Ja faz algum tempo que eu e a Historia de Portugal andamos um pouco afastados ou de costas viradas no entanto sao diversos os temas que um dia ainda gostaria de homenagear aqui no Blog escrevendo sobre os mesmos. A ultima vez que publiquei uma cronica sobre a Historia de Portugal foi no ano passado quando em 11 de Novembro publiquei a cronica A tragedia do Terramoto de Lisboa, 1 de Novembro de 1755.
Esta cronica faz-me pensar em algo. Como estaria Portugal se estivesse entregue a um regime monarquico? Nao sei, a unica certeza que tenho e que certamente nao estaria pior do que esta. Eu vivo quase a vinte anos num pais com Monarquia e o mesmo e considerado como aquele que mantem a Economia mais forte na Europa, Reino Unido e apenas um exemplo vejamos tambem a Suecia, Espanha e o Luxemburgo entre mais alguns paises na Europa que sao monarquicos ou onde os monarcas ainda tem muita forca politica num regime ja republicano. Nao estou a defender a Monarquia e nem a tornar-me Monarquico mas apenas realista. Portugal certamente se estivesse sobre um regime monarquico mais conservador nao teria entregue as colonias da forma como as entregou entre muitas outras coisas que poderiam ter sido bem diferentes se Dom Manuel II de Portugal (1889-1932) tivesse governado e dado continuidade a Monarquia em Portugal mas depois do Regicidio de 1 de Fevereiro de 1908 era visivel que isso seria praticamente impossivel.
Esta e a primeira cronica que escrevo sobre um Monarca portugues e tenciono escrever sobre outros a seu tempo escrevo sobre Dom Manuel II porque considero deveras importante o periodo do seu governo, sobretudo a parte final, Portugal deixava de ser uma Monarquia passando a tentar inicialmente tornar-se uma Republica com sucessivos governos que foram fracassando.
Dom Manuel II, de Portugal (Nome Completo: Manuel Maria Filipe Carlos Amelio Luis Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Eugenio de Braganca Orleaes Saboia e Saxe-Goburgo-Gotha) (Lisboa, Santa Maria de Belem, 15 de Novembro de 1889 - Twickenham, Londres, 2 de Julho de 1932) foi o trigesimo-quarto e ultimo Rei do Reino de Portugal. Dom Manuel II sucedeu ao seu pai, o Rei Dom Carlos I (1863-1908), nao era ele o herdeiro directo ao Trono do Reino de Portugal mas depois da morte do seu irmao mais velho o Principe Real Dom Luis Filipe (1887-1908) assassinado no mesmo atentado que seu pai a, 1 de Fevereiro de 1908, tornou-se unico descendente directo de Dom Carlos I e herdeiro do Trono. Antes da sua ascensao ao Trono, Dom Manuel foi Duque de Beja e Infante de Portugal.
Dom Manuel II, nasceu no Palacio Nacional de Belem, em Lisboa, cerca de um mes depois da subida de seu pai ao Trono do Reino de Portugal. Dom Manuel II foi baptizado alguns dias depois, no mesmo Palacio de Belem, teve como seu padrinho o avo materno, Luís Filipe Alberto de Orleaes (1838-1894) conhecido pelo seu titulo, Conde de Paris, tendo participado na cerimonia o antigo Imperador do Brasil, Pedro II (1825-1891), deposto do seu Trono exctamente no dia do seu nascimento. Dom Manuel II recebeu a nascenca os titulos reais de Infante de Portugal e de Duque de Beja.
