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domingo, 12 de outubro de 2014

Prisioneira do Amor

 
 
Ela era das mais antigas que ali estavam  e das mais influentes tambem nao havia mesmo quem nao conhecesse Maria, ali tambem como em qualquer outro lado havia muitas Marias mas quando se falava apenas de Maria ja todas sabiam de quem se tratava, ela era a Maria daquele lugar seu sobrenome poucas sabiam.

As outras sendo as mais velhas simpatizavam com ela, as mais novas admiravam-na simplesmente. Tinha razoes para ser admirada que a sua vida nunca fora facil como a de quase todas as outras que ali se encontravam. Ali havia de tudo, havia aquelas que nunca tinham tido sorte na vida como ela propria, havia aquelas que tinham caido num mundo de erros, havia aquelas que a ambicao as levara a querer subir na vida a qualquer preco, se o jogo era sujo pouco importava.

Ali naquela prisao de mulheres ela era prisioneira da ala das prisioneiras mais antigas, daquelas que tinham trabalhos dentro da prisao de extrema importancia era tambem a Ala das bem comportadas ja que para nao haver influencias de mau genio essas tinham que ser separadas das prisioneiras de risco maior e sobretudo das de alto risco. Ali tambem havia uma separacao entre varios aspectos sociais as africanas ficavam na Ala das africanas, as brasileiras igualmente na sua embora estrangeiras nao fossem muitas. Todas so se encontravam na hora das refeicoes e na hora do duche a hora do recreio era em separado de Ala para Ala.Trabalhava umas vezes na Cozinha outras vezes nas limpezas, na verdade estava sempre onde fosse preciso mas onde mais gostava de estar era de facto na Creche. Sim havia ali algumas reclusas com os filhos visto que esses nao tinham onde ficar e o tribunal assim decidira inclusive havia mesmo uma que chegara a prisao gravida de alguns meses ali passara a gravidez e para ali fora de novo apos o parto, ela Maria era como uma mae para essas criancas visto que as mesmas nao tinham contacto com as essas a tempo inteiro, poucas horas no final do dia.

Estavam todas ansiosas com a chegada do novo Director da prisao, sim ja todas sabiam que seria um Director e nao uma Directora como ate entao o Ministerio assim o decidira, considerou que tinha de ir para aquele estabelecimento prisional devido aos sucessivos desacatos e casos de violencia que havia naquele presidio. Todas esperavam encontrar um sujeito ja de certa idade, experiente e com muitos anos de carreira, alguem tipo general e antipatico com quem nao fosse facil dialogar e muito menos facil chegar a um acordo.

Chegara, ele chegara. Ao contrario do que era habitual foram todas chamadas em conjunto a cantina fora da hora das refeicoes para uma reuniao com a assistente social, a chefe das guardas prisionais e claro o novo director. Na mesma reuniao cedo se ficou a saber quais eram as novas regras a serem cumpridas, os novos direitos e inclusivamente novas formas de se comunicar, agora se uma reclusa quisesse falar directamente com o Director a reuniao nao seria marcada pela chefe das guardas com quem algumas nao se sentiam a vontade nem tinham intimidade mas sim por uma das reclusas que seria chefe das mesmas em cada Ala assim  como sua representante, Maria claro foi escolhida para chefiar a sua ala.

Ele era diferente daquilo que todas haviam imaginado era jovem, certamente quase em inicio de carreira. Nao parecia nada duro embora o quisesse parecer como convinha a alguem que exercesse aquele cargo, sim ele ate era brando e bastante acessivel imaginara Maria e tivera a certeza disso quando ele colocou processos disciplinares em algumas guardas prisionais por actos de abuso de autoridade e violencia fisica perante as reclusas, diminuiu o horario de trabalho que as mesmas estavam obrigadas a cumprir e aumentou o numero de visitas.

Estava sentado na secretatria fechado no seu gabinete comecava a abencoar a hora em que o Ministerio lhe dera aquela vaga para ocupar ele era formado em ciencias humanas, sociologia e criminologia ambicionava ter um trabalho mais dentro da investigacao criminal e olhara com maus olhos quando recebera a ordem para ocupar aquela vaga ainda para mais sendo uma cadeia de mulheres. Aceitou mais porque tinha que trabalhar para viver e sem faze-lo ninguem lhe ia pagar o apartamento acabado de comprar com emprestimo ao banco, o carro e tudo o resto.

Um ano se passara desde que ali chegara e tinha agora em maos um processo curioso o de Maria, segundo o Ministerio e os servicos prisionais a mesma ja cumprira metade da pena e podia sair por bom comportamento mas a mesma alem de nada ter feito para a pena ser revista recusou mesmo a ideia, porque sabe-se la isso so ela mesmo o poderia dizer, justificar as suas razoes, tinha que ter uma conversa com ela mas achava tudo estranho.

Maria tinha sido condenada a uma pena pesada ate a pouco tempo lutava por sair em liberdade condicional mas agora nao so desistira dessa luta como recusara a resposta positiva do antigo pedido de condicional e a muito custo aceitava as saidas precarias. Ele Sergio notou que aparentemente fora ela propria que praticamente tudo fizera para ser condenada, filha de boas familias, uma mulher com curso superior e formada, inteligente e cheia de potencial com a possibilidade de regressar a uma carreira profissional prosperante. Nao havia razao para ela querer estar ali mas era isso que tudo indicava ele se lhe restavam duvidas tinha as provas debaixo do seu nariz. Segundo o advogado responsavel por fazer o pedido para apelar por uma saida por bom comportamento tudo ficara sem efeito a paritr do momento em que a reclusa recusara a avancar para a frente com o pedido, Sergio mandou chamar Maria, queria uma explicacao embora soubesse que ele pouco podia fazer se ela queria cumprir a pena ate ao fim ele nada podia fazer.

