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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A Empregada Interna



Lurdes a Empregada Interna la de casa havia morrido, era ja idosa mas muito querida naquela casa. Fora ela que criara o menino dos seus senhores e ia deixar saudaes, muitas saudades. Ela envelhecera e mesmo depois de reformada recusara partir para a provincia, para a sua terra sentia que era ali o seu lugar. Lurdes pediu para continuar a trabalhar ali em casa mesmo sem ordenado so queria mesmo ficar ali bastava darem-lhe quarto e comida.

O Senhor Monforte recusou a ideia se ela queria ficar, ficava mas nao de graca ou sem ordenado ficou como queria enquanto se achasse com forcas e tivesse vontade de ali permanecer e fora no casarao dos Monforte que ficara ate dar o ultimo suspiro. Era algo ja esperado mas ninguem conseguia esconder a sua tristeza aquela Empregada vivera naquela casa, dedicara uma vida aquela familia para quem trabalhara mais de 50 anos fora Ama do Senhor Monforte e ajudara a criar o seu filho que era daqueles que parecia mais abatido com o sucedido.

Aurora Monforte era uma mulher fria mas ate ela parecia abatida e abalada com a morte da antiga Empregada, Rui Pedro o filho aquele que parecia mais abatido com tudo aquilo notava que a mae tinha chorado coisa que nunca a vira fazer anteriormente nem de perto nem de longe.

Depois das cerimonias funebres foi o regresso a casa e tudo parecia um caos afinal aquela Emprega com mais de 70 anos ainda fazia muita falta os restantes nao eram internos e a ultima a sair tinha sido a cozinheira um dos poucos servicos que competia a falecida Governanta da casa era servir o Jantar e devido ao valor e consideracao que naquela familia todos tinham por ela jantava a mesa com os patroes.

Ninguem ficou indiferente e reconheceram que era preciso comecar-se a procurar uma nova Empregada para fazer aqueles servicos que nao competiam a Cozinheira, ao Motorista, ao Jardineiro ou a Empregada dos quartos. Eram esses os poucos empregados que estavam naquela casa de familias ricas de Lisboa que entendiam que sendo a familia tao pequena nao precisava de tanta gente para os servir mas agora era diferente.

Rui Pedro lembrou que era Lurdes que recebia as ordens e as dava aos outros empregados agora estavam sem quem fizesse isso tinham de ser eles a faze-lo a familia nao gostava de contactar muito com  os empregados, eles nao eram uma familia daquelas que se achavam superior aos outros mas era preciso saber-se manter cada um no seu canto alem do mais sendo os patriarcas da familia pessoas demasiado ocupadas nao dava para manter aquela disciplina.

Com Aurora Monforte e Guilherme Monforte sem tempo sequer para respirar coube ao filho a responsabilidade de encontrar uma nova Governanta e Empregada Interna para a casa e estando este tambem ocupado com os exames e estudos contactou uma Agencia de empregos para lhe encontrarem alguem que pudesse solucionar o problema.

Alguns dias depois estava o jovem Monforte com a cabeca enviada nos estudos e com os olhos enviados naqueles livros de paginas e mais pagina de iniciacao ao estudo das leis e do Direito, Rui Pedro Monforte queria ser Advogado e tambem fazer carreira politica quando o telefone tocou, voltou a tocar e ninguem atendia o jovem lembrou-se entao que essa era uma das funcoes de Lurdes, a Governanta e que essa ja nao estava mais ali naquela casa e nem entre eles. Ele proprio teve que ir atender o telefome, era da agencia tinham uma candidata para ser entrevistada que tinha todos os requisitos que pretendiam.

Todos os requisitos lembrou Rui pedro. Para ter todos os requisitos teria que ser alguem como Lurdes. Sentiu que tinha saudades dela, aquela velhota fazia-lhe falta fora ela que o criara, era ela que o levava a passear no jardim quando o mesmo era crianca, que o levava ao cinema, as festas e actividades da escola desde os tempos do Jardim de Infancia.

Ligou para os pais e ambos o incumbiram de ir a agencia e falar com as candidatas e depois por fim escolher uma. Sentia-se feliz com aquele foto de confianca e sabia que os pais o estavam a dar porque entendiam que era tempo de ele se deparar de frente com o sentido de responsabilidade a vida nao podia ser apenas discotecas, noitadas, amigos e farras infelizmente nao podia ser assim. Ele nem era um adolescente problematico que causava problemas aos pais nao era, tirava as melhores notas e o comportamento tambem nao aparentava nada de incomum tirando uma oou outra loucura ou deslize proprio da idade, porem, o facto de ser filho unico numa familia de gente rica fazia aumentar as suas responsabilidades.

