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sábado, 9 de abril de 2016

Um Amor, Uma Guitarra Portuguesa e um Fado



A voz era inacreditavelmente bela mas aquilo que mais a marcara, mais lhe agradara era o som daquela guitarra diferente dos outros que sempre ouvira, cristalino e marcante, contaram-lhe mais tarde que o segredo do sucesso da Guitarra Portuguesa era mesmo esse som marcante que a tornara popular nos quatro cantos do mundo. O ambiente e a simpatia de quem estava a sua volta eram tambem marcantes mas era sem duvida a sonoridade daquele instrumento que a estava a apaixonar e nao deixara de reparar no jovem que a manobrava com uma pericia incrivel.

Esquecera por completo a tristeza que a levara ate ali, chegara a Lisboa para fugir de tudo e de todos ao conversar com um Guia Turistico do hotel ao falar-lhe que queria ouvir um som tao triste como a tristeza que trazia consigo o mesmo sugerira aquela casa de fados e ela ali estava, conseguira por momentos esquecer tudo e apenas concentrar-se em tudo o que ouvia e ia pairando no ar somente as pausas dos artistas e as palmas dos aplausos a iam por vezes trazendo a realidade da vida.

Marie Stewart era uma escocesa dos seus quarenta anos recentemente viuva de um homem vinte anos mais velho e que infelizmente ela so soubera o quanto o amava e a falta que o mesmo lhe fazia depois do mesmo falecer. De que lhe adiantava a fortuna que o mesmo lhe deixara, dinheiro, joias, accoes na bolsa e ate um palacete nas terras altas da Escocia se o mesmo ja nao estava ali para a acarinhar, lhe mostrar o seu amor como tantas vezes fizera em vida.

Marie amava o marido e sempre o amara aquele sentimento primeiro quase filial e paternal tornara-se em amor, amor de verdade e nao algo de interesse como tantos o haviam dito ao longo da vida sobretudo quando haviam assumido a relacao e comecado a viver o seu amor. Marie provara ao longo das duas decadas que estivera casada com aquele que era considerado o Rei do whisky na Escocia que casara por amor e nao por interesse mas poucos acreditavam nisso no principio afinal antes de cair nos amores de Charles Stewart ela Marie nao era ninguem para alem de ser a sua Cozinheira e comecara por conquista-lo talvez pelo estomago considerava o falecido e ironicamente as vezes brincava com o assunto.

Ambiente familiar aquela casa era quase centenaria e fora desde sempre gerida por uma familia de artistas ligados ao Fado, sorrisos simpaticos que Marie jamais esquecera e mais uma vez perdera-se a olhar para o jovem da Guitarra Portuguesa.

Ele era Carlos o mais jovem elemento da familia Paredes e era a certeza de mais uma geracao de artistas na familia ligados ao Fado. Carlos de inicio lamentara nao ter voz, voz para cantar como o seu pai mas nao se deixara ir abaixo por isso como nascera praticamente com uma Guitarra Portuguesa nas maos, o talento e a pericia nao lhe faltava ali estava ele a tocar na sua noite de estreia oficial.

Marie nao quis acreditar quando notou que no fim da actuacao com tanta gente na sala e ali a volta os olhos do jovem tambem nao se desviavam de si, sorriram um para o outro timidamente ela como que a querer-lhe dar os parabens e ele como a querer agradecer-lhe o elogio.

Carlos estava ali porque queria vingar o seu nome naquele meio mas queria mostrar que o fazia por merito proprio e nao apenas a custa do bom nome da sua familia. A sua atitude era um orgulho para a familia queria gravar um disco a solo e para isso andava a tentar por todos os meios faze-lo a vitoria no concurso e festival a nivel nacional para jovens guitarristas de Guitarra Portuguesa abria-lhe as portas de par-em-par mas para isso tinha que se aplicar e ensaiar imenso a nova geracao de artistas tinha trazido uma boa quantidade de novos talentos. Carlos tinha tambem o sonho de ter uma das melhores guitarras portuguesas e isso nao era nada barato cerca ou ate mais de cinco mil euros era o preco de uma das melhores guitarras portuguesas que habitualmente so mesmo os profissionais possuiam. Recusava a ideia dos pais lhe oferecerem uma queria consegui-la por merito proprio e para isso estava ali a trabalhar e todo o dinheiro que ganhava e conseguia juntar era para isso mesmo, era assim quase a um ano.

