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quarta-feira, 9 de novembro de 2016

A Nova Geracao da Literatura Portuguesa, Novos Escritores e Novas Formas de se Escrever



Longe ja para la do seculo passado no melhor da Literatura Portuguesa sem duvida que em destaque podemos salientar  Jose Maria de Eca Queiroz (1845-1900) e Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (1825-1890) que escreveram das mais ricas obras da Literatura Portuguesa algumas que nada ficam a dever aos grandes classicos universarios e tambem embora nao seja ja muito do meu agrado as obras do Premio Nobel da Literatura portugues Jose de Sousa Saramago (1922-2010).

Optei por fazer uma critica literaria mais virada para o genero do Romance ja que foi ai que notei uma maior mudanca entre aquilo e a forma como se escrevia no tempo de Camilo Castelo Branco, Eca de Queiroz nao tanto Saramago porque esse tambem se pode considerar mais contemporaneo. E penso que positivo a forma como a Literatura Portuguesa conseguiu acompanhar a mudanca nas artes entre o classico e o moderno sem as obras, os livros perderem o valor.

Os livros ja nao sao O Crime do Padre Amaro (1875), muito menos O Primo Basilio (1878) ou ate mesmo o Amor de Perdicao (1862) e os Maias (1888) que ainda no seculo passado os alunos do ensino secundario se viam obrigados a ler.

Hoje, nos dias actuais pode nao haver Saramago, Camilo ou Eca vivos mas os seus livros continuam a venda em qualquer boa livraria e creio que assim continuara a ser pelo que os mais jovens ou seja a nova geracao ainda vai saber qual era O Crime do Padre Amaro, quem era o Primo Basilio e ver quais foram as consequencias de um Amor de Perdicao.

Mas afinal se a Literatura Portuguesa continua assim tao rica quem serao afinal os seguidores do trabalho deixado por Camilo, Eca e por Saramago? Quem esta encarregue de fazer estar num patamar mais alto a Literatura Portuguesa. Sendo um campeao de vendas os novos grandes senhores da literatura em Portugal sao escritores como Jose Antonio Afonso Rodrigues dos Santos (1964), um verdadeiro campeao de vendas que segundo dizem ja fez mais de tres milhoes de euros em vendas, Miguel Andresen de Sousa Tavares (1950) e outro gigante da actual Literatura Portugal a testemunha-lo tem o enorme sucesso que teve aquele que e talvez o seu romance de maior sucesso, Equador (2003) e que por sinal nao foi o seu primeiro livro mas foi o seu primeiro romance e por fim embora mais discreto mas ja com inumeros romances escritos surge Tiago Rebelo (1964) que prende facilmente os leitores ao que escreve.

Onde esta a diferenca afinal entre o que se escrevia no Seculo XIX e XX e o que se escreve agora, actualmente no Seculo XXI? Penso que esta na forma como se escreve, os novos escritores sao mais atrevidos e tem mais liberdade de colocar palavras menos proprias da Lingua Portuguesa, frases e dialogos que no Seculo XIX e XX iriam chocar a sociedade conservadora e moralista e tambem de recordar e lembrar que sobretudo no Seculo XX em pleno periodo de ditadura politica certos assuntos eram tabu e alem de nao se poder falar nos mesmos havia igualmente a forma como os escritores passariam a ser encarados. Se algumas partes dos romances de hoje fossem relatadas e descritas nos romances de antigamente a sociedade que digo que era demasiado conservadora com todo o seu moralismo ter-se-ia encarregue de destruir a carreira dos mesmos escritores que tivessem a ousadia de comecar a descrever cenas de sexo com palavras menos apropriadas.

Quem leu os antigos classicos que ja fiz referencia e leu ja livros actuais como Madrugada Suja (2013) de Miguel Sousa Tavares, Vaticanum (2016) de Jose Rodrigues dos Santos ou Eu e as Mulheres da Minha Vida (2016) de Tiago Rebelo. Sao romances dos mais falados e bem aceites pela critica e pelos leitores talvez dos ultimos tres anos mas notei algo de interessante que me levou a escrever esta cronica, e a forma como se escreve, as palavras que se empregam por vezes o que as personagens as vezes fazem ou dizem. Contudo apesar desta mesma diferenca algo me leva a sentir e a dizer de que a Literatura Portuguesa esta no bom caminho nas maos destes escritores que faco referencia e na de outros os sucessos de vendas por vezes isso o evidenciam.

