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segunda-feira, 6 de julho de 2015

Amor Interracial

                                                                         

Ela esperava o novo Professor, ela e nao so, todos os outros tambem. Poucos eram aqueles que na turma gostavam de Filosofia mas eram obrigados a estuda-la desde o momento que chegados ao decimo ano tivessem escolhido aquela area do Direito.

Era o primeiro dia de aulas mas ja se conheciam de anos anteriores sobretudo aqueles que tinham escolhido aquela area e nunca tinham chumbado decimo ano, decimo primeiro ano e agora o decimo segundo. Eram entao ja dois anos em conjunto e iniciavam agora o terceiro ano daquela uniao pelo que entao ja se conheciam embora fosse o primeiro dia de aulas, era sempre assim naqueles casos nao se preocupavam em quebrar o gelo e tomar conhecimento uns com os outros a questao era mesmo meter a conversa em dia, silencio absoluto o novo Professor de Filosofia tinha acabado de chegar.

Um enorme sorriso e a conversa do costume nao era facil ensinar Filosofia a um bando de jovens que nada sabiam da vida mas estavam convencidos que ja sabiam de tudo. Nao era facil ensinar Filosofia e tentar convencer aquele grupo de mal formados que o conhecimento era o opio do povo e a maior riqueza que muitos poderiam ter.

Como explicar aquela juventude com olhar e aspecto de nao se interessar por Filosofia quem era Molefi Kete Asante autor de mais de 200 artigos academicos e fundador do movimento filosofico da Afrocentricidade e do Instituto Nacional Afrocentricidade, era assim que aquele Professor de Filosofia negro via a questao e se ao mesmo tempo se pergunta-se a um aluno do decimo ano quem era Socrates nao seria de espantar que o mesmo lhe respondesse que era um Jogador de Futebol brasileiro que habitualmente vestia a camisola 8, de facto o futebol era cada vez mais uma Filosofia para alguns!

Helder Costa era ainda jovem e aquele era o terceiro ano em que dava aulas e era portanto um Professor demasiado jovem que apesar da pouca experiencia ja tinha assistido a casos perdidos e que o levavam a acreditar que o ensino da Filosofia era impraticavel para alguns dauqeles jovens, a mente simplesmente nao aceitava aquele tipo de conhecimento puro mas ao mesmo tempo complexo.

Apresentou-se e parecia nao querer ou nao conseguir tirar os olhos de uma rapariga bonita de olhos azuis e loira sentada na primeira fila e que ao contrario de todos os outros parecia querer prestar o maximo de atencao a aula, seria aquela beldade entao o rosto e o futuro do ensino da Filosofia.

No final da aula a propria veio ter com ele e deu-lhe os parabens ele era de facto um bom Professor que sabia explicar tudo ao pormenor e o mesmo mostrou alguma surpresa pelo facto de uma jovem tao bonita se interessar tanto por Filosofia algo que os jovens cada vez mais se pareciam querer distanciar, ela sorriu e respondeu com uma pergunta, estaria ele o professor a falar de Filosofia ou Matematica.

O convite para o cafe ja era de esperar e Helder ficou a admirado ao saber que Marisa estava naquela area de estudo nao porque tivesse ideias de seguir Direito, Historia ou algo do genero Marisa queria ser simplesmente formada em Filosofia tal como ele, queria vir um dia a dar aulas.

Helder ficava impressionado com Marisa que tao depressa parecia querer aproximar-se como da noite para o dia isto e de um momento para o outro se tornava fria Marisa na parecia ser ser arrogante e muito menos indelicada ou racista mas por vezes quase que a considerava dessa maneira, a forma como a reagia era sem duvida estranha isso era um facto, Helder comecou a pensar se a mesma nao teria algum namorado ou nao estaria a acompanhar um caso de dupla personalidade a jovem as vezes parecia-lhe ser muito nervosa e quase neurotica.

Marisa chegava a casa vivia com a mae, irmaos e padrasto nos suburbios de Lisboa num bairro  de classe social onde o alto nivel de criminalidade era sempre uma envolvente e as classes sociais eram diversas onde africanos se misturavam com ciganos e os portugueses em certos predios do bairro ate eram uma minoria.

Chegava nao da escola mas do Part-time que tinha e ia dando para pagar os estudos e parecia de facto nao uma dupla personalidade mas sim viver duas vidas e se numa era uma aluna de sucesso, com boas notas e um futuro promissor ja na outra nao passava da jovem que lavava escadas para ir ganhando a vida e pagar sobretudo os estudos da aluna de sucesso.

