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segunda-feira, 7 de março de 2016

O Ultimo Romance


 
Estava praticamente tudo pronto apenas lhe faltava terminar o ultimo capitulo e dar um titulo aquela obra, aquele livro que tal como os outros prometia ser um Best-Seller de vendas, mais um apenas mais um naquela carreira de Escritor recheada de sucesso e exito tanta vez premiada na qual apenas faltava o mais desejado premio para qualquer Escritor, Premio Nobel da Literatura. Nao se podia queixar de falta de sucesso e oportunidades mas tambem o primeiro viera por merito proprio ja as oportunidades foram surgindo ao longo da vida e ele soube aproveita-las na hora e momento certo nunca desperdicando nada.

Seria o seu ultimo romance, iria colocar um final na sua carreira ou talvez apenas uma pausa mais longa. O facto de todos os anos ao longo de uma decada apresentar um livro e por vezes ate mais do que um fazia-o ser repetitivo e isso nao era bom de todo embora recebesse cartas de fans a pedir-lhe para continuar.

A ideia fora bem pensada e tudo fora ponderado ele nao podia continuar a escrever nao se sentia com forcas para isso sobretudo desde que a doenca da Leucemia lhe roubara de si e do proprio mundo em que vivia o amor da sua vida e a esposa com quem vivera ao longo de trinta anos. Sentia-se fraco sem forcas para continuar.

Com Rosa Maria vivera os melhores momentos da sua vida, compartilhara a alegria do sucesso, a tristeza do fracasso e todos os outros momentos. Faltou-lhes um filho para a felicidade ser plena mas nao se podia ter tudo na vida mas desde sempre sentira que era aquela mulher que o iria fazer feliz e quando todos esperavam que aquele fosse mais uma das suas paixoes de fim de semana o tempo passou e no final de um ano ainda estavam juntos. Oficializaram o namoro publicamente e o mesmo fora aprovado por ambas as familas eram ambos filhos de familias humildes mas muito conservadoras e religiosas as coisas tinham que ser feitas assim sobretudo porque era assim que o seu falecido sogro queria e exigia que fossem. Passado terem-se formado na faculdadde e completado o Ensino Superior eram ambos jornalistas nunca haviam trabalhado em conjunto mas fora aquela escolha pelo mesmo Curso de Comunicacao Social que os unira. O pai dela chamara-o la a casa e avisara-o se ele queria continuar a sair com a sua filha e a namorar a mesma agora que eram formados, trabalhavam e ate ganhavam bem era altura de anunciar o noivado e oficializar o pedido de casamento.

Casar com Rosa Maria era tudo o que aquele rapazola mais queria e nao pensou duas vezes em obedecer as exigencias daquele homem cheio de conservadorismo e com o qual tanto aprendera sobre Politica, Religiao e muitas outras coisas o velho Jose Augusto era um mestre em diversos assuntos uma verdadeira enciclopedia sobre os mais diversos assuntos de Cultura Geral. O casamento realizou-se o mais breve possivel e tinha durado por mais de tres decadas. Custava-lhe tanto, agora ter que viver sem a sua Rosa Maria so mesmo ele sabia o quanto isso lhe custava.

Antonio nunca mais fora o mesmo desde a morte da falecida esposa mas nao deixou passar essa ideia para as suas obras e continuara a escrever romances que vendiam aproximadamente so em Portugal 100 mil exemplares em dois meses era algo fora de comum um verdadeiro fenomeno de vendas para um pais onde se lia cada vez menos e que tinha aproximadamente 10 milhoes de habitantes isso significava em relacao ao numero de vendas e ao numero de cidadaos um pouco mais de 1% a comprar os seus livros.

Aquele ultimo romance ja anunciado seria talvez o melhor de todos ele assim o prometera. Depois da morte de Rosa Maria deixou o Jornalismo e as grandes cronicas que escrevia no jornal e que em muito ajudaram a dar fama ao mesmo e a aumentar o numero de vendas so porque gostavam de ler as cronicas daquele Jornalista Antonio Pinto e so muito raramente aparecia na televisao com uma reportagem mas nunca deixara de escrever livros, prometera isso a Rosa Maria e cumprira. So muito recentemente aparecera de novo em vida publica, em festas e em fotos de revistas algo tao usual na altura em que Rosa Maria era viva, ele avisara que se ia retirar da vida publica. Continuava vivo mas todos viam que as palavras dele estavam correctas a morte da esposa matara-o um pouco e ate mesmo nos lancamentos dos livros ele marcava a sua presenca mas de forma muito distante e fria, evitava falar em certos assuntos acabando por dar uma ou outra entrevista e retirava-se de novo para o quase anonimato e para o seu mundo.

