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domingo, 29 de outubro de 2017

Amor ao Proximo

 

A sua escolha tinha sido por devocao e nunca se arrependera da mesma mas sentira sempre uma certa tristeza de nao poder ter filhos, nao poder ser pai o facto de nao poder casar esse ainda era o menos.

Recebera com certa surpresa o facto de a Irma Clarisse nome adoptado porque o seu verdadeiro nome era Antonia renunciara aos votos que fizera, abandonara tudo e deixara de ser Freira de um momento para o outro. Nao dera grandes justificacoes aos seus superiores apenas abandonara o convento onde se encontrara fora ter com as autoridades competentes e fizera saber a sua decisao de voltar a uma vida normal perante a sociedade e nao adiantara muitos mais. Visitara Diogo mais tarde na sua paroquia e a ele, ao velho amigo Diogo, ao amigo dos tempos de Catequese revelara a verdade.

Ela comecara a sentir cada vez maior o desejo de ser mae e inicialmente nao ligara grande importancia a isso ate porque nao se sentia apaixonada ou simplesmente atraida por nenhum homem para que o mesmo fosse o pai do seu filho ou ate mesmo seu companheiro e marido mas aquele estranho desejo fora crescendo, crescendo e crescendo cada vez mais ao ponto de se tornar maior muito maior do desejo que um dia sentira de seguir a Cristo e entao lamentavelmente tivera que decidir assim.

Antonia estava agora rodeada de incertezas e duvidas enquanto ia dando agora aulas de Religiao e Moral ia pensando naquele desejo casa vez maior de se tornar mae mas no facto de nao se conseguir apaixonar por ninguem e nem mesmo sentir-se atraida por qualquer homem que fosse a sua volta.

Podia apostar na inseminacao artificial mas sentia que nao era a mesma coisa e para isso tambem era preciso aparecer um doador alguem disposto a partilhar esse sonho consigo a meias ou disposto a ajuda-la a realizar esse seu sonho o que nao era igualmente facil. Nenhum homem perto de si quereria fazer isso pelo facto de estarem proximos e a qualquer momento ela poder querer que ele assumisse o seu papel de pai e ele no entanto nao querer responsabilidades desse tipo e talvez ate nem quisesse ser pai apenas ajuda-la a ela a ser mae.

Sentia-se cada vez mais obcecada com aquela ideia naquela manha nos dias em que nao tinha de dar aulas a mente por estar um pouco desocupada perturbava-lhe ainda mais com aquele pensamento a invadir-lho o pensamento e a apoquenta-la o tempo todo. Ia as compras, ia sair, ia procurar uma amiga com quem pudesse estar um pouco a conversa, esquecer aquele desejo, aquela vontade de ser mae.

Diogo pensava na coragem de Antonia, a antiga irma Clarisse fora uma mulher de coragem e um grande exemplo que muitas outras deveriam seguir em vez de levarem o nome da propria Igreja Catolica a ver-se envolvida em escandalos sexuais do genero de quererem criar o mito de freiras que engravidavam milagrosamente ou ainda pior de padres que se envolviam em escandalos de pedofilia mas o ultimo caso nao tinha tanto a ver com o caso de Antonia.

O Padre decidira aproveitar aquele inicio de tarde para dar um passeio, por as ideias em dia sentia-se um pouco monotomo porque havia alturas em que nao havendo celebracoes e pessoas a quererem confessar-se ou qualquer outro evento especial como casamentos, baptismos e bem mais triste que especiais os funerais ele nao tinha quase nada para fazer.

Diogo gostava em particular daqueles passeios porque quase toda a gente o conhecia, quase toda a gente corria a cumprimenta-lo, mostrava-lhe um sorriso. Muitas vezes sai-a voltava com a barriga cheia sem ter gasto um unico tostao era a recompensa pelas escolhas que fizera. Para muitos um Padre nao era apenas um Sacerdote mas alguem que amava o proximo mais do que a si mesmo, um Padre para muitos era um exemplo para a sociedade alguem que igualmente escolhera servir o proximo abdicando ele proprio de um dia vir a ter um familia, esposa e filhos. Era alguem que merecia todo o respeito e Diogo observava isso tinha a sorte de ser Padre numa terra de gente tao entregue as coisas da Religiao nao esquecendo o facto de ele proprio ser agora ali Padre mas desde sempre ter sido um filho da terra.

O Centro Comercial aumentara as vendas e o comercio na pequena cidade mas era tambem um mundo diferente ali havia ate gente conhecida mas como muitas lojas eram de multi internacionais nao podia haver borlas para ninguem mas era ali que Diogo gostava de vaguear tal como muitas outras pessoas como ele e como Antonia quando queriam e precisavam estar sos para pensar em determinado assunto e na propria vida.

Como por magia ali estavam eles depois de se teren encontrado nos corredores das lojas sentados numa mesa de pastelaria ja no meio da tarde daquele dia de Primavera a discutirem o mesmo assunto. Ela queria ser mae mas nao encontrava um homem certo para ser o pai do seu filho, nao se sentia atraida muito menos apaixonado por quem quer que fosse. Ele com o desejo de ser pai mas sabia que tal nao era aprovado pela Igreja para um Padre ser pai, ja o sabia quando escolhera aquela vida, aquele destino.

Falaram ambos da inseminacao artificial mas era outro tema que a Igreja alem de nao aprovar era a propria a reprova-lo publicamente. Inseminacao artificial isso para a Igreja era a medicina a fazer-se passar pelo criador, por Deus mas que ambos ela como ex-Freira e ele como Padre nao aprovavam na totalidade mas igualmente tambem nao reprovavam, cada caso era um caso.

Ambos ficaram com a sensacao de que se podiam ajudar um ao outro. Se Diogo fosse dador anonimo de esperma para Antonia podia ser pai do filho dela ainda que nao assumindo o mesmo. Nao era preciso assumi-lo para estar a desempenhar um papel de pai, podia por exemplo ficar como padrinho de Baptismo e acompanha-lo como se fosse seu filho e que de facto era mas sem reconhece-lo para nao ter problemas com a Igreja.

Foi uma hipotese que colocaram desde o inicio mas havia o senao de Diogo querer forcosamente assumir a paternidade do possivel futuro filho de Antonia e que se as coisas corressem como eles queriam estavam no seu direito no entanto Diogo sentia que queria continuar a ser Padre como se nada fosse, como se nada tivesse acontecido e sabia que isso era teoricamente quase impossivel.

Iria ser um escandalo e certamente a propria Santa Se o iria o iria punir, talvez afasta-lo daquela paroquia onde estava o seu filho isso se nao fosse excomungado e corrido como acontecera com outros anteriormente. Antonia entendia-o mas olhava para ele, Diogo, e somente nele conseguia encontrar alguem capacitado e a altura para ser o pai do seu filho por mais que orassem e pedissem a ajuda de Deus a resposta nao aparecia.

Diogo fora falar com um antigo Professor seu que chegara a Bispo e que sempre fora um amigo e conselheiro que o mesmo encontrara ao longo da vida. Era um dos seus superiores que o jovem Padre mais respeitava e admirava. A conversa nao fora muito animadora o Bispo falara-lhe daquilo que ele ja sabia sem nenhuma brandura era o pecado, a imoralidade e tudo o que a Igreja pensava acerca do assunto. Para o Bispo caso Diogo aceitasse avancar com a ideia ninguem o podia impedir mas ele tinha que estar preparado para talvez mesmo ter que deixar o sacerdocio.

Tudo podia ser feito no anonimato mas ai ele nao iria poder assumir a crianca como sendo seu filho e ele seu pai nao era isso que eles queriam, era importante para uma crianca ter um pai ao seu lado ele sabia isso melhor do que ninguem pois perdera o seu pai com dias de vida e era uma ausencia notavel que afectava qualquer um psicologicamente e poderia tornar uma crianca que a partida seria docil e sossegada num sujeito agressivo e violento a boa maneira de um rebelde sem causa.

Diogo sentia-se doente nos ultimos tempos e nao cuidara muito da sua saude a sua unica preocupacao era aquilo que lhe atormentava, considerava que nada era mais importante do que isso e estava cada vez mais debilitado sentindo sempre fortes dores de cabeca que ja nao passavam com medicamentos fracos e a dose estava a ser cada vez maior. Ja nao conseguia disfarcar que estava bem e depois de um desmaio resolveu consultar um Medico.

O Padre estava convencido que tudo tinha a ver com o dormir pouco e com o facto de nos ultimos tempos andar muito nervoso e andar a ter poucos cuidados com a alimentacao no entanto estava enganado.

Diogo tinha um tumor cerebral maligno e alem de estar ja bastante evoluido situava-se numa zona onde nao era possivel operar. O diagonostico era do pior e resultado final dos exames dava-lhe infelizmente seis meses de vida no maximo dos maximos.

Tao pouco tempo pensava Diogo, tao pouco tempo mas durante o qual podia mudar tantas coisas. Estava quase tudo decidido ele iria doar o esperma e o mesmo ficaria congelado durante o tempo que Antonia entendesse na condicao que so fizesse a inseminacao depois dele morrer e ai pouco importava o que a Igreja podia pensar ou querer fazer.

Estava ja tudo pronto para que um dia Antonia fizesse a inseminacao depois de Diogo ter doado o seu esperma e o mesmo se encontrar congelado nos bancos de doadores numa clinica de Lisboa. Consideravam ter tomado a decisao certa quando tudo fosse realizado Diogo infelizmente ja nao estaria entre eles mas todos saberiam quem era o pai do filho de Antonio, o proprio teria o sobrenome de Diogo e se fosse um rapaz tinham combinado chamar-lhe Diogo. O Padre tinha deixado documentos escritos e assinados onde revelava tudo para que a crianca pudesse mais facilmente ter o seu nome quando viesse a luz e Antonia nao fosse precisar de travar uma batalha na justica para provar de que Diogo era o pai do seu filho.

O tempo se aproximava do fim Diogo estava cada vez num estado pior e Antonia nunca deixara de estar a seu lado a mae natureza cometia erros enormes noutras circunstancias teriam sido um casal perfeito. Naquela manha Antonia levara-lhe o jornal a casa Diogo desde que se afastara da vida de Sacerdote por razoes de saude e viver os ultimos dias tranquilamente pouco saia a rua e era Antonia que lhe ia fazer o almoco e deixava a casa arrumada. A capa do jornal revelava um escandalo que era uma verdadeira bomba, mais um caso de pedofilia no interior da Igreja desta vez em Portugal e bem perto deles.

O Bispo com quem Diogo se fora aconselhar, seu antigo Professor e seu amigo intimo estava envolvido naquele escandalo ate as orelhas e tudo parecia apontar que nao estivesse inocente. Diogo pensara que moral tinha tido aquele homem para lhe dar tantas advertencias, para criticar as suas ideias e intencoes tudo aquilo levara-o a entender que ele fizera as escolhas certas e Deus iria entende-lo e perdoar-lhe se no meio de tudo aquilo ele cometera algum pecado.

Tinham-se passado dois anos desde a morte de Diogo e ainda nos dias presentes os paroquianos o recordavam com carinho e saudade, tinha sido um grande homem, um enorme exemplo para todos mesmo sabendo do que ele fizera por Antonia ninguem dizia a respeito do mesmo uma ma palavra, ninguem lhe apontava um dedo no mau sentido, era de louvar a sua atitude e caracter a Igreja e que era demasiado conservadora e nao estava disposta a modernizar-se em muitos aspectos, pensavam os antigos paroquianos do Padre Diogo.

Antonia naquela manha levara pela primeira vez o casal de gemeos ao cemiterio para verem a sepultura do pai tinham somente pouco mais de um ano mas Antonia queria que desde que pudessem entender as coisas que Clarisse e Diogo entendessem e soubessem quem era o seu pai. Queria que eles igualmente fossem criados no meio catolico daquela terra para que pudessem ouvir e saber o grande homem que fora o pai deles. Antonia mudara as flores da campa e nao podia deixar de suster as lagrimas nos seus olhos estava tao grata aquele homem e grande amigo que alem de ter virado as costas aos valores da Igreja que servia, ter enfrentado preconceitos por ela e tudo mais lhe dera a coisa mais valiosa que ela tinha sem lhe pedir nada. Isso era acima de tudo, amor ao proximo.

                                                                                                             Manuel Goncalves    














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