Como por magia estavam agora a conversar embora o portugues dela nao fosse o melhor ele falava ingles correctamente. O que poderia ele ver numa mulher vinte e cinco anos mais velha pensava Marie Stewart. Ele era um rapaz com uma maturidade muito alem dos das sua idade, tinha um enome sentido de responsabilidade e sobretudo sentido de independencia mostrava-o claramente ao querer conquistar tudo por merito proprio e recusar a ajuda financeira dos seus pais assim como aproveitar o nome da familia para subir na vida. Carlos, Paredes Carlos Paredes como se apresentara a mesma bem ao estilo de James Bond, Bond James Bond era tambem bonito e charmoso alem de ter uma conversa que deixava qualquer mulher impressionada pela positiva. O que poderia ver ele nela pensara a mesma.

Fosse o que fosse que ele visse nela a verdade e que nao ficaram por ali nos dias seguintes Carlos se tornara um verdadeiro Guia Turistico da escocesa e a muito custo aceitava que ela lhe desse algum dinheiro por isso mas ela insistia sempre para alem dos familiares era a unica que sabia do seu sonho de comprar aquela Guitarra Portuguesa que ele lhe mostrara quando foram dar um passeio e passaram numa loja com aquelas guitarras que maravilhavam o som triste e melancolico do Fado. Ela tinha algo em mente mas nao o queria revelar para ja. Nao o podia fazer sabia que ele por orgulho o iria recusar.

Carlos ia passando na loja nao podia pedir que lhe guardassem o ultimo modelo daquela guitarra com a qual ele chegava a sonhar porque a mesma nao podia ser mantida ali a sua espera o Dono da loja nao podia esperar se aparecesse um comprador interessado vendia, era muito dinheiro em jogo cinco mil euros uma guitarra daquelas nao se vendia assim as boas e so mesmo os profissionais e que a queriam possuir. Chegara a loja para de novo ver a sua paixao mas ja nao estava la. Nao lhe souberam dizer quem a comprara e nem quando haveria mais alguma disponivel na loja era algo dificil de acontecer devido ao preco e a dificuldade em se arranjar ou aparecer um interessado em comprar uma.

Carlos saiu dali estava na zona do castelo subiu por ai acima com as lagrimas caindo-lhe do rosto tinha sido a coisa que ele mais havia querido na vida e de nada de adiantara as poupancas, os sacrificios e esforcos e tudo por uma questao de orgulho o pai varias vezes se oferecera para lhe comprar a mesma preciosidade que pela forma como estava feita, a marca e tudo o resto podia ser mesmo vista quase como um Violino Stradivarius o sonho de qualquer Violinista.

Ja nao havia muitas guitarras daquelas no mercado o Guitarreiro que as fazia havia falecido e nao ensinara a ninguem o metodo unico de fazer guitarras, era um segredo que optara por levar para a cova. Ninguem sabia qual era o seu segredo e muito menos fazer algo semelhante. O som era unico, mais forte que o das outras guitarras e por isso entoava mais facilmente nos ouvidos de quem ouvia tocar. Era melhor esquecer o assunto, ja passara, poderia ser bem pior se tivesse perdido algum familiar mas reconhecia que sem um guitarra daquelas seria quase impossivel ganhar o festival em que o premio principal lhe dava a oportunidade de gravar um disco a solo. Lamentava tudo o que acontecera ate porque estivera quase a conseguir o que queria com o dinheiro que ganhava na Casa de Fados, as gorjetas, o que ganhava fazendo de Guia Turistico aos estrangeiros, e o que lhe haviam dado no Natal e iriam dar no seu aniversario que estava quase a chegar certamente iria juntar o suficiente para realizar o que ate a pouco tinha em mente.