Dom Manuel II teve o tratamento e a educacao tradicionais dos filhos dos monarcas da sua epoca, embora sem preocupacoes politicas, dado ser apenas o segundo filho do Rei Dom Carlos I e, como tal, nao esperar um dia vir a ser Rei. Como tal, e de notar que durante a infancia e a juventude posava para os fotografos com uma atitude mais altiva que o irmao mais velho, esse sim estaria a ser preparado para ser o futuro Monarca e sucessor do seu pai, o actual Rei. Dom Luis divertia-se com os tiques snobes do irmao mais novo, embora sempre tivessem sido bons amigos ate ao dia do regicidio que vitimou o irmao mais velho e o pai do futuro Rei. Paradoxalmente, depois de subir inesperadamente ao Trono, Dom Manuel II teve uma atitude oposta, afastando-se regularmente dos costumes protoculares: foi o primeiro Rei de Portugal a nao dar a mao a beijar aos dignitarios durante a cerimonia anual do Beija-Mao Real, a 1 de Janeiro.
Aos seis anos ja falava e escrevia frances. Estudou linguas, Historia e Musica (tendo como Professor Alexandre Jorge Maria Idalecio Raimundo Rey Colaco (1854-1928). Desde cedo demostrou a sua forte inclinacao pelos livros e pelo estudo, contrastando com seu irmao, Luis Filipe, mais dado a actividades fisicas. Viajou em 1903 com a mae Maria Amelia Luísa Helena de Orleaes (1865-1951), e o irmao ao Egipto, no iate real Amelia, aprofundando assim os seus conhecimentos das civilizacoes antigas. Ja em 1907 iniciou os seus estudos de preparacao para o seu ingresso na Escola Naval, preparando-se para seguir Carreira Militar na Marinha.
Em 4 de Setembro de 1913 ja afastado do Trono depois do Golpe de Estado Repulicano de 5 de Outubro de 1910 e ja no exilio com 24 anos casou-se com Augusta Vitoria Guilhermina Antonia Matilde Luisa Josefina Maria Isabel de Hohenzollern-Sigmaringen (1890-1966) uma Princesa do Condado/Principado do Imperio da Alemanha do Estado de Hohenzollern-Sigmaringen, sua prima ( por ser neta da Infanta Antonia Maria Fernanda Micaela Gabriela Rafaela Francisca de Assis Ana Gonzaga Silveria Julia Augusta de Saxe-Coburgo-Gota e Braganca (1845-1913) mais comhecida por Antonia de Portugal), e filha do Principe Guilherme de Hohenzollern-Sigmaringen (1864-1927) e da Princesa Maria Teresa de Bourbon (1867-1909). Durante a missa na manha do casamento, que teve lugar na Capela do Castelo de Sigmaringen na Alemanha, Dom Manuel II assistiu de pe, ostentando a Ordem Jarreteira (uma Ordem da Cavalaria Britanica) e o Grande Cordao da Banda das Tres Ordens (Insígnia privativa do Presidente da Republica Portuguesa), sobre um caixote cheio de terra portuguesa.
A cerimonia fora presidida por Jose Sebastiao de Almeida Neto (1841-1920), que na altura se encontrava exilado na cidade espanhola de Sevilha, e que ja havia baptizado o antigo Rei de Portugal Dom Manuel II, assistiram a cerimonia diversas personalidades das casas reais da epoca como o herdeiro do Trono Britanico Edward Albert Christian George Andrew Patrick David (1894-1972), Principe de Gales e futuro Rei Edward III, bem como representantes das casas reinantes ou reais da Espanha, Alemanha, Italia, Franca, Romenia e de varios principiados e reinos alemaes proximos. O casamento, uma uniao calma e serena, durou ate a morte subita do antigo Rei em 1932. O casamento e relacao foi algo aparentemente feliz, mas nao teve qualquer descendencia, algo que provocou grande descontentamento aos monarquicos portugueses que ainda restavam na epoca. Nunca se ouviram sequer falar em gravidezes de Augusta Vitoria, pelo o que se julga e supoe que os dois eram geneticamente incompativeis.
