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sábado, 23 de maio de 2015

Ultimo Segredo e Casamento em Veneza

 

Ela sentia que ele andava estranho, demasiado estanho, mais estranho do que o habitual. Sabia que ele sempre fora um homem mulherengo e que a relacao entre ambos estava demasiadamente cheia de infedilidades e traicoes as quais ela teimosamente optava por fechar os olhos. Conhecia-o bem e sabia que apesar de tudo ele a amava as outras relacoes eram coisas de uma noite ou pouco mais e fruto do ideal de que homem que e homem tinha que ter muitas mulheres conquistadas.

Perdoara todas as suas traicoes e infedilidades porque sabia que no fundo sem ele, ou melhor, sem o dinheiro dele ela jamais conseguiria ter o nivel de vida que tinha. Os vestidos das boutiques mais caras de Paris, as joias, o Cartao de Credito American Golden Card, o carro descapotavel desportivo ultimo modelo, as ferias no Verao as Caraibas. Nao podia viver sem aquele luxo mas tambem nao podia ficar sem ele, ela nao mentia quando dizia que amava aquele homem com quem ela se juntara a doze anos e que depois de cinco casamentos se recusava a casar com ela para tristeza da mesma.

Chegava a casa ao final da tarde pelo menos estava mais pontual antigamente chegava pela noite fora obrigando-a a Jantar sozinha e por vezes a dormir grande parte da noite. Fechava-sse no escritorio e so saia para Jantar apos o que pouco depois ia para a cama. Fazia tanto tempo que nao lhe tocava e recentemente mal lhe falava. O silencio dele era gelido e tinha a certeza de que algo muito grave se tratava ficou esperand que ele se abrisse para lhe contar o que se passava tinha medo de o encostar a parede e confronta-lo, sabia que ele detestava isso assim como sabia que so isso tirava do serio. Tinha uma amante com toda a certeza e sem duvida alguma era o que ela pensava.

Perfumara-se e fora a cabelereira, vestiu-se de uma forma elegante mas onde nao faltava um toque provocante ia tentar a sua ultima cartada, preparara uma comida afrodisiaca agora sim ia ver se um prato afrodisiaco despertava o interesse sexual.

Ze Manuel chegara a casa como sempre ela veio recebe-lo ao contrario dos ultimos tempos recebera um sorriso e ate um elogio.

- Estas linda!
- Tu tambem nao estas mal - sorriu enquanto lhe tirava o casaco - entao, como correu o dia?
- Alguma razao em especial para estares assim? Esqueci-me de alguma data importante, tinhamos algo combinado...
- Nao, nao esqueceste de nada, esquece.
- Esqueci-me Cristiana, esqueci-me. - Comecou - esqueci-me de te dar valor, de te dar o valor que mereces nos ultimos tempos tem sido tao complicado, gerir os negocios dos outros nao e facil e depois sao os meus tambem, se soubesse o que era ser Gestor tinha escolhido outra profissao.
- Esquece, passa-se alguma coisa? - Perguntou nervosa via que ele lhe escondia alguma coisa e era grave, agora temia toda aquela atencao - estas diferente?
- Sim pensei em irmos ate Paris este fim de semana, la estamos mais a vontade alem do mais tu adoras Paris.

Beijou-a e quando ela pensou que aquela greve de fazer amor ia ter um final naquela noite ele mostrou-se de novo frio e distante mas mantinha a ideia fixa na viagem a Paris para alegria dela .

- Ze Manuel, diz-me que se passa? Escondes-me algo, tenho a certeza?
- Tem calma falamos no fim de semana em Paris, nao estejas impaciente.

Ele pousou os talheres olhou-a nos olhos e procurou-a acalma-la garantindo-lhe que nao havia razoes para ela temer fosse o que fosse e era com ela que ele queria continuar. Abriu-lhe o coracao sem revelar ao certo o que escondia de tao importante e que segredo tao forte insistia em esconder. Ze Manuel fez-lhe ver que era um homem que cometera varios erros mas o maior de todos eles teria sido se tivesse abandonado uma mulher como ela, maravilhosa, respeitadora e fiel.

Ela la se acalmou ficou com a certeza de que ele nao a queria abandonar e que daquela vez, pelo menos daquela vez nao existia outra mulher o que lhe deu um alivio ainda maior. Olhou-o nos olhos e achou-o doente ou pelo menos fragil. Era melhor esquecer isso, agora so queria pensar que dentro de quatro dias estariam ambos em Paris e talvez no regresso pudessem pelo menos por alguns tempos fazer uma vida normal.