O seu aniversario chegara todos sabiam a tristeza que o mesmo sentia pelo que acontecera mas iriam tentar anima-lo com uma enorme festa surpresa que iria ser na Casa de Fados da familia a ideia desde o inicio fora fazer uma festa enorme mas sem muitos convidados apenas a familia, amigos mais chegados e clientes mais habituais e sem duvida que aquela pessoa que mais conseguira animar Carlos tinha que estar presente, nao podiam deixar de convidar Marie Stewart embora de facto nao gostassem da ideia de Carlos estar cada vez mais ligado e envolvido com a escocesa. Ela era rica mas eles tambem nao eram nenhuns miseraveis, ela tinha dinheiro para comprar aquela casa mas isso pouco importava, eles nao tinham intencao e nem necessidade de vende-la o problema ali e que nao viam com bons olhos o envolvimento de Carlos com uma mulher que era mais velha mais de vinte anos,

Marie Stewart chegara sorridente cumprimentara a todos calorosamente, era de facto muito simpatica e comecara a ganhar alguns pontos a conta da sua simplicidade e humilde. A escocesa ficara sentada na mesa ao lado de Carlos e ja a meio da festa quando ja tinha corrido uma boa quantidade de vinho e sangria havia ja quem achasse que eles os dois ate faziam um casal perfeito, Marie parecia ter tudo menos vinte e cinco anos a mais do que o aniversariante.

Carlos levantou-se pegou na guitarra e comecou a tocar afirmou que depois de tanta simpatia e um presente como aquele que ela lhe oferecera Marie Stewart merecia que lhe fosse oferecida uma serenata, sorrira novamente ao olhar para o novo para o casaco que ela lhe oferecera e que era ideal para usar em noites de espectaculo. Pela primeira vez Carlos sentiu desejo ou talvez ate paixao pela escocesa, nao importava a diferenca de idade queria conquistar Marie Stewart.

Marie Stewart sentia o interesse do jovem por si, alegrava-lhe as suas investidas indescretas e a gota de agua foi ali na sala do restaurante a mensagem que ele lhe mandou, eles estavam a fazer esse jogo de cumplicidade trocando mensagens provocantes, em parte porque o vinho e a sangria ja tinha corrido em boa dose e do Bacalhau Assado no Forno. Ela enviou-lhe uma mensagem oferecendo-se para ser a sobremesa dele e como resposta ele respondeu-lhe que nao se importaria mesmo nada.

Tinham que arranjar uma maneira, uma forma de sairem dali sem dar nas vistas e voarem para o quarto do hotel onde Marie estava hospedada. A coisa estava complicada ja que ele era o aniversariante e era o centro das atencoes seria uma indelicadeza abandonar o restaurante com alguns dos convidados ali presentes.

Aos poucos comecaram a partir e so restavam algumas pessoas de familia e empregados Carlos pediu desculpa e retirou-se, alegadamente estava a precisar de ar fresco estava a sentir-se maldisposto desculpa em que todos acreditaram para quem tinha bebido tanto ja era de esperar. A partida de Marie Stewart tambem nao surpreendeu ninguem, ela estava ali por causa de Carlos a sua partida levou a que todos acreditassem que ela sentia que ja nao estava ali a fazer nada de qualquer modo tambem era hora da mesma voltar ao hotel.

Carlos esperou Marie Stewart sair e correu ao seu encontro por telepatia tinham como que combinado tudo, abracaram-se, beijaram-se. Sentiam ambos o desejo de terem seus corpos possuidos mas nao podia ser ali no meio da rua embora vontade nao lhes faltasse.

No quarto do hotel fora a desforra total, a vinganca de todo o tempo que tinham perdido e em que haviam sido guiados pelas regras e conceitos de uma sociedade que nao via bem uma relacao entre duas pessoas com vinte e cinco anos de diferenca. Nao houve espaco no quarto onde nao tivessem feito amor, nada mais importava e quanto a sociedade bem podia falar e criticar a vida era deles, o resto pouco importava de uma forma ou de outra Carlos sabia que a familia iria acabar por aceitar a relacao com Marie Stewart.

Carlos regressara a casa e tivera a maior surpresa da sua vida quando chegara ao seu quarto. Aquela Guitarra Portuguesa que ele tanto desejara e que nao estava mais a venda na loja onde ele a encontrara estava pousada num estojo proprio para guitarras sobre a sua cama. Quem, quem poderia ter feito aquilo?, Quem poderia ter-lhe querido fazer uma surpresa tao boa? Carlos estava entre a alegria e a surpresa e tambem entre o desalento. Tinha querido de facto ter uma guitarra daquelas mas a custa do seu trabalho, por merito proprio e agora tinha-a ali o que ele mais tinha desejado na vida mas de outra forma. Era melhor por o orgulho de parte, agora so se importava em querer saber quem o lhe oferecera tal coisa. Quem teria gasto cinco mil euros com ele?