O ultimo romance era a historia distinta de tudo duas historias de amor que iam sendo narradas a parte nos capitulos do mesmo livro. Duas historias de amor em tempos diferentes e em locais diferentes e seria tambem duas historias de amores impossiveis. Uma seria a historia de amor e da paixao nascida entre um Oficial do Exercito Nazi por um jovem judia num Campo de Concentracao em plena Segunda Guerra Mundial. A outra seria uma historia passada nos arredores de Jonesburgo na Africa do Sul em plena epoca do Apartheid numa altura em que um branco e uma negra se apaixonam e lutam pelo seu amor quando o mesmo era proibido pelas leis rigidas do Apartheid. Queriam violar a Lei que proibia os Casamentos Mistos depois de ignorarem a Lei da Imoralidade. Eram sem duvida bons indicios de que aquela obra seria um grande romance mas seria a mesma suficiente para levar Antonio Pinto a ganhar aquilo que para o qual ate ja tinha sido apontado mas que nao chegara a vencer, o Premio Nobel, faltava-lhe o Premio Nobel da Literatura.

Chegara de uma viagem a Luanda infelizmente nem sempre se conseguia livrar de certos comprimissos provocados pela sua carreira de Escritor e a sua presenca era mesmo necessaria em certos momentos e locais era uma forma de fazer aumentar as vendas e fazer render as mesmas. Iria passar um dias ao monte no Alentejo que comprara anteriormente como ponto de fuga e refugio da confusao da cidade e onde Rosa Maria podia descansar um pouco. Quando a mesma era viva os fins de semama eram ai passados mas depois dela falecer ele afastou-se um pouco da pequena herdade e fazia ja algum tempo que nao a visitava, iria aproveitar para ir rever tudo e por a conversa em dia com quem ele tinha a tomar conta da casa, senhora de idade que insistia em nao querer abandonar aquela terra e vir servir-lo no seu apartamento em Lisboa, iria sem duvida tambem visitar a campa de Rosa Maria, fora ali na casa do monte que a mesma falecera talvez essa fosse a razao do seu afastamento mas a falecida assim lhe pedira em vida, queria ser alo sepultada.

No apartamento em Lisboa no Parque das Nacoes no ultimo andar de uma torre de apartamentos com vista para o Rio Tejo Antonio Pinto tinha a sua casa, o seu lar numa das zonas mais luxuosas da cidade e onde nada lhe faltava, nada, excluindo alguem que o servisse quando ele mais precisava.

A chegada a casa depois de uma curta ausencia era sempre aquele momento em que mais sentia a falta de uma Empregada Interna tinha uma que somente lhe ia limpar e arrumar a casa daquelas chamadas mulheres a dias com ar antipatico e azedo uma mulher que se via tinha tido uma vida amargurada e nada a fazia sorrir. Mostrara no entanto ser uma pessoa de confianca e como raramente estava em casa a situacao nao preocupara Antonio, o que realmente o preocupava era que titulo haveria de dar ao livro, ao seu novo trabalho literario e talvez ultimo.

O titulo do mesmo pensara mais uma vez teria que provocar logo em si, logo no titulo o maximo de impacto possivel mas a questao do titulo era algo que ele quase sempre guardara para o fim. Era apenas mais uma questao e isso nao era o mais importante. Nao era a primeira vez que escrevera um romance e chegara ao ultimo capitulo da obra sem que a mesma tivesse um titulo e nem por isso deixara de ter sucesso ou o mesmo ficara sem nome ou como algo que ficava e estava no anonimato, com outros grandes escritores acontecia a mesma coisa alguns ate chegaram a confidenciar em entrevistas que por vezes comecavam a escrever um livro sem saber ainda como seria o seu fim.

Olhou para o relogio e notou que era ja tarde abriu a despesa e o frigorifico e reparou igualmente que se esquecera de ir as compras, mais uma vez, quase sempre assim. Tinha praticamente apenas duas opcoes ou uma reloute nocturna de comes e bebes que nao era o seu tipo de frequencia mas que estava bem mais perto e mais a mao ou a famosa Cervejaria Portugalia um pouco mais longe mas a ideia do famoso Bife com Cerveja a Portugalia agradou-lhe, nao pensou duas vezes.