Ela estava bela, uma verdadeira princesa ou rainha sem produtos de beleza, mesmo apesar de usar o uniforme das prisioneiras se notava que a mesma tinha um corpo escultural, era loira, cabelo encaracolado e olhos azuis a pele demasiado branca parecia uma daquelas belezas femininas de leste que ele e os amigos encontravam nas casas de diversao nocturna quando ainda eram estudantes em final de curso, ele estranhara nunca ter notado o quanto aquela reclusa era bela apesar de falar regularmente com ela. Pensou que em outras circunstancias podia tentar algo com ela mas a realidade trouxe-o de novo a vida. Nao havia outras circunstancias aquela era a realidade ele era Director daquele presidio e ela uma reclusa a cumprir uma pena pesada e que se recusava deixa-lo de o ser.

- Sente-se, Maria. - pediu ele. - Tenho aqui comigo algo que me supreende. - estendeu-lhe os documentos - quantas nao davam tudo, talvez qualquer outra prisioneira para estar perto de atingir aquilo que voce simplesmente recusou!
- Quero cumprir a minha pena ate ao ultimo dia. - Respondera ela friamente. - O Juiz ordenou 12 anos e serao esses mesmos 12 anos.
- Estudei o seu caso e o que todos alegam e que voce fez tudo para ser condenada ate o proprio Ministerio Publico, falei com o Juiz que a julgou e ele recorda-se perfeitamente do seu caso por isso mesmo, voce praticamente pediu para ser condenada. Explique-me porque?
- Senhor Director a si nao tenho que explicar nada fui eu quem disparou aquele sujeito, fui eu quem o  matou.
- Sim ao que parece depois de ele assaltar a casa da sua mae ferir a mesma, violar a sua irma e mata-la.
- E eu ao mata-lo naquele momento tornei-me uma criminosa semelhante a ele mesmo. - respirou fundo e pausou. - Todos estes anos me tenho culpado a morte daquele homem nao trouxe a Alice, a minha doce irma de volta.
- Tem a certeza que nao vai querer apelar?
- Tenho - respondeu decidida. - La fora nao tenho ninguem a minha espera, nao importa as razoes minha vida esta marcada, meu nome esta sujo.
- Nao sei se sera bem assim - explicou - Maria voce continua a ter a sua casa, tem alguns familiares que a visitam regularmente, tem o mundo la fora esperando por si.
- Peco-lhe que nao insista, deixe estar as coisas como estao. - pausou. - Da minha vida cuido eu.
- Como queira mas vejo-me obrigado a recordar-lhe algo - advertiu-a - quando a sua pena terminar ninguem a vai poder manter aqui dentro nem o Ministro da Justica muito menos a sua vontade. 

Os anos passaram e o dia chegara curiosamente nao tinham ficado com resentimento um pelo outro por aquela conversa no gabinete dele. Tinham feito uma amizade Sergio chegara mesmo a leva-la a sair para jantarem fora tinha poder para isso e autoridade afinal era o Director da prisao e ninguem ali tinha mais poder que ele. Ela estava no final da pena e ele apesar de assediado constantemente e das varias namoradas estava solteiro, era agora alguem que estava na casa dos trinta e poucos anos e ja com o titulo de solteirao.

- Maria, lamentavelmente voce nao tem mais como ficar aqui, vai ter que partir.
- Eu sei, ja fiz as malas tenho gente a minha espera la fora so gostaria que pudesse de vez enquando visitar as minhas amigas.
- Sim, claro.  - prometeu-lhe ele - voce sera sempre bem vinda a esta casa.
- Obrigado.
- Houve algo que nunca entendim. - comecou ele. - Como e que voce nao quis sair mais cedo, quando a sua pena estava a meio e podia sair por bom comportamento. Porque quis ficar, porque recusou a liberdade condicional?
- Antes de o ver aqui pela primeira vez o meu maior desejo era sair, depois tudo mudou quando olhei para si, quando nos fomos conhecendo.
- Esta a querer chegar aonde? - sorriu ele.
- Onde estas a pensar, confesso Sergio apaixonei-me por ti, desculpa-me nunca te ter contado.
- Nao sei porque razao mas acho que sempre o soube.

Abracaram-se num sorriso e bem rapido trocavam um beijo com a certeza que naquele momento nao podiam ir mais alem, depois talvez, Maria agora era uma mulher livre.

- Sempre soubeste, sempre soubeste que eu te amava que estava agora prisioneira nao so deste presidio mas do teu amor, tornei-me prisioneira do amor.
- Sim penso que sim e na verdade nunca fiz uma forca maior para a tua liberdade porque era a forma de ter por perto, Maria sempre foste correspondida nesse teu amor, nessa tua paixao.

Um novo abraco, um novo beijo e sairam dali com um olhar cumplice ela ja nao era reclusa ele continuaria a ser o Director da prisao ali dentro la fora porem passaria a ser o novo namorado de Maria, nada mais impedia que assim fosse.

                                                                                                             Manuel Goncalves


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