Cristiana comecou a pensar um segredo por revelar, Paris, etc se o considerasse um homem romantico ia pensar que ele estava prestes a realizar o seu sonho desde que o conhecera e vivera com ele, tinham sido doze anos alimentando essa esperanca, demostrando essa vontade e simplesmente ouvindo essa recusa. Estaria ele finalmente disposto a casar? Seria um sonho e o que era uma esperanca comecou a ser quase uma certeza. Nao encontrava outra jusitificativa para tudo aquilo e tornou-se uma certeza ainda maior quando naquela noite ele a procurou, fizeram amor como nunca haviam tido feito em doze anos que estavam juntos. Ela esquecera tudo durante aquele momento em que fora amada entre a realidade, o sonho e um orgasmo sentira-se no ceu.

Ja em Paris ela julgou estar a viver um sonho ele tinha pensado em tudo ao pormenor sem esquecer nenhum detalhe ou particularidade. A reserva no Hotel Ritz para ela embora habituada a um alto nivel de vida parecia-lhe um sonho mas sabia que era uma realidade e estava ali hospedada no famoso hotel no centro da Place Vendome.

Esperava por ele queria-lhe agradecer tudo aquilo o hotel parecia um paraiso e a paisagem da janela encantadora o facto de ser no ultimo andar fazia com que nenhum pormenor de toda a beleza envolvente a sua volta lhe falhasse. La ao fundo conseguia ver o Jardin des Tuileries e o Le Seine olhando a sua direita via o famoso Musee du Louvre, onde ele ia um dia tinha prometido leva-la. Sabia que Ze Manuel nao era homem de andar a contar os trocos e que em certas ocasioes nao controlava nem se preocupava com o que gastava mas estava a exagerar quando o chamou a atencao ele simplesmente sorriu e disse-lhe que sendo ele um Gestor Financeiro e lutando sobretudo na bolsa para que os investimentos e fortunas dos seus clientes crescessem era natural que ele tambem conseguisse ter algum meio de sobrevivencia.

Ele abracou-a e acalmou-a comunicando-lhe apenas que a conversa sobre o assunto serio que tinha a ter com ela seria durante o Jantar onde o clima era calmo e sossegado entretanto ficou a saber que o Jantar seria no Maison Blanche que ela desconhecia mas ele assegurou-lhe que todos os seus clientes de Lisboa o elogiavam. Ze Manuel tirou do bolso do casaco um estojo e entregou-lhe ao abri-lo pode ver o colar de pedras preciosas mais lindo e brilhante que alguma vez vira na vida, as lagrimas caiam-lhe dos olhos, ela sabia que no fundo talvez nao fosse merecedora de tanto. Cristiana teve cada vez mais a certeza que ele a ia pedir em casamento na hora do Jantar e durante ou no final do mesmo e que tudo aquilo era tao importante para ele como era para ela propria.

O Jantar parecia envolvido por um toque de magia. A noite estava ate um pouco quente e no ceu pairava um manto de estrelas jantavam na esplanada situada no terraco do restaurante em area ao ar livre. Ao longe uma banda de musicos ia tocando umas cancoes que todos aqueles que fossem romanticos tinham por obrigacao de conhecer, o vendedor de rosas de mesa em mesa aproximava-se Ze Manuel fez-lhe um sinal convidativo com um sorriso simpatico e o mesmo estendeu-lhe o enorme ramo para que ele escolhesse a meia duzia pela qual tinha pago ele fez-lhe sinal para que fosse a senhora a escolher. O fotografo das fotos Polaroid andava por ali tambem e Ze Manuel nao resistiu a querer fazer de uma foto a melhor lembranca daquele mesmo Jantar que prometia ser memoravel.

Quase no fim do Jantar depois do doce das sobremesas e enquant esperavam pelo amargo do cafe que por decisao dela seria acompanhado por Vinho do Porto em vez de Moscatel de Setubal Ze Manuel finalmente tirou novamente do bolso do casaco uma uma pequena caixa onde estava um anel que devia ter custado milhares senao dezenas de milhar de euros, sorriu e sem fazer o pedido pediu-lhe uma resposta.