Em Dezembro de 1909, quando em visita a Paris, o jovem Monarca conheceu Gaby Deslys (1881-1920) uma famosa Actriz e Corista francesa. Entre os dois aparentemente parece ter nascido de imediato uma relacao que iria durar para alem do reinado de Dom Manuel II. Embora o relacionamento pudesse ter sido tratado de forma mais discreta (nas suas visitas a Portugal a Actriz chegava mesmo a pernoitar no Palacio das Necessidades), apesar disso o romance passou despercebido em Portugal. No estrangeiro, no entanto, era noticia da primeira pagina em muitos jornais pela Europa fora e nos Estados Unidos, principalmente depois da deposicao do Monarca portugues. Nas entrevistas a que estava sujeita por motivos profissionais durante durante as suas viagens, Gaby Deslys, embora nunca negando o obvio, sempre se recusou a fazer comentarios publicos sobre a sua relacao com o Rei de Portugal e depois com o Rei deposto.
Os dois continuaram-se a ver no exilio, dado que a Actriz actuava tambem nos palcos londrinos. No Verao de 1911 a Actriz aceita mudar de palco e atravessa o Atlantico indo para Nova Iorque, arrefecendo a relacao amorosa entre os dois a partir dai. A Actriz envolve-se com um colega de palco e Dom Manuel II casa-se em 1913, embora a Actriz ainda tivesse mantido contactos com o Secretario Particular do Rei, o Marques do Lavradio, Dom Jose Maria do Espirito Santo de Almeida Correia de Sa (1874-1945) que acompanhou o Rei ao exilio. Gaby Deslys acabou por vir a falecer em 11 de Fevereiro de 1920, na sua cidade natal, Marselha, vitima de Pneumonia quando contava apenas com 40 anos de idade.
A sua vida nao estava destinada para vir a reinar e muito menos para vir a exilar-se. A sua vida e destino estavam reservados a uma futura carreira no Exercito no ramo da Marinha e esperava Dom Manuel II uma carreira naval mas a mesma foi inesperadamente interrompida em 1 de Fevereiro de 1908, como Regicidio de 1908.
O entao apenas Infante tinha regressado a Lisboa antes de toda a restante Familia Real (depois de ter estado alguns dias no centro do Alentejo, Vila Vicosa, com toda a restante familia) para se preparar para os exames da Escola Naval, tendo ido no tragico dia esperar os pais e o irmao a Praca do Comercio (mais conhecido como Terreiro do Paco) na baixa lisboeta. Minutos depois deu-se o atentado que marcou com sangue a Historia de Portugal e que vitimou o Rei, o Principe Real, sendo tambem Dom Manuel II sido atingido no braco.
O jovem Infante de imediato se tornou Rei de Portugal. A sua primeira decisao consistiu em reunir o Conselho de Estado, a conselho do qual dimitiu o entao Primeiro-Ministro Joao Ferreira Franco Pinto Castelo Branco (1855-1929) cujo a sua politica de forca foi considerada uma das principais causas responsaveis pela tragedia. Dom Manuel II nomeou um governo de aclamacao partidaria, presidido pelo entao Almirante Francisco Joaquim Ferreira do Amaral (1844-1923). Este tipo de atitude acalmou os animos mas, em retrospectiva, acabou por enfraquecer a posicao monarquica pois foi vista como sendo uma fraqueza por parte dos republicanos.
Apos a tragedia e os animos acalmarem Dom Manuel II foi solenemente aclamado "Rei" na Assembleia de cortes em 6 de Maio de 1908, perante os deputados da Nacao, jurando cumprir a Carta Constitucional. O jovem Rei manteve-se fiel sempre a este juramento, cumprira o mesmo honrosamente, mesmo quando, ja no exilio, foi pressionado a apoiar outras formas de governo para uma possivel restauracao. O Monarca acabou por auferir, no inicio, uma simpatia generalizada devido a sua juventude de sua tenra idade (18 anos) e a forma tragica e sangrenta como alcancou o Trono. Foi entao sempre fortemente protegido pela sua mae, Dona Amelia, e procurou o apoio do experiente Presidente do Conselho de Ministros Jose Luciano de Castro Pereira Corte-Real (1834-1914).
