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quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Solidao de Uma Noite de Natal

 
 
Ele estava a beira de completar 40 anos tambem sentia que com a chegada das 40 primaveras deixaria de ser solteiro e passaria a ser um chamado solteirao. Os vizinhos esses pouco sabiam de si era apenas mais um homem solitario e de poucas palavras mas porem aparentemente bastante simpatico de bom coracao e respeitador. Sabiam tambem apenas que nao era Portugues e que vivia numa casa demasiadamente grande para um homem sozinho, alem disso sabiam apenas e somente que se chamava Pavel, raramente era visto so quando chegava a casa, ia ao cafe ou passear o seu pequeno cao seu companheiro de solidao mais fiel.

Pavel Romanov era esse o seu nome e era assim mesmo que era conhecido por todos no seu local de trabalho era um Jornalista a trabalhar em Portugal como enviado especial de um canal russo de televisao, era ainda cronista num jornal portugues em que ia contando como podia as novidades da Russia , sentia-se se facto um homem solitario mas feliz. A familia estava toda na Russia e era o primeiro Natal que ele nao conseguira ir visitar a familia estar com eles naquela chamada quadra natalicia, apesar de sentir fortemente o espirito natalicio nas ruas e no local de trabalho, tudo estava iluminado nas avenidas e ate uma arvore de Natal na sua redaccao nao parava de piscar as luzes, tudo o levava a sentir-se triste isso era um facto mas ja estava habituado ao peso e companhia da solidao. Pensava ele e nao errantemente que havia-se que fazer sacrificios na vida e abdicar de certas coisas para se ter outras e ai os valores materiais falavam sempre mais alto, estava longe dos seus Pais que tanto amava mas a sua ausencia fazia com que conseguisse assegurar-lhes uma vida razoavel com o dinheiro que lhes mandava mensalmente, alem disso ali em Portugal conseguia ter um bom carro, uma casa grande e confortavel, um optimo emprego na Russia talvez nao conseguisse ter nada disso talvez nem mesmo a sua liberdade ainda para mais sendo a sua profissao a que era. Quanto a mulheres nunca sentira realmente a falta de uma.

Noite de Natal, tocaram a campainha quebrando o silencio que invadia a casa e que fora logo acompanhado pelo ladrar do pequeno cao enquanto ele se arranjava para ir dar um pequeno passeio, sabia que certamente iria estar tudo fechado mas estava farto de estar em casa apetecia-lhe vaguear sem destino. Foi abrir a porta era a sua empregada de limpeza da casa e que lhe tratava de passar a roupa a ferro dois dias por semana e tambem a sua vizinha mais intima e proxima viera-lhe trazer gentilmente como oferta uma travessa de rabanadas e filhoses, agradeceu com um enorme sorriso mas como sempre com poucas palavras, desejou-lhe feliz Natal e despediram-se cordialmente, ela certamente tinha a sua familia a espera.

Saiu de casa, fazia frio mas nao tanto como certamente faria em Moscovo sua terra de nascimento, nao havia necessidade de telefonar a sua familia como ortodoxos russos tradicionais e conservadores aquele nao era o dia de festejarem o seu Natal. Entrou no carro e ligou o radio como ja era habitual o mesmo pareceu-lhe querer responder ou presentear da melhor forma ao som de, Night calls na voz de Joe Cocker um dos seus temas de eleicao nem se preocupou em procurar ouvir o que passava nas outras estacoes de radio. A musica animava-o, animava-lhe e dava-lhe uma certa alegria tal ou um ou dois copos de vodka a mais animavam o seu Pai.

Acabara junto a uma das suas zonas preferidas de Lisboa, o Parque das Nacoes mas sabia que aquele nao seria o destino final do seu passeio queria tambem passar junto da Igreja que frequentava junto da estacao de Santa Apolonia a Capela da Boa Nova, talvez estivesse aberta, talvez estivesse la algum conhecido com quem falar e meter a conversa em dia qualquer coisa que o ajuda-sse a culmatar a solidao em que estava envolvido, nos ultimos tempos tinha andado sob carregado com trabalho e isso afastara-o um pouco ate do meio religioso que frequentava.