Fazia agora as malas para seguir viagem a ideia de passar uns dias no Alentejo agradava-lhe sem duvida era o melhor que tinha a fazer. O ambiente calmo no Alentejo sempre o fascinara e ali as pessoas cumprimentavam-no de uma forma diferente que em Lisboa ou em qualquer outra grande cidade quando era reconhecido as pessoas olhavam-no com um olhar nao de desconfianca mas que lhe provocava um certo desconforto. Gostava sem duvida de ser reconhecido na rua sobretudo por jovens isso dava-lhe a certeza que estava no bom caminho e que o seu trabalho, livros actuais e reportagens de outrora eram marcantes para mais do que uma geracao.

A chegada ao Alentejo deu-lhe um novo alento tal como esperava pois ali nao precisava de se preocupar com tantas coisas banais do dia a dia e tinha quem lhe servisse o Jantar a tempo e horas e uma refeicao que poderia ter esse nome nao as overdoses dessas novas comidas congeladas com sabor a plastico das quais ele ja se sentia enjoado mas com a vida que tinha nao lhe restava outra escolha senao pizzas e hamburgers ou os bifes do primeiro restaurante que tivesse a sorte de encontrar aberto mais perto de casa. Sentia falta de um bom Bacalhau Assado no Forno ou de um Cozido a Portuguesa certamente iria ter esses pratos a sua mesa quando chegasse ao Alentejo, a Dona Deolinda sabia bem as coisas de que ele gostava e como gostava, era mesmo uma pena nao a conseguir convencer a mesma de forma alguma vir trabalhar para sua casa em Lisboa.

A chegada ao Alentejo era como uma chegada a outro mundo e nao apenas pela calma envolvente, pela falta de poluicao e tudo mais. Ali passara os melhores momentos da vida com Rosa Maria. Agora que ali estava so pensava mesmo em ir a pesca para o rio, em ir a cacada com o grupo de cacadores locais que bastava saberem que ele ali estava corriam a convida-lo e queria tambem dedicar-se as novas artes com as quais ocupava o seu tempo a pintura e a fotografia. Sentia que estava a ficar velho e precisava de se retirar da vida publica para poder gozar um pouco a vida e uma reforma antecipada, aquele era o sitio ideal ainda que sem a companheira ideal, te-la ali consigo ja nao seria possivel pelo menos presente porque permanecia sempre na sua memoria.

Dona Deolinda a senhora que era sua Empregada na casa do Alentejo era uma alentejana tipica, mulher de certa idade, forte e viuva que quase sempre vestia de negro embora estivesse viuva ja a mais de dez anos. A mesma recusara a oferta mas fez-lhe um pedido que passava por contratar e levar para Lisboa uma sobrinha sua que estava desempregada e para piorar a situacao era mae solteira.

Antonio mandou Deolinda chamar a sobrinha queria ve-la falar com ela e prometera-lhe que o facto de a mesma ser mae solteira nao iria pesar na sua decisao. Ele era um homem liberal e pouco se importava que a rapariga tivesse uma crianca desde que fosse uma rapariga de confianca e trabalhadora eficiente. Havia espaco no apartamento em Lisboa para a mesma e para a crianca e ele ate ficaria feliz com isso uma crianca ali seria sinonimo de alegria seria certamente uma experiencia agradavel.

Rafaela era o oposto da tia e bastante mais jovem. O corpo via-se que estava bem cuidado e tratado era bonita mesmo sem estar produzida. Era a primeira vez que ele olhava para uma mulher com desejo desde que conhecera Rosa Maria, a primeira vez que sentia despertar algo desde que a mesma morrera. Resolveu esquecer um pouco aquela estranha sensacao e acordar com a rapariga condicoes, ordenado, etc.

A jovem foi-se acostumando a uma cidade grande como Lisboa para quem vivera sempre no interior alentejano nao era preciso ir a Londres, Paris ou Nova Iorque para se considerar que estava numa grande cidade bastava-lhe estar em Lisboa ate entao Rafaela so tinha ido ate a capital do distrito a que pertencia a sua aldeia. Adaptara-se facilmente bastante gracas a Antonio que a ajudara em tudo e arranjara-se logo um jardim de infancia onde colocar o pequeno Lucas filho de Rafaela.