Em casa ninguem lhe sabia dizer ao certo o que se passara. A guitarra tinha chegado pelo correio numa encomenda e sem remetente, era quase impossivel descobrir-se quem foi ate o nome e a morada do destinario havia sido escrita num computador imprimida e de seguida recortada e colada na caixa da encomenda. Fosse quem fosse queria o anonimato absoluto!

Mais uma vez Carlos tocou, abracou aquela guitarra quase unica pelo modelo e pelo design desde sempre aquele tampo decorativo com imagens semelhantes a azulejos era de facto quase unico e irreal. No imaginario de Carlos poderiam ter sido varias pessoas, os pais, os avos, algum outro familiar mas poucos sem ser os seus pais e avos poderiam dar-se ao luxo de lhe comprar uma coisa daquelas, no seu imaginario ia pensando e apagando as hipoteses porem para la do imaginario havia seu coracao que lhe dizia que quem tinha comprado e lhe oferecido a guitarra tinha sido Marie Stewart.

O nervosismo aproximava-se a relacao com a escocesa era algo quase assumido e que para surpresa sua estava a ser bem aceite pelos pais e a mesma chegara a ser mesmo convidada para festas da familia no restaurante e sempre fora bem tratada e respeitada. O que agora deixava Carlos nervoso e sem tempo ou vontade de pensar em mais nada era o tal festival em que o vencedor poderia gravar um disco a solo. Ele queria ao menos passar a fase final isso dar-lhe-ia ja um premio em dinheiro com o qual teria finalmente condicoes de confrontar Marie Stewart e dar-lhe o dinheiro da guitarra. Tinha a certeza que tinha sido ela e iria agradecer-lhe mas faze-la entender que tudo aquilo que ela fizera fora apenas um emprestimo.

Na noite do festival so a presenca de Marie o acalmara, Carlos entrou em palco e parecia que tinha como que mil dedos tudo lhe corria bem. Vestia o casaco que ela lhe havia oferecido semanas antes e o facto de a ver bem na fila da frente dava-lhe confianca. O silencio na sala era profundo, mais profundo que o habitual, a habilidade de Carlos a tocar aquela musica "Valsa" fizera o silencio na sala poderia nao garantir-lhe a vitoria mas ninguem mais lhe tirava a passagem a fase final. O Juri entendia que os dedos de Carlos tinham magia e nao era para menos aquele era o resultado de praticamente ter nascido com uma Guitarra Portuguesa nas maos e ter comecado a aprender a tocar guitarra ao mesmo tempo que comecava a aprender a ler e a escrever.

Foi algo ja esperado mas a loucura total quando o nome do mesmo fora anunciado para passar a fase final. Ele era dos guitarristas que tinha uma maior claque de apoio e como ali entre os concorrentes havia um enorme fair-play todos aplaudiram a sua chamada para a fase final do concurso que o festival organizava. Era assim mesmo um forte espirito competitivo e de amizade para aqueles que ficavam pelo caminho restava-lhes a esperanca de no ano seguinte conseguirem chegar mais longe e mais alem.

O jovem Guitarrista que comecava agora a tornar-se consagrado e a tornar-se conhecido do publico para alem daquele publico que ia a casa de fados e sentia que podia ser ate a conta da boa guitarra que tinha mas nai estava a consagrar-se a conta do nome da familia mas sim por merito proprio, salientou numa pequena entrevista a uma revista virada para o Fado. Carlos logo que teve tempo nao perdeu a oportunidade e convidou Marie Stewart para Jantar era altura de acertarem contas, agora ele ja tinha o dinheiro todo que precisava para pagar aquilo que ele considerava uma divida de um emprestimo.