Em casa nem por sombras falar e contar que se ia tornando intima do Professor de Filosofia e a unica razao que havia para evitar isso era saber que a mesma amizade jamais seria aceite e entao namorar com o mesmo era algo fora de questao a familia matava-a tal como o pai havia sido morto por soldados das forcas inimigas que lutavam contra Portugal quando o mesmo um Militar destacado fora morto em combate. Era esse o segredo que o Professor de Filosofia desconhecia, era essa a razao porque ela tantas vezes o parecia querer afastar mas sem exito estava a ser incapaz de o fazer.

Helder saia de casa vivia numa zona de gente rica em Lisboa e tinha um nivel de vida nada acessivel para um Professor do Ensino Secundario o seu segredo estava em o seu padrinho e padrasto ser Embaixador de Angola em Portugal e da propria mae ser a Gerente em Portugal  de uma das maiores firmas de importacao e exportacao de produtos angolanos em Portugal de modo que era alguem que se podia considerar sortudo enquanto os colegas contavam os trocos ate ao final do mes, enquanto alguns so conseguiam ir de carro para a escola durante duas semanas e a falta de dinheiro para o combustivel fazia-os passar o sacrificio de irem a pe durante o resto do mes no caso dele era totalmente diferente e nao tinha que fazer nada por isso, a familia geria os negocios e ele nunca deixava de receber a sua parte nos mesmo. A familia sentia orgulho nele na sua humildade e simplecidade.

Tinha um encontro depois das aulas nao queria por nada chegar atrasado de momento so podia contar com a ajuda daquele Inspector da Policia Judiciaria que era um velho amigo da familia e so podia confiar nele, sabia que estava a infringir leis e so por isso poderiam-no chamar de criminoso mas aquela situacao nao se podia manter de forma alguma. Helder foi-se encontrar com o tal Inspector levando todos os dados que conseguira de Marisa e ate uma foto da mesma para o amigo procurar descobrir tudo o que pudesse acerca da mesma queria de uma vez por todas descobrir o segredo de Marisa e a razao de todo aquele misterio.

Os dias passavam e a altura dos exames nao ajudava em muito ao dialogo Marisa estava ocupada com os estudos Helder ocupado em dar aulas e corrigir testes naquele momento pareciam apenas Aluna e Professor mas a realidade era outra.

As notas de Marisa nao estavam nada boas em Filosofia em parte nao por culpa sua mas uma gripe impediu a mesma de ir a escola durante alguns dias perdendo parte da materia e o trabalho de grupo que contava bastante para a nota final nao era grande coisa em parte por culpa dos colegas, Helder mostrou-se disponivel a dar-lhe uma explicacoes particulares que ela sentiu que nao podia recusar.

Combinaram que as mesmas explicacoes seriam ao final da tarde Marisa aceitou sentindo necessidade das mesmas explicacoes mas ficou com a certeza de que as mesmas explicacoes lhe iam tiram ainda mais o pouco tempo disponivel que lhe restava, estava agora num dilema se nao podia recusar as explicacoes muito menos podia perder o Part-time, tentou convencer Helder a que as mesmas explicacoes fossem ao fim de semana porem sem exito.

Helder escondeu e mentiu para Marisa as explicacoes nao eram em casa dele nao queria de maneira nenhuma mostrar o outro lado da sua vida que sempre procurava esconder as explicacoes eram num apartamento que Helder tinha alugado a algum tempo para encontros intimos com antigas namoradas ou ate encontros de sexo pago, ele procurava saber algo mais ou tudo o que pudesse da vida de Marisa mas ele proprio tambem nao era santo nenhum e nem por nada queria que a familia viesse a saber aquela vida que ele levava.

As primeiras explicacoes deram algum resultado apesar de andar sempre apressada e quase que a voar Marisa era uma aluna atenciosa as explicacoes de Helder e ele reconhecia facilmente as suas qualidades e atributos para la da beleza fisica porem estranhava ela mostrar-se sempre apressada mas recusar sempre a boleia dele.

Marisa seguia para o trabalho e para a quase vida dupla que levava ao ir lavar escadas e ao mesmo tempo ter aparencia de menina que nao podia partir uma unha, essa menina ja tinha esfregado muito chao e sentia-se orgulhosa de si mesma quando apos completar 18 anos uma colega do trabalho de limpeza a convidou para ir trabalhar para uma casa de massagens onde de massagens era so mesmo o nome visto ser mesmo uma casa onde as raparigas recebiam clientes e eram pagas por servicos de sexo. No calculo da colega Marisa por mes facilmente ganharia 2000 euros quantas escadas, quanto chao nao teria de lavar para chegar a essa quantia e sobretudo quanto meses nao demoraria. Pensou e recusou a oferta a dignidade, a honra e o bom nome tambem contava.

Chegara a casa e a familia estava reunida com cara de caso e o mais estranho e que estava presente um homem que ela nunca vira na vida e com o qual nunca se tinha cruzado. Fazia anos que nao tinham visitas e habitualmente eram quase sempre familiares a visita-los e mesmo esses praticamente so o faziam no Natal, Pascoa, num aniversario ou algo assim. Seria aquele homem algum credor? Teria o irmao voltado a fazer merda como se costumava dizer?