Considerando e julgando que a intervencao directa na governacao pelo seu pai havia sido a causa principal para o desfecho tragico do reinado deste mesmo, Dom Manuel II absteve-se de intervir directamente nos assuntos do governo, seguindo a risca a maxima de que o Rei reina, mas nao governa. No entanto, sobre um aspecto se debrucou directamente o Rei, a Questao Social.
Por "Questao Social" compreende-se a preocupacao, por parte de alguns intelectuais e governantes, com a sorte do crescente proletario urbano criado ao longo do Seculo XIX com mudancas impostas na sociedade pela Revolucao Industrial. Em Portugal, dado o fraco nivel de industrializacao, essa foi uma questao que nao teve o mesmo peso que teve em outros paises, no entanto mesmo assim, o seu peso era exacerbado tanto pela crise economica do pais, como pela accao reivindicativa do Partido Republicano.
Existia um Partido Socialista desde 1875, mas nunca chegou a conseguir ter uma representacao parlamentar. Isso devia-se nao so ao fraco peso do operariado em Portugal e as divergencias internas de caracter doutrinario, mas sobretudo ao facto de o Partido Republicano concentrar em si, pela sua natureza mais radical, todos os descontentes. Dado que era teoria dos socialistas, ao contrario dos republicanos, que a questao do regime era algo secundario face a melhoria de condicoes de vida para a classe operaria e por conseguinte, estarem mesmo dispostos a colaborar com o regime, Dom Manuel II viria a tomar iniciativas de modo proprio. Pretendia com isso o ainda Rei, sem infringir os seus deveres constitucionais, incentivar o Partido Socialista de forma a que este retirasse apoios ao Partido Republicano, nomeadamente o apoio do proletariado urbano, dado que esse ultimo partido punha para depois da mudanca de regime quaisquer medidas sociais concretas.
Assim, logo em 1909 o Rei convida para vir a Portugal, a expensas suas, o Sociologo frances Leon Poinsard (1857-1917). Este percorreu o pais com a intencao de elaborar um extenso relatorio. Nesse documento defendia que para se combater os clientelismos derivados do rotativismo, se devia reorganizar o trabalho e as administracoes locais, em consequencia do qual a reforma politica viria naturalmente.
Entusiasmado, o Rei escreve, em Junho de 1909, ao entao Presidente do Conselho de Ministros, Venceslau de Sousa Pereira de Lima (1858-1919), pondo-o ao corrente da recente reorganizacao do Partido Socialista, entao unido sob a chefia de Alfredo Aquiles Monteverde, e lembrando-o da importancia de uma colaboracao do regime com os socialistas: "Desta maneira, vamos desviando o operariado do Partido Republicano e, orientando-o, o que vira a ser uma forca util e produtiva".
Apesar de contactos anteriores do Governo de Artur Alberto de Campos Henriques (1853-1922) com o Socialista Eudoxio Cesar Azedo Gneco (1849-1911), Venceslau de Lima considerou a accao dificil, dadas as dificuldades que surgiam com a realizacao do Congresso Nacional Operario, boicotado por anarquistas e republicanos com um congresso rival. Por seu lado, os socialistas entusiasmaram-se com o apoio real, iniciando-se uma temporada de correspondencia entre o Rei e Aquiles Monteverde. Este ultimo da conta ao Rei Dom Manuel II, em Outubro de 1909, da falencia do rival do Congresso Socialista, agradecendo-lhe o interesse pelos operarios. Apesar do apoio Real, e devido a instabilidade governativa, durante o ano de 1909 nao se tomaram medidas legais que mostrassem concretamente essa aproximacao aos socialistas, excepto nas portarias que de facto facilitaram e permitiram o trabalho de Poinsard.