Foi com alegria que Rafaela comecara a ver a ligacao que comecava a surgir entre Lucas e Antonio, chamava-o de Antonio ele embora fosse seu Patrao recusara-se que ela o chama-se de Senhor Antonio embora fosse mais velho mais de trinta anos que ela, trinta e dois anos que os separavam. Ela sentia-se agradecida quando Antonio ia buscar Lucas ao infantario ou o levava a passear no Jardim do Parque das Nacoes e em outros lugares acabava sempre por ver Lucas chegar a casa com um novo presente ou com uma quantidade de guloseimas na mao.

O envolvimento entre os dois Antonio e Rafaela tambem era crescente e cada mais intimo mas em certas ocasioes Rafaela era fria, distante, evitava que Antonio se aproximasse demasiado, raramente aceitava os seus convites para jantar, recusara um aumento de ordenado e os presentes que ele lhe oferecia com bastante frequencia elas recebia-os e aceitava-os de bom grado mas chamava-lhe a atencao que nao podia ser assim, ele nao tinha essa obrigacao e quando a mesma notou praticamente quem estava a sustentar e criar Lucas como um filho era Antonio.

Rafaela no fundo tinha um segredo que escondia de Antonio desde sempre. O seu passado nao era tao inocente como parecia e como a mesma mostrava que era. A jovem era uma ex viciada em drogas, alcool e andara na prostituicao para sustentar primeiro os vicios e depois o filho, nao queria que Antonio viesse sequer a sonhar com essa verdade que ela tao bem escondia mas agora estava perante uma nova ameaca. O pai de Lucas resolvera entrar com um processo para retirar-lhe o filho o mesmo tambem nao era flor que se cheirasse mas tinha todas as hipoteses de o conseguir se toda a verdade fosse revelada em tribunal e certamente iria se-lo, certamente o pai de Lucas nao iria esconder nada e iria lutar com todos os trunfos para recuperar o filho.

Antonio estava no meio de tudo aquilo um pouco a deriva e desconhecia ainda muita coisa do passado de Rafaela no entanto contrataram um bom Advogado que considerou o caso um pouco complicado pela sua experiencia profissional o tribunal ainda iria acabar por entregar a crianca a uma instituicao. Rafaela aparentemente pelo seu passado nao era a melhor pessoa para quem o tribunal entregasse um filho embora fosse de facto uma boa mae mas as suas condicoes quando nem sequer tinha residencia propria e vivia de favor em casa de Antonio nao eram as melhores para conseguir a custodia de Lucas.

O Escritor quando soube a verdade, toda a verdade que Rafaela escondera ficara desolado era como se uma Santa se tivesse tornado uma Prostituta ou coisa parecida. Aquele cenario seria o enredo perfeito para um dos seus livros, dos seus romances mas nunca o cenario perfeito para aquela que era agora a realidade da sua vida. Antonio afastara-se um pouco de Rafaela e chegara mesmo a passar os fins de semana fora de casa nao notando o sofrimento da mesma, nao vendo as lagrimas da mesma e o quanto lamentava estar a fazer aquele homem sofrer. Nunca, jamais lhe havia ter escondido fosse o que fosse ele teria entendido porem nao fora nada de bom ter descoberto as coisas da pior maneira e por terceiros.

Antonio naquela noite estava de cabeca perdida quando chegou a casa tivera uma reuniao com o seu Editor e o mesmo nao aceitava que o mesmo lhe pedisse mais tempo para acabar o livro, o seu novo e talvez ultimo romance, falara-se mesmo de um rompimento de contrato e terminaram a reuniao apenas com a certeza de que tinham que decidir tudo de uma forma mais calma e sossegada. Jantara num restaurante de onde saira embriagado como nunca estivera com muito custo conseguira chegar a casa.

Rafaela estava a comecar a ficar preocupada com a demora e ausencia do mesmo nunca chegava fora de horas e cumpria sempre com os chamados rituais de rotina diarios, caso fosse diferente naquele dia ou noite ligava a avisar. Sentiu-o finalmente chegar e virou-se para o lado na cama podia finalmente dormir descansada. A jovem sentiu ainda Antonio caminhar fazendo um enorme estrondo em direccao ao quarto do filho, nao estranhara era habitual ele ir ver se o menino estava a dormir e se estava tudo bem, caira finalmente quase no sono.