O homem nao era nem credor e nem da policia era antes alguem que trazia agora para desenterrar algo do passado que apesar das dificuldades que tudo isso lhes causara tinham preferido manter enterrado e evitavam falar no assunto.

Aquele homem era um antigo Soldado que enquanto Militar estava sob as ordens do seu superior que era o pai de Marisa ele e todo o batalhao cumpriam ordens do Tenente-Coronel Afonso Guedes e o mesmo era um dos soldados que estava com ele no seu derradeiro combate ou suposto derradeiro combate.

Os soldados nao suportavam mais o pai de Marisa o Tenente-Coronel era um homem sem coracao e escrupulos, castigava-os e nao parava de gritar com os mesmos era um homem de mau feitio e aquilo nao podia continuar. Um certo Capitao ja falecido planeara tudo e estando em zona de combate era facil de simular tudo Afonso Guedes caiu na cilada dos seus soldados e subalternos sem piadade colocaram-no atado a uma arvore e fizeram um fuzilamento ao Tenente-Coronel como se faz na Indonesia explicou o homem que tinha assistido a tudo mas nao participara em nada entre os soldados nem todos tinham balas verdadeiras nas metralhadoras e nem eles sabiam quem as tinha.

O pobre homem sentia-se com a consciencia pesada em todos aqueles anos ter mantido o silencio e sobretudo porque assistira a tudo mas por temer um fim igual ao do Tenente-Coronel nao fizera nada para impedir tudo aquilo. Agora todos sabiam a verdade, sentia que a familia deveria saber a verdade e procurou-os o Ministerio da Defesa havia-o ajudado a encontrar a familia do falecido. Importante mesmo e que sentia aliviado em fazer saber aquela familia de que a historia de que o Tenente-Coronel havia sido morto em combate pelas tropas inimigas era totalmente falsa.

A familia ficou incredula mas acreditou naquela historia sentiam-se mal agora ao saberem que todos aqueles anos odiando os pretos como chamavam aos africanos tinha sido um erro mas nada podia ser alterado a unica coisa que podiam fazer era passar a olha-los de forma diferente mas nem assim o fizeram a teimosia era mais forte e era demasiado tarde para mudar e se Afonso Guedes nao fora morto pelos pretos fora morto na terra deles e estava la por culpa deles.

Helder recebera a visita do tal Inspector e o mesmo conseguira saber tudo da vida de Marisa inclusive a historia do Part-time so que a historia que ele recolhera acerca da morte do pai de Marisa era a antiga ou seja a falsa a verdadeira nao constava em lado nenhum pelo menos em documentos escritos. Helder finalmente conseguira juntar tudo e descobrir a razao pela qual a mesma sempre o afastava e era fria com ele nao lhe dando a minima hipotese de aproximacao embora fosse um facto que aparentemente ele nao lhe passava indiferente.

Ambos estavam com cara de caso na escola. Marisa ja nao  via como descendente racial daqueles que tinham matado o seu pai e ao contrario da restante familia ela resolvera aceitar aquela raca como seus semelhantes porque eram de facto humanos como ela o sangue era igual e isso era o que contava mas a familia nao via as coisas assim. Quanto a Helder decidira que nao lhe ia esconder que ja sabia toda a verdade ou suposta verdade o pior mesmo e que ambos tinham historias parecidas o pai dele era um soldado morto num combate pelas tropas portuguesas. So que no caso dele nem tudo fora mau a mae voltara a fazer a vida ao lado de um Diplomata e nem tudo fora mau reconhecia que de outra forma se a mae e o pai estivessem casados ao lado um do outro nada seria tao facil na sua vida.

Estavam agora no apartamento e tinham comecado a ter uma conversa seria Helder contou-lhe que ja sabia toda a historia dela mostrou-lhe os documentos e a mesma optou por contar a historia verdadeira. Estavam a conseguir dialogar com sinceridade o que depois de tudo aquilo com outras pessoas nao seria facil mas eles eram diferentes eram racionais, sensatos e pacificos. Marisa era agora outra pessoa e entregara-se nao aos odios sem razao ou motivo que a familia continuava a defender como sempre o fizera mesmo depois de saber a verdade mas preferira entregar-se ao amor que sentia por Helder a paixao sabia que a familia nao iria aprovar a relacao mas tambem ela nao aprovava que os mesmos continuassem na mesma. Sem pensar duas vezes entregou-se a Helder por inteiro nao se importando que mais tarde fossem dizer que la vai ela com o preto, com o barrote queimado ou com o macaco.