Chegara a agencia queria ver se despachava aquilo rapido porque ainda nao almocara e ja era sabido que ia sair dali directamente para a universidade no maximo com direito a parar num snack-bar daqueles especialista em comida de plastico com sabor a nada para comer uma sandes e uma sopa.

A primeira estava fora de questao era uma velha da provincia que mal sabia assinar o nome e nao sabia ler e nem escrever. Seguiu-se uma africana mais nova mas que usava demasiado perfume para esconder o forte e intenso cheiro caracteristico da raca e que nao parecia ser muito higienica, outra que estava fora de questao. A terceira e penultima candidata era uma brasileira que nao parecia gostar muito de andar vestida e que fazia de tudo para se insinuar quando viu que nao tinha sucesso deu a entender que para garantir aquela vaga de emprego estava disposta a tudo, a tudo mesmo, Rui Pedro dispensou-a. Faltava a ultima das candidatas e so podia ser essa as outras nao estavam a altura.

Elizaveta Nadejda Baryshnikov! que raio vinha a ser aquilo agora? Imaginou enquanto pegava na ficha de Mesma candidata antes de a mandar entrar mas imediatamente imaginou mais uma candidata como a anterior so que numa versao de Leste da Europa.

Estava enganada a sua frente estava agora uma mulher sorridente, jovem, calma, timida e que procurava nao chamar demasiada a atencao embora isso fosse impossivel.

Rui Pedro nunca vira uma mulher tao bela de rosto e um corpo esculturalmente perfeito. Elizaveta era um mulher tipica de Leste. Loira, olhos azuis, pele branca, os cabelos compridos pareciam fios de ouro. Rui Pedro mudou de tactica e pediu-lhe que falasse dela.

Elizaveta explicou que agarrara na oportunidade que lhe surgira de vir para Portugal estudar e so o conseguira porque um tio trabalhava no Ministerio dos Negocios Estrangeiros na Russia.

"Uma cunha entao, pensou ele, ela esta aqui em Portugal porque conseguiu uma cunha".

Falou-lhe que estava tambem a estudar e como a os estudos eram caros e a bolsa de estudo nao era nenhuma fortuna tinha que trabalhar e como nao sabia fazer nenhum trabalho desonento como tantas outras raparigas russas em Portugal e nao queria roubar procurou a agencia em busca de um trabalho que fosse honesto.

Ele gostou daquela apresentacao e justificacao gostou sobretudo dela dizer que nao queria fazer o mesmo trabalho desonesto que as outras raparigas faziam, a honra e a dignidade segundo ela nao tinham preco. Ate ai estavam os dois de acordo.

Rui Pedro estava com vontade de a contratar achara-a uma rapariga simples e inteligente, demasiado inteligente para quem estava a dois anos em Portugal e falava prtugues correcto e sem sotaque acentuado so podia ser alguem muito inteligente. Era aquela, tinha que ser ela mas a ultima palavra dependia daquilo que o pai e a mae fossem dizer.

O pai pouco tempo passava em casa as obras e o escritorio ocupavam-lhe o tempo quase todo e a mae so queria alguem que conseguisse voltar a por a ordem em casa. Fosse estrangeira ou portuguesa pouco importava e quanto a ele so queria encontrar alguem que lhe pussesse o Almoco na mesa antes de ir para a universidade, a russa estava entao contratada, era um dado certo.

Elizaveta depressa se habituou a rotina da casa e ao trabalho que lhe competinha fazer. Passava o dias a desempenhar as suas tarefas e sempre que tinha um tempo livre tal como Rui Pedro a estudar passava o dia quase sempre sozinha em casa com Rui Pedro e os restantes empregados e no seu dia de folga quase sempre passava em casa, no quarto a estudar por vezes saia ia ate aos centros comerciais ver as lojas as montras e nao eram raras as vezes que chegava a casa com meia duzia de sacos com coisas para ela ou para mandar para a familia.

Rui Pedro comecou entao a notar na nova Empregada Interna, nao tinha namorada, ela tambem nao tinha pelo menos em Portugal e eram quase da mesma idade. Ele comecou a tentar conquistar a amizade da jovem mas nao estava facil ela nao parecia querer dar muito intimidade, talvez fosse timidez, desgosto ou desilusao de amor. Rui Pedro sentia que havia uma barreira que ele nao conseguia vencer para se aproximar da jovem que nao o parecia permitir no entanto qualquer um viria que ele era um optimo partido para ela.

