou a subir, inundando a ligacao dos dois continentes, impedindo assim novas migracoes e separando assim igualmente as populacoes que tinham ficado na Asia das que tinham partido para a America. Como nao tinham outra escolha e nem alternativa, essas pessoas continuaram se deslocando, ao longo de milhares de anos, rumo ao Sul, povoando a America Central e a America do Sul.


O mapa anterior ilustra a hipotese de migracao em tres ondas migratorias com populacoes de diferentes regioes da Asia, o ainda chamado "Modelo de Berigia" proposto pela Greenberg et Alii, uma hipotese e teoria bastante aceite dentro da comunidade cientifica, embora sem um consenso.

Em castanho, o mapa actual; em ocre, a Terra variavelmente exposta na glaciacao e a Area em branco significa o gelo terrestre entre 36 a 16 mil anos AP. Antes de cerca 43 mil anos AP os nomades chegaram finalmente ao extremo Leste da Asia. Entraram na Beringia e por ali terao se deixado ficar ate cerca de 16 mil anos AP, bloqueados pelo gelo ficaram impedidos de seguir mais para Leste. O gelo avancou e recuou varias vezes nesse periodo glacial, fazendo variar diversas vezes o Nivel do Mar e alternativamente vedando ou abrindo acessos a pe seco. Ali o mar era raso e a exposicao maxima de terra seca ocorreu entre 23 e 19 mil anos, abrindo um Istmo com mais de 1000 Quilometros de Largura. A inundacao final da passagem aconteceu entre 12 e 11,3 mil anos AP. Exactamente como e quando as passagens foram aproveitadas pelas populacoes nomades, o total de quanto passaram pelo mesmo caminho, e que linhagens geneticas traziam, sao as grandes duvidas e incognitas.

Durante muito tempo se julgou que os primeiros humanos a se fixarem na America tinham sido os chamados Povos de Clovis, que habitaram entao o Novo Mexico, nos Estados Unidos, cujos registos mais antigos, reavaliados recentemente, teriam cerca de 13-14,5 mil anos, e sugerem uma entrada na America um pouco anterior. Contudo, nos ultimos anos diversos achados arqueologicos em varias partes do continente dao como quase certas ainda datas bem mais antigas, em particular o Sitio de Monte Verde, no Chile, que segundo Arkley Bandeira foi confirmado com 33 mil anos de antiguidade (outros discordam). Isso dataria a migracao antes de o corredor de terra seca e livre de gelo ter-se formado, em torno de 14-15 mil anos AP, exigindo uma explicacao alternativa para a passagem, mas nao a torna impossivel, podendo mesmo ter havido deslocamentos pelo mar ou pelo Litoral. Houve muitas mudancas no Nivel do Mar em epocas remotas, e uma ligacao intercontinental se formou e desapareceu uma serie de vezes. Se a passagem litoranea aconteceu, sera dificil provar, pois depois das mudancas no Nivel do Mar as evidencias se as houver estarao provavelmente sobre mais de 100 Metros de agua. De facto, Fagundes et Alii que o unico consenso solido que ainda resiste, em grande parte pela grande influencia dos pesquisadores norte-americanos, e sobre a Cultura Clovis, cujas as evidencias sao tidas em geral como irrefutaveis, mas sem excluir-se a possibilidade de que nao seja realmente a primeira populacao americana e que o que falte seja apenas achar-se evidencias nitidas para comprova-lo com, uma hipotese plausivel. Um trabalho do Arqueologo Juan Schobinger (1928-2009) chega a apontar datas de ate 100 mil anos para quatro assentamentos na America do Norte, e a Hitoriadora Gabriela Martin, fazendo uma revisao do estudo, admitiu ate 300 mil anos. Seja como for, resta muita inseguranca na comunidade cientifica sobre quando o homem entrou no continente pela primeira vez, sobre quantos foram, se isso aconteceu de uma so vez ou em ondas sucessivas, e como dali se desenvolveu o avanco para o Sul.


Os varios estudos geneticos que tem sido realizados nos ultimos anos trouxeram resultados divergentes, a origem dos povos amerindios continua o centro de uma acessa controversia. Embora haja crescente opniao de que a populacao americana pode ter se dado antes do que se tem por certo ate agora, em torno de 13-15 mil anos AP, datas anteriores a 30 mil anos sao de facto consideradas como muito improvaveis. Tecnicamente falando, entretanto, se for considerado a metade oriental da antiga Beringia como parte da America - sendo efectivamente agora o Alasca - o ser humano poderia ter posto o seu pe no que hoje e a America desde o inicio deste limite cronologico maximo, e, com muitas mais possibilidades, em torno de 20 mil anos AP.

De acordo com um estudo de 2007 (Tamm et Alii),  focado no DNA Mitocondiral (aquele que e herdado pela linhagem materna, e o mais utilizado nas pesquisas sobre a evolucao humana), revelou que os nativos do continente americano tem a sua ancestralidade tracada a um pequeno numero de linhagens do Leste da Asia. De acordo com o estudo, e provavel que os antepassados dos amerindios tenham ficado um tempo consideravel no Istmo da Beringia, isolados pelo gelo que os impedia de prosseguir para Leste, cujo o derretimento posterior teria permitido uma rapida migracao para Sul. Um outro estudo genetico recente de DNA Autossomico, de 2012 (Reich et Alii), a partir de centenas de milhares de marcadores geneticos, os amerindios descendem de pelo menos tres correntes provenientes do Leste asiatico. A grande maioria dos amerindios descenderia de uma populacao ancestral unica, chamada "Primeiros Americanos". Contudo, os que falam as linguas esquimo do Artico herdaram quase metade da sua ancestralidade de uma segunda corrente vinda tambem do Leste da Asia, e os que falam as linguas na-dene, ja no Canada, por sua vez, herdaram apenas a decima parte da sua ancestralidade de uma terceira corrente. O povoamento inicial seguiu uma expansao para Sul, pela Costa, com pouco fluxo genetico posterior, especialmente na America do Sul. Analises linguisticas comprovam esses resultados, tendo sido encontradas similaridades entre as linguas que se falam na Siberia e aquelas faladas no Continente americano.

Um certo estudo genetico autossomico mais recente de 2015 deu apoio a teoria de origem siberiana dos amerindios atraves de uma unica onda migratoria, porem tendo vindo a ser detectada uma ancestralidade antiga compartilhada com os nativos da Oceania mais precisamente da Australia e Melanesia, ainda identificavel em indigenas da regiao Amazonica. A mesma migracao teria acontecido nao antes de 23 mil anos AP, e o isolamento na Beringia nao teria durado mais de 8000 anos. Foi apontado tambem que em torno de 13 mil anos AP teriam se formado duas linhagens geneticas principais, uma espalhada por todo o Continente, e a outra restrita a America do Norte. Outro estudo, porem, considerou uma origem a partir de duas populacoes diferentes. De acordo com o sumario de Goebel, Waters & O'Rourke, aceito tambem igualmente por alguns outros autores, "as evidencias correntes implicam uma dispersao a partir de uma unica populacao siberiana atraves da ponte de terra da Beringia... nao antes de cerca de 30 mil anos AP (possivelmente depois de 20 mil anos AP), e entao uma migracao da Beringia com rumo as americas em algum momento depois de 16,5 mil anos AP. Alguns entendidos especialistas na materia dizem e defendem que uma passagem terrestre so poderia sustentar uma populacao humana viavel depois de 14 mil anos AP, e segundo outros a entrada na America do Sul deveria ter ocorrido entre 11 e 12 mil anos AP.

De acordo com outro estudo genetico talvez dos mais recentes, de 2016, uma pequena populacao teria entrado nas americas, seguindo a Costa, calcula-se que por volta de 16 mil anos atras, apos um periodo anterior de isolamento no Leste da Beringia de 2,4 a 9 mil anos antes da separacao de populacoes do Leste da Siberia. Seguindo entao um rapido movimento atraves da americas, um fluxo genetico limitado na America do Sul resultou em uma estrutura genetica bem marcada, a qual persistiu durante o tempo. Todas as linhagens mitocondriais presentes no estudo estao ausentes dos descendentes de indigenas modernos, sugerindo por isso uma alta taxa de extincao: aplicada uma analise, verificou-se que a Colonizacao Europeia causou uma perda substancial de linhagens pre-colombianas.

A Arqueologia e a Genetica muitas vezes estao em desacordo e aqui neste tema tambem nao se encontram em perfeita concordancia, de modo que a polemica persiste. O material genetico de referencia disponivel e limitado e divergente, enfraquecendo ainda mais as conclusoes possiveis. O que parece claro e que os seres humanos foram extremamente rapido no desenvolvimento do seu avanco, e em apenas tres milenios havia pessoas a ocupar todo o Continente Americano e chegavam assim a Terra do Fogo, seu Extremo Sul, se adaptando aos mais variados habiats e ate se modificando sensivelmente.


A forma de ocupacao do actual territorio brasileiro, como se pode deduzir, e igualmente incerta. No Sitio da Lapa Vermelha, na regiao arqueologica de Lagoa Santa, em Minas Gerais, foi encontrado um cemiterio com uma data superior com um pouco mais de 10 mil anos, estudado primeiramente pelo Naturista dinamarques Peter Wilhelm Lund (1801-1880) no Seculo XIX. Muitas outras pesquisas tambem se sucederam com o passar do tempo. A Arqueologa francesa Annette Laming-Emperaire (1917-1977) ja no Seculo XX na Decada de 1970, encontrou ali o fossil baptizado por Luzia o mesmo e um fossil humano (Homo Sapiens) mais antigo encontrado na America, com cerca de 12 500 a 13 000 anos. Parte de uma populacao conhecida como Povo da Lagoa Santa ou Homem da Lagoa Santa, Luzia e tida como a mais antiga brasileira jamais alguma vez encontrada, com uma idade estimada por Feathers et Alii, a partir de evidencias indirectas, em ate 16,4 mil anos, mas existem muitas duvidas sobre essa antiguidade, aceitando-se em geral em cerca de 11,5 mil anos, e para tornar o cenario mais complexo, Luzia, bem como outros esqueletos ali encontrados, possui tracos negroides tipicos de povos da Australia e Melanesia, contrastando com o fenotipo mongoloide que define os amerindios em geral, e apontando para linhagens geneticas alternativas. Achados em varios outros locais de todo o Continente, embora de facto nao sejam tao antigos, confirmam uma presenca precoce do tipico negroide na America, bem antes da chegada dos primeiros escravos africanos do Seculo XVI.

Por outro lado, achados em Sao Raimundo Nonato, no Piaui, dao cronologias que se estendem a ate 48 mil anos AP, e especula-se que camadas inferiores ja identificadas mas ainda nao exploradas poderiam vir a revelar fosseis de ate 60 mil anos. O Extremo Sul do Brasil parece ter sido atingido primeiro pelos povos Umbu, que acabaram por deixar registos datados com 12,7 mil anos de idade. Mas essas datacoes tambem tem sido sempre postas em questao.

O Brasil, ao ser formado pela migracao dos indios, europeus e africanos, tornou-se um ponto de "reencontro" dessas pessoas que, apesar de terem a mesma origem ancestral, acabaram por ficar separadas durante milenios de separacao criaram diferentes lacos culturais, linguisticas e fenotipicas, genotipo, por causa da decorrencia da adaptacao de cada grupo a meios ambientais completamente diferentes. Apesar dessas mesmas diferencas serem muitas vezes interpretadas como sendo formadoras de "racas" humanas diferentes, do ponto de vista genetico o conceito de raca e infundado.

Com base do entendimento sobre a Cultura indigena, e preciso saber-se de que nao ha uma Cultura indigena que seja unificada. Cada povo ao longo de milenios desenvolveu modos proprios de compreender e de se relacionar com o Mundo em geral, que se expressam em tradicoes religiosas, artesanato, musicas, habitos sociais e festejos peliculares, entre outros aspectos.

Os pioneiros do Brasil, ate onde se sabe, viviam uma vida basicamente de cacadores-colectores, agricultores e pastores nomadas, com uma cultura material ou cultura arqueologica reduzida ao uso de armas e ferramentas - sobrevivendo grande acervo de pontas de flechas e lancas, machados e outros artefactos em pedra lascada e osso - formas de sepultamento e acessorios pessoais, incluindo adornos corporais com conchas, pedras, sementes, etc. Aparecem objectos. Aos poucos aparecem objectos em pedra polida de progressiva sofisticacao, registos rupestres e pecas de artefactos em ceramica e pedra esculpida (estes raros), alem de evidencias de praticas agricolas, indicam algum grau de sedentarizacao, definindo o modelo abaixo descrito, que corresponde, numa grande generalizacao, a provavel realidade dos indigenas brasileiros do Seculo XVI. Mas esta evolucao nao foi linear, e os diferentes povos foram encontrados pelos colonizadores vivendo em variadas formas de cultura, uma diversidade que perdura ate hoje e continua ainda em transformacao. Nenhuma das actuais etnias do Brasil ainda conserva e mantem a sua cultura como era no tempo dos Descobrimentos. A respeito dessas diferencas, ha tambem algumas caracteristicas basicas comuns.

O Portal Brasil, com dados baseados no Censo de 2010, indica que hoje ainda vivem no seu territorio mais de 300 etnias, que por sua vez falam mais de 270 linguas, mas esses numeros ate variam conforme os criterios que sao utilizados. O Ministerio da Justica, por exemplo, apontava para cerca de 218 etnias e 180 linguas em 2007. Essa mesma riqueza linguistica deixou uma grande contribuicao a cultura nacional em nomes de pessoas e lugares, como Curitiba, Piaui, Ubirajara e Iracema, em nomes de plantas ou animais como Caju, Jacare, Abacaxi ou Tatu. O numero de vocabulos tupi incorporados ao portugues do Brasil e alto, alcancando, segundo as estimativas, o numero de 20 mil palavras.


Suas sociedades eram comunais (sem propriedade privada em larga escala), bastante igualitarias e descentralizadas, ainda que estratificadas, com papeis sociais nitidos e excludentes, com divisao de trabalho e status em moldes tradicionais, embora algumas culturas fossem bastante livres neste aspecto, permitindo grandes intercambios de funcoes. Liderancas ou outras funcoes de prestigio as vezes eram transmitidas em caracter hereditario, mas por norma em geral os criterios decisivos eram a competencia, o prestigio e o carisma pessoal. Costumavam venerar os ancestrais e tinham um enorme respeito nao so pela autoridade como pela sabedoria dos seus lideres, dos anciaos e dos pajes, que se responsabilizavam pelas tarefas administrativas superiores da tribo, incluindo a aplicacao da Justica e a condicao de ritos e festejos colectivos. As tribos mantinham-se coesas por fortes lacos de parentesco e reciprocidade. O poder era exercido principalmente atraves de persuasao e da cortesia, de forma colegiada entre os maiorais, os pajes e anciaos, sendo raras as decisoes autocraticas do Lider principal salvo em emergencias colectivas; podia envolver oferta de presentes e outros benesses ao grupo, e os lideres tiranicos nao permaneciam muito tempo em funcoes. Para que pudessem continuar a exercer da sua generosidade, os lideres recebiam servicos e bens diversos da comunidade. Seu contacto com outras tribos, era mediado geralmente por essa mesma elite, se dava atraves de por exemplo relacoes de comercio, cortesia, comemoracao, ritual, cooperacao, parentesco ou afinidade e tambem alianca ou conflito. Guerras entre tribos e povos indigenas eram comuns antigamente, se registam ciclos de alternancia de poder entre varios cacicados poderosos ao longo dos seculos.

O trabalho e principais ocupacoes dos homens indigenas era a Guerra, Caca, Pesca, da lideranca da tribo e das relacoes externas, da construcao das estruturas fisicas da aldeia, de certos tipos de arte e ornamentos corporais, dos rituais xamanicos (que incluiam praticas medicinais) e de limpar as matas para as lavouras, bem como das plantacoes. Ja as mulheres cabiam os deveres da colheita, a preparacao dos alimentos, a fabricacao de utensilios, tecidos e adornos, a preservacao do fogo, o cuidado inicial da descendencia e dos mais velhos. A educacao das criancas era compartilhada por todos os habitantes da aldeia, e estimulava-se a autonomia. Certas actividades podiam vir a ser discriminadas pela idade.