Carlos no Jantar agradeceu mil vezes a escocesa que ainda tentou esconder a verdade mas acabou por confessar que tinha sido realmente ela a comprar a guitarra e a enviar-lhe a mesma anonimadamene por temer que a mesma fosse vendida antes dele ter o dinheiro para a comprar. Marie nao queria aceitar o cheque com o valor da guitarra de volta mas nao teve escolha, faria qualquer coisa para estar bem com aquele rapaz que ela tanto amava e a ajudara a esquecer a perda do falecido marido.

Marie Stewart nao sabia como explicar isso a Carlos mas ela nao podia ficar por muito mais tempo. Os negocios e a sua vida estavam na Escocia poderia ate voltar sempre que possivel ou que eles entendessem mas nao podia ficar por muito mais tempo. Entretanto tambem pensava vender os negocios na Escocia e comprar uma herdade no Ribatejo dedicar-se a criacao de cavalos lusitanos e a producao de vinhos. O clima na Escocia nao era nada bom para o seu reumatismo e alem do mais queria ficar em Portugal a viver para sempre, era tambem esse o sonho antigo do falecido Charles que nao conseguira realizar.

Carlos nao aceitava a ideia de ela o abandonar agora, naquele momento ou seja nos dias que se aproximavam precisava dela e queria-a junto dele pelo menos ate a noite da grande final do festival e do concurso. Marie compreendia o jovem mas uma reunioes de accionistas nas empresas impediam-na de ficar e talvez ate de assistir a ultima gala do festival. Discutiram, pela primeira discutiram e Marie Stewart abandonou o restaurante sozinho e bastante perturbada. Carlos tentara depois ligar-lhe sem exito e comecava a temer o pior mas era tarde no dia seguinte era outro dia e talvez o mesmo fosse o ideal para se arranjar uma solucao.

Acordara tarde, mais tarde do que o habitual a hora do Pequeno-Almoco ja era o melhor seria esperar pelo Almoco. Carlos sentia-se frustrado nao era nada daquilo que ele queria na noite anterior Marie podia nao estar presente fisicamente na noite da final do festival mas estava presente de outra maneira e alem do mais fora com a ajuda dela que se tornara mais facil para ele chegar ate ali. Ligara a televisao para ouvir as noticias actuais sentia-se um pouco a deriva se nao estivesse a par dos ultimos acontecimentos no mundo.

Marie Stewart a escocesa conhecida como a Rainha do Whisky depois de herdar o vasto patrimonio financeiro do marido sofrera um acidente de viacao numa avenida de Lisboa e encontrava-se no hospital em estado critico e delicado... Era a noticia que o Jornalista de servico que estava a apresentar o noticiario fazia o favor de dar.

Carlos que quis saber de mais nada e correu para o hospital que se lixasse o Almoco que se danasse ate tambem a final do festival enquanto Marie estivesse no hospital naquele estado ele nao sairia do seu lado.

O estado de Marie era critico e delicado. A escocesa encontrava-se em coma profundo e sofrera um traumatismo craniano, os medicos nao podiam adiantar muito mais mas tinham esperanca que as lesoes nao lhe viessem a provocar nenhuma paralisa cerebral ou fisica. Somente os exames que poderiam ser feitos apenas quando a mesma acordasse poderiam determinar a gravidade do seu estado clinico.

Carlos parecia um louco culpava-se a ele proprio por ter causado aquele transtorno em Marie, a culpa era dele, fora o seu mau humor e o facto de terem discutido que provocara o estado em que a mesma ficara. Como poderia ter deixado a mesma ir-se embora assim de qualquer maneira! Varias eram as pessoas que iam chegando ao hospital de onde Carlos insistia em nao partir e por onde quase toda a familia Paredes ja tinha passado para saberem noticias da escocesa e para darem uma forca a Carlos, ele bem que precisava.

Todos louvavam e elogiavam o facto de ser tao jovem e dar tanta importancia aqueles valores e ser tao insistente em permanecer junto daquela que todos sabiam ser a mulher que ele amava. Ja ninguem criticava nada, ja todos nao se importavam com nada, tinha todo o apoio afinal o importante era ser feliz. O amor nao escolhia idades e pensavam alguns de que a felicidade tambem nao.