- Nao tenho palavras! Ze sabes bem que foi por este momento que sempre esperei por toda a vida. - Cristiana chorava - como queres que te diga, nao. Mas sempre o recusaste, porque agora tao de repente?
- Porque durante doze anos fui cego e hoje consigo ver que foi um erro ter-me sempre negado a casar contigo talvez por ser mais velho pensei que estavas comigo nao por amor mas por interesse.
- Es louco, amo-te mais do que tudo.
- Cristiana - continuou enquanto acendia uma cigarrilha - existe algo que nao te quero contar agora apenas depois do casamento, desculpa mas e assim que eu quero que as coisas sejam.
- Tudo bem mais um misterio, mas quando tencionas que nos casemos?
- Brevemente, descansa. Da-me so tempo de preparar as coisas organizar tudo vai ser uma coisa simples e sem muito convidados mas memoravel, casamos o mais rapidamente possivel em Veneza.

Casar com o homem que amava e em Veneza fora tudo o que ela sempre quisera. Mais uma vez e como sempre ele permitira-lhe que ela escolhesse tudo o que queria sem se preocupar em controlar as despesas e a maior dificuldade da mesma estava em escolher o vestido de casamento ja que Ze Manuel insistia em casar pela igreja tambem ela queria ir vestida de noiva, vestida de branco. Elie Saab o famoso Designer de Moda libanes ques vestia vedetas do cinema e personalidades publicas como Christina Aguilera,  Beyonce, Catherine Zeta-Jones, Elizabeth Hurley, Marcia Cross, Emmanuelle Beart e Teri Hatcher tudo isso alem de ser o Estilista de eleicao da Rainha da Jordania, a sempre elegante Rainha Rania. Nem sabia ao certo quanto aquela peca de vestuario lhe iria custar e nao se preocupava com isso Ze Manuel passara-lhe um cheque em branco para o pagamento do mesmo.

A data para o grande dia aproximava-se e ja se encontravam em Veneza tinham aterrado a poucas horas num aviao privado que Ze Manuel alugara para eles e para os poucos convidados no Aeroporto Internacional Marco Polo e ela sentia-se cansada nao da viagem mas de toda a afazama dos ultimos dias so queria mesmo ver-se na suite do Hotel Moresco  um dos melhores da cidade e aquele que Ze Manuel escolhera por ser considerado como o mais romantico da cidade.

Ze Manuel parecia cansado, palido e cada vez mais misterioso, isolava-se por momentos e depois voltava a realidade carinhoso, meigo e romantico como nunca fora. Nao faltavam as flores quase diariamente e tantas outras delicadezas sobretudo a autorizacao para ir as compras nas boutiques mais luxuosas e caras. Ze Manuel nunca fora realmente uma pessoa de mau caracter mas estava diferente.

O casamento fora na Basilica de Sao Marco e a mesma cerimonia pelo religioso fora mais uma exigencia de Ze Manuel que ela nao deixara de estranhar via-o todos os dias a escrever num caderno que estava fechado a cadeado tinha curiosidade de ler, saber o que ele escrevia mas nao tinha coragem de violar a privacidade dele.

O casamento fora um sonho e o agora esposo legitimo de Cristiana insistira em fazer um Lua de Mel num passeio pela Italia. Ainda em Veneza nao podiam deixar de dar passeios de Gondola no rios Adige no lado Sul e o Piave a Norte. Cristiana nunca imaginara nada tao romantico ate fazer um desses passeios numa noite de lua cheia acompanhados com um Violinista, ultima surpresa de Ze Manuel em Veneza para Cristiana.

Seguiu-se uma viagem por Milao, Roma, Florenca, Verona e Pisa. Cristiana adorou tudo aquilo desde o Teatro Scala em Milao. Em Roma foi o continuar do sonho desde o Vaticano, a Praca de Sao pedro passando pelo Coliseu e as lojas Versace nao fosse Milao uma das capitais da moda. O Rio Tibre ali com a Basilica de Sao Pedro como pano de fundo e o sorriso de Ze Manuel que a envolvia num abraco.

Por dias Cristiana nao pensou em nada mas numa pausa com a mudanca de cidade e durante o voo olhando Ze Manuel que dormia ao seu lado no banco se lembrou da conversa em Paris durante o Jantar com o pedido de casamento e do que ele nao lhe quisera revelar na altura dizendo que o faria apenas depois do casamento. Ele acordara e ela afastou o pensamento para outros lados.