Ora comecei por nos ultimos tempos por ler Madrugada suja de Miguel Sousa Tavares e logo ai comecei a notar que algo estava diferente na forma como se escrevia hoje em Portugal, sinais do tempos, talvez ao que simplesmente se pode chamar acompanhamento da evolucao moderna. Nao me deixei ficar por ai e enquanto estive de ferias fui lendo aquilo que me apetecia e tinha a mao, tempo disponivel nao me faltava de todo e foi uma boa experiencia que me deu para fazer a comparacao entre alguns livros de antigamente e os de agora e nao resisto a compartilhar as minhas ideias acerca do tema convosco.

Imaginem em pleno Seculo XIX no livro do Crime do Padre Amaro por exemplo Amelia virar-se para Amaro e dizer-lhe: "Vai-me o cu". Mas num dos livros que li recentemente e o que acontece mesmo. Igualmente pude ver outras expressoes que a menos de dois seculos eram impensaveis ler-se fosse numa descricao ou no dialogo de personagens e ai so em tres livros fiquei espantado com os termos, as linguagens que hoje alguns escritores utilizam. Nao sou contra a isso antes pelo contrario e creio que nao e uma linguagem suja que vai estragar uma obra e tanto pode ser uma linguagem suja como uma linguagem real. Pude ler varias vezes num dos livros que li uma personagem italiana que andava constantemente com palavroes e outras personagens de outros livros que segundo o que os escritores escreveram num dialogo aplicaram palavras e frases como: "cabrao", "meu grande filho da puta" ou simplesmente "caralho". Agora imaginem o que seria o Padre Amaro Vieira, o Primo Basilio ou ate mesmo o Simao do Amor de Perdicao a falarem dessa maneira. A classe social conservadora e virada para as doutrinas e ensinamentos da Igreja iria certamente castigar os mesmos escritores diquemos que quase matando os mesmos em vida ou seja boicotando as mesmas obras que hoje sao dos maiores classicos da Literatura Portuguesa.

Nao sei ate que ponto Eca de Queiroz e Camilo Castelo Branco nao tivessem vontade de fazer algo parecido mas ja saberiam o que os esperava. Ja no caso de Saramago foi diferente talvez tenha sido um Escritor que acompanhou a mudanca mas manteve sempre o seu estilo proprio preferindo outros tipos de polemicas nas suas obras e por vezes na sua vida pessoal. Saramago um homem politicamente errado por Excelencia.

O que ficou a Literatura Portuguesa a ganhar com essa mudanca? Nao sei o que ficou a ganhar em todo o seu conteudo mas penso que nada perdeu. Uma moralidade muito conservadora penso que nao leva a nada e quase provoca um sistema de ditadura, evidentemente que livros com textos a manterem uma linguagem assim seriam logo a partida rejeitados pela PIDE no entanto hoje tornan-se fenomenos de vendas.

Por vezes logo inicialmente so pelo titulo de uma hora actual no Seculo XIX ja seria um escandalo e penso que tal jamais seria aceite pensem so O crime do Padre Amaro ou O Amor de Perdicao ter antes ficado com o titulo de O Amor e Fodido (1994) ou Como e Linda a Puta da Vida (2013) ambos romances do Escritor Miguel Esteves Cardoso (1955).

Agora quase que em genero de avaliacao e analise final algo me leva a pensar se a escrever da forma como escrevem hoje de escritores como Miguel Sousa Tavares, Jose Rodrigues dos Santos e Tiago Rebelo teriam algum sucesso em pleno Seculo XIX mas se com toda a liberdade que se tem hoje Camilo de Castelo Branco e Eca de Queiroz tambem teriam a mesma fama e reconhecimento? Sinceramente penso que nao! Sem duvida a sorte que todos tiveram foi ter nascido e vivido na altura e momento certo ou simplesmente terem-se sabido adaptar as regras da sociedade do seu tempo.

Caro(a) leitor(a) ao longo desta cronica talvez nem sempre tenha sido facil mostrar onde realmente queria chegar, acontece muita vez nao so a mim mas quando os temas sao delicados ou se fala de coisas que antigamente eram tabu e actualmente sao assuntos e temas banais e que ate tem muito uso mas deixo a mesma cronica para si em particular com votos de um ate breve.

                                                                                                          Manuel Goncalves

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