Antonio sentia-se diferente naquela noite e comecava a sentir-se mal por estar naquele estado embora devesse o mesmo a ele proprio. Estava estranho naquela noite e com um desejo fora de comum naquela noite, fazia anos que nao tinha nada com uma mulher na cama e estava decidido que seria naquela noite, tinha que ser naquela noite, naquele momento e tinha que ser com ela.

A jovem alentejana ja dormia quando Antonio embriagado lhe entrou pelo quarto, nunca o tinha visto assim nem nada que pudesse parecer semelhante. Aquele homem tao doce com o seu filho, tao gentil para consigo parecia estar completamente alterado, estava diferente, violento e atacara-a com intuito de a possuir. Ela nao queria acreditar, procurou oferecer resistencia mas ele era de facto muito forte. Despiu-a e possuia como ela nunca imaginara, teria sido uma violacao e praticamente fora-o mas ela preferira entender que fora talvez o que ambos sempre tinham querido, aquele momento de sexo, teria sido um momento de amor, teria sido um momento de prazer, nada mais importava. Antonio deixou-se estar deitado por uns momentos enquanto ela amedrontada chorava ainda com medo, medo que ele a voltasse a possuir daquela forma agressiva, bruta e sem o consentimento da mesma. O Escritor parecia mais calmo olhou as suas lagrimas levantou-se e foi para o seu quarto.

Na manha seguinte Antonio surgiu a mesa e parecia estar a sentir-se mal dentro da sua propria casa, nao conseguia encarar Rafaela e nem encontrar explicacao para o que tinha feito. Pediu-lhe que se sentasse e de seguida quase sem palavras pediu-lhe perdao pelo que tinha feito. A jovem disse-lhe que nao tinha importancia ja outros lhe tinham feito o mesmo ou algo semelhante quando a mesma andava na vida, a unica diferenca e que os outros eram clientes, eram estranhos e ele era alguem de quem ela gostara e apesar de magoada com ele perdoara-lhe o que acontecera e nem ia considerar isso uma violacao apenas um momento de loucura e de fraqueza em que eles tinham feito o que sabiam que mais cedo ou mais tarde havia o risco de acontecer, acontecera-o naquela noite era melhor para ambos esquecerem isso. Rafaela disse-lhe que tinha coisas mais importantes para se preocupar do que com o que tinha acontecido, a decisao do tribunal sobre a custodia de Lucas era para breve e seria ainda naquela semana.

O Juiz estava decidido que o pai nao tinha condicoes e nem capacidade para ter o filho e a mae, Rafaela, mostrara que estava curada dos problemas do passado mas que as suas condicoes tambem deixavam muito a desejar. No entender do Magistrado o melhor seria entregar a crianca a alguem proximo da mae que provasse ter capacidades e condicoes de o criar caso contrario seria revisto o caso e a crianca seria entregue a uma instituicao.

Nao havia familiar e nem ninguem relativamente proximo de Rafaela e nem ninguem de confianca que pudesse e tivesse condicoes de assumir essa responsabilidade, foi entao que o proprio Juiz chamou Antonio e ja que segundo a versao das testemunhas ele e que praticamente estava a sustentar e criar Lucas poderia ser ele proprio a ficar com a custodia da crianca, tinha condicoes e capacidades para isso e era preferivel assim ja que mais cedo ou mais tarde a mae ia ter todas as condicoes e capacidades para criar e ter a custodia do filho alem de que as constantes mudancas nao eram beneficas para a crianca.

Tudo estava a correr mas Rafaela parecia estranha parecia estar diferente e que lhe escondia algo a muito custo aceitara o convite do mesmo para ir ao evento de lancamento do novo livro a que ele decidira dar o nome que ela propria sugerira, O Ultimo Romance. O mesmo parecia segundo a critica que iria fazer bastante sucesso Antonio ja reconhecera publicamente que talvez nao fosse o seu ultimo livro e nem ultimo romance mas que queria talvez fazer uma pausa um pouco longa para se dedicar a outros projectos e objectivos mas prometia ser um fenomeno de vendas. Antonio era sem duvida um dos escritores e romancistas mais conceituados de Portugal e ate do resto do mundo sobretudo em paises de lingua portuguesa, havia inclusive rumores de que uma das redes de telenovelas brasileiras queira adaptar um dos seus romances para uma telenovela, seria bom e vantajoso mas nao era isso que o preocupava naquele momento. Naquele momento Antonio so queria saber qual a razao pela qual Rafaela estava estranha e diferente!