A familia podia ser oriunda de dois generos e tanto podia ser uma familia Monogamia ou uma familia Poligamica, com predominio de Poliginia. O casamento nao era uma ligacao que fosse para toda a vida nem muito solida, o divorcio era assim frequente e facil de acontecer e se obter, e os maridos ate podiam usar as suas mulheres como moedas de troca. Havia muitas unioes consanguineas, fortalecendo assim a unidade dos clas. Maus tratos dos homens sobre as esposas e filhos eram praticas comuns e aceites socialmente, entendidos como sendo um assunto privado; em muitas tribos pais e maes nao tinham direito de vida e morte sobre seus dependentes. A mae amamentava o filho por varios anos, caso nao tivesse tido outro no mesmo periodo de tempo. A crianca pequena estava sempre acompanhada e antes de andar era habito ir frequentemente carregada em varias actividades de adultos, incluindo mesmo actividades de trabalho como a lavoura. Se a crianca fosse um menino, cabia a responsabilidade ao pai lhe ensinar desde logo cedo a manejar o arco e a flecha, a construir balaios e outras lidas. Quando era uma menina, a mae a introduzia na arte de fiar, tecer redes e fabricar adornos. Rituais solenes de passagem, conduzidos por xamas ou pajes, marcavam as diferentes etapas do crescimento que iam desde o nascimento ate a morte, e eram celebradas por toda a tribo e com grande aparato. Indios invalidos ou muito velhos podiam ser abandonados, mortos ou podiam solicitar a Eutanasia.

A habitacao era em geral colectiva, as chamadas ocas, estruturas de palha cobrindo um arcabouco de madeira, dispostas em relacao a um espaco cerimonial, que pode ser o Centro ou nao. Em cada habitacao moram muitos casais com suas familias, que, a noite, acendem fogueiras e dormem em redes. As ocas, entretanto, podiam assumir variadas formas e tamanhos, e em algumas tribos, como os Marubo e os Yanomami conhecidos tambem por  Ianomamis, Yanomami, Yanoama, Yanomani ou Ianomami e que se encontram no Brasil e Venezuela, construiam apenas uma Oca, onde residiam todas as pessoas da aldeia e da tribo. Quando a aldeia ficava proxima de inimigos, era cercada por muros feitos com troncos de arvores. Entre os muros eram cavados fossos disfarcados com ramos e folhas, e, no fundo, eram fincadas estacas pontiagudas. Algumas tribos, como os Aimores tambem conhecidos como aimbires, aimbores ou botocudos, nao construiam aldeias. Simplesmente limpavam uma Area e dormiam debaixo das arvores proximas, mantendo, a noite, fogueiras acessas. Outros, como os Tucanos, organizavam-se em nucleos familiares mais ou menos independentes, estabelecendo aldeias e habitacoes pequenas.

 Viviam da Caca, da Pesca, e das substancias que obtinham da Agricultura, mudando periodicamente a instalacao das aldeias conforme o declinio dos recursos naturais disponiveis em torno. O abandono de areas exploradas tornava possivel a sua recuperacao natural. Como precisavam de poucos bens materiais, e obtinham tudo directamente de uma Natureza exuburante, a pobreza era desconhecida no cotidiano, havia sempre o necessario e bastante para todos viverem felizes e saudaveis, com uma cultura fortemente baseada na troca e na distribuicao equitativa de excedentes. Carencias e fome so ocorriam em situacoes extremas de crise geral, como nas epidemias, que despovoavam as aldeias desestruturando suas cadeias produtivas, ou quando a falta de chuva provocava um Estado de seca, que afectavam negativamente o Ambiente das grandes regioes.

Os indios tinham um amplo conhecimento da producao de bebidas fermentadas feitas a partir de tuberculos, raizes, folhas, sementes e frutos, milho, mandioca, batata-doce, buriti, caju, amendoim, banana e ananas entre outras. Deixaram um forte heranca enraizada na culinaria brasileira, com diversos pratos a base de mandioca e milho, tais como Pamonha e o Beiju, e tambem com o guarana, palmito, batata-doce, cara, pinhao, cacau, amendoim, caruru, serralha, mamao, araca e caju, embora aja ainda dezenas de outros actualmente pouco comuns ou apenas de conhecimento regional, como sao o abajeru, ape, araticum, azamboa, bacaba, bacupari, camboim, cambuca, curuanha, curuiri, guti, grumixama, guapuronga, mocuri, mundururu, murici, ubucaba e umari. Outros vegetais introduzidos pelos indigenas foram fibras como o algodao, o tucum, gramineas, bambus e o guarata bravo para o fabrico de tecidos, ornamentos e cestaria; para fazer vassouras, a piacava; generos de aboboras para produzir cabacas, usadas para armazenar agua ou farinha. Dos alimentos derivados de animais, destacam-se os de tartarugas e seus ovos, como o arabu, o abuna, o mujangue e o paxica; de peixes, como pacoca e o moquem (tambem podem ser utilizados os de outros animais), o piracui, a moqueca e a mixira.


A vida de cada individuo era programada em vidas gerais desde antes do proprio nascimento pela estrutura tradicional e relativamente fixa de suas culturas, como normas sociais mantidas sem grande modificacao desde tempos imemorais. Muitas sociedades eram profundamente ritualizadas, desenrolando o tecido de suas vidas ao comando de mitos e crencas diversas, que cercavam certas actividades de tabus inviolaveis e davam instrucoes para muitos actos cotidianos. No entanto, variacoes e mudancas diversas existiram ao longo dos tempos, ocorreram muitos intercambios entre cambios diferentes, e essa evolucao progride ainda hoje, sendo de facto culturas vivas e dinamicas, mesmo que sendo baseadas em tradicoes ja tao antigas.

De facto pouco se sabe sobre suas antigas crencas religiosas senao atraves de interpretacoes distorcidas transmitidas pelos colonizadores, para os quais nos primeiros tempos parecia que nao possuiam nenhuma ideia de Deus. Nas palavras de Hans Alfred  Trein "a inexistencia de uma formacao social de Estado foi interpretada como uma carencia civilizatoria, da mesma forma como a inexistencia de um Deus e de um discurso teologico foi interptretada como de carencia religiosa". Logo se percebeu que eles mantinham sim muitos ritos e crencas religiosas, a ideia do divino era de facto generalizada, mas com muitas variacoes em seu significado. Nas cosmovisoes indigenas e comum uma nocao de tempo nao linear, em que o Universo nao tem uma origem e fim definidos e os tempos se confundem. Muitas tribos acreditavam em um Deus supremo, mas este Deus podia ter a funcao unica de criar o Universo, deixando-o depois sob a responsabilidade de deuses secundarios. As vezes, porem, a origem do Mundo e inteiramente desconhecida e ele ja aparece pronto nas suas lendas de criacao, podendo entao destacar-se a figura de um heroi sabio e civilizador, que podia ser algum tipo de Super-Homem ou alguma entidade divina, seres benevolentes que organizam e instruem a humanidade e lhe concedem davidas valiosas. Em muitas tradicoes a humanidade nasce de um Animal Mitologico poderoso. Por outro lado, cosmogonias com um par (as vezes antagonico) ou uma colectividade de criadores primevos tambem sao comuns.

Varios animais, plantas, seres mitologicos e ate a propria Terra e seus elementos em todas as culturas foram variavelmente deificados (Animismo), ou considerados como que sagrados, ou personalizados, e em muitas comunidades cultivava-se uma identificacao (Panteista) de um poder divino insondavel com a Natureza e os homens. Para eles o Mundo visivel era apenas e somente um dos mundo paralelos e, em certos aspectos ou momentos, intercomunicantes. Uma ideia de um Paraiso Pos-Morte, a "Terra sem Males" como o chamam os guaranis ainda hoje, reservada para os bons e corajosos, era recorrente, e praticavam-se elaborados rituais de sepultamento dos mortos, bem como para preservar a memoria de ancestrais e dos fundadores miticos dos clas. Mas as suas religioes nao eram Dogmaticas, nao existia uma Liturgia imutavel, nem escrituras sagradas, nao ofereciam vitimas sacrificiais aos seus deuses e nao praticavam Proselitismo Religioso. Acreditavam em diversos tipos de demonios e espiritos da floresta, como o Curupira, um protector de animais, capazes de causar danos as pessoas, exigindo ser aplacados com ritos ou presentes. Os medidores por excelencia entre o plano divino e humano eram pajes ou xamas, que eram tambem, junto com os anciaos, os principais guardiaos e transmissores de suas tradicoes. Mas havia algumas tribos sem pajes e os deuses, espiritos e antepassados podiam se comunicar com os humanos comuns atraves de animais, sonhos, intuicoes e visoes profeticas. O uso de substancias alucinogenas, tabaco e bebibas embriagantes era generalizado, embora sujeito a regras precisas, para se fazer a ponte para o Mundo invisivel, para relembrar tradicoes e os antepassados, selar pactos entre as tribos ou renovar a uniao interna da comunidade.

Diversas de suas lendas se tornaram populares entre os nao-indios, enriquecendo por isso os folclores regionais, como as lendas do Boto, da Boitata, da Iara, do Uirapuru e do Curupira, mas as mitologias indigenas geram tambem grande interesse academico, e a partir de estudos do Antropologo e Filosofo belga Claude Levi-Strauss (1908-2009) passou-se a perceber uma recorrencia de temas frequentes em seus mitos e cosmologias que sao comuns a Cultura Ocidental, podendo por isso ser valiosas vias de comunicacao intercultural. No sumario do Instituto Socioambiental, esse corpo de simbolos enfatiza.

"... a reflexao sobre oposicoes, tais como as de Natureza/Cultura; Vida/Morte; Homem/Mulher; Particular/Geral; Identidade/Alteridade. As mitologias e as cosmologias indigenas tratam, portanto, de temas com que se preocupam todos os homens, com menor ou maior grau de elaboracao, expressao ou consciencia. Sao temas que remetem a essencia do que significa ser humano e estar no Mundo. Por isto mesmo, apesar do estranhamento inicial trazido por signos desconhecidos - que carregam concepcoes inesperadas, articuladas a teorias cuja a traducao escapa a primeira aproximacao - a comunicacao e possivel e se da nao so na pesquisa e na divulgacao, como tambem fascina e desafia".

Desenvolveram varios conhecimentos astronomicos e cientificos, associando observacoes dos astros e do Meio Ambiente aos ciclos da vida da comunidade e as suas crencas religiosas, mas muito pouco se sabe sobre os mesmos temas. Na descricao do Etnoastronomo Germano Bruno Afonso, "os indios e os povos antigos nao faziam Astronomia so por fazer. Tudo tinha uma razao. Alem da parte pratica, com finalidade de orientacao - os Pontos Cardeais - havia todo uma parte religiosa, de ritual, de culto aos mortos, de fertilidade, etc, que tambem era ligada a Astronomia. Por exemplo, para os tupi-guarani cada um dos pontos cardeais representa o dominio de um Deus. O Crux tambem conhecido como Cruzeiro do Sul era a constelacao mais conhecida, usada como uma referencia para a orientacao Geografica. Sobrevivem ainda nos dias actuais relatos historicos sugestivos, como o do Missionario e Religioso frances Claude d'Abbeville (?-1632): "os tupinamba atribuem (correctamente) a lua o fluxo e o refluxo do mar e distinguem muito bem as duas mares que se verificam na Lua Cheia e na Lua Nova ou poucos dias depois". Varios mitos relacionam o fenomeno da Pororoca as Fases da Lua, o que e tambem correcto, muitas tribos usavam formas de relogios solares (Gnomons), e contavam o tempo atraves do Movimento aparente do Sol ou seja a Ecliptica. Astros e constelacoes aparecem em pictogramas rupestres, e sao personificados e divinizados em suas tradicoes imemoriais, atribuindo-se-lhes poderes maravilhosos e ate comportamentos emocionais. Guerreiros ou personagens famosos podiam ser transformados em estrelas e constelacoes, ou mesmo em animais ou plantas sobrenaturais. No celebre Mito da Mandioca, por exemplo, em versao recolhida pelo Politico, Militar e Escritor brasileiro Jose Vieira Couto de Magalhaes (1837-1898), a planta, que e vital para o sustento indigeno, nasce do corpo de uma menina morta. Para os Tupi-guarani, se Jaci (a Lua), gostasse de alguma menina e a quisesse ter por companhia, a transformava em estrela. Por outro lado, eclipses e cometas, aparicoes inesperadas, fora da ordem natural que concebiam, costumavam espalhar o terror entre eles. Estando em contacto intimo com a Natureza, se tornaram profundos conhecedores de seus segredos e recursos, ainda que inumeros fenomenos naturais fossem explicados atraves de razoes sobrenaturais. Plantavam de acordo com as estacoes do Ano e as Fases da Lua, conheciam relacoes entre mudancas climaticas e mudancas na biodiversidade, e usavam o controlo biologico de pragas agricolas.


Muitas etnias mantinham costumes que chocaram os colonizadores, como o Canibalismo, o Incesto, o Infanticidio Neonatal, e a Feiticaria, embora deva-se assinalar que estavam inseridos em um contexto cultural coerente, mas foram tambem frequentes sobre a sua generosidade, sua habilidade guerreira, seus valores de honra e coragem, notabilizando-se como herois, por exemplo, Antonio Filipe Camarao (cerca de 1580/1600-1648) e Sepe Tiaraju (1723-1756) D'Abbeville registou no Seculo XVI:

"As leis da cavalheiria, no tempo em que floresceu na Europa, nao excediam por certo em pudonor e brios a bizarria dos selvagens brasileiros. Jamais o ponto de honra foi respeitado como entre estes barbaros, que nao eram menos galhardos e nobres do que esses outros barbaros, godos e arabes, que fundaram a cavalaria".

Duelos por questoes de mera honra eram frequentes. Mesmo que matar muitos inimigos acrescentasse um grande prestigio ao Guerreiro, que sacrificios de prisioneiros fossem comuns, e que a vinganca fosse um dos motivos principais para os confrontos, a belicosidade entre as tribos parece ter se resumido na maior parte das vezes a uma simples troca de insultos e provocacoes ou demostracoes de poder e aparato envolvendo pequenos raides, e os relatos carnificinas extensas intertribais so aparecem depois de avancar a conquista portuguesa, quando mudam todas as relacoes de poder e se formam e caem em sucessao poderosos cacicados. Sao Jose de Anchieta (1534-1597) um certo Padre Jesuita espanhol e Santo da Igreja Catolica que acabou tambem por ser um dos fundadores da cidade de Sao Paulo testemunhou:

"Naturalmente sao inclinados a matar, mas nao sao crueis; porque ordinariamente nao dao nenhum tormento aos inimigos, porque se os nao matam nos conflitos da guerra, depois tratam-nos muito bem, e contentam-se com lhes quebrar a cabeca com um pau, que e morte muito facil... Se de alguma crueldade usam, ainda que raramente, e com o exemplo dos portugueses e franceses".

Tambem existe o registo de narrativas sobre intensos afectos familiares e de sua predisposicao a actividades artisticas e festejos celebrando regularmente grandes encontros que congregavam enormes grupos, sendo o mais conhecido os Kuarup tambem conhecidos como Quarup que e um ritual de homenagem aos mortos ilustres da Regiao Xingu, no Brasil, ritual de homenagem que se mantem em pratica ate aos dias de hoje, onde se trocam presentes, compartilham refeicoes elaboradas e experiencias de vida, tambem ocorrem disputas desportivas, cantos, lamentos e dancas colectivas.

Muitas vezes cobriam seus corpos com uma variada ornamentacao de plumas, fibras ou outros materias naturais, especialmente em ocasiao de festejos ou cerimonias, mas a nudez era corriqueira e nao causava nenhuma vergonha ou qualquer embaraco. Porem vivendo na floresta, cheia de animais perigosos nao so por serem selvagens mas tambem venenosos e agressivos e obstaculos fisicos, muitas tribos usavam no cotidiano do dia-a-dia um tapa-sexos, protectores penianos ou tangas de tecido, que tinham a funcao de proteger os genitais contra a acidentes ou ataques de insectos. As mantas de tecido para cobrirem o corpo eram de facto raras. Dispensavam grandes cuidados ao corpo e a higiene pessoal. Dos indios vem o costume moderno de se tomar um banho diariamente. No entanto apesar dos estudos e investigacoes pouco se sabe de sua sexualidade e seu significado sociocultural ou afectivo. Parecia que tinham uma atitude bastante livre quanto a mesma sexualidade em varios e diversos aspectos. A virgindade ao que parece era pouco valorizada e costumavam praticar sexo antes do casamento, embora tabus interditassem para o sexo os pre-puberes e as mulheres em periodo mestrual e no puerperio ou seja no pos-parto. Em muitas tribos eram aceitos, por exemplo, o sexo em grupo, algumas formas de incesto, o adulterio e a homossexualidade, e os homens poderiam oferecer os favores sexuais de suas esposas a visitante ilustres como forma de cortesia. Mesmo o sexo e a higiene eram praticados a vista de quem estivesse por perto. E de notar que as ocas em que viviam por vezes uma familia inteira ou ate uma tribo inteira nao tinham qualquer divisao interna.

