Página

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Vizinhos e Vizinhos

 
                            
Os camioes com as mobilias e electrodomesticos tinham comecado a chegar logo de manha e embora nao se soubesse quando desde que se soubera que a antiga casa da dona Alda tinha sido vendida ja era sabido que se ia ter novo vizinho no bairro e que possivelmente o mesmo estava prestes a chegar. A chegada das mobilias era a confirmacao disso.

Adelaide era Enfermeira e nao fazia disso uma noticia importante ou grave, um novo vizinho ou nova vizinha pouca diferenca faria e ela como pouco tempo passava em casa nao estava muito preocupada com isso vizinho a mais vizinho a menos pouca diferenca fazia. A rua dava para todos e o bairro era ate ao momento demasiado calmo, as vezes sentia-se mesmo que faltava um pouco de agitacao ela notava isso quando tinha por habito de rotina diario ir de manha passear a sua cadela antes de ir trabalhar e a noite durante a habitual ida ao cafe e igualmente passeio nocturno com Lassie a sua cadela caniche, gostava de caes de grande porte mas com a vida que tinha era impossivel ter um cao que precisava de muito espaco.

A jovem era o tipico de mulher moderna, livre e independente que ja tinha chegado aos trinta anos mas fazia questao de continuar sozinha, nao queria estar dependente de nenhum homem e nem das suas vontades. Era bom fazer-se o que se queria e estava contente por ter conseguido vaga naquele posto medico ali ao pe de casa sendo que nao tinha de trabalhar por turnos como antigamente no hospital. Adelaide escolhera aquele modo de vida desde que se vira enganada e traida por um amor antigo e desde entao optara por aquele estilo de vida.

No posto medico tinha fama de ser lesbica e sabia disso mas nada a incomodava a dor de cotovelo era a pior de todas e nao era facil para qualquer homem nao conseguir de forma alguma entrar com uma mulher. Ela propria nao queria viver assim eternamente mas esperava encontrar alguem de valor, alguem que a merecesse e a fizesse feliz. No fundo eram o sonhos de qualquer outra mulher, ser feliz. Adelaide parecia no entanto esperar que a felicidade lhe viesse cair bem na sua frente vinda dos ceus.

Um carro de luxo parara em frente a casa que estava prestes a ser habitada e ja agora Adelaide ficara com extrema curiosidade de conhecer o novo vizinho e nao se arrependeu do tempo perdido era um verdadeiro Deus grego. Loiro, Musculado, cabelo meio encaracolado e olhos azuis e penetrantes. Sem uma palavra saiu do carro, atravessou a rua abriu o portao e entrou na casa que agora lhe pertencia. Aquela cara nao pareceu ser estranha a Adelaide, mas, de onde?

Eduardo Luis Sousa Barrosso era o novo vizinho de Adelaide e era um rosto conhecido da televisao sendo um dos jornalistas mais conhecidos do canal televisivo que tinha a maioria da preferencia dos portugueses. Eduardo nao apresentava nenhum telejornal ou bloco informativo mas era dele as reportagens mais polemicas e de maior destaque do mesmo canal assim como era dele tambem a maioria das reportagens dos cenarios de guerra frequentes no Golfo e dos problemas no Estado Islamico.

Longe das cameras Eduardo tentava levar uma vida comum como qualquer cidadao anonimo mas nao era facil, era mesmo, cada vez mais dificil. Chegara ali aquele bairro calmo e sossegado em Cascais e a dois passos de Lisboa mas quando viu as pessoas a olharem para ele e a sorrir tomou logo nocao de que nem ali passaria despercebido. Queria ser visto apenas como o vizinho e cidadao anonimo que se levantava as seis da manha para ir passear o cao, que ia fazer a sua corrida matinal e que religiosamente as oito da manha partia no seu carro para Lisboa onde chegava sempre pontualmente uma hora depois aos estudios do canal de televisao para o qual trabalhava. A rua parecia-lhe agradavel sem predios enormes onde os vizinhos se cruzavam anos e anos sem trocar uma palavra, ali era so vivendas e casas rusticas ja meio antigas.

Os primeiros encontros de Eduardo e Adelaide foi quando se cruzavam de manha no cafe e foi ai que ela o reconheceu e chegaram a trocar dois dedos de conversa para alegria e encanto de Adelaide mas muito cedo entendeu que ele nao era homem para ela. Mulheres nao lhe deviam faltar, ele conhecia, convivia com as mulheres da alta sociedade, as actrizes e modelos capas de revistas.

Eduardo nao pensava dessa forma e fazia muito tempo que nao era visto com uma mulher ao seu lado sua melhor companhia era o seu cao um Sao Bernardo de nome Napoleao, esse sim era o seu melhor companheiro, super peludo que se estava a sentir perfeitamente bem com a mudanca de casa onde agora tinha um quintal enorme e com imenso espaco ao ar livre para um cao do seu porte.

Era quase Natal e o ambiente era tipico da mesma altura do ano o bairro e aquela rua em si estava ainda mais sossegada, Eduardo sentia-se bem em estar ali a viver, escolhera bem a nova casa e nada o iria tirar dali...

Os pensamentos de Eduardo naquela manha foram interrompidos por causa do alarido que de um momento para o outro invadiu a rua mas entre os gritos de panico quando notou o ladrar grosso, forte e furioso de Napoleao. Correu para a rua e o que o viu deixou-o em panico. Napoleao tinha saltado a cerca do quintal e fora para o quintal de Adelaide sem explicacao que se encontrasse destruiu os canteiros onde Adelaide plantara as suas flores e acabou por atacar com violencia a cadela de Adelaide que estava indefesa no quintal como que a apanhar um pouco de sol naquela manha.

Eduardo nao conseguia encontrar justificacao para o sucedido e nem se conseguia desculpar. Adelaide estava furiosa e chamava Napoleao de "montes de pelos imundo". Exigia que Eduardo tomasse providencias para que a mesma cena nao se repetisse caso contrario a mesma iria apresentar queixa contra o vizinho.

Napoleao passou a ficar trancado e fechado em casa enquanto Eduardo para se redimir mandou uma empresa de jardinagem arranjar todo o quintal e jardim de Adelaide assim como enviou um Veternario para tratar de Lassie, tudo por sua conta e risco. Fizera tudo aquilo apenas para se mostrar educado mas no fundo nao acreditava que Napoleao, o mesmo Napoleao que ele conhecia desde nascenca fosse capaz de ter feito aquilo. Era um cao grande, forte, robusto mas jamais lhe causara qualquer problema.

Era noite de Natal e Eduardo estava em casa sozinho a familia estava toda espalhada e nem sempre se conseguiam juntar Eduardo tambem tinha e sentia vontade de estar so, estava ocupado com imenso trabalho, tinha algumas reportagens importantes para fazer e limitara-se a comprar o essencial para uma boa consoada. Ligara aos familiares e amigos custava-lhe saber que ja nao podia fazer o mesmo com o pai que havia morrido no inicio daquele ano enquanto ja falara com a mae depois de ligar para o lar de idosos em Coimbra onde a mesma se encontrava a residir.

Sentara-se a mesa Napoleao estava deitado a um canto da sala de volta da carne que Eduardo lhe comprara naquela manha no talho, andava um pouco deprimido por nao poder sair a rua, continuava de castigo embora Eduardo nao acreditasse na culpa dele so que nao conseguia encontrar uma explicacao. O Jornalista pensava mesmo em leva-lo para a quinta da familia onde o mesmo podia andar livre mas queria ver se encontrava outra solucao, Napoleao era a sua unica companhia.

Ia a meio da ceia quando lhe bateram a porta era Adelaide que gentilmente lhe fora convidar a ir passar o resto da noite de Natal em sua casa com ela e os seus pais que a tinham vindo visitar. Ele tivera vontade de recusar a relacao de vizinhos entre ambos tinha ficado um pouco fria desde que fora a suposta invasao de Napoleao ao quintal de Adelaide e pouco tinham falado desde entao porque quando se cruzavam a entrada ou saida do cafe nao tinham ja anteriormente habito de se falarem e os passeios de Eduardo com Napoleao desde da mesma altura que nao se realizavam.

Eduardo aceitou e em boa a hora o fez quando iam a atravessar o quintal entre a escuridao e a luz que mal os iluminava um cao nao se sabe vindo de onde estando escondido no quintal de Adelaide surgiu inesperadamente furioso tendo mesmo chegado a morder Eduardo e so nao foi mais longe porque o conseguiram expulsar dali depois de pontapea-lo o mesmo pos-se em fuga.

Estava agora quase tudo explicado adiantara Adelaide enquanto fazia um tratamento no ferimento de Eduardo. Fora aquele cao que entrara no seu quintal, destruira o jardim e tinha atacado Lassie e Napoleao ao assistir a tudo correra para ajudar Lassie e socorre-la, pobre e inocente cao pensara a mesma.

Adelaide nao se conseguia desculpar, nao sabia como nao so compensar Eduardo como o proprio Napoleao mas ambos tinham concordado que nao havia mais necessidade de continuar a manter o cao de castigo, Adelaide pediu-lhe que Eduardo o fosse buscar e o mesmo passaria ali o Natal com eles, seria coberto de mimos por todos era a unica forma de se desculpar para com Napoleao naquele momento.

Como alguma vez se podia ter imaginado que aquele cao embora grande, forte e possante mas muito meigo alguma vez pudesse ter feito aquilo que todos o haviam ter acusado injustamente de fazer. Adelaide sentia-se arrependida, era um cao, um animal mas ela considerava que os animais tambem tinham sentimentos e afeicoavam-se as pessoas quando eram acarinhados da mesma forma que se sentiam magoados e tristes quando eram maltratados e acusados como Napoleao fora por um crime que nao cometera e ainda acusado de agredir Lassie quando apenas a tentara proteger de outro animal, ela, Adelaide, adorava animais mas estava a exagerar na forma carinhosa como estava a tratar o Sao Bernardo do vizinho.

Tal como nos 101 Dalmatas quando chegou a hora da separacao embora fossem de racas diferentes Napoleao e Lassie nao se queriam separar e a custo Eduardo conseguiu voltar para casa com Napoleao apesar de a partir desse momento os donos para bem dos animais tentavam sempre junta-los ora no quintal de Eduardo, ora no quintal de Adelaide. Os passeios em conjunto eram agora mais frequentes e nao viam isso como amor e paixao mas entre Eduardo e Adelaide tambem nao nascera uma simples amizade de vizinhos mas comecou a nascer uma amizade que os fazia serem os melhores amigos que trocavam intimidades e pediam conselhos um ao outro.

Adelaide sentia-se bem quando estava com Eduardo e ele era reconhecido e logo de seguir um cidadao anonimo que o reconhecera vinha dar-lhe os parabens pelo seu treabalho, vinha dizer-lhe o quanto tinha gostado desta ou daquela reportagem. Adelaide sentia-se feliz por ver que Eduardo era um homem, um profissional que em relacao ao seu trabalho apenas recebia elogios.

Eduardo naquela noite estava com a rotina um pouco atrasada e preparava-se para sair com Napoleao para o passeio nocturno notara pela janela que Adelaide tinha as luzes apagadas o que significava como obvio de que fora ja dar o seu passeio com Lassie, encontravam-se durante o mesmo como sempre.

Napoleao chegara a um certo ponto da rua e parecia nervoso, ladrava de furia e nao queria seguir em frente mas sim virar para um beco da rua escuro e deserto, era estranho nunca tal sucedera e Eduardo por curiosidade e por conhecer o instinto dos caes em detectar o perigo e pouco depois quando viram aparecer Lassie sozinha Eduardo teve a certeza de que havia ali algo de errado, deixou-se ir ate os caes o entendiam levar, estivesse a acontecer o que estivesse Napoleao e Lassie levariam Eduardo ao ponto em que Adelaide estava em perigo, a precisar de ajuda.

Eduardo viu um vulto no chao e outro a fugir chegando ao pe do que estava no chao viu que era Adelaidde e que a mesma estava inconciente, morta nao estava porque a respiracao era fraca mas existente assim como a sua pulsacao. O Jornalista nao se preocupou com mais nada senao em chamar os bombeiros e a policia e so entao notou que Lassie estava ali gania aflita junto da dona mas Napoleao tinha ido a correr atras do outro vulto e palpitava-lhe que aquilo tivesse sido uma tentativa de assalto ou violacao, Napoleao nao aparecia. Onde estava afinal Napoleao?

O cao tinha um certo senso de justica e nao podia deixar escapar aquele sujeito que estava a tentar fazer mal a sua amiga correu atras dele e caiu-lhe em cima como uma fera enchendo-o de dentadas e deixando-o no mesmo estado em que ele deixara a dona da sua melhor amiga e a sua amiga Adelaide so depois e que foi ao encontro deles ainda a policia estava no local e ja Adelaide tinha sido levada pelos bombeiros para o hospital, estava no entanto livre de perigo.

Napoleao era agora no bairro visto como um verdadeiro, heroi e justiceiro. Todos queriam vir fazer-lhe uma festa, dar-lhe uma recompensa a Dona do talho ali da rua ja avisara Eduardo que durante um mes a alimentacao de Napoleao que sai-a dali seria por conta da casa.

Adelaide saira do hospital depois de ter alta e mesmo antes de ir para casa quis ir a casa de Eduardo era ele que tinha ficado a tomar conta de Lassie e queria abraca-lo tanto a ele como a Napoleao fora gracas ao segundo que tinham conseguido apanhar e prender mais facilmente o monstro que a tentara violar. Adelaide queria mais uma vez pedir desculpa a Napoleao por inicialmente nao gostar do mesmo e sobretudo por lhe chamar "monte de pelos imundo" fora aquele imundo que ajudara Eduardo a chegar ate si quando ela estava em perigo e fora o mesmo imundo que correra e colocara a sua vida em perigo para apanhar o monstro que a queria violar.

Eduardo trouxe um cafe para os dois que foram bebendo enquanto conversavam animadamente e se sentiam os melhores vizinhos do mundo.

                                                                                                             Manuel Goncalves

PS: Como tem sido habitual em outros anos nao quero perder a oportunidade de desejar Feliz Natal aos leitores do meu blog, sobretudo, aos seguidores. Penso em tentar escrever tambem mais um Conto Breve ou Cronica antes do final do ano se isso nao acontecer desejo ja um Feliz Ano 2018 para todos e estou igualmente feliz por atingir a meta que tinha criado de atingir 50 postagens em 2017. Beijos e abracos, ate a proxima.














Sem comentários:

Enviar um comentário