Chegara a casa nem sinal de Lucas e nem de Rafaela, estranhou o sucedido mas o que era um habito de rotina poderia um ou outro dia fugir a regra, apercebeu-se que havia algo de estranho quando viu junto da televisao da sala um bilhete colado, era de Rafaela:

"Sei que tens estranhado o facto de estar diferente, mais fria e por vezes completamente ausente. Nao e por mal mas entendi que tinha de ser mesmo assim nao tenho o direito de te exigir nada e sei que me vais procurar quando souberes toda a verdade mas prefiro que o saibas desta maneira nao tenho coragem de te contar tudo cara-a-cara mas vais finalmente saber o que se passa.

Antonio lembraste-te daquela noite em que entraste embriagado no meu quarto e me possuiste a forca eu nao te consegui evitar assim como tambem nao consegui que desse momento eu tivesse ficado gravida. Espero um filho, teu ou melhor nosso.

Sabes onde me encontrar mas por despreocupacao digo-te que estou de partida para junto da minha tia no Alentejo, obrigado por teres sido um pai para o Lucas e obrigado por me teres dado este que terei daqui a alguns meses essa crianca sera a prova mais viva do amor que sempre senti por ti, amo-te e nunca me preocupei dos preconceitos da sociedade por seres mais velho que eu mais de trinta anos, amo-te meu amor".

Como pudera ser tao imbecil para nunca se ter apercebido e nem sequer desconfiado de nada. Era esse o misterio, o segredo que ela lhe escondera, Rafaela estava gravida e esperava um filho seu. Ele era homem e nao podia fugir as suas obrigacoes como tal assim como tambem de futuro pai. So havia uma saida agora e era isso que ele tambem queria ir buscar Rafaela entender-se com ela criar aquele filho junto dela, ela era a mulher que ele amava desde que a vira a primeira vez.

Antonio chegara a casa do seu monte no Alentejo quase primeiro que Rafaela enquanto ela partira horas antes num comboio ele quase que tornara o seu carro num aviao para seguir ao encontro da mulher que amava e da mae do seu futuro filho.

Encararam-se cara-a-cara e quase sem dizer nada abracaram-se perante o olhar e sorriso do jovem Lucas e de Dona Deolinda a tia de Rafaela. Sabiam quase sem dialogar o que queriam e mesmo sem conversarem estavam a faze-lo, estavam juntos e era juntos que queriam ficar.

Antonio pretendia ficar no Alentejo mais uns dias ja que ali estava ia repousar mas isso fora de todo impossivel o Ministro da Cultura ligara-lhe a noticia era ja oficial ele fora novamente nomeado  para receber o Premio Nobel da Literatura. Antonio nao escondeu as lagrimas mais uma vez era nomeado mas nunca o vencera so que desta vez nao haveria adversario a altura era quase garantido a vitoria do Escritor portugues.

Meses depois ja com o filho mais novo ao lado a quem ele resolvera chamar de Gabriel em homenagem ao seu escritor de eleicao Gabriel Garcia Marquez, ele Antonio espera ouvir o anuncio da decisao final e cai num choro de alegria ao ouvir o seu nome ser anunciado. Ja mais calmo sobe ao palco agradece o premio e dedica-o a esposa Rafaela e ao seu filho Gabriel era eles em conjunto com Lucas e sem ofender a memoria de Rosa Maria que ele mais amava. No final do seu discurso sentiu que tinha acabado de ganhar um oscar e de facto para um Escritor aquele premio era um oscar. Olhou a esposa e o filho e sentiu mais uma vez que tinha tudo o que sempre desejara, era um homem feliz a viver o seu ultimo romance.

                                                                                                                 Manuel Goncalves






2 comentários:

  1. :) Os teus textos estão cada vez melhores!!!

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    1. Obrigado Caroline :) a caminho da ternura dos quarenta o motivo deve-se que penso ser a altura de dar um salto maior e agradeco o facto de aqui poder sempre apresentar os meus textos, contos breves, cronicas, etc a uns anos atras seria mais dificil mas vamos ver se consigo chegar onde quero.

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