Era chegado o dia do festival e onde se iria disputar a final para eleger o melhor Guitarrista do concurso. Carlos recebera um telefonema do seu Agente Artistico e simplesmente mandara o mesmo cancelar a sua presenca, ele nao iria sair dali, do hospital, ficaria junto de Marie Stewart, da mulher que ele amava. No ano seguinte tambem haveria outro concurso, um festival semelhante, no ano seguinte estaria mais experiente e tambem nao era por um ano que iria perder tudo na vida. O proprio Agente lhe dera razao, sobretudo por saber que o jovem recusava tudo por amor. Carlos por seu lado apenas pensava estar a fazer o que era certo, tinha a certeza disso. Ele chegara ali aquele ponto no festival tambem gracas a escocesa era altura de a recompensar por isso mesmo que isso lhe viesse a custar um ano na sua carreira profissional.

Fora do hospital eis que um caos se instalara em Lisboa. Depois de tantas ameacas e mais ameacas eis que chegara a hora que todos esperavam mas que ninguem a desejava. Acabara de haver tres atentados a bomba na capital um no aeroporto, um na Estacao de Santa Apolonia e outro junto da Assembleia da Republica. Se no aeroporto e na estacao de Santa Apolonia dois homens bomba se tinha feito explodir ja na Assembleia da Republica alguem fizera explodir um carro.

Era o caos ambulancias, policiais e bombeiros nunca se tinha visto nada igual e nisto mais um atentado junto da Embaixada dos Estados Unidos da America. A televisao cortara de imediato a grelha normal televisiva e estava a fazer os directos e seria todo o dia e noite.

Aquela mudanca na televisao fizera com que a final do festival fosse cancelada ja que a mesma era patricionada pela RTP e teria a transmissao da mesma em directo com aquela mudanca o canal de televisao tratou de cancelar o mesmo evento. Carlos pouco se preocupou com isso e correra para junto do Medico quando mais uma vez o vira sair do quarto de Marie.

A escocesa recuperara do estado de coma mas agora ia precisar de algum tempo para se ver qual era o verdadeiro estado da situacao so depois dos exames e que se poderia avaliar a situacao e o estado da escocesa. A muito custo o medico permitiu que Carlos lhe fizesse uma visita a amada. O jovem pediu-lhe perdao pelos seus erros e confessou que so agora sabia o quanto a amava, o quanto ela lhe fazia falta, amava-a, nao importava o resto, simplesmente amava-a e era com ela que ele queria passar o resto dos seus dias.

Marie Stewart sofrera uma paralisia dos membros inferiores temporaria, poderia ser uma situacao de algumas semanas ou poucos meses tudo iria depender da Fisioterapia e tambem do estado de forcas da mesma. Durante aquele tempo em que todos os dias ia a clinica fazer tratamentos, ginastica e tudo mais a escocesa nunca deixara de ter a companhia de Carlos ao seu lado e agora mais do que nunca estava decidida a ficar por Portugal para sempre. Os negocios, os negocios esses faziam-se em qualquer parte do mundo mas o amor, o verdadeiro amor, um homem que a amasse de verdade ela so o encontrava ali.

Carlos desistira de tudo naquele ano mas passado um ano la estava ele ja no estudio de gravacao a preparar-se para gravar um cd a solo de ineditos depois de ter vencido a final do concurso do festival daquele ano. Depois de dar os primeiros acordes na guitarra para comecar a gravar o primeiro tema nao pode deixar de olhar em frente e sorrir para a esposa Marie Stewart com quem se casara meses antes e a quem ja se notava a barriga da gravidez. Carlos ia tocando mas ao mesmo tempo nao deixava de pensar que nada lhe faltava na vida para ser feliz, era-o realmene de facto. Eis a razao de ter escolhido o nome de Felicidade para o seu primeiro cd gravado a solo.

                                                                                                                   Manuel Goncalves

















2 comentários:

  1. Uma história linda!.... e muito bem imaginada :) Amor e guitarras são coisas que casam muito bem :) Abraço ao autor

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  2. Obrigado pelos elogios Caroline, acredito que se fosses representante de alguma editora os meus contos ainda se tornavam um livro :) creio que o amor e as guitarras combinam e ate se casam mas depende do genero de guitarra e de musica creio no entanto que a Guitarra Portuguesa e o Fado tem um longo casamento eterno, uma uniao mais do que perfeita :) abraco Caroline.

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