Vagueando ja perto de Santa Apolonia perto da estacao do metro isolada de um grupo de possivel sem abrigos, toxicodependente ou marginais, sabia-se la mais o que? Embora tambem pudesse ser qualquer um desses tipos de pessoas a sua postura parecia ser diferente, nao se juntava com os outros do mundo, estava isolada e nao parecia sentir-se a vontade e dentro do ambiente. O que fazia sobretudo a diferenca era o facto de estar afastado de todos os outros e de ter uma crianca muito pequena ao colo, tambem nao o abordara como os outros fizeram quase ele passou junto dos mesmo apelando a ja habitual moedinha como esmola, ele dera-lhe uns trocos, ela vira isso mas nem mesmo assim nao fizera um gesto de o querer abordar quando o mesmo se aproximara do local onde a mesma se encontrava, aproximou-se cada vez mais e sabe-se la como ganhou coragem de olhar e dirigir um, boa noite, sem dar conta estavam a conversar ja de uma forma bastante aberta.

Rute contou-lhe a sua historia algo que nao fizera ainda com ninguem desde que ali chegara era mae solteira, nao tinha familia nem casa onde ficar, perdera o emprego, a unica coisa que possuia era um saco com poucas roupas e o filho a quem so tinha condicoes de alimentar porque o mesmo ainda estava a ser amamentado. A sua historia pareceu-lhe ser real no entender de Pavel. Rute explicou-lhe que aquela seria a sua segunda noite na rua e que so estava ali quase junto dos outros porque estava a espera que chegasse a carrinha das Caritas com cobertores, alguma coisa para comer e bebidas quentes a serem distribuidas por todo o grupo de quem ela insistia afastar-se mas que em a ajuda chegando se juntaria a eles.

Pavel virou a cara para o lado tambem ele nao tivera uma vida facil, sobretudo na infancia, tudo aquilo parecia-lhe as filas nas Russia em que as pessoas com uma senha iam buscar o pao, depois com outra o leite e por ai a fora, uma lagrima caira-lhe dos olhos sem que ele a pudesse evitar por isso virou-lhe a cara, afastou-se por momento tinha que pensar, ele podia fazer alguma coisa, tinha condicoes para isso, tinha que fazer isso. Nao aguentou mais fez-lhe somente mais algumas perguntas para ver se Rute era de confianca, parecia-lhe que sim, cada vez mais sentia que sim, ela mostrou-lhe os documentos a provar-lhe o nome, o choro da crianca quase lhe quebrava o coracao e muito mais quebrava saber e sentir que a mesma ficaria ali ao frio, Pavel ofereceu a Rute comida e abrigo em sua casa naquela noite ela sentiu-sse incapaz de recusar, agradeceu-lhe a ele tal como agradeceu interiormente aquela davida a Deus.

Rute ficou aquela noite em casa de Pavel e mais outra noite e outra foi ficando mesmo depois de se ter orientado na vida e de estar empregada. Um ano depois daquele encontro na noite de Natal junto da estacao de Santa Apolonia tambem na altura do Natal eles estao em Moscovo, Rute estava uma noiva linda e ele ali a esperava no altar todo vaidoso por causa da beleza da noiva, iam de facto casar, Rute para Pavel tinha sido o seu presente de uma solitaria noite de Natal.

                                                                                                                   Manuel Goncalves




2 comentários:

  1. Muito bonito, este conto, especialmente por acabar bem. Sim, só quem viveu em solidão pode entender a importância de uma mão amiga, da confiança sem limites. Precisamos acreditar que o ser humano é bom por natureza e que a tristeza pode ser vencida.

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    1. Sim, deu-me um especial prazer escrever este conto eu estive quase na mesma situacao que Rute por culpa de partidas que a vida nos prega e estive mesmo na situacao de Pavel. E triste muito triste passer a noite de Natal em casa sozinho frente a televisao com pouco que comer enquanto outros no mesmo predio e na mesma rua estao alegremente em familia a disfrutar do jantar ou ceia de Natal onde hoje em dia por mim nunca pode faltar o bacalhau, passei por essa situacao da solidao de uma noite de Natal e um sentimento tao forte e triste que nem da para sentir inveja dos outros por estarem como manda a tradicao a mesa e em familia, foi uma noite diferente apenas porque era Natal foi mais triste mas solitaria como tantas outras, Ana o Natal e um dia uma noite por ano quando pelo espirito natalicio deveria ser todos os dias do ano.

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