Por outro lado, tinham suas proprias convencoes restritas que, se violadas, acarretavam vergonha, ostracismo ou outras sancoes severas que podiam ir desde de castigos fisicos ate ao banimento ou a Pena de Morte. Alguns exemplos sao ilustrativos: Xamas que fossem suspeitos de praticar feiticarias contra a outros membros da sua tribo podiam ser executados; se um homem mostrasse ser covarde corriam o risco de poder vir a ser rejeitadps pelas esposas; prisioneiros de guerra nao precisavam ficar confinados porque a mesma fuga representaria uma grave desonra; revelacao de segredos de iniciacao podia ate significar a morte, e em algumas tribos se as mulheres profanassem a Casa das Flautas, local que era reservado apenas aos homens, sua lei exigia que fossem punidas com um estupro colectivo. Os crimes nao prescreviam com a passagem do tempo e justificacoes como a embriaguez, descontrolo emocional e a co-accao nao costumavam ser aceitas como atenuantes ou escusas de responsabilidade. 


Em muitos aspectos da sua vida a Natureza estava presente, e de facto, como se pode calcular, sua sobrevivencia dependia dela em regime diario. Mantinham animais de estimacao; muitas tribos e clas remontavam suas genelogias a animais miticos; varios animais e plantas participavam de inumeras lendas, eram tidos como deuses ou magicos deveriam ser propiciados com oferendas e cerimonias, e eram reproduzidos em sua Arte. Embora nao tivessem uma consciencia ecologica nos moldes ocidentais, viam em gerao a Criacao como sendo e tratando-se de uma obra divina, a vida como toda inter-relacionada, e a propria Terra como viva e sagrada, e mesmo que tirassem alguma forma de proveito e sustento do Meio Ambiente, mantinham um modelo de vida caracterizado pela sustentabilidade. Pela fundamental importancia que as terras tradicionais tem nas suas culturas, estando mesmo intimamente associadas a mitos fundadores, habitos de vida e tradicoes culturais ou sociais, e sendo o local de sepultamento dos venerados ancestrais, sua perda em regra significa a desintegracao das sociedades.

Actualmente sua sobrevivencia tambem e ameacada porque muitos animais e plantas que lhes eram importantes de varias maneiras estao desaparecendo, ficando em vias de extincao, e a Legislacao Nacional proibe a predacao e captura de especies nativas. Para os indios mesmo assim o Governo abriu uma excepcao, mas desde que o uso da mesma excepcao se destine somente para a alimentacao e a funcoes tradicionais, mas isso impede que usem produtos naturais, como penas de aves, em artesanato com um objectivo comercial, que para muitas tribos ja e uma importante fonte de renda quando nao praticamente o unico meio de sobrevivencia.

Como ja foi mencionado, originalmente a educacao nas comunidades era dada de maneira colectiva e tradicional, em grande parte baseada em metodos orais, ja que nenhuma das sociedades indigenas brasileiras possuiu sistemas de escrita conhecidos. Calcula-se que antes de Cabral eram faladas cerca de 1300 linguas nativas. Hoje o numero, claro, e muito menor. Nao sabe exactamente qual essa esse mesmo numero, devido a variacao nos criterios utilizados, mas podem ainda restar cerca de 270 linguas vivas. O Numero Oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica e de exactamente 274. Muitas, porem, estao em rapido declinio, com apenas poucos falantes. Poucas foram estudadas com profundidade, apenas 9% delas tem descricao completa, com gramatica, colectanea de textos e dicionario. Elas se dividem em dois grandes troncos linguisticos, o Tupi e o Macro-je. No primeiro se incluem, por exemplo, as linguas Tupi-Guarani, Monde, Tupari, Jurana e o Munduruku, e no segundo, Je, Borodo e Botocudo. Tambem existem diversos grupos falantes mas esses de linguas isoladas, sem afinidades proximas com quaisquer outras linguas, como o Tikuna, Trumai e o Jabuti. Alem disso, ha uma infinidade de dialectos e variacoes das linguas principaos. O Tikuna, o Guarani-Kaiowa e o Kaingang sao as que tem ainda um maior numero de falantes.

Apesar de uma ausencia de sistemas de escrita, muitos grupos desenvolveram uma rica diversidade tanto de sinais como de outras formas graficas, de variado grau de complexidade, repetidas atraves de geracao em geracao e que, sabe-se, eram portadores de significados especificos, uma forma de comunicacao diferentes dos sistemas de escrita formais do Ocidente, embora seja comparavel a sua Arte. Ainda que seu significado exacto permaneca com frequencia mal compreendido, especialmente nos documentos arqueologicos, esses sinais e formas visuais, as vezes arranjados em cenas narrativas ao lado de figuras de seres vivos, sao documentos historicos importantes para a reconstituicao de suas vidas. Pictogramas e gravuras rupestres que sobrevivem em estacoes arqueologicas espalhados por varios pontos do Brasil dao um amplo testemunho de mentes capazes de criar mensagens completas, em que se incorporam e misturam plasticidade e significados. Na descricao de Irene de Araujo Machado, uma Pesquisadora brasileira do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnologico (CNPq) "as inscricoes rupestres... constituem um legado capaz de desfazer equivocos e desvendar redes de possibilidades. Porque constroem sistemas de escrita por meio dos signos notacionais, estao muito mais proximos da criacao cientifica e artistica do que da mera comunicacao instrumental". Grande parte deste acervo arqueologico ja desapareceu ou esta sob a ameaca de destruicao devido ao avanco da civilizacao, pelo desconhecomento do seu valor e pelo vandalismo premeditado.

Mesmo que muito ja tenha sido perdido, a cultura material e imaterial dos povos indigenas brasileiros que sobrevive ate a actualidade e de facto muito rica em todo o seu conjunto, embora possa de facto variar muito entre os casos individuais. Algumas culturas se caracterizam pela grande quantidade de apetrechos e objectos decorados, organizam ritos suntuosos, apreciam uma generosa pintura corporal; outras no entanto sao mais adeptas da simplicidade visual, mas podem tambem igualmente desenvolver grandes habilidades musicais, ter substantiva tradicao oral e falar linguagens sutis e sofisticadas. Entre as especialidades que cultivaram se destacam em particular e primeiro plano a Musica, a Danca, a Ceramica, a Tecelagem, a Cestaria, a Pintura Corporal e a Arte Plumaria. Essas producoes artesanais tinha um papel central na vida das tribos, sobre o veiculo de ideias, conceitos religiosos e simbolos colectivos, alem de ainda servir como um importante meio e forma de expressao a beleza e a habilidade que tinham. De facto, os melhores criadores eram prestigiados.

No entanto nao existia a figura do "Artista"; todos eram habeis em varias formas e trabalhos de Arte. Para os indios uma dedicacao especializada e exclusiva, tipica da sociedade ocidental, era um sintoma de desequilibrio espiritual ou uma obsessao, pois as actividades vitais deveriam ser distribuidas equilibradamente e a producao de objectos simbolicos, que compunham grande parte da sua cultura material, estava sob a influencia de poderes espirituais, e deveria ser restrita a ocasioes que fossem ritualizadas. O proprio processamento das materias-primas usadas para a confeccao dos artefactos era carregado de ritualidade e estava mesmo sujeito a leis precisas, que variavam de uma tribo para a outra. Para os Palikur conhecidos tambem por Palicures, por exemplo, as penas vermelhas sao das araras sao assentos de espiritos protectores, por isso usadas em adornos corporeos, objectos e espacos a fim de afugentar influencias malignas. Entre os Wayana conhecidos tambem como Uaianas, a tintura do aruma e a materia-prima mais carregada de simbolismo, ja que a constituicao da planta e comparada a dos seres humanos. O grande Cocar dos Kayapo tambem conhecidos como Caiapos, Kaiapo e Mebengokre chamado de Krokrok ti e que e o simbolo da propria aldeia. No Centro do mesmo vao penas azuis que representam a Praca, o local masculino e o publico por excelencia, em torno sao enfileiradas penas vermelhas, simbolizando desta vez o Mundo feminino e domestico. Penugens brancas de acabamento representam a floresta. Muitos povos e clas desenvolveram uma serie de padroes geometricos, transmitidos tradicionalmente em Cestaria, Ceramica, Pintura Corporal e Tecelagem, que se acabaram por tornar uma marca registada de cada grupo, possuindo tambem significados e preservando conhecimentos matematicos.

A Musica tinha um grande destaque entre as artes, sua origem era tida como sendo divina, sendo recebida atraves de sonhos. Para eles o som tinha poderes magicos, estando na base da estruturacao do cosmos e sendo mesmo um poderoso instrumento de intervencao deliberada no Mundo fisico, como por exemplo sendo capaz de produzir curas. Praticamente nao se produzia Musica que nao tivesse alguma associacao com algo sagrado, estando presente em toda a parte, especialmente nos grandes festejos, quando era praticada colectivamente. As cantorias e declamacoes rituais, que acabavam por recontar historias da tradicao, descreviam sonhos profeticos, invocavam espiritos e produziam curas e visoes, "cumprem tambem um papel fisiologico na propria constituicao dos estados psiquicos, actualizando a experiencia dos eventos miticos", como descreveu a Antropologa Deise Lucy Oliveira Montardo. A Musica tambem incluia cancoes de amor e saudade, podendo ser impregnadas de intenso lirismo poetico. O Musico, Compositor, Ensaista e Professor de Literatura Brasileira Jose Miguel Soares Wisnik (1948) analisou esta importancia dizendo que "cantar em conjunto, afinar as vozes, significa entrar em acordo profundo e nao visivel sobre a intimidade da materia", produzindo uma identificacao e afirmacao comunitaria contra o mar de sons do Mundo manifesto.

Segundo a Psicologa brasileira Adriane Garcia Salik: "Nos mitos estavam reflectidas questoes da origem do seu povo, modo de proceder na vida e sentido de existencia, as quais estao intrinsecamente relacionadas com as sonoridades musicais. E a Musica que estabelece a conexao Mito e Cosmologia com as artes do corpo: a Danca, a Plumaria e a Ornamentacao, sendo portadora de sentido, estabelecendo, por conseguinte, uma ponte entre mito e rito... funcionando como uma "maquina de transformar verbo em corpo" como diz Menezes Bastos.

Por esses poucos exemplos aqui descritos se percebe a forte importancia da Arte em suas culturas. Contudo, e preciso advertir que eles nao tinham um conceito do que era a "Arte" como tinha o ocidental, considerando-a uma actividade autonoma; suas actividades criativas eram integradas as funcoes cotidianas e sua "Arte" era uma essencia utilitaria, em grande medida se confundindo com o Artesanto Folclorico pelas suas caracteristicas tradicionalistas, passadas de geracao em geracao. Esta distincao, que ja foi muito usada para desqualifica-la, se tornou, porem, ultrapassada, em vista do amplo reconhecimento actual da Cultura Material e Imaterial dos indios como Arte efectivamente pelos proprios ocidentais, com uma riqueza de funcoes e significados, qualidade estetica e niveis de complexidade equiparaveis aos da tradicao do Ocidente, e muitos museus em todo o Mundo possuem preciosas coleccoes de artefactos oriundos dos indios brasileiros.


E muito bem  provavel que este modelo generalista acima descrito, que define tipicamente uma sociedade Pre-Historica inteiramente silvicola e seminomade, nao tenha sido o unico desenvolvido pelos primeiros povos brasileiros em tempos mais recuados, embora sociedades muito diferenciadas que porventura tenham existido no mesmo territorio devem ter desaparecido do mesmo bastante tempo antes da chegada de Pedro Alvares Cabral. Varias tradicoes e lendas tem circulado a seculos sobre supostas "civilizacoes" ou miticas "cidades perdidas" em plena Selva Amazonia e em outras regioes brasileiras, trazendo consigo relatos hieroglifos que envolvem algum misterio gravados em pedras, megalitos, artefactos tecnologicos, piramides e estruturas urbanas, entre outras anomalias do cenario arqueologico nacional mais conhecidos.

Tornaram-se notorios, por exemplo, os casos das "pedras do moinho" de quase 5 Metros de Diametro e perfeitamente circulares descritas na Serra de Copaoba, na Paraiba, pelo Teologo, Humanista, Poeta, Historiador e Polimata holandes Gaspar Barleu (1584-1648) conhecido tambem como Caspar Barlaeus e ainda como Caspar (Kaspar) van Baarle, da corte do Conquistador alemao Joao Mauricio de Nassau-Siegen (1604-1679) igualmente conhecido em holandes por Johan Maurits van Nassau-Siegen e em alemao como Johann Moritz von Nassau-Siegen; o de "Menir" instalado sobre uma enorme pedra esferica descrito no Seculo XIX por Adauto Ramos, do Instituto Historico e Geografico Brasileiro (IHGB), e depois destruido; o do "Eldorado Amazonico", um reino fabuloso e coberto de uma vasta riqueza e abundancias imaginaveis, e por fim o da "Cidade Antiquissima" que alegadamente fora descoberta em 1753 por bandeirantes que aparentemente procuravam as lendarias Minas de Muribeca, mas que nunca foi reencontrada apesar de muitas buscas, isto se realmente existiram e nao passam de uma lenda. De acordo com o relatorio que descreve o local, o famoso Manuscrito 512 ou Documento 512 resgatado em 1839 na Biblioteca Nacional de Portugal, a cidade, que parecia abandonada, era grande e organizada. Entrava-se nela por um Arco Triunfal que continha inscricoes, e tinha casario regular de alvenaria cercando uma praca quadrada onde havia varios monumentos, incluindo uma "Columna de pedra preta de grandeza extraordinaria, e sobre ela uma estatua de um homem ordinario, com uma mao na ilharga esquerda, e o braco direito estendido, mostrando o Dedo Indicador ao Polo Norte; em cada canto da dita praca esta situada uma agulha, a imitacao que usavam os romanos, mas algumas ja maltratadas, e partidas como feridas de alguns raios".

Se alguma parte desse folclore pode ser reflexos distantes e distorcidos de povos civilizados pre-cabralinos reais, deixados na memoria colectiva de outros povos que depois os transmitiram aos brancos, a maior parte desses relatos e especulacao, fantasia, fraude ou ma interpretacao de elementos naturais. No entanto, nem tudo parece ser engano ou invencao, e algumas evidencias materiais estudadas com metodologia cientifica actual apoiam antigas tradicoes orais. A Ceramica das culturas  Santarem e Marajo, conhecida e apreciada ha ja bastante tempo, e significativamente mais complexa e tecnicamente avancada do que a da vasta maioria dos outros povos brasileiros, parecendo relacionar-se a de culturas urbanizadas da Mesoamerica e da Costa Sulamericana do Pacifico, embora na realidade pouco se saiba sobre as suas sociedades.

Em anos recentes tem sido outras descobertas que tem trazido evidencias mais fortes de terem vivido culturas material e tecnologicamente mais estruturadas no Brasil, possivelmente ate inteiramente sedentarias e com algum grau de efectiva urbanizacao. O Antropolgo Norte-Americano Michael Heckenberger publicou certa vez um texto na prestigiada Revista Science descrevendo vestigios de casas, muros, estradas e represas na Area habitada pelos Kuikuro igualmente chamados e conhecidos como Cuicuros, Cuicurus ou guicurus, nas cabeceiras do Rio Xingu, situado no Estado do Mato Grosso e habitam as aldeias de Ipatse, Akuhugi e Lahatua, localizadas no Sul do Parque Indigena de Xingu. A partir de importantes e numerosas descobertas feitas em 1999 pelo Paleontologo Alceu Ranzi, estudiosos tem encontrado na regiao do alto Rio Purus centenas de geoglifos, vestigios materiais no proprio Solo de grandes dimensoes e com formas geometricas regulares. Os pesquisadores estimaram que a escala das obras envolveria uma populacao de pelo menos 60 mil pessoas. No Amapa, no Municipio de Calcoene, descobriu-se megalitos com cerca de dois mil anos que, se presume, eram utilizados para observacoes astronomicas. A mesma regiao foi transformada no Parque Arqueologico do Solsticio conhecido por abrigar o Observatorio Astronomico de Calcoene, e tambem, igualmente, um local arqueologico de Arte Rupestre de enorme interesse tanto historico como turistico. Segundo o Escritor, Professor e Autor brasileiro, Luiz de Alvarenga Galdino (1940), "menires, dolmens e principalmente alinhamentos de pedras, apontando para a posicao em que o Sol nasce no primeiro dia do Inverno (Solsticio), tem sido descobertos no Roraima, Amapa, Goias, Maranhao, Piaui, Parana e Santa Catarina". A Pedra do Inga situado no Estado do Paraiba no Municipio de Inga e outro sitio que tem fascinado pesquisadores pela complexidade de suas gravuras rupestres.