Passara ja algum tempo e agora tudo parecia voltar ao mesmo a familia estava contrariada aquela relacao, na viam o mesmo relacionamento com bons olhos mas tambem nada o faziam para impedir em casa o ambiente era cada vez mais pesado e tinha outra coisa que a jovem ainda nao tivera coragem nem de contar a Helder e nem a familia Marisa esta gravida.

Helder quando soube a verdade ficou fora de si mas de alegria nada o preocupava e queria ir lgo falar com a familia dela mesmo que os mesmos o matassem como certamente teriam vontade fazer naquela familia pobre mas de valores morais e religiosos muito fortes sexo antes do casamento nao era aceitavel e uma gravidez gerada daquela maneira ainda muito menos. Com razao Helder pensara que podiam nao aceitar a relacao e nem a gravidez mas se eram assim tao religiosos e conservadores tambem nao o podiam matar e muito menos forcar Marisa ao aborto visto que assassinatos e abortos nao eram igualmente aprovados pela Religiao.

Como calcularam em casa de Marisa com tudo aquilo quase que ficara num ambiente de Terceira Grande Guerra sentiam-se divididos entre o que dizia a Religiao e o que a sociedade iria pensar, expulsaram-na de casa passando ela a ir viver para o apartamento que Helder tinha alugado e o mesmo continuou a viver em casa da mae e do padrasto.

Estava ja gravida de alguns meses e acabara de ir ver o resultado das provas gerais de acesso a faculdade a alegria nao podia ser maior a nota dela era a melhor parecia que das explicacoes de Filosofia do agora noivo nao podiam ter trazido melhor resultado fora em estado de alegria e loucura que saira dali tinha que ir a correr contar-lhe e tudo a volta parecia estar dependente disso mal deixara as colegas e amigas fazerem-lhe a praxe habitual e com a pressa ao sair da escola nem repara no carro que se dirigia no seu caminho quando a mesma atravessava a estrada, Marisa acabou por ser atropelada.

Estava entre a vida e a morte com diversas hemorregias internas e tambem com um traumatismo craniano bastante grave devido a um derrame intracraniano alem de ter perdido o bebe que tinha em gestacao, seria dificil sobreviver mesmo estando no melhor hospital, com os melhores medicos e todos os cuidados tudo pago por Helder.

A familia estava ali tambem choravam arrependidos e tinham jurado deixar todo aquele preconceito racial posto de parte se Marisa se salva-se sentiam que era castigo divino porque se as coisas ja estavam tao graves tudo seria diferente e ainda pior se nao fosse Helder.

Marisa tinha sido operada e o estado embora estavel era bastante reservado mais grave ainda e que precisava urgentemente de receber uma transfusao de sangue mas o grupo sanguineo dela era o mais raro de encontrar em Portugal so 0.5% da populacao tinham o mesmo grupo de sangue que Marisa ou seja o AB negativo e nem o Instituto Portugues de Sangue parecia ter a quantidade necessaria nos seus bancos a solucao ja que depois de se ver que nenhum dos familiares era compativel nao podendo ser dador directo passava por mandar vir o mesmo sangue de um banco de sangue em outro pais ou fazer-se um apelo nas redes sociais e na televisao. Tudo iria levar o seu tempo e tempo era o que cada vez lhes faltava mais cada minuto na vida de Marisa era encarado como um milagre.

Helder nao queria acreditar era uma coincidencia de todo o tamanho, uma ironia, milagre do destino mas aquele tipo de sangue era justamente o dele ele tal como Marisa faziam parte da minoria de 0.5% da populacao com aquele grupo de sangue o Medico que estava a tomar conta do caso nem se preocupou com mais nada Helder foi logo levado para a sala de recolha de sangue.

Alguns dias se passaram e Marisa saiu do estado de coma todos a queriam ver e os familiares ali presentes ao cruzarem-se com Helder nao tinham coragem de o fazer de cabeca levantada, sentiam-se envergonhados, perante uma divida eterna que jamais seriam capazes de pagar. O preto, o barrote queimado, o macaco como qualquer Africano era chamado naquela familia sobretudo por ter o mesmo tipo de sangue que Marisa salvara-lhe a vida, era uma licao que todos iriam lembrar toda a vida daquelas que jamais se esquecem a cor de Helder era diferente da deles mas o sangue do mesmo naquele caso mostrara que tinham muito mais valor.

                                                                                                              Manuel Goncalves

2 comentários:

  1. Depois de eu também ter tido uma gripe, volto aos comentários :) Gostei muito do conto, creio que tem um humanismo especial. Sim, devemos dividir as pessoas pelos seus valores, pelas suas qualidades e não pelo aspecto físico, pela côr. Um ser humano, não obstante a sua raça, pode sempre tornar-se melhor ao longo da vida.

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  2. Caroline volta na volta o que eu gosto mesmo nos contos breves e de escrever uma historia que possa ser um exemplo, uma licao de vida.

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