Foi ja so no Governo de Antonio Teixeira de Sousa (1857-1917), em Julho de 1910, que o governo criou uma comissao com o objectivo de estudar o estabelecimento de um Instituto de Trabalho Nacional. Desta mesma comissao faziam parte tres socialistas, incluindo Azedo Gneco. No entanto Aquiles Monteverde queixava-se, que faltavam a comissao meios para ser eficaz, nomeadamente, que a comissao tivesse um caracter permanente e que os delegados socialistas tivessem acesso ilimitado aos transportes do proprio Estado para assim prosseguirem a vontade a sua tarefa de propaganda pelo pais. Sendo informado dos mesmos pedidos, o Rei passou a palavra para o governo que, atraves do Ministro das Obras Publicas, concordou com o estabelecimento de um Instituto de Trabalho Nacional. Estava-se ja em 1910 em finais de Setembro, e no inicio do mes seguinte, Outubro, ocorreria o Golpe de Estado do Partido Republicano, o que viria a por fim a tentativa do jovem Monarca de revitalizar um Partido Politico que nao se opusesse ao regime: de certa forma era ja isso mesmo que o seu pai o falecido Rei Dom Carlos I tentara fazer, mas por meios menos drasticos e mais demorados. Mas faltou-lhe tempo para o conseguir e nem lhe fora dada uma oportunidade para o conseguir.
A situacao politica entretanto tendia a degradar-se, tendo-se sucedido sete governos em cerca de apenas 24 meses. Os partidos monarquicos voltaram as costumeiras questiunculas e divisoes, fraquementando-se, enquanto o Partido Republicano continuava a ganhar terreno. As eleicoes legislativas de 28 de Agosto de 1910 fizeram aumentar o numero de deputados republicanos no parlamento para 14 deputados (9% de republicanos, contra 58% de apoio ao governo e 33% do bloco da oposicao), o que parece ter favorecido bastante a causa revolucionaria, embora ja tivesse sido anteriormente tomada a decisao de tomar o poder pela via revolucionaria, no Congresso de Setubal, de 24 a 25 de Abril de 1909.
Na verdade, a 4 de Outubro de 1910, comecou uma revolucao que se esperava ja desde o dia do Regicidio e no dia seguinte, a 5 de Outubro deu-se a Proclamacao da Republica em Lisboa. O Palacio das Necessidades, residencia oficial do Rei, foi mesmo bombardeado, pela mesma razao o Monarca tera sido aconselhado a dirigir-se para o Palacio Nacional de Mafra, onde sua mae, a Rainha, e a avo, a Rainha-Mae Maria Pia de Saboia (1847-1911) viriam a juntar-se ao mesmo. No dia seguinte, consumada a vitoria das forcas republicanas, Dom Manuel II decidiu-se a embarcar na Ericeira no Iate Real "Amelia" com destino ao Porto.
Os oficiais que estavam presentes a bordo terao demovido o antigo Monarca dessa intencao, ou raptaram-no simplesmente, levando-o para Gibraltar. A Familia Real desembarcou em Gilbraltar, tendo recebido logo a noticia de que o Porto aderirar a Republica. O Golpe de Estado estava terminado. A Familia Real Portuguesa seguiu dali para o Reino Unido, onde foi recebida pelo Rei George Frederick Ernest Albert (1865-1936) conhecido como George V.
Ja no Reino Unido e perante uma nova vida, cultura e sociedade Dom Manuel II fixou residencia em Fulwell Park, Twickenham, nos arredores de Londres, local e residencia para onde seguiram os seus bens particulares, e onde ja sua mae havia nascido, tambem no exilio. Ali sem magoas nem resentimentos procurou recriar sempre um ambiente portugues, a medida que fracassavam as tentativas de uma Restauracao Monarquica (em 1911, 1912 e 1919). Manteve-se sempre activo na comunidade frequentando a Igreja Catolica de Saint James, e sendo o padrinho de baptismo de varias dezenas de criancas. A sua passagem no lugar ainda hoje e visivel em toponimos como "Manuel Road", "Lisbon Avenue" ou o "Portugal Gardens".