A oportunidade surgiu um dia em que sem saberem como foram dar os dois ao mesmo lugar Rui Pedro estava com uns amigos num restaurante preparavam-se para uma ja tipica noite de copos num bar qualquer quando viu entrar Elizaveta com um grupo de pessoas que aparentemente pareciam turistas de Leste. Ela propria correu a ir cumprimenta-lo e a explicar-lhe que tinha arranjado aquele trabalho em genero de um part-time onde ganhava sempre mais uns trocos a conta de servir de Guia e Tradutora daquele grupo de gente.

No local estava tambem um grupo de bebados que nao se cansava de provocar o grupo de Elizaveta por serem estrangeiros e de atirar piropos as mulheres em particular a ela mesmo. O ambiente estava a tornar-se pesado, o Gerente do restaurante ja avisara que se a situacao continuasse ia meter gente na rua e nem isso parara a situacao, era dificil controlar bebados fora de controlo.

Os amigos de Rui Pedro insistiam para se irem embora mas ele ja nao ia nisso, nada o ia fazer sair dali, sentia o dever de proteger Elizaveta com o meu mesmo sentimento de dever que ela lhe servia o Jantar todas as noites ate que um daqueles da mesa dos conflituosos se levanta e sem cerimonia chega-se junto da russa e puxa-lhe o cabelo. Passou dos limites pensou Rui Pedro levantou-se e foi a correr Elizaveta debatia-se com o outro enquanto sem cerimonia um outro da mesa dos maus da fita se levantara tambem e dera um apalpao numa outra das turista. O grupo de Rui Pedro com jovens fortes e robustos como ele ao ver o amigo ja a pancada com o primeiro que agredira a sua empregada nao encontrou saida e correram a ajudar o colega.

Copos partidos, cadeiras pelo ar, murros, pontapes, mesas viradas e finalmente... policia em cena. Rui Pedro nao estava bem tinha lutado bem ate certo momento em que seu adversario directo sacara de uma arma branca e nao tivera hipoteses. Ia agora numa Ambulancia a caminho do hospital entre a vida e a morte com Ellizaveta do seu lado.

A facada nao acertara e nem perfurara nenhum orgao vital mas fizera o jovem perder demasiado sangue, estava agora a ser tratado. Mesmo antes da chegada do casal Monforte Elizaveta foi ate a capela do hospital. Orava agora para que aquele rapaz que fora o seu Anjo da Guarda fosse salvo, sentia que nao se iria perdoar se algo de mal lhe acontecesse.

Felizmente tudo nao passara mais de um susto duas semanas depois Rui Pedro chegava a casa e era dificil de explicar tudo aquilo, porque razao tinha ele feito tudo aquilo, defendido ela quase que com a vida? Perguntava-lhe ela agora!

Elizaveta nao queria acreditar, nunca ouvira uma declaracao tao bonita e palavras tao doces. Ele declarara-se a ela incondicionalmente. A mesma sentia-se sem palavras como tinha sido possivel ate agora responder com tanta frieza e indelicadeza a todas as amabilidades dele, como podia ter sido tao cruel, sorriram.

Quando Rui Pedro se restabeleceu ele passou a levar Elizaveta a universidade e por vezes a ir busca-la. Eram raros os momentos em que nao eram vistos juntos e quem pensava que o casal Monforte se ia opor enganava-se nao declarava apoiar a relacao mas tambem nao se pronunciava contra. Era a vida do filho, maior de idade nao era a vida deles nem de nenhuma crianca e no fundo ate gostavam da jovem russa.

Ela durante os seus passeios adorava falar-lhe da terra dela, dos pais, do calor do Verao e do frio e neve de Inverno Rui Pedro estranhva como era possivel ela nunca ter tido um namoro serio, jamais lhe falara nisso, ate que ela timidamente lhe revelera um segredo intimo, demasiadamente intimo, era virgem.

Rui Pedro convidara-a para Jantar era altura de a pedir em casamento e assumir o noivado. Ela mais uma vez chorara, chorara de felicidade, sim estava feliz, sentia que ele a amava por inteiro e foi por inteiro que naquela noite num quarto de hotel se entregara a ele, nao restavam duvida, ele era o homem da sua vida, o Princepe encantado que viera ao seu encontro num BMW encarnado em vez de num cavalo branco. Era talvez tambem o principio do fim daquela Empregada Interna que agora iria ser futuramente a Senhora Elizaveta Nadejda Baryshnikov Monforte.

                                                                                                                   Manuel Goncalves










2 comentários:

  1. Que história deliciosa! Muito bem imaginada e perfeitamente possível. Parabéns ao autor! Abraço :)

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    1. Caroline nao sei se e deliciosa ou nao ou se esta bem imaginada mas deu-me muito trabalho a imaginacao. Dava voltas e mais voltas e nao conseguia arranjar uma maneira de envolver as personagens, nao conseguia encontrar um ponto de partida.

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