Página

terça-feira, 10 de julho de 2018

Reapaixonados



Nada mais tinham para dizer um ao outro, o casamento estava cada vez mais frio e eles cada vez mais distantes. Porem chegavam a casa e viam os filhos ainda em plena infancia, tinham falado sobre isso e ambos concluido que a felicidade dos filhos estava acima da deles.

Tinham optado por viver aquele casamento quase que virtual e onde podiam ja que nao havia mais amor e paixao entre ambos terem um relacionamento com outra pessoa na condicao de nao se separarem, de nao se divorciarem. Pelo menos enquanto os filhos tivessem a vida dependente deles era assim que iria ser depois quando os mesmos fossem adultos, casados e independentes ja iam entender, podiam ate sofrer mas sabiam aceitar que os pais podiam ate ser amigos mas nao podiam mais enganar a realidade estando casados quando ja nao se amavam.

Ele foi o primeiro a arranjar algo por fora e tentara-o esconder apesar da mulher lhe ter dado liberdade para isso e poder ficar com os miudos naquela noite. A necessidade de ganhar uns trocos falava mais alto e a saida ao cinema com as amigas podia ficar para outro dia.

Aquela Enfermeira do hospital estava quase a leva-lo a loucura e a quebrar o acordo que tinha feito com a esposa.

Ele nao era mais o mesmo e apesar dos problemas que tinha no casamento com a ja falta nao so de amor mas tambem de paixao e desejo de fazer amor com a esposa, isso ja nao existia a algum tempo. Com aquela Enfermeira a acabar de surgir na sua vida faltava-lhe agora vontade de estar com os filhos. Fazia semanas, meses que nao levava o filho a ver um jogo de Futebol no estadio, era Verao e ainda nao tinha levado os miudos a praia. Comecava a pensar ele proprio que por orgulho raramente admitia ou assumia um erro. Agora via que nas ultimas semanas e meses nao tinha feito outra coisa senao errar, cometer erros e ser um Medico bem sucedido profissionalmente mas que era um desastre, fracasso ou fiasco como homem e chefe de familia.

Comecava a chegar cada vez mais tarde para Jantar ate que por vezes comecou a nem aparecer chegando ao inicio da madrugada acompanhado com uma valente bebedeira. Nao era agressivo com a mulher, jamais o fora, nao a tratava mal, jamais o fizera. A esposa nao se queixava de nada para ela mas acusava-o de estar a faltar com a sua presenca para com os filhos, a sua ausencia estava a levar as coisas para a beira do abismo a situacao estava incontrolavel.

Ela tambem com todos os problemas viu-se obrigada a procurar apoio fora de casa, a procurar amor e carinho, jamais traira o marido mas estava a ver que o jamais nesse ponto ia deixar de existir.

Era Professora e bastante atraente chamava a atencao dos alunos que ja nao eram criancas mas adultos que estudavam na Universidade e fora ai que encontrara o refugio para suportar toda a tristeza em que vivia nos ultimos tempos, ele era maravilhoso, talvez um pouco imaturo, eram quase vinte anos de diferenca e muita coisa estava dita. Maneiras e pontos de vista diferentes de verem as coisas mas Diana sentia que Cristiano a compensava por tudo o que perdia e passava na sua relacao com o marido.

Diana sofria ate entao por causa da crise que estava a passar nos ultimos anos no casamento nem tanto por ela mas pelo que via os filhos sofrerem com a ausencia, frieza e distancia de tudo e todos mesmo quando estava presente de Luciano, o marido. Se comecasse uma relacao secreta com Cristiano iria prejudicar ainda mais o dia-a-dia dos filhos que ja sofriam com a ausencia de luciano, o marido, A felicidade dela poderia estar primeiro que a familia e o bem estar dos seus filhos, pensava que nao,

Um convite de Cristiano para jantarem era algo que ha muito esperava e ia depender depois do Jantar e do clima o que ia acontecer, talvez alguma coisa, talvez nada, talvez tudo. Era tudo uma incerteza.

A desculpa dada em casa seria um Jantar de amigas da Universidade e Luciano ficou em brasa porque justamente nessa noite ele tinha tambem um Jantar de "amigos" e estava quase tudo a ir por agua abaixo porque cada um nao queria abdicar do seu Jantar de "amigos" em prol do outro. Ate que Diana se lembrou de uma aluna da universidade que morava ali perto e ja lhe tinha ficado a tomar conta dos miudos ali em casa durante o dia enquanto ela tinha que ter ido dar um giro com uma ida as compras.

O ambiente no restaurante era agradavel ali no caminho para Cascais perto da Praia do Guincho com uma esplanada acolhedora que se podia observar a beleza a beira mar e o seu horizonte.

Luciano escolhera-o nao apenas por ser o restaurante onde habitualmente se encontravam mas porque era discreto, sossegado e reservado a razao pela qual tinha combinado aquele Jantar era um assunto serio e queria resolve-lo calmamente evitando escandalos e discussoes e sabia que Elsa nao ia ver com bons olhos e nem aceitar o que ele tinha decidido.

Para Luciano a familia estava primeira era tempo de terminar com aquela relacao que nao lhes ia levar a nada nem a lado nenhum ja que ele, e ela sabia-o, desde o inicio nao tinha intencao alguma de se divorciar para ficar com ela, primeira estava a familia se nao por Diana pelos filhos tomara aquela decisao. Toda aquela situacao lhe estava a afectar o sistema nervoso e a prejudicar igualmente a sua carreira como Medico. Luciano encontrara finalmente a razao em si e recordava a sua ausencia nos ultimos tempos em casa, o tempo que deixara de dedicar aos filhos, fazia tempo que nao levava os filhos a bola, ao cinema e isso antigamente eram todas as semanas. Igualmente e agora mais profundamente pensava a quanto tempo nao fazia amor com Diana, o que ela sofrera na solidao sentindo a sua ausencia...