Dom Manuel II mesmo exilado ficou ligado aos acontecimentos mais importantes que se passavam em Portugal e acompanhava os acontecimentos sobretudo politicos, continuou a seguir de perto a politica portuguesa, gozando ate de alguma influencia junto de alguns circulos politicos, nomeadamente das organizacoes monarquicas. O antigo e ultimo Monarca portugues preocupava-se que a Anarquia da Primeira Republica (1910-1926) provocasse uma eventual intervencao espanhola e o seu perigo para a independencia nacional.
Pelo menos um caso e conhecido em que a intervencao directa do antigo Rei teve o seu efeito. Depois do afastamento de Manuel de Oliveira Gomes da Costa (1863-1929) pelo General Antonio Oscar Fragoso Carmona (1869-1951), foi nomeado novo Embaixador de Portugal em Londres, substituindo o anteriormente designado. Dado a aparente instabilidade e rapida sucessao de embaixadores designados o Governo Britanico recusou-se a reconhecer as devidas e habituais credenciais do novo Enviado. Ora acontece que na mesma altura estava a ser negociada a liquidacao da divida economica e financeira de Portugal a Inglaterra, pelo que se so por si o assunto ja era importante devido as circunstancias era ainda de maior e grande importancia. Nessa conjuntura, o entao Ministro dos Negocios Estrangeiro agora nao do Reino de Portugal mas da Republica Portuguesa a Dom Manuel II ficou encantado com essa oportunidade para ajudar o seu pais e levou a cabo varios contactos (incluindo com provavelmente o seu grande amigo, o Rei George V), fosse o que Dom Manuel II tivesse feito e falado com quem tivesse falado o que e certo e que sentiram e viram de imediatamente os efeitos desejados na mesma questao.
Apesar de deposto e exilado, o antigo Monarca teve sempre um elevado grau de patriotismo, o que o levou, em 1915, a declarar no seu testamento a intencao de legar os seus bens pessoais ao Estado Portugues, para a fundacao de um Museu, manifestando igualmente tambem a sua vontade de depois da sua morte o corpo partir para Portugal e ai ser sepultado.
Durante o seu curto reinado Dom Manuel II visitou varias localidades do Norte do pais e visitou oficialmente a Espanha, assim como a Franca e a Inglaterra, onde foi nomeado Cavaleiro da prestigiada Ordem da Jarreteira, em Novembro de 1909. Recebeu igualmente as visitas de alguns chefes de estado tais como as de Afonso Leao Fernando Maria Jaime Isidro Pasqual Antonio (1886-1941) Rei Afonso XIII de Espanha, em 1909 e de Hermes Rodrigues da Fonseca (1855-1923), Presidente eleito do Brasil, em 1910.
Dom Manuel II procurou sempre seguir uma politica de aproximacao a Gra-Bretanha. Este imperativo era ditado nao so por uma orientacao Geo-Politica ja seguida pelo seu proprio falecido pai Rei Dom Carlos I, mas tambem como um recurso para fortalecer o Trono. Considerava-se que o casamento do Rei deposto com uma Princesa inglesa colocava definitivamente a Casa Real de Braganca sob a proteccao da Inglaterra. No entanto, a instabilidade do pais, o ainda recente regicidio e a forma lenta como andavam as investigacoes sobre este crime atrasaram completamente as negociacoes, ate que a morte do Rei britanico Albert Edward (1841-1910) que ficou conhecido como Edward VII, lhes pos fim. O velho Monarca, amigo pessoal de Dom Carlos I havia sido o grande protector da Casa Real de Braganca e, sem ele, o governo liberal britanico nao tinha especial interesse pela manutencao do Regime Monarquico em Portugal.
Sendo anglofilo, e admirador do espirito britanico, e admirador do espirito britanico, o antigo Monarca portugues defende a entrada de Portugal na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), uma participacao activa, instando os monarquicos a nao lutarem contra a Republica e a porem de lado as tentativas restauracionistas enquanto durasse o mesmo conflito de nivel mundial, e a unirem-se como verdadeiros portugueses em defesa da Patria, nao importando ideologias politicas, nao importando se eram monarquicos ou republicanos, chegando mesmo no exilio, a ter solicitado a sua propria incorporacao no