Florenca capital da Toscana era o espelho de tudo o que se podia encontrar naquela zona e como uma apaixonada pelas artes Cristiana na cidade berco de Michelangelo e de Leonardo da Vinci sentiu-se como que em casa ou entre os seus. Em Verona sentiu que a cidade era mais que o cenario de Romeu e Julieta de William Shakespeare o encanto dos vinhos locais que conquistaram desde logo Ze Manuel que so falava numa regiao com dez vinhos DOC e tres vinhos DOCG, era uma linguagem que ela desconhecia mas teve a certeza que DOCG era mais importante que DOC.

A Lua de Mel iria terminar em Pisa e logo apos se seguiria o regresso a Lisboa e ai o segredo seria revelado era tudo o que ela conseguira arrancar de Ze Manuel quando calmamente o abordara. Pisa nao lhe pareceu nada de especial em particular porem achou deslumbrante a Torre que era o simblo local.

Ja em Lisboa Ze Manuel estava cada vez mais palido e a mesma nao tinha coragem de o confrontar, exigir saber o segredo que o mesmo escondia, uma coisa ela ja tinha a certeza Ze Manuel estava doente.

O internamento foi tardio ele tentou esconder tudo ate ao ultimo momento e  a ultima hora mas desde a algum tempo que sofria de uma doenca incuravel, pediu-a em casamento quando teve a certeza dada pelos medicos que o seu tumor era maligno e que a fase terminal se aproximava. Resistiu o mais que pode e Cristiana durante meses nao se apercebera de nada.

O funeral realizara-se e Cristiana chegara agora a casa triste, frustrada e sobretudo viuva. Sem duvida a doenca e o estado de saude era o segredo que Ze Manuel lhe escondera especial nos tres meses que estiveram casados. Ganhara coragem e ia finalmente ler o diario dele.

Sabado, 23 de Maio de 2015.

"Sinto que a saude me falha cada vez mais nao ha nada a fazer e a doenca me consome e em breve vou deixar esta vida, este mundo.

Sinto que tomei a decisao certa e a Cristiana nao podia ficar com uma mao a frente e outra atras o casamento era a decisao mais segura para assegurar tudo isso.

Cristiana como vai ficar ela sem mim? Vai sentir a minha falta? Meu Deus como pude ter sido tao infiel a ela mas estou arrependido e sei que ela me vai perdoar tudo".

Era assim que ele terminava o seu diario aquele era o texto escrito da ultima pagina. Cristiana lera aquilo com as lagrimas nos olhos. Sim perdoara o seu falecido marido sempre  perdoara com nao o iria perdoar agora depois da morte.

Ela ficara dona e senhora de uma fortuna incalculavel mas sentia que nao era isso que fazia a diferenca ia ama-lo se ele a tivesse deixado sem nada. Ele Ze Manuel era o homem que ela amara e dava toda aquela fortuna que ele lhe deixara para o ter ali de novo, sentia vontade de gritar a cada instante.

- Amo-te Ze Manuel.

A vida era injusta, cruel pensava ela enquanto olhava umas das fotos de Veneza. Como e que ele conseguira representar tao bem? Mostrara que tudo nele estava bem quando afinal estava tudo mal. Concentrara-se no relatorio que tinha no cimo da secretaria naquela manha e pensara que no fundo o dinheiro nao comprava a felicidade e que a vida era uma merda.

                                                                                                          Manuel Goncalves

2 comentários:

  1. Uma história bonita e triste ao mesmo tempo. Vejo que a morte está muito presente nas últimas crónicas. Será isso tristeza? É preciso coragem, coragem e mais coragem! Vamos pensar que a vida é bela :)

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  2. Nao e tanto por tristeza. Caroline trouxe mais um final com morte nao para as cronicas mas para os contos breves porque apos aquele conto, O pai do meu filho e A filha do carteiro foram os que tiveram melhor aceitacao no facebook.

    E sem duvida curioso e nem queria acreditar ao lembrar-me que na serie americano de televisao Dallas quando morre o Bob as audiencias desceram de tal maneira que os argumentistas tiveram que arranjar maneira de o ressuscitar, inacreditavel.

    Por isso decidim mudar um pouco e nao terminar sempre de forma colorida do genero o amor e uma cabana.

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