As populacoes pioneiras da America, nao encontrando competidores, e tendo uma rica Megafauna a disposicao para Caca, floresceram, espalhando-se pelos quatro quadrantes do Continente. Alguns grupos chegaram a desenvolver, apos muitos milenios, civilizacoes urbanas conhecedoras de uma elevada complexidade social e tecnologica, grande poderio militar e riqueza material, realizando uma ampla transformacao da Natureza, como o maias e astecas. Os povos que se radicaram no Brasil, por sua vez, semi-isolados pela Cordilheira dos Andes das culturas mais sofisticadas do Pacifico e da America Central, mantiveram habitos silvicolas despojados e seminomades, ainda viviam na Pre-Historia, e desconheciam muitas tecnologias e invencoes como a roda, o espelho, ou as armas de fogo. Portanto, a chegada dos portugueses em 1500 representou para todos um enorme choque cultural.

A superioridade militar, administrativa e tecnologica dos portugueses logo se impos, e ate mesmo a sua Arte foi usada em seu proprio favor, sendo notorio, por exemplo, o irresistivel fascinio que a Musica do Ocidente exercia sobre muitos povos, facilitando imenso a aculturacao. A admiracao no entanto nao foi reciproca. Entendendo o Indio como um ser bruto, quase animal, que deveria ser domesticado ou derrotado, os portugueses nao viam mal no processo colonizador, e de facto muito acreditavam que a Colonizacao iria salvar o indigena de terriveis erros morais e de sua "pobreza" cultural e material. Mas, na pratica, mesmo que a Igreja Catolica desde o Seculo XVI tivesse reconhecido nos mesmos as condicoes de seres humanos, o europeu muitas vezes nem acreditava que possuissem alma ou intelecto, nao exigindo a consideracao que era devida aos homens. Na sua logica nao havia justificativa para que o indios nao aceitassem o jugo imposto, pois era para o seu proprio bem. Os que nao o fizessem de forma espontanea, entao nada os poderia salvar, pois como eram "apenas bestas", "pecas" que podiam ser postas em mercado, que podiam ser vendidos, estavam assim entregues a cobica dos bandeirantes e capitaes-do-mato cacadores de indios. Esta mentalidade, predominando, autorizou o massacre que se seguiu, numa epoca em que a conquista de outros mundos e a subjugacao a ferro e fogo de outros povos era coisa normal e tanta fonte de gloria e honra como de lucro e poder. Algumas tribos nao levantaram grandes obstaculos e acabaram por aceitar facilmente o novo dominio dos portugueses no territorio, mas muitas outras resistiram como e enquanto lhes foi possivel, passando a ser perseguidas e exterminadas em massa, ou acabavam por se tornar escravos e escravas. Entre as primeiras obras publicadas sobre os povos indigenas brasileiros, no Seculo XVI, encontram-se os livros escritos pelo Mercenario alemao Hans Staden ( Cerca de 1525-Cerca de 1576), pelo Missionario frances Jean de Lery (Cerca de 1536-Cerca de 1613) e pelo Historiador e Cronista portugues Pero de Magalhaes Gandavo (Cerca de 1540-Cerca de 1580).

Diversas ordens religiosas, em particular os jesuitas, participaram da conquista mandando missionarios bem preparados que acabariam por servir como evangelizadores, pacificadores, professores, medico e artistas, e supriam necessidades em todas as areas. Formou-se um sistema de reducoes, aldeamentos fixos mais ou menos auto-suficientes, um tanto semelhantes a vilas europeias, administrados pelos padres com a cooperacao dos indigenas, Muitos indios encontraram ali proteccao contra a barbarie que se estava a abater sobre os povos livres, e religiosos como o Sacerdote Jesuita portugues Manuel da Nobrega (1517-1570) e o Padre, Filosofo e Escritor portugues Antonio Vieira (1608-1697) se notabilizaram empreendendo, atraves de sua forte e importante influencia politica e moral, esforcos visiveis e constantes para proteger os indigenas, dentro do entendimento da cultura dominante. Porem, o preco pago pela proteccao foi um pouco alto, foi a perda integral das suas raizes culturais que distinguiam cada povo, homogeneizando-se a cultura de todos sob o manto do Catolicismo e o Imperio da Coroa Portuguesa, transformado-os assim tambem em pequenos produtores rurais. Comparado ao florescente exemplo da Provincia Jesuita do Paraguai e de outras partes da America dominada pelos espanhois, o sistema das reducoes no Brasil foi bem menos eficiente e organizado, encontrando muitas resistencias por parte dos indios, mas de qualquer maneira teve um papel importante no processo aculturador e foi a origem de muitas cidades brasileiras, como Sao Pedro da Aldeia na Regiao dos Lagos e no Estado do Rio de Janeiro, Sao Miguel das Missoes no Estado do Rio Grande do Sul e Sao Nicolau igualmente no Estado de Rio Grande do Sul.

Porem, nas ultimas decadas, as novas producoes historicas tem dado visibilidade a uma outra analise de questao indigena. Sem negar a violencia com que muitos europeus os trataram, elas tem passado ao ver no Indio nao apenas uma vitima passiva da colonizacao europeia, mas tambem um agente que interferiu e teve um papel fundamental no processo de construcao da sociedade brasileira moderna. Sem a ajuda dos indios, a propria colonizacao teria sido impraticavel. Alguns indios mais civilizados e amistosos comercializavam com os colonos portugueses, fornecendo-lhes viveres e produtos naturais valiosos e de extrema importancia como a madeira, condimentos e substancias medicinais, e chegaram mesmo ao ponto de contribuirem mesmo para a escravizacao e exterminio  de outros indios, participando das entradas e bandeiras, expedicoes portuguesas que tinham o intento e visavam a escravizacao dos indigenas. No Ano de 1605, o Padre Jesuita portugues Jeronimo Rodrigues (1551-1631) ficou espantado em Santa Catarina ao ser recebido por indios que tinham interesse e intencao de vender outros indios, nao sendo indios de outras tribos inimigas que os vendedores queriam vender, eram inclusive pessoas da propria familia que eles estavam ali colocando a venda, em troca de roupas e ferramentas mostrando assim tambem que nao tinham nocao do era dinheiro e do valor e importancia que o mesmo tinha e que com o mesmo podiam comprar tudo o que quisessem desde que a quantia fosse suficiente. O Padre escreveu: "Outro moco vindo aqui onde estavamos, vestido em uma camisa, perguntando-lhe quem lhe dera, respondeu que, vindo pelo navio, dera, por ela, por alguma ferramenta, um seu irmao".

Muitos indios se beneficiaram a si mesmos com a chegada dos portugueses. A vida junto aos brancos parecia atractiva e muitos foram os indigenas que abandonaram voluntariamente as suas aldeias e iam viver junto com os colonos. As novas tecnologias trazidas pelos colonizadores e que eram completamente desconhecidas dos indios ate entao provocaram uma verdadeira revolucao na vida das tribos indigenas. O anzol facilitou enormemente a Pesca. O uso do machado de metal diminuiu muito trabalho dispendioso e duro para se cortar fosse o que fosse. A introducao de especies exoticas, como a banana, a jaga, a manga e a laranja, ofereceu novos e valiosos recursos alimentares para as tribos. A introducao do cavalo e do gado facilitou em muito deslocamentos, a aragem da terra para as lavouras e o transporte de cargas, alem de o cavalo favorecer a guerra e a caca, tornando-se afamados cavaleiros os charruas e os guaicurus, por exemplo, e os caes domesticados protegiam as tribos de ameacas. Outros grupos usaram os portugueses como aliados para exterminar tribos rivais e destruir inimigos. Um caso emblematico foi a Guerra dos Tamoios (1556-1557) tambem chamada e conhecida pela Confederacao dos Tamoios que foi uma revolta do povo indigena travada no Rio de Janeiro. Os Tupiniquim tambem chamados de tupinaquis, topinaquis e topinanquis e tambem outra tribo chamada de Termimino ajudaram os portugueses a expulsar os franceses da regiao, e depois contaram com o apoio e ajuda dos portugueses para exterminar seus inimigos antigos, os Tupinamba. Para um grupo indigena, um grupo rival ou de inimigos era tao "Estrangeiro" quanto eram os portugueses, franceses, espanhois ou holandeses.

No Seculo XIX, por meio da corrente Romantica conhecida como Indianismo, o Indio passou a ser descrito no discurso oficial e tambem nas artes eruditas como o "Bom selvagem". Essa concecao, que e derivada do Iluminismo, tambem conhecido como Seculo das Luzes e Ilustracao, via o Indio como dono de uma Moral pura, vivendo em harmonia com a Natureza, uma Vitima indefesa da crueldade europeia. Nessa mesma epoca literatos e artistas falavam deles como sendo os primogenitos do Brasil, fundamento de uma nova ideia de unidade nacional, uma ideologia sentimental, ufanista e progressista que foi adoptada pelo Governo em um amplo programa de reformas em varios niveis da vida brasileira, das artes a Economia, da Politica a Educacao. No entanto, para os indios, na pratica a situacao era bem diferente. Mesmo depois de inumeros regulamentos civis e eclesiasticos desde o Seculo XVI tentarem proteger os povos nativos, garantindo os seus Direitos Humanos e os seus direitos as terras que habitavam, a sociedade branca de um modo geral fazia ouvidos surdos e ainda nao os aceitava como seres semelhantes e iguais a si proprios. Esta registado que o Governo tentou como podia varias vezes proibir a Escravatura Indigena, mas as tentativas despertavam revoltas entre os colonos, que nao queriam perder o Capital que os mesmos representavam, o que ja tinham investido nos mesmos com a compra e a sua forca de trabalho. Outras leis contradiziam as que os protegiam, e continuavam a ser considerados judialmente incapazes, devendo ser tutelados pelo Estado, que os confinava em reservas pequenas ou expulsava tribos de suas terras sob os pretextos mais frageis e insignificantes. Muitos ate continuavam a ser escravizados, perseguidos e mortos. No final do processo da colonizacao, estima-se que a populacao indigena havia declinado de cerca de 5 milhoes para cerca de 600 mil pessoas, e mesmo esses, vivendo uma grande parte em condicoes de opressao e miseria.

Boa parte da populacao indigena morreu nas guerras, nas perseguicoes e emboscadas de que foram vitimas e sob o estado de escravos, mas grande parte da mortalidade se deveu ao contagio de doencas trazidas pelos europeus, contra as quais os indios nao tinham Imunidade, por terem vivido durante milenios afastados e isolados de outras populacoes. Durante o Seculo XIX com alguns avancos em Epidemiologia, comecaram a ser documentados casos de brasileiros desencadeando propositalmente epidemias de Variola como Arma Biologica contra os indios. Um caso "Classico", segundo o Antropologo brasileiro Mercio Pereira Gomes (1950), e o da vila de Caxias, no Sul do Estado do Maranhao. Por volta de 1816, com um intuito de conseguirem mais terras, alguns fazendeiros resolveram "presentear" os indios Timbira que sao um conjunto de povos: Apanyekra, Apinaye, Canela, Gaviao do Oeste, Kraho, Krinkatí, Pukobye e os fazendeiros lhes ofereceram roupas de pessoas infectadas (que normalmente eram queimadas para evitar contaminacoes). Os indios levaram as roupas para as aldeias e, logo, os fazendeiros tinham muito mais terra livre para a criacao de gado. Casos similares ocorreram por toda a America do Sul. As "doencas do homem branco" ainda afectam as tribos indigenas, causando muitos obitos.


Outra grande parte da populacao indigena nao pereceu, mas foi assimilada pela sociedade brasileira, dando origem a prolifica descendencia que, nao obstante, ja nao se identifica mais como sendo "India". O Polimata, Sociologo, Antropologo, Historiador, Escritor e Pintor brasileiro Gilberto de Mello Freyre (1900-1987), no seu livro Casa-Grande & Senzala (1933), considerou o elemento indigena como um importante formador da identidade social brasileira, principalmente nos primeiros seculos de contacto com os europeus, atribuindo um papel essencial as "cunhas", as mulheres nativas:

"Para a formidavel tarefa de colonizar uma extensao como o Brasil, teve Portugal que valer-se no Seculo XVI do resto de homens que deixava a aventura da India. E nao seria com esse sobejo de gente, quase toda miuda, em grande partida plebeia, alem do mais, mocarabe, isto e, com a consciencia de raca ainda mais fraca que nos portugueses fidalgos ou nos do Norte, que se estabeleceria na America um dominio portugues exclusivamente branco ou rigorosamente europeu. A transigencia com o elemento nativo, se impunha a politica colonial portuguesa: as circunstancias facilitaram-na. A luxuria dos individuos, soltos sem familia, no meio da indiada nua, vinha servir a poderosas razoes do Estado no sentido do rapido povoamento Mestico da nova Terra. E o certo e que sobre a mulher gentia fundou-se e desenvolveu-se atraves dos seculos XVI e XVII o grosso da sociedade colonial, em um largo e profundo mesticamento, que a interferencia dos padres da Ordem Religiosa da Companhia de Jesus que e tambem conhecida como jesuitas salvou de resolver-se todo em Libertinagem para em grande parte regularizar-se em casamento cristao".

Na actualidade, milhoes de brasileiros descendem, em diferentes graus, dos povos indigenas brasileiros. Em uma pesquisa realizada em 2008 o IBGE fez um inquerito de pesquisa e perguntou a origem familiar de brasileiros de diferentes regioes e 21,4% dos entrevistados declararam ser descendente de indios sendo  a popoulacao brasileira superior a um numero de 207.207.183 isso da um alto numero superior a 9 e meio quase os 10 milhoes da populacao portuguesa. De facto tradicoes familiares recordando de "avos indias lancadas no mato", cobicadas pela beleza e mesmo sua bravura, mas "amansadas" o suficiente o suficiente para se tornarem esposas cristas, sao recorrentes pelo Brasil afora. Complementando a descricao de Freyre, a Pesquisadora brasileira Elaine Pereira Rocha da Universidade de Adis Abeba, diz que o Indio, antes visto como indolente inutil para o trabalho, um bebado contumaz ou rebelde perigoso, adquiriu prestigio quando foi mitificado pelos romanticos do Seculo XIX, e sua incorporacao a sociedade branca em certos aspectos foi mais facil do que a do negro, muito mais desprezado pela Cultura dominante, e cuja dignificacao so esta se processando recentemente, mesmo que este tambem tenha deixado uma vastissima descendencia miscigenada, tanto com brancos como com indios.  Preossegue a Pesquisadora:

"O relacionamento entre indios e brancos durante a conquista da Terra (foi reconstruido pelos romanticos) de maneira que ficasse bem clara a superioridade moral e material do europeu, devidamente reconhecida pelos indigenas, que almejam, sobretudo, servir ao branco por quem se apaixonam e por quem sao capazes de sacrificar a vida... Dessa maneira, a Nobreza do protagonista indigena so se mantem na medida em que reconhece o merito civilizador do seu Senhor. Assim tambem, no mito da avo que foi pega a laco, a avo, no caso e a corajosa Indigena que, a principio, resiste ao agressor, mas, ao final, se rende a sua superioridade. Numa unica lenda, as familias logram explicar a tonalidade de pele mais escura, exaltar a honra da avo, que so se rendeu aos encantos do homem branco depois de "lacada", e da Indigena fiel que permanece casada e da ao Senhor uma familia "genuinamente" brasileira".

Algumas pesquisas cientificas confirmam aquelas tradicoes familiares, mostrando que milhoes de brasileiros carregam em seu DNA o material genetico de povos indigenas. A populacao brasileira e bastante heterogenea, portanto o grau de ancestralidade indigena varia de pessoa para pessoa e tambem geograficamente. De uma maneira geral, as pesquisas mostram que os brasileiros apresentam um alto grau de ancestralidade europeia pelo lado paterno, enquanto as ancestralidades amerindias e africanas predominam do lado materno. Isso reflecte a caracteristica da colonizacao portuguesa, na qual a maioria dos colonizadores eram homens, gerando um padrao sexual de miscigenacao entre homens europeus com mulheres indigenas e africanas. O Brasil contrasta com outros paises da America Latina onde a presenca negra e quase inexistente ou residual. O mesmo e o possivel resultado dos senhores brancos, ricos, influentes e poderosas fazendeiros manterem relacaoes com algumas das suas escravas negras. Algumas eram mesmo compradas com esse intuito de servir a cama do seu Senhor e a virgindade das mesmas tinha um preco muito alto que so os senhores podim pagar.

Em uma dessas pesquisas, 33% dos brasileiros brancos, da classe media, descendem de uma ancestral indigena pela linhagem materna. Nenhum deles descende de indios pela linhagem paterna. Isso confirma que o homem Indigena deixou poucos descendentes no Brasil, enquanto a mulher Indigena foi importante na formacao da populacao brasileira. Outra pesquisa informou que os brasileiros, brancos, pardos ou negros, apresentam um grau uniforme ancestralidade indigena, normalmente abaixo dos 20%. Existe, contudo, discrepancia regional. Enquanto que na amostra de Manaus, capital no Amazonas 37,8% da ancestralidade da populacao e indigena, em Santa Catarina e de apenas 8,9%.


O convivio dos povos indigenas com a restante sociedade brasileira nunca foi pacifico e tem sido problematico desde o descobrimento, mesmo com seus lados positivos, e nao parece que as tensoes poderao vir-se a resolver tao cedo. Para uns o caminho inevitavel e a progressiva assimilacao a sociedade ocidental, para outros, o isolamento se revela a unica maneira de conseguir preservar a identidade cultural das tribos, que se dissolve ou perde grande parte de suas caracteristicas singulares invariavelmente em todos os casos do contacto proximo e continuado com a civilizacao. Entre os extremos, explodem continuamente novos conflitos e disputam que em casos extremos causam ate mortes e outros tipos de violencia, chegando as denuncias as mais importantes e poderosas organizacoes internacionais como a Organizacao das Nacoes Unidas (ONU), Organizacao dos Estados Americanos (OEA) e a Organizacao Internacional do Trabalho (OIT), mesmo assim nao se tendo conseguido ate agora chegar a uma solucao satisfatoria para ambos os lados.

A consequencia pratica deste mesmo processo dialectico dramatico tem sido a expulsao muitas vezes forcado de muitos povos de suas terras, transformando, como disse Melissa Volpato Curi, Professora na Universidade de Brasilia e Funcionaria da Fundacao Nacional do Indio (FUNAI), "Sociedades autonomas em minorias dependentes", a desvirtuacao de formas validas e em muitos aspectos ate mais saudaveis de ver o Mundo e de relacionar-se com a Natureza; a perda de muitos saberes, conhecimentos e artes tradicionais; a destruicao gratuita de inumeras vidas por doenca, preconceitos, pobreza, alcoolismo, violencia e ate prostituicao, entre tantos outros males que surgem em contacto com a sociedade civilizada e com os brancos.

Considerando que de facto a populacao actual e drasticamente menor do que aquela que vivia e existia em 1500 quando os primeiros colonos portugueses chegaram ao Brasil com Pedro Alvares Cabral, junto com as amplas evidencias  de desprezo, desconsideracao e maus tratos continuos que sao de conhecimento e dominio publico, muitos especialistas e observadores nao so nacionais mas tambem internacionais denunciam a situacao historica dos indios no Brasil como um genocidio sistematico, que ainda hoje continua a custar muitas vidas. Calcula-se que entre 2003 e 2011 mais de 500 indios tenham sido assassinados, em conflitos geralmente ligados a posse de terras. Em 2012 o indice de violencia contra indios cresceu 237% em relacao a 2011. Em 2013 lideres indigenas entregaram uma carta a ex-Presidente do Brasil Dilma Vana Rousseff (1947) exigindo medidas urgentes para evitar "a extincao programda" de suas etnias que acusam o governo de orquestrar.

Ganhar o direito a posse das terras e a maior reivindicacao dos indios brasileiros na actualidade. A terra e a raiz dos valores fundamentais para suas culturas. Mas cerca de 90% de todos os processos demarcatorios estao sendo contestados na Justica, as deliberacoes costumam se arrastar por decadas e mesmo terras ja demarcadas frequentemente sao invadidas ou espoliadas com o beneplacito do proprio governo e da sociedade. Muitos nao tiveram outra opcao de escolha e por uma melhor sobrevivencia ja vivem em cidades, no meio da sociedade e nao isolados, se misturando com os brancos. Seja forcados a migracao apos terem sido expulsos de suas terras, seja pelas dificeis condicoes de subsistencia que encontram em reservas pequenas e exaustas, seja procurando as cidades espontaneamente, em busca de maior conforto, reconhecimento, tratamento de saude, educacao ou ate por outros motivos e razoes, mas quase sempre vao iludidos e o que encontram la sao condicoes talvez ainda mais arduas, vivendo a sua maioria em favelas e tentando com muita dificuldade preservar as suas tradicoes antigas, quando nao acabam, por forca de um contexto desfavoravel, as abandonando quase que por completo, esquecendo suas tradicoes, suas raizes e acabando por desprezar suas raizes. Se tornam mais visiveis, e isso tem ajudado na sensibilizacao geral da populacao, mas ao mesmo tempo permanecem entre os grupos urbanos mais desamparados, tao a margem da sociedade quanto outras minorias "problematicas".

Por outro lado sua conscientizacao politica cresce a cada dia, suas demandas agregam apoios diversos, e muitos povos nativos ja se encontram mobilizados e unidos atraves de varias associacoes, entre as quais se destaca a Articulacao dos Povos Indigenas do Brasil (APIB), que os representa a nivel nacional. Mesmo com significativos avancos recentes, o caminho que os leva ate uma verdadeira equiparacao social apenas comecou a ser aberto, e muito ainda resta por fazer. Como sintetizou o Antropologo brasileiro Rinaldo Sergio Vieira Arruda, da Universidade de Sao Paulo.

"Na postura ideologica predominante, os indios nao fazem parte do nosso futuro, ja que sao considerados uma excrescencia arcaica, ainda que teimosa, de uma pre-brasilidade. Uma brasilidade, alias, que nao os reconhece, formada a partir de sua negacao... Do prisma das sociedades indigenas, as contradicoes, ambiguidades e tensoes decorrentes das relacoes de dependencia e subordinacao com a sociedade envolvente permanecem actuantes, assim como ainda prevalecem... os interesses anti-indigenas, exigindo um permanente esforco de resistencia, de luta politica e a reelaboracao de suas formas de reproducao sociocultural... De um lado, o conhecimento dos processos naturais e as praticas de manejo adaptadas as florestas tropicais desenvolvidas por estes povos, por meio da observacao e experimentacao, cujos resultados acumularam-se em milenios de ocupacao da regiao, tem grande interesse para a ciencia e para a sociedade. Por outro, o estilo de vida cooperativo, baseado no desenvolvimento de mecanismos politicos e psicologicos de estabilidade social, colocam questoes fundamentais para a humanidade. Mas a questao crucial, que a actualidade nos coloca de forma cada vez mais incisiva, e se havera a oportunidade e a possibilidade de a humanidade aventurar-se em culturas singulares no interior do sistema mundial , inventando ao mesmo tempo outros contratos de cidadania".

Desde os primeiros tempos da colonizacao o Indio recebeu proteccao legal. Em 1549, na instalacao do Governador-Geral em Salvador, apareceu a primeira regulamentacao sobre os indios na forma de um Regimento que garantia proteccao aos aliados da Coroa Portuguesa e do seu Imperio e dava aos padres jesuitas uma voz activa e poderes nos assuntos relacionados com os indios. Em 1680 um certo Alvara Regio instituiu, o indigenato, o reconhecimento do direito congenito e primario dos povos nativos ao seu territorio tradicional. Depois destas leis, muitas outras apareceram para dar salvaguardas aos povos indigenas, mas invariavelmente com poucos efeitos praticos.

Para tentar resolver alguns assuntos mais urgentes, o proprio Governo Brasileiro criou ja no Seculo XX em 1910 o Servico de Proteccao ao Indio (SPI). O servico garantiu a posse de algumas terras tradicionais aos seus ocupantes e protegeu as mesmas contra invasoes, reconheceu a importancia de suas culturas originais e suas instituicoes, mas em tudo sua actuacao foi timida. Depois de o servico se desestruturar completamente entre grande controversia publica, foi substituido pela Fundacao Nacional do Indio ja em 1967. A FUNAI tambem nao encontrou condicoes faceis de trabalho, erguendo-se sobre os escombros do SPI, admistrando um contexto de perene carestia de recursos humanos e financeiros, enfrentando prolongadas e desgastantes batalhas juridicas em multiplas frentes, e tendo em tempos recentes seus poderes reduzidos, tambem sob uma vasta controversia. Alem disso, toda a politica oficial na epoca continuava a se voltar ao objectivo de assimilar os povos a Cultura Brasileira, embora essa linha de pensamento ja nao fosse um consenso. Mas ainda foi a base do Estatuto do Indio, lei que entrou em vigor em 1973, mesmo que ela tenha trazido muitos avancos para a questao indigena.

Muito em virtude da mobilizacao dos proprios indios, especialmente atraves da Uniao das Nacoes Indigenas (UNI), uma nova versao foi inaugurada com a Constituicao de 1988, que declarou "todos sao iguais perante a lei, sem distincoes de qualquer natureza" e admitiu o Multiculturalismo, ou Pluralismo Cultural, reconhecendo varios direitos indigenas importantes, incluindo o direito a posse de terra habitada tradicionalmente e a preservacao intacta de suas culturas no ambiente natural necessario para isso. O que ocorre e que o Estatuto e a Constituicao entraram em conflito em aspectos doutrinais e se tornaram imediatamente polemicos, e a regulamentacao das normas secundarias jamais progrediu como deveria acontecer. Alem disso, o regime de tutela, a qual os indios estao formalmente sujeitos pelo Estado, como definido no Estatuto esta em conflito com aquele expresso no Codigo Civil, ha disputa sobre o que quer dizer "terras tradicionais", sobre o significado de etnia, e a controversia permanece acessa em torno de outros varios conceitos fundamentais. Tudo isso lanca os indios num contexto juridico incerto e incoerente muito desfavoravel aos seus interesses. Tambem se complica a aplicacao de penalidades por crimes cometidos por indios.

Diversos outros dispositivos legais em anos recentes contemplaram interesses indigenas em areas como a Saude, Meio Ambiente, Educacao, Patrimonio Arqueologico e Imateiral, Assitencia Social, apoio a producao e regularizacao fundiaria. Apesar dos diversos decretos, o Indio brasileiro tem que se integrar na Cultura Brasileira para requerer emancipacao. Instancias internacionais como a Organizacao das Nacoes Unidas, a Organizacao Internacional do Trabalho e a Unesco tambem se tem fortemente empenhado na elaboracao das convencoes e programas de proteccao e formento as culturas indigenas de todo o Mundo, com destaque para os dois marcos internacionais de grande importancia: a Declaracao das Nacoes Unidas sobre Direitos dos Povos Indigenas, de 2007, e sobretudo a Convencao 169 da Organizacao Internacional do Trabalho sobre os Povos Indigenas e Tribais, de 1989, criada por consequencia da outra, o unico instrumento internacional referente aos indios com forca de lei, do qual o Brasil e signatario.

Mesmo com tantas garantias, o Congresso Nacional e as cortes de Justica do Brasil se tornaram arenas de conflitos legais interminaveis, e sob pressao do lobby economico e politico inumeros projectos de lei apresentados nos ultimos anos vem tentando sabotar ou reverter as conquistas que ja foram realizadas, colocando mais combustivel numa polemica antiga que continua inclinado para a violencia armada.

Assim como acontece com os tupinambas de Olivenca do Municipio de Ilheus do Estado Nordestino da Bahia, a maioria dos povos indigenas do Brasil e negado o Direito a autodeterminacao previsto na Declaracao Universal dos Direitos Humanos.


As associacoes e organizacoes indigenas surgiram no Brasil nos anos 1970-1980, a partir de um rapido processo de conscientizacao politica entre tribos ocorrido com importante apoio da Igreja Catolica. Marcal de Souza, ou Marcal Tupa-i, ou ainda Tupa-Y. (pequeno Deus) (1920-1983),Ailton Alves Lacerda Krenak (1953), mais conhecido como Ailton Krenak, Marcos Terena (1954) e Raioni Metuktire (1930), todos eles importantes lideres indigenas de tribos brasileiras, entre outras liderancas, comecavam tornar notorias ate internacionalmente, e foram surgindo organismos como o Wara Instituto Indigena Brasileiro e o Grumin - Rede de Comunicacao Indigena. O debate para a Constituicao de 1988 deu outro impulso a articulacao, formando-se assim de seguida a UNI, a cujo a influencia se devem muitos dos avancos expressos na nova lei. estimulando tambem a criacao de novas organizacoes. Nessa epoca o Ministerio Publico passou a dar uma grande atencao aos indios, seus problemas e causas, favorecido pelo novo contexto juridico e por novas reformas administrativas. Mas foi uma longa e dolorosa caminhada, somente em 2005 e que foi conseguida uma integracao poderosa e permanente em nivel nacional, materializada na Articulacao dos Povos Indigenas do Brasil, fruto do consenso obtido entre as liderancas reunidas no Acampamento Terra Livre, montado anualmente na Esplanada dos Ministerios, em Brasilia, exactamente para ganhar a maior visibilidade possivel e com intencao de sensibilizar o publico e a sociedade ao maximo sobre entre outras coisas as necessidades urgentes das tribos. Segundo o Cientista Politico e Professor Universitario brasileiro Bruno Lima Rocha, a APIB "eleva o Status desta luta, pois ao gerar a auto-representacao, ultrapassa a condicao de tutela e delegacao indirecta de entidades como o Conselho Indigenista Missionario e as contradicoes permanentes na Fundacao Nacional do Indio".

Em 2006, pesadamente pressionado, o Governo Brasileiro criou a Comissao Nacional de Politica Indigenista, subordinada a FUNAI, com o objectivo expresso de "auxiliar na articulacao intersetorial do governo e proporcionar uma maior participacao controlo social indigena sobre as accoes governamentais. Os indios brasileiros tentam fortalecer sua integracao interna e o dialogo com o restante da sociedade atraves de muitas outras iniciativas, independentes ou em parceria com entidades e o proprio governo, como os Jogos dos Povos Indigenas (1996-Presente), encontros culturais e as assembleias estaduais, e mantem websites para a divulgacao de sua Cultura e dos desafios que enfrentam. Igrejas, academicos, Organizacoes nao Governamentais (ONGs) e varios outros segmentos sociais nas decadas recentes tem dedicado uma especial atencao aos indios brasileiros, e lhes tem dado significativa ajuda em muitas das suas reivindicacoes.

E provavel que a miscigenacao nao tenha sido tao intensa como aquela entre portugueses e africanos e, quando comparado com outros paises da America Latina a contribuicao indigena no Brasil e bem menor, mas ela de facto existe. Esse processo ainda esta em curso. Segundo a Fundacao Nacional do Indio, cerca de 25% da populacao indigena da Amazonia ja mora em cidades e so metade deste contingente se considera indigena, mesmo falando sua lingua original e praticando rituais. Considera-se que os brasileiros tem alguma ascendencia indigena sao varios milhoes.

No entanto essa populacao miscigenada  com ascendencia distante nao e considerada como sendo indigena, e os indios autenticos declinaram incessantemente desde o inicio da colonizacao. O primeiro inventario sobre eles so foi feito em 1884, pelo Viajante, Medico, Explorador, Etnologo e Antropologo alemao Karl von den Steinen (1855-1929), que veio a registar a presenca de quatro grupos ou nacoes indigenas de acordo com as suas linguas: Tupi, Macro-Je, Caribe e Aruaque. Estimativas recentes da populacao indigena na epoca dos Descobrimentos apontam que existiam no territorio brasileiro mais de mil povos, com um total aproximadamente de cinco milhoes de pessoas, talvez ate mesmo mais, mas nos anos 60 sobreviviam somente cerca de 120 mil individuos, e os numeros continuaram a descer ate os anos 80, chegando-se a pensar que a sua extincao completa era inevitavel. Porem, com programas de auxilio do governo, depois disso a tendencia passou a ser de crescimento populacional.

Ja em 2006 eram 215 os povos indigenas, com uma populacao de aproximadamente 345 mil indios, isto baseado em dados da propria FUNAI. Porem no censo de 2010 foram ja 817.963 mil pessoas se autodeclararam indias, um aumento subito que se explica com a mudanca nos criterios de identificacao de indios, e nao por factores demograficos. Em uma publicacao do MEC/Unesco, reconhecem que os dados sao na verdade incertos: "O Brasil nao tem ainda uma estimativa precisa sobre a populacao indigena em seu territorio. Como ate hoje nunca se fez um censo indigena, as contagens variam e oscilam na medida em que se baseiam em informacoes de diferentes e heterogeneas fontes".

Nos dias de hoje sete desses povos tem menos de 40 integrantes e existem alguns que ate tem menos de 10 integrantes.

Abaixo, dados dos recenseamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica de 2000 e 2010, demostrando em percentagem os 10 municipios brasileiros com um numero de maior populacao autodeclarada indigena:

Dados de 2000:

. 1) Sao Gabriel da Cachoeira (Amazonas) - 76,31%.
. 2) Uiramuta (Roraima) - 74,41%.
. 3) Normandia (Roraima) - 57,21%.
. 4) Santa Rosa do Purus (Acre) - 48,29%.
. 5) Ipuacu (Santa Catarina) - 47,87%.
. 6) Baia da Traicao (Paraiba) - 47,70%.
. 7) Pacaraima (Roraima) - 47,36%.
. 8) Benjamin Constant do Sul (Rio Grande do Sul) - 40,73%.
. 9) Sao Joao das Missoes (Minas Gerais) - 40,21%.
. 10) Japora (Mato Grosso do Sul) - 39,24%.

Dados de 2010:

. 1) Uiramuta (Roraima) - 88,1%.
. 2) Marcacao (Paraiba) - 77,5%.
. 3) Sao Gabriel da Cachoeira (Amazonas) - 76,6%.
. 4) Baia da Traicao (Paraiba) - 71,0%.
. 5) Sao Joao das Missoes (Minas Gerais) - 67,7%.
. 6) Santa Isabel do Rio Negro (Amazonas) - 59,2%.
. 7) Normandia (Roraima) - 56,9%.
. 8) Pacaraima (Roraima) - 55,4%.
. 9) Santa Rosa do Purus (Acre) - 53,8%.
. 10) Amajari (Roraima) - 53,8%.


Ha varios registos de avistamentos de povos indigenas sem contacto com a civilizacao. A FUNAI criou em 1987 um departamento especial para tratar deles, e segundo seus dados de 2013 sao ainda 32 os povos que ainda vivem isolados no Brasil, sendo eles um total de dez mil pessoas. Mas tambem aqui os dados apresentam muito controversia. Em um outro documento a FUNAI apresenta numeros bem mais altos e a mesma referiu 69 povos, e o Conselho Indigeniesta Missionario (CIMI), por sua vez, referiu em 2012 um numero ainda bem mais alto para 98. Como facilmente se pode imaginar e chegar a mesma conclusao, seja quantos forem os mesmos povos a verdade e que muito pouco se sabe sobre eles, e a partir de experiencias menos boas ocorridas anteriormente, para preservar a integridade de suas culturas agora e uma politica da FUNAI so se aproximar de povos isolados em caso de ameaca a sua sobrevivencia. Foi o que aconteceu com a Tribo Kawahiva que vive em uma Area do Municipio de Colniza, Estado do Mato Grosso, cujo ate mesmo a existencia se desconhecia ate o seu territorio ser invadido por fazendeiros em 2005, como e habitual por vezes e por isso se fala tanto em invasoes de terras, colocando-os em risco iminente de agressoes ou contagios.

Varios desses avistamentos ocorreram dentro de reservas ja demarcadas, o que acaba por favorecer a sua proteccao, mas existem outros que estao expostos em regioes que sofrem uma grande pressao ambiental, e o seu destino e ainda hoje algo muito incerto. Alguns desses grupos, como os Hi-merima, os Apiaka do Mato Grosso e os Katawixi, fizeram contacto anteriormente com alguma parte da sociedade mas acabaram por decidir voltar ao mato, a selva, as suas aldeias e ao isolamento, e outros fazem contactos com outros indios mas nao com civilizados.

Ao longo do Seculo XX apareceram grupos miscigenados reivindicando a condicao de "Povo Indigena". Este processo, chamado etnogenese, tem ocorrencia em todo o Mundo. No Brasil ocorre principalmente na Regiao do Nordeste. Sao dezenas de grupos requerendo o reconhecimento, sendo alguns exemplos os Naua tambem conhecidos como Nawa, os Matipu, os Kaxixo conhecidos tambem como Caxixo, os Apium, os Cariri conhecidos igualmente como cairiri ou quiriri, os Kalabaca tambem conhecidos como Calabaca, os Tabajara da Paraiba, os Tapeba, os Pitaguary conhecidos igualmente como Pitaguaris ou Potiguara, os Tremembe, os Kaninde ou caninde, os Tupinamba de Olivenca e os Kalanko. Estao espalhados por varios pontos do Brasil e por vezes sao grupos que nao passam de dezenas ou poucas centenas mas em alguns casos como os Tarabaja que no Seculo XVI chegaram a ser mais de 40 mil ou os Pitaguary que em 2010 calculava-se que fossem 3793 segundo dados apresentados pela Fundacao Nacional de Saude.

Para a Antropologia, etnia, alem de envolver elementos culturais e geneticos, e um grupo social: A etnogenese se justifica, portanto, com um processo de fundo social e politico baseado em uma autoidentificacao. Porem, a transformacao qualitativa gerada pelo reconhecimento formal como indios e ambigua e controversa. Por um lado, passam muitas vezes a ser visto como "menos indios" que os outros indios, nao merecendo por isso o mesmo tratamento tao delicado, enquanto que de outra forma e ao mesmo tempo ja nao sao vistos como "civilizados" perdendo direitos correspondentes, podendo faze-los cair em uma especie de limbo juridico e social. Na analise do Antropologo, Jose Mauricio Arruti, do Museu Nacional:

"Importa compreender as razoes, os meios e os processos que permitem um determinado agregado se instituir como grupo, ao reivindicar para si o reconhecimento de uma diferenca em meio a indiferenca, ao instituir uma fronteira onde antes so se postulava contiguidade e homogeneidade. Se o etnocidio e o exterminio sistematico de um estilo de vida, a etnogenese, em oposicao a ele, e a construcao de uma autoconsciencia e de uma identidade coletiva contra uma accao de desrespeito (em geral produzida pelo Estado nacional), com vistas ao reconhecimento e a conquista de objetivos colectivos".

Mas as vezes essas reivindicacoes sao criticadas como fraudulentas, objetivando apenas a obtencao de terras e beneficios oficiais e o atingimento de resultados politicos, e os conflitos sao frequentes. Como exemplo, uma Cronista da Revista Veja afirmou em 2013 que de 15 reservas propostas para demarcacao no Estado do Parana, em 5 os índios so "apareceram" ali em 2007, e nas outras, em 2012, e "o unico 'povo tradicional' nas areas reivindicadas pela FUNAI sao os produtores rurais".

Em 1961 foi criado o Parque Indigena do Xingu, a primeira reserva indigena brasileira a ser criada dentro de uma perspectiva Multicultural, apos uma forte actuacao e esforcos dos irmaos Villas-Boas, ou seja um grupo familiar de tres irmaos sertanistas composto por Orlando Villas-Boas (1914-2002), Claudio Villas-Boas (1916-1998) e Leonardo Villas-Boas (1918-1961). Para alem do Marechal brasileiro Candido Mariano da Rondon (1865-1958) e do Antropologo, Escritor e Politico brasileiro Darcy Ribeiro, entre outros indigenistas, para que a Natureza, os povos nativos da regiao, suas culturas, tradicoes e costumes fossem nao so mantidos mas tambem preservados sem sofrer alteracoes por inteiro e manter tambem a sua diversidade.

O proprio Governo Brasileiro estabeleceu recentemente uma politica territorial especifica para os indios em particular, consagrada na Politica Nacional de Gestao Ambiental e Territorial de Terras Indigenas, que procura sobretudo criar "estrategias integradas e participativas com vistas ao desenvolvimento sustentavel e a autonomia dos povos indigenas". Outras organizacoes, incluindo algumas estrangeiras, auxiliam o governo nessa dificil tarefa, mas algumas repetidamente sao acusadas de servirem a interesses nao revelados. Nesse sentido, pretende-se arranjar formas mais rigidas de controlar a actuacao dessas organizaacoes junto as comunidades indigenas e as mesmas formas estao a ser estudadas. O modelo das reservas indigenas demarcadas pela FUNAI difere no modelo Norte-Americano, no qual a propriedade das terras passa a pertencer legalmente aos povos indigenas. No Brasil, as reservas indigenas demarcadas pela Fundacao Nacional do Indio sao um patrimonio inalienavel da Uniao, cedidas para posse e usufruto legal vitalicio para os indios, nao havendo, portanto, como associa-las a uma perda de soberania ou de ameacas a Seguranca Nacional, como tem sido alegado por muitos militares de alta patente.

Em 2006 eram 582 terras indigenas, com uma extensao total de 108.429.222 hectares, o equivalente a 12,54% de todo o Territorio Nacional Brasileiro. A maior parte nao sera de admirar que esteja localizada na Amazonia, com 405 terras distribuidas em 103.483.167 hectares, que correspondem a cerca de 99% da Area total das terras indigenas brasileiras ficando as restantes 177 terras indigenas e os restantes 49.460.55 espalhados pelo restante territorio. Dois tercos da populacao indigena nessas reservas amazonicas, e o restante se comprime no 1% que lhe coube nas regioes todas somadas. No censo de 2010 foram assinaladas 611 terras indigenas e aldeias urbanas e muitas outras estao em discussao. Segundo a FUNAI, em 2012 havia 683 terras cadastradas no seu Sistema de Terras Indigenas, estando elas no entanto em diferentes graus de regularizacao. Das 683 apenas 406 estavam plenamente regularizadas nao acontecendo o mesmo com as restantes 277, mesmo assim 20% das reservas estavam invadidas. Todos os 26 estados brasileiros assim como o Distrito Federal, possuem comunidades indigenas.

O problema da demarcacao de reservas desde os tempos coloniais tem sido acompanhado de grande controversia, violencia fisica e denuncias repetidas de corrupcao oficial e violacoes de direitos humanos. As reservas nao-amazonicas sao os principais palcos de conflito, sendo todas areas pequenas, densamente povoadas e pesadamente pressionadas pelo entorno civilizado. Em 2012 o indice de violencia contra indios cresceu 237% em relacao ao ano anterior, em crimes geralmente associados a questao das terras. Segundo o Conselho Indigenista Missionario, 563 indios acabaram por ser assassinados nos ultimos dez anos no Pais.

A oposicao aos interesses dos indios e grande, especialmente nos sectores ligados ao Agronegocio, empreiteiras e industrias, que usam de seu enorme poder de influencia politica e economica para sustentar argumentos invalidos pela Lei, pela etica elementar ou pela melhor ciencia. Por exemplo, e frequente a alegacao de que se os indios continuarem a receber terras como tinham vindo a receber na ultima decada, em breve deixariam de haver terras disponiveis, impedindo assim o crescimento da Producao Primaria e criando um serio risco para a seguranca alimentar nacional. Mas os estudos em que esta tese se baseia foram fortemente criticados e com rumores de alegadamente terem falhado mesmo por funcionarios do governo, e de acordo com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciencia (SBCP) e outras instituicoes de alto gabarito, a alegacao positivamente nao tem qualquer fundamento na realidade. Outros actos governamentais considerados ameacas a sua sobrevivencia, a sua integridade cultural e seus direitos constitucionais a terra, aparecem na forma de leis promulgadas recentemente ou em tramitacao. O CIMI afirmou em 2013 que "ha mais de uma centena de proposicoes legislativas contrarias aos direitos dos povos em tramitacao nas duas casas do Congresso. Projectos do governo ou de privados em terras tradicionais, nao autorizadas pelos indios como manda a Constituicao, entre eles represas, mineracoes e estradas, sao as maiores fontes de conflito. Tais medidas sao justificadas em geral em nome do "relevante interesse da Uniao", uma possibilidade prevista constitucionalmente, mas que tem sido interpretada com cada vez maior largueza, gerando varios multiplos protestos na sociedade e ate em sectores do proprio governo. A propria FUNAI teve seus poderes diminuidos recentementes, passando a compartilhar a atribuicao de demarcar terras, antes exclusividade sua, com varios outros orgaos do governo ligados ao desenvolvimento economico e social, e para muitos indios ela esta sucateada, corrompeu-se e perdeu a credibilidade. Os casos de abusos contra os direitos constitucionais dos indigenas as suas terras se repetem, e o impacto pode ser ilustrado pela situacao dos Guarani-Kaiowa, uma das etnias mais fortemente pressionadas pela perda e invasao de suas terras, na descricao do Ministerio das Relacoes Exteriores:

"Nos ultimos anos, a FUNAI tem investido muito para recuperar os territorios tradicionalmente ocupados pelos Guarani-Kaiowa e dominados ainda que de forma ilegal e irregularmente por produtores de soja e agropecuaristas, a fim de garantir a sobrevivencia nao so fisica mas tambem cultural deste grupo indigena que, no passado, se espalhava da regiao Centro-Oeste ate o Sul do Pais. A perda gradual do espaco geografico da aldeia (tekoha) comprometeu a organizacao social dos Guarani-Kaiowa, fortemente ligada a seus conceitos miticos. O espaco da aldeia tem uma relacao com o sagrado e a sua perda implica uma falta de referencial para as demais actividades do grupo. Nao so a perda de tekoha alterou os aspectos culturais desses indios. O processo de anulacao dos valores culturais dos Guarani-Kaiowa se deveu, em grande parte, a presenca de varias seitas protestantes, que penetraram no grupo com intencao e objectivo de lhes dar assistencia. Essa influencia das missoes religiosas, impondo conceitos estranhos a eles, como o Pecado, gerou conflitos. Sem o referencial mistico, intrinseco a terra que deveriam ocupar, e contaminados por outros entendimentos de religiosidade, muitos indios viram e ainda veem no suicidio uma alternativa para acabar com o proprio conflito interno. Quando nao tomam esta atitude extrema, entregam-se ao consumo de bebidas alcoolicas, que, igualmente, leva a sua degradacao. Alguns, entretanto, buscam a alternativa de se empregarem nas fazendas instaladas em suas terras tradicionais. Esta decisao, por si so, ja representa um total distanciamento do padrao cultural de um Guarani Kaiowa.

Segundo o Filosofo brasileiro, bacharel em Direito e Coordenador do CIMI na Regiao Sul e da brasileira Iara Tatiana Bonin, reflectindo um consenso entre especialistas:

"A condicao primordial para qualquer relacao respeitosa que se pretenda com os povos indigenas e a demarcacao e garantia de suas terras. Nao ha como assegurar a vida, a cultura, a existencia digna desses povos fora de seus territorios. Mas, evidentemente, essa garantia nao e suficiente... Infelizmente, todas as referencias culturais e as formas de representacao que produzimos sobre os povos indigenas nos levam a pensar que eles sao frageis, menos desenvolvidos, menos cultos, menos civilizados, menos dispostos a trabalhar, e que suas culturas sao primitivas, menos complexas, menos valiosas. Tudo isso precisa ser problematizado. A grande questao e que somos impelidos a pensar a existencia indigena em funcao de nossa propria existencia. Neste caso, afirmamos a tolerancia para com eles, mas nunca nos perguntamos quem somos nos para tolerar, aceitar ou permitir que eles vivam do modo que desejarem. Um bom comeco para repensarmos as bases dessa relacao seria reconhecermos que os povos indigenas possuem suas formas proprias de viver, e isso independente de nossa aprovacao, aceitacao ou tolerancia".

A falta de demarcacao gera outros efeitos negativos alem dos descritos, pois somente comunidades residentes em areas regularizadas podem receber oficialmente uma serie de servicos de educacao, fomento agricola e social. A solucao do problema das terras indigenas tera importantes repercussoes tanto para a sobrevivencia daqueles povos quanto para a conservacao das florestas. O Brasil e o Campeao Mundial em desmatamento, e sofre com inumeras outras ameacas que poem em risco a biodiversidade e os ecossistemas, como a Poluicao e o Aquecimento Global. Neste sentido, o papel dos indios instalados em suas terras de direito e mantendo seus habitos tradicionais e importante na medida que essas comunidades  sao consideradas exemplos em manejo sustentavel das florestas. Avaliacao Ecossistemica do Milenio (AEM, do original em ingles MA) ou o Millennium Ecosystem Assessment, uma das maiores sinteses cientificas das ultimas decadas sobre o Meio Ambiente, declarou que, embora ainda sejam necessarias estudos cientificos mais profundos, os povos indigenas podem ser tao efectivos para a preservacao das florestas quanto sua transformacao em santuarios ecologicos convencionais.


Ja comecam a ser raras as tribos que podem viver de acordo com suas antigas praticas, ate mesmo os povos isolados estao sob crescente pressao. Este problema esta directamente ligado a conflituosa questao de suas terras. Em 2003, mais de 90% das tribos enfocadas em um estudo de Peter Schroder dependiam principalmente da Agricultura. A caca e a Pesca, antes muito importantes, ainda sao praticadas por quase todas as tribos, mas na maioria das vezes em escala limitada. O problema so piora pelo facto de muitas reservas serem demasiado pequenas, seus recursos naturais estao se exaurindo e ja nao tem condicoes de sustentar comunidades em crescimento. Cerca de um terco das reservas enfrenta dificuldades no abastecimento de alimentos e nas infra-estruturas, tornando a desnutricao, a pobreza e problemas recorrentes, e forcando mesmo muitos a migracao para fazendas da regiao ou para as cidades, em busca de melhores condicoes. Alguns, porem, migram em busca de educacao, de reconhecimento, de atendimento medico e por alguns outros motivos. Ja sao muitos os indios que frequentam cursos nas universidades, exercem profissoes liberais e tecnicas e ingressam mesmo na politica partidaria - como foi o caso do notorio  Juruna -, influenciando a realidade nacional em multiplos niveis.

\Constitucionalmente os indios tem direito a participacao nos lucros derivados de investimentos e obras em suas terras, mas como a Lei nem sempre e cumprida, em grande numero de casos os povos acabam explorados sem compensacoes adequadas, sofrendo varios impactos sociais negativos e vendo o ambiente de que precisam para viver ser destruido e poluido. Projectos de mineracao, centrais hidroelectricas, exploracao madereira, agropecuaria, falsificacao de documentos para se tomar posse de terras devolutas e obras de infraestrutura como estradas e linhas de transmissao energetica, sao as situacoes que geram maiores problemas. Muitas comunidades ja tomaram conhecimento, atraves de civilizados, do Aquecimento Global e dos prejuizos que o fenomeno vem causando para o Meio Ambiente em todo o Mundo, danos que eles corroboram atraves de observacoes diarias, sofrendo com as mudancas nas chuvas, com a redistribuicao ou declinio de especies selvagens, e com as secas mais intensas, que prejudicam suas economias baseadas na Terra.

Outras dificuldades advem dos multiplos modelos produtivos adoptadados tradicionalmente pelos varios povos, complicando o estabelecimento de politicas consistentes. Em geral suas economias se caracterizam pela ausencia de instituicoes formais de producao e distribuicao de produtos, pelo baixo grau de especializacao, pelo baixo nivel tecnologico, pelos pequenos mercados, por um sistema de trocas nao monetarias, pela enfase (ainda que nao exclusiva) na economia de subsistencia, e pela complexidade de integracao com o sistema civilizado. Contudo, uma expressiva parcela da populacao autodeclarada como sendo indigena, calculada em 2006 entre 100 e 190 mil pessoas (mas podem ser ate 350 mil) ja nao vive em reservas, e esta plenamente imersa no sistema economico Capitalista, embora em geral, com muito menos preparo, actua em grande desvantagem em relacao aos seus irmaos civilizados e obtem resultados bem mais fracos. A maioria acaba virando e se tornando mao-de-obra barata e termina seus dias em favelas nos grandes centros urbanos, incapazes de conquistar uma vida digna.

Para ajudar a resolver esses desafios o governo e entidade privadas, em conjunto com as comunidades, estao desenvolvendo varios projectos para o desenvolvimento economico e social das tribos, enfocando o manejo sustentavel dos recursos naturais, a organizacao de cooperativas, grupos de artesaos e outras formas de economia solidaria, e articulacao de um sistema de comercio integrado ao civilizado, colocando excendentes de colheitas ou artefactos etnicos em feiras regionais, o que tem sido uma importante fonte de renda para muitas comunidades. Embora essas mesmas iniciativas atendam a demandas urgentes de sobrevivencia, tem tambem o incoveniente de estreitar cada vez mais de estreitar os lacos dos indigenas com a civilizacao, dissolvendo progressivamente seus constumes tradicionais, um fenomeno que causa por si diversos efeitos que danificam e destroem os individuos e grupos, como ja foi explicado. Segundo Ana Carolina Coinbra, trabalhando sobre o caso dos Fulni-o, tambem conhecidos como Carnijo e Formio, mas descrevendo uma conjuntura que e comum, disse que os indios tem procurado absorver essas mudancas legitima e criativamente: "Esse tipo de accao esta inserido em um processo de mudanca cultural que implica na re-significacao de elementos externos a cultura a partir de uma logica propria. Neste caso especifico, o contexto em que estao inseridas as comunidades indigenas as leva a apropriacao de um discurso politico etnico visando sua autodeterminacao e autogestao, e a uma consequente revalorizacao cultural".

Originalmente os ensinamentos eram transmitidos de geracao em geracao ou seja de pais para filhos em situacoes praticas, mas tambem atraves da Arte, de lendas, de mitos e ritos de passagem de caracter religioso e publico, e de facto toda a comunidade participava da educacao de suas criancas. A partir da colonizacao europeia, todo esse sistema se viu na contingencia de mudar, introduzindo-se o ensinamento por mestres especializados, os professores, com disciplinas compartimentalizadas e de fraca vinculacao com a realidade de suas vidas e de sua heranca cultural. Nos tempos coloniais, praticamente, a educacao que se ministrou aos indios se resumiu ao Catecismo religioso, utilizando frequentemente formas artisticas ocidentais para seduzi-los para Cristo, como o Teatro e a Musica, que conseguiam fascinar os povos nativos, e algumas letras mais avancadas eram dadas aos caciques (lideres politicos amerindios) e seus filhos. Os demais podiam ser preparados em oficios mecanicos e artisticos e tecnicas de Agropecuaria. Logico buscou-se a abolicao de diversidade linguistica em favor de uma unidade lusofona. Nao obstante, durante muito tempo chegaram a se falar linguas crioulas de uma vasta ocorrencia geografica, hibridos compostos de varias linguas indigenas regionais em mistura ao portugues, como a Lingua Geral Paulista, tambem chamada de Lingua Geral Meridional e o Nheengatu, tambem conhecido como Nhengatu, Ne'engatu, nhangatu, inhangatu, Lingua Geral Amazonica, Lingua Brasilica, Tupi, Lingua Geral, Nenhengatu, Yegatu, Nyenngatu e Tupi Moderno, que produziram prolifica Literatura devocional e tecnica. Porem foram etapas intermedias num projecto de uniformizacao linguistica e totalmente educativa, consagrado por Sebastiao Jose de Carvalho e Melo (1699-1782), Marques de Pombal e Conde de Oeiras em meados do Seculo XVIII. Neste processo, muitos elementos culturais e praticas educativas originais se desvirtuaram. Desde o inicio se patentearam diferencas culturais aparentemente intransponiveis, e a adequacao do sistema educativo ocidental a transmissao do pensamento e da cultura nativa tem sido desde entao objecto de perene controversia e fonte de conflito.

O governo delimitou seu campo atraves de varios instrumentos legais, especialmente a Lei de Diretrizes e Bases da Educacao Nacional (LDB), e instituicoes especificas sob o comando actualmente do Ministerio da Educacao Brasileiro em parceria com a FUNAI, tem destinado grandes recursos para a educacao dos indios nas suas reservas e fora das mesmas, inclusive em cursos superiores, e tambem dos nao-indios a respeito da realidade nativa. Os proprios indigenas estao envolvidos nestas actividades educacionais de varias maneiras, agrupando-se em associacoes para preservacao e divulgacao de tradicoes, formando-se professores e produzindo material didactico em linguas nativas, mas no contexto da educacao formalizada e homogeneizadora do Brasil moderno, tem sido complexa a tarefa de preservar tradicoes para os quais vivem mergulhados nelas mas as estao perdendo, e traduzi-las com fidelidade para uma outra cultura, e ainda parecem prevalecer apresentacoes estereotipadas e simplistas, reiterando conceitos ultrapassados e atrasando os avancos em direccao ao entendimento mutuo.

Deve ser notado que o programa de educacao indigena do governo tem um perfil flexivel, buscando adaptar o modelo padronizado as necessidades das comunidades, preservando as linguas, usando materiais preparados no local por professores indios, elaborando curriculos diferenciados, incluindo a comunidade no estabelecimento de parametros e adequado o calendario escolar ao ritmo de vida de vida tradicional das tribos. A meta do governo e que todos os professores das escolas em reservas sejam indios. Mas alem da problematica implicita no modelo educativo, as proprias infraestruturas educativas nas aldeias sao precarias. Segundo um estudo de Rangel & Liebgott:

"Os dados indicam que nao ha escolas que assegurem a conclusao do Ensino Fundamental e que, na quase totalidade das comunidades indigenas, nao ha Ensino Medio. Impondo, com isso, que os estudantes indigenas frequentem escolas dos municipios, onde lhes sao negados os direitos a uma educacao escolar diferenciada. Os dados apresentados pelo CIMI indicam que a politica de educacao escolar indigena esta relegada, basicamente, aos municipios, que impoem as condicoes, os profissionais e os curriculos escolares. Os chamados territorios etnoeducacionais, apresentados pelo Ministério da Educacao, sao ainda uma mera ficcao, ou seja, nao estao em funcionamento, os povos indigenas nao os conhecem e sequer sabem como poderao ser implementados".

As carencias envolvem falta de instalacoes adequadas para as aulas, de transporte, de merendas escolares, de professores e materiais didacticos. A Educadora Iara Bonin afirmou que "para muitos estados e municipios, a oferta de educacao escolar indigena especifica e diferenciada e vista como uma regalia, uma concessao, e nao como um direito dos povos indigenas". Tambem ha denuncias de alijamentos das comunidades nos processos decisorios e de implementacao de projectos educativos sem o necessario consentimento previo dos povos. Alunos que conseguem progredir ate os cursos superiores tambem sao afectados, sendo ouvidas continuas queixas de atrasos no repasse das bolsas de estudo e outros auxilios, criando dificuldades de transporte, moradia e alimentacao, importantes para assegurar sua permanencia nas universidades.

A alfabetizacao dos indigenas nos vernaculos, paralelamente ao trabalho sistematizador dos linguistas, tambem tem tido o efeito de gerar Literatura, facto de fundamental importancia num contexto de progressiva dissolucao e esquecimento das tradicoes e mitos, e tem capacitado os indios para registar de maneira duradoura sua propria versao da Historia e descrever suas visoes do Mundo com autenticidade, corrigindo interpretacoes distorcidas dos civilizados, possibilitando alem disso a preservacao das proprias linguas e uma maior divulgacao de suas culturas. Fortalece ainda o senso de identidade das tribos, lhes infunde mais orgulho de suas origens e da bases para eles elaborarem formas proprias de Pedagogia.

Para os civilizados, o assunto indigena faz parte do curriculo escolar brasileiro desde o Nivel Primario, e permanece muito explorado ate as pos-graduacoes, havendo muitos museus, pontos de cultura, grupos e instituicoes que se dedicam a conservar e divulgar a riqueza e a diversidade do Patrimonio Arqueologico, historico e artistico dos indios, bem como de sua Cultura Imaterial, que estao seriamente ameacados. Incontaveis programas de estudos academicos em andamento, objectivam entender a sociedade indigena para melhor dialogar com ela, e tambem pelo merito de seu interesse intrinseco, que tem sido reconhecido por especialistas como imenso, podendo dar contribuicao valiosa para um Mundo que hoje se debate em uma profunda crise de valores em varios aspectos como humanos, sociais e ecologicos.


Sabe-se que os indios antes da chegada dos colonos ao Brasil gozavam de uma saude invejavel e quase sempre originalmente muito boa, tendo os corpos mais fortes e robustos que os europeus, exercitados nas artes militares, na producao de artesanto e construcao de cabanas, nas continuas actividades fisicas em seu cotidiano de estreito contacto com a mae Natureza, movimentando-se sempre a pe ou em canoas de remos, na Caca, na Pesca, na Agricultura e em desportos como a Huka-Huka (uma luta), o Cabo-de-Guerra, tambem conhecido como o Jogo da Corda, traccao a Corda ou Luta da Corda. O Xikunanhity (um "Futebol" em que a bola e impulsionada exclusivamente por cabeceios), a corrida carregando toras de madeira e o Rokra (um jogo com bastoes e uma pelota). Sua longevidade nos tempos Pre-Cabralinos e incerta, mas sobrevivem relatos dos primeiros exploradores, no entanto, afirmando que muitos viviam ate uma idade bastante avancada, chegando mesmo a conhecer ate quatro geracoes de descendentes.

Suas praticas de cura tinham um caracter Xamanistico e ritual, possuindo conotacoes magicas e religiosas, e as doencas frequentemente eram atribuidas a origens sobrenaturais. Em sua Medicina usavam ervas, produtos animais e procedimentos fisicos invasivos, que podiam mesmo incluir sangrias e escarificacoes. Muitas vezes o atendimento de saude tradicional distribuia funcoes entre varias figuras alem do curador principal, o Paje, incluindo rezadores e benzedeiras, conhecedores de ervas e parteiras. Diversos de seus conhecimentos foram aproveitados pelos europeus desde o inicio e hoje estao sendo estudados pela ciencia e em parte incorporados ao sistema de saude indigena organizado pelo governo.

Como ja foi dito, depois da chegada dos portugueses inumeras epedemias de doencas desconhecidas ate entao na America chegaram a dizimar populacoes inteiras, entre elas Malaria, Tuberculose, infeccoes respiratorias, Hepatite e doencas sexualmente transmissiveis. O problema continua ainda nos dias actuais, e de acordo com o Instituto Socioambiental e um dos topicos mais delicados de toda a questao indigena brasileira. Desde a sua criacao e origem a FUNAI se responsabilizou pelo atendimento sanitario dos indios, envolvendo para isso diversos orgaos e instituicoes, entre elas a Fundacao Nacional de Saude (FUNASA), que gerencia a seccao indigena do O Sistema Unico de Saude (SUS). Em 1999 o sistema foi reorganizado e descentralizado, criando-se o Subsistema de Atencao a Saude Indigena e 34 Distritos Sanitarios Especiais, conseguindo obter bons resultados, mas historicamente o atendimento sempre foi de um modo geral insatisfatorio, e as criticas proliferavam. Noticiavam-se casos de retorno epidemico de doencas que ja estavam controladas, sucateamento da infra-estrutura, corrupcao oficial, autoritarismo e descaso no atendimento alem de excesso de burocracia. A desnutricao infantil se tornava uma seria ameaca, vitimando crescente o numero de criancas. A situacao calaminosa invocou a intervencao do Ministerio Publico. Em 2010, depois de pressao das comunidades, o governo criou uma secretaria especial para tratar da questao, vinculada directamente ao Ministerio da Saude, que encampou a administracao dos Distritos Sanitarios. Estes orgaos atendem os casos mais simples. Quadros complexos sao encaminhados a hospitais regionais com mais e melhores meios de aparelhos e de pessoal. Os conselhos indigenas de saude, que contam com membros das comunidades, controlam o funcionamento do sistema de saude voltado para os indios. Na pratica, porem, o sector, assim como todo o resto da questao indigena, esta sempre enfrentando carencias multiplas, e sendo o centro e causa de inumeras criticas e controversias, mesmo internas.

Actualmente o principal marco legal especifico para a area da saude e a Politica Nacional de Atencao a Saude dos Povos Indigenas, regulamentada pela Portaria nº 254, de 31 de Janeiro de 2002. Dados do governo de 2006 apontam que entre os problemas de alta ocorrencia estao Anemia, Diarreia, Tuberculose, doencas de pele, infeccoes respiratorias, e doencas cronicas como Obesidade, Hipersao Arterial e Diabetes. Cerca de um terco das reservas enfrenta dificuldades de abastecimento alimentar, gerando desnutricao. Segundo uma pesquisa da UNESCO em parceria com o Ministerio da Cultura e o Museu Nacional, nos ultimos anos se verifica uma transicao epidemiologica entre os povos nativos. Se antes predominavam as doencas infecciosas e parasitarias, agora estao em rapida ascensao as doencas cronicas nao transmissiveis e as doencas sociais. Tem sido registados crescentes taxas de transtornos psicologicos e psiquiatricos, bem como de suicidios, homicidios, abusos sexuais, violencia domestica, toxicodependencia e alcoolismo. A perda de suas terras e a maior proximidade com a civilizacao, que levam a desagregacao das culturas, sao as principais causas apontadas. Toda a questao e complicada pela falta de conhecimentos mais solidos sobre a Epidemiologia, os habitos de alimentacao, higiene corporal e conservacao da saude entre os povos indigenas. Embora o governo de diversos subsidios para alguns programas academicos de pesquisas, o proprio governo reconhece amplas carencias, como consta na sua politica nacional:

"Nao se dispoe de dados globais fidedignos sobre a situacao de saude (dos povos indigenas), mas sim de dados parciais, gerados pela FUNAI, pela FUNASA e outras diversas organizacoes nao-governamentais ou ainda por missoes religiosas que, por meio de projectos especiais, tem prestado servico de atencao a saude dos povos indigenas. Embora precarios, os dados disponiveis indicam, em diversas situacoes, taxas de morbilidade e mortalidade tres a quatro vezes maiores que aquelas encontradas na populacao brasileira em geral. O alto numero de obitos sem registos ou indexados sem causas definidas confirmam a pouca cobertura e baixa capacidade de resolucao dos servicos disponiveis".

Para o antigo Director do Departamento de Saude Indigena da FUNASA, Wanderley Guenka, as maiores dificuldades, vem da multiplicidade de realidades culturais entre varios povos, impedindo a criacao de uma politica unificada de saude, a falta de preparo tecnico, as grandes distancias e dificuldades de acesso as reservas mais remotas, a precaria infra-estrutura em muitas aldeias e a cronica escassez de verbas. Em 2012 a entao Presidente Dilma Rousseff criou um comite especial para dar no futuro uma maior atencao ao problema, com foco no atendimento basico, incluindo Exame Pre-Natal, vacinacao, avaliacao nutricional, controlo do crescimento e desenvolvimento, consultas medicas e odontologicas, testes para Sida, Sifilis e Hepatites.

Entre as conquistas recentes no sector podem ser citadas o expressivo crescimento populacional nas ultimas decadas, a formacao de muitos profissionais de saude de origens indigenas, que passaram a se encarregar da maior parte do atendimento basico nas aldeias, e a igualmente importante reducao da mortalidade infantil, que caiu de 74, 61 obitos por mil nascidos vivos em 2000, para 46,73 em 2008, resultado da integracao de uma serie de programas de saude, desenvolvimento economico e assistencia social. No inicio de 2008 actuavam na area indigena 12.895 profissionais de saude, com 1.681 de Nivel Superior e 11.214 de Nivel Medio.

                                                                                 
Como ja foi descrito, os portugueses desde os primordios da colonizacao buscaram transformar os indigenas em bons cristaos. Muitos de seus costumes eram vistos como imorais e pecaminosos, e suas religioes, eram vistas como primitivas, supersticiosas e obscuras, quando nao eram consideradas como sendo demoniacas, e por isso era preciso a todo o custo "salva-los" de sua forma de vida. Isso nao mudou muita coisa. A despeito de todos os problemas que isso causou historicamente, grande parte da populacao indigena brasileira permanece ainda hoje sob uma forte pressao de propagandistas de outras religioes, que continuam tentando converte-los as suas fileiras sob os mais variados argumentos, mas em geral tentando assimila-los para a orbita da civilizacao e revelando uma visao subjacente preconceituosa, ignorante e prepotente sobre suas praticas religiosas tradicionais, fazendo-os ouvir aquele mesmo tipo de pregacao de seculos passados que, embora muitas vezes embora realizada com boa intencao, desvirtua ou substitui suas crencas originais e provoca profundos conflitos de consciencia nos individuos. Tenta-se "levar a palavra de Deus" ao Indio como se ele nao tivesse suas proprias figuras divinas e seus proprios preceitos, ou nunca tivesse ouvido falar em um poder espiritual, e tivesse sido ele mesmo a pedir a evangelizacao, querendo-se homogeneizar a espiritualidade nativa a sombra do Cristianismo, quase invariavelmente considerado "superior". O Cacique dos Yawanawa ou Iauanauas e Yawanawa Biraci da um eloquente testemunho:

"Convenceram todo mundo a ser crente. Botaram uma ameaca no nosso coracao, dizendo que sem essa religiao todo mundo iria para o inferno, que nos nao teriamos salvacao, nao seriamos capaz de ser um povo feliz. Que nos viviamos com o demonio. Que nossos rituais e nossas crencas eram coisas do demonio. [...] Eram racistas, nao gostavam da gente, pareciam que tinham nojo de Indio. Nao deixavam Indio andar no mesmo barco com eles. Nao deixavam comer junto. Nos tratavam mal. Sem respeito. Principalmente os americanos. Eram muito arrogantes. A gente sofria muito. A gente tinha vergonha de ser a gente. [...] Nos eramos proibidos, atraves da intimidacao, de realizar nossos rituais. Do lado da missao estavam os seringalistas, seringueiros. Se aliavam com todo mundo. E a igreja fazia a gente aceitar ser dominado. Alem da evangelizacao, dessa descaracterizacao cultural do nosso povo, ainda mantinham a presenca dos nao indígenas dentro da terra. Faziam a gente aceitar nossa condicao de escravo".

Porem, religiosos e associados ao trabalho missionario muitas vezes argumentam que a evangelizacao contemporanea, diferente da Historia, e oferecida como uma opcao e nao um imperativo, que pode ajudar os indios em sua conscientizacao politica e em suas lutas sociais, e pode capacita-los para participar da sociedade brasileira de uma forma digna e construtiva. As vezes essas missoes propoem ajudar os indios na reconstrucao de tradicoes religiosas perdidas. E verdade que diversas denominacoes tem oferecido importante ajuda aos indigenas em suas demandas e tem evitado muito sofrimento e injusticas, mas isso nao anula o facto de que a presenca missionaria nas aldeias tem sido sempre factor de profunda modificacao cultural e ate mesmo economica, e sendo causa ate hoje de permanente tensao, disturbios sociais e de disseminacao de diversas doencas.

E de notar que a Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entidade Catolica, que atraves do Conselho Indigenista Missionario tem sido uma das mais aguerridas e influentes defensoras dos povos indigenas, embora nao deixando de reconhecer que as cosmovisoes indigenas sao "a alma de suas culturas" e que "a conviccao de cada pessoa tem uma dignidade propria", e afirmando que nao visa a conversao impositiva, nao obstante coloca a evangelizacao dos povos nativos como uma de suas metas a atingir, defende o Magisterio Universal da Igreja Catolica, entende a humanidade toda como o "povo eleito", Jesus como o primeiro dos missionarios, cujo o exemplo deve ser seguido, e Nossa Senhora como mae de "todos os povos". Joseph Aloisius Ratzinger (1927) quando ainda era o Papa Bento XVI (2005-2013) em um discurso proferido em Aparecida, disse que "o anuncio de Jesus e de seu Evangelho nao supos, em nenhum momento, uma alienacao das culturas pre-colombianas, nem foi uma imposicao de uma cultura estranha". Diante de multiplos protestos, no entanto, dez dias depois ele se retratou, reconhecendo o lado sombrio dessa historia. A posicao do CIMI nao esta livre de problemas e ambiguidade, mas tem se caracterizado pelo progressivo distanciamento do proselitismo, concentranso-se na luta politica, no respeito as diferencas e no assistenciamento, ao contrario das missoes das ordens e congregacoes. Mesmo com este direcionamento oficial, o reconhecido e destacado Teologo alemao Paulo Suess (1938) reconhece que o proselitismo ainda subsiste: "Nunca oficialmente. Nunca vao dizer isso abertamente em uma assembleia do CIMI. Mas na aldeia eles podem agir assim". De qualquer forma, na opniao do Antropologo brasileiro Marcos Pereira Rufino, em anos recentes a actuacao Catolica tem sido a menos problematica entre todas as denominacoes cristas, enquanto no trabalho das outras a situacao e bem mais complicada, com serias e graves denuncias de violacoes de direitos humanos e algumas outras irregularidades se multiplicando cada vez mais com o passar do tempo. Segundo noticiou no ano de 2007 o portal interdenominacional Gospel+:

"O trabalho de catequese deixou de ser uma exclusividade da Igreja Catolica, que perdeu terreno nessa area. Pastores evangelicos tomaram seu lugar e hoje operam um vigoroso esforco de conversao em massa. Ja superaram os catolicos no numero de missionarios. [...] existem 222 tribos no Pais. Os catolicos estao em apenas 107 delas. Protestantes de denominacoes como Batista, Adventista, Quadrangular e  Assembleia de Deus, por exemplo, ja estao presentes em 153. Seu objectivo e claro: chegar a cada etnia "nao alcancada" por Jesus, fincar uma Igreja e conduzi-la pelo que consideram o caminho da salvacao. [...] Em 1972 (a Igreja Catolica) criou o CIMI para gerir a relacao com os indios, e passou a pregar que a cultura nativa deveria ser preservada, inclusive em suas crencas. Foi um flanco aberto para que os missionarios evangelicos avancassem em peso por entre as aldeias mais remotas do Pais. [...] Sua estrutura logistica tambem salta aos olhos. Para levar os pastores a cada canto do pais, os evangelicos contam com a ONG Asas de Socorro, que tem onze avioes, sendo tres hidroavioes que nao necessitam nem de pista de pouso. Com uma engrenagem assim, nao ha Paje que resista".

Em 1991 a FUNAI determinou a retirada de todos os missionarios das reservas, diante de inumeras denuncias de genocidios, escravidao, servidao, exploracao sexual e monopolizacao do acesso a Saude e Educacao e desde de 1994 so podem entrar nas reservas missionarios que tenham sido convidados pelos indios. Para contornar o interdito, muitas vezes sao oferecidos as tribos servicos e beneficios em troca do convite, ou as liderancas cristas trabalham para formar missionarios indios, que por sua vez podem actuar livremente nas reservas. Segundo o Antropologo brasileiro Edward Mantoanelli Luz (1979), Presidente da organizacao nao-demoninacional Missao Novas Tribos do Brasil, acusada de muitas irregularidades, inclusive de grande exterminio entre o povo Zo'e, tambem conhecidos como zoes e Poturu nos anos 80 do seculo passado, infectado por doencas que eles levaram, foi explicito em suas intencoes dizendo que "o Estado nao pode impedir que um Indio se encontre com outro Indio... A maioria desses indios voltara ao seu povo para pregar o Evangelho. Contra essa forca nao havera resistencia (da FUNAI)". ... "Se (o governo) proibe pregar o Evangelho, esta proibindo a liberdade de adoracao; proibe o autor do Evangelho, o senhor Jesus; e proibiu a Biblia; proibiu o Deus criador. E nos partimos para um confronto". No 4º Congresso Brasileiro de Missoes, o Presbiteriano brasileiro Ronaldo Lidorio declarou que "precisamos de mais 500 novos missionarios para pregar o Evangelho a todos os povos indigenas". A Associacao de Missoes Transculturais Brasileiras e o Conselho Nacional de Pastores e Lideres Evangelicos Indigenas, com apoio da Associacao Nacional de Juristas Evangelicos, divulgaram em 2013 uma nota oficial em protesto contra os obstaculos a accao missionaria entre os indios.


Propostas para que a actuacao missionaria seja legal ja chegou ao Congresso Nacional e nao deixaram de provocar uma grande polemica, pois o Brasil e um Estado laico, e a imposicao de evangelizacao sobre os indios, violando a liberdade de culto, e inconstitucional, conforme declarou o Advogado brasileiro Antonio Oneildo Ferreira, Presidente da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil em Roraima, alem de inevitavelmente levar a aculturacao. A Frente Parlamentar Evangelica ou simplesmente Bancada Evangelica, aliando-se a Bancada Ruralista, conseguiu assim recentemente ter uma grande forca e influencia parlamentar. O Jornalista, Ambientalista, Fotografo e Realizador de documentarios brasileiro Felipe Milanez denunciou, juntando-se a um grande coro de criticos, que a Comissao de Direitos Humanos e Minorias da Camara dos Deputados do Brasil, tambem conhecida como Comissao de Direitos Humanos e Minorias, que esteve em 2013 sob o comando do controverso Pastor evangelico Marco Antonio Feliciano (1972), "segue misturando Religiao com o Estado, rasgando a laicidade, e promovendo violencia contra as minorias. Os missionarios tentam pressionar o governo para que possam pregar o Evangelho nas aldeias, promovendo assim o proselitismo religioso. Querem pregar de forma aberta, pois escondido ja o fazem". Outros pesquisadores e jornalistas confirmam a pregacao clandestina, e como ja foi dito as proprias igrejas, ignorando todos os impedimentos legais, reconhecem que a mesma continua em progresso, apesar dos impedimentos, ocorrendo ate mesmo denuncias de perseguicoes a pajes e disputas por aldeias entre as varias denominacoes, uma situacao que remonta aos primordios da penetracao Protestante no Pais. Segundo a Antropologa brasileira Ana Paula de Oliveira, as dificuldades opostas oficialmente para a evangelizacao, ao contrario de inibi-la, a estimulam, pois para muitos missionarios quanto maiores forem as provacoes mais gloriosos serao os resultados espirituais, sentindo-se engajados em verdadeira Cruzada.

Mas a questao nao e simplesmente polarizada e esta cheia de nuancas e contradicoes. Antropologos e outros activistas tem assumido a Religiao indigena e fazer proselitismo dela. Muitas comunidades adoptaram sinceramente o Cristianismo e o receberam praticando-o ja a algum tempo, exigindo a presenca de padres e pastores. Somente o numero de indios evangelicos que existem sao 210 mil, segundo o Censo de 2010. Estes tambem defendem o proselitismo sobre outras etnias, se orgulham da conversao e muitas vezes e muitas vez confundem beneficios sociais recebidos com Religiao, acreditando que "somente depois da Biblia o desenvolvimento chegou as aldeias, que hoje tem luz electrica e agua canalizada". Basilio Jorge, um Indio brasileiro e hoje nos tempos actuais Pastor Evangelico, ilustra a profundidade da transformacao cultural condenando a antiga e inocente nudez dos povos: "E indecente as mulheres usarem vestido curto ou short. O cabelo delas tambem deve ser comprido, Esta tudo escrito na Biblia". Outras comunidades absorveram parte da Religiao estranha e adaptaram para a formacao de novos cultos sincreticos, e essas formas religiosas adquirem importante papel em suas vidas. Ao mesmo tempo, missionarios frequentemente sao acusados de entrar em concluio com a FUNAI e outros organismos a fim de desestabilizar o dialogo entre indios e civilizados "semeando ventos que vao produzir uma tempestade no campo", como disse o Jornalista Robson Bonin em um Artigo publicado na Revista Veja.

Dados pessoais dos Povos Indigenas no Brasil:

. Populacao Total: 817.963 pessoas (Segundo o Censo de 2010, aproximadamente0,47% da populacao do Brasil).
. Regioes com Populacao Significativa: Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
. Linguas Faladas: Linguas Indigenas e Portugues. O numero de linguas indigenas e incerto, variando conforme os criterios utilizados, mas pode chegar a um numero de cerca de 270.
. Religioes: Religioes tradicionais e Cristianismo.
. Grupos Etnicos Relacionados: Povos Amerindios.

O Dia do Indio, 19 de Abril, foi criado pelo Advogado e entao Presidente brasileiro  Getulio Dornelles Vargas (1882-1954) que presidiu o Brasil entre 31 de Janeiro de 1951 e 24 de Agosto de 1954 atraves do Decreto-Lei 5 540 de 1943, e relembra o dia, em que  em1940, no qual varias liderancas indigenas do continente resolveram participar do  Congresso Indigenista Interamericano, realizado no Mexico. Eles haviam boicotado os dias iniciais do evento, temendo que suas reivindicacoes nao fossem ouvidas pelos "homens brancos". Durante este congresso, foi criado o Instituto Indigenista Interamericano, tambem sediado no Mexico, que tem, como funcao, zelar pelos direitos dos indigenas na America. O Brasil nao aderiu imediatamente ao instituto, mas, apos a intervencao do ja referido Marechal Rondon, apresentou a sua adesao e instituiu o Dia do Indio no dia 19 de Abril.


Quase a chegar ao fim devo dizer que esta cronica surpreendeu-me por ser tao completa e envolver tantos assuntos complexos.

Fiz a mesma Cronica porque tinha um certo interesse em saber se os portugueses tinham descoberto o Brasil como e que os indios la estavam, afinal quando os portugueses la chegaram em 22 de Abril de 1500 os indios ja la estavam mas eles proprios estavam ali porque os seus antepassados tinham ido para la. Penso que a Cronica explica como isso foi possivel.

Creio que ainda muita coisa ficou por dizer acerca de certas tribos e tradicoes mas isso podera certamente ficar para mais tarde. Devo tambem agradecer a uma amiga e leitora brasileira que me deu algumas informacoes acerca dos indios indigenas do Brasil e em muito contribuiu e me ajudou para a realizacao da mesma.

Admiro em muito estes povos, o seu modo de vida, o pleno contacto diario com a Natureza e muitas vezes pergunto se nao sao eles que estao certos ao escolher viver assim. Creio que e melhor viver numa selva rodeado pela Natureza, pelo rio, por animais do que viver nas selvas que sao cada vez mais as grandes cidades em que as pessoas se cruzam diariamente sem trocar uma palavra, um sorriso ou cumprimento, vivendo somente de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Penso que entendem onde quero chegar.

Caro(a) leitor(a) foi um prazer trazer ate si esta Cronica envolvendo um tema tao complexo que muitos ainda insistem em torna-lo tabu por uma questao de interesses deixando muitas vezes estes povos sem ajuda e envolvidos em lutas pelos seus direitos. Pelo prazer que me deu em escrever a mesma certamente esta vai ser uma das minhas favoritas de 2017 e acredito que uma com maior sucesso de visualizacoes. Ate a proxima.

                                                                                                           Manuel Goncalves











































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