Os seus pensamentos foram interrompidos quando mesmo antes da chegada de Elsa viu chegar Diana acompanhada de um marmanjo certamente muito mais jovem.

O que era aquilo afinal ela era mulher dele e nao tinha que estar ali com outro homem pensara ele enquanto se esquecera de que ele proprio o fizera diversas vezes com Elsa. O que ele nao sabia e que Diana ainda nao tivera nada de intimo com Cristiano mas a sua furia, o seu machismo falava mais alto, resolvera mostrar-se mas nao armar escandalo e nem falar com Diana isso eram coisas para se fazer em casa, com calma como gente civilizada. Agora, logo agora que ele pensara em tentar salvar o casamento com Diana caira-lhe aquela noticia de para-quedas na sua frente, ninguem lhe contara ele estava a ve-lo com os proprios olhos.

Diana quase desmaiara, ficara em silencio, tensa mas o panico era evidente. Como explicar o que era aquilo a Luciano. Como faze-lo entender que aquilo nao era um encontro de amantes, nao era de facto, nem ela sabia bem o que era Cristiano ja que por um lado sentia-se atraida pelo menos por outro algo os afastava. Tal como em Luciano tambem ela Diana comecava a ficar disposta a nao procurar algo novo e a continuar como estava, com o que tinha se ambos estivessem dispostos a mudar a vida que tinham nos ultimos tempos e a lutar em conjunto por salvar o casamento.

Luciano foi se embora nem ia esperar por Elsa essa ja nao fazia parte da sua vida e ja a muito que devia ter chegado, estava atrasada, sem lhe ligar a justificar fosse o que fosse.

O telemovel tocara e era do Hospital como sempre a chamar um dos seus melhores cirugioes para uma urgencia pensou ele. Era de facto uma urgencia mas nao por ele ser um dos melhores cirugioes, sim pelo facto de ser a sua Enfermeira Assistente que sofrera um acidente e estava em estado critico, bastante grave, Elsa estava a morrer.

Luciano nao era crente e ate se considerava ateu mas  naquele momento no caminho para o hospital sempre em alta velocidade orou a Deus pela salvacao de Elsa, tao jovem, tao bela, com a vida toda pela frente. Ele ja vira morrer gente mais jovem que ela mas a morte nao escolhia so os jovens e nem tao somente os velhos, rezou para que a morte nao escolhesse Elsa para a seguir.

Escolhera, Luciano pouco mais pode fazer na sala de operacoes Elsa morrera a meio da intervencao cirugica, as lesoes no cerebro eram profundas e serias o mesmo fizera tudo o que pode mas nao coseguira salvar Elsa.

Optou por ir ao seu funeral e deu por si a pensar se nao tinha sido melhor assim. Elsa amava-o e morrera sem saber, sem passar pelo desgosto de ficar sem ele porque naquele momento em que ela seguia ao seu encontro ele decidira que nao ia ficar com ela, que ia lutar para reconquistar a sua mulher, salvar o seu casamento em nome da sua familia, pela felicidade dos filhos, era o mais importante para ele. Os filhos eram a sua razao de viver e ele abdicara de tudo, da sua sua felicidade por ele. Era tempo de redimir-se e compensa-los pelo tempo que nao lhes dedicara.

Estivera cinco dias sem aparecer em casa desde o encontro no restaurante no Guincho. Luciano chegara agora a casa preparado para tudo. Trazia um enorme ramos de rosas vermelhas como nunca oferecera a esposa, ia tentar a reconciliacao com a esposa mas sabia que ela, sabia que agora podia ser ela a querer manter um relacionamento com outra pessoa e ate lhe pedir o divorcio.

Diana estava em casa recebeu o ainda marido com um sorriso e abraco, era bom sinal pensou Luciano, estavam no bom caminho, aquele sorriso e abraco tao forte deu-lhe a sensacao que afinal nem tudo estava perdido e ainda havia, restava uma ponta de esperanca.

Sentaram-se a conversar os miudos estavam na escola. Diana explicou-lhe que aquilo no Guincho nunca fora nada ela sentiu-se atraida e envolvida por Cristiano mas nunca tinham tido nada e agora muito menos quando ela viera a saber por uma amiga que ele era um prostituto e que andava com as mulheres apenas para ser sustentado e bem tratado, para lhe manterem o estilo de vida de que ele gostava. Ela nao sabia nada ainda do futuro mas Cristiano nao fazia parte do mesmo.

Luciano acreditou na esposa e confessou-lhe que sentia que tinha errado, estava arrependido e nao ia querer cometer o mesmo erro, queria comecar uma vida nova com ela, sem mentiras, infidelidades e muito menos a deixar de dar e prestar atencao aos filhos, a familia era tudo.

Deram por eles na cama a fazer amor como nunca tinham feito ou pelo menos nao tinham memoria do mesmo. Estavam a fazer planos de ferias com os miudos e foi entao que se lembraram que ainda estavam em idade e a tempo de terem um novo filho. Sorriram, mas porque nao, o amor deles merecia-o.

                                                                                                                Manuel Goncalves






Sem comentários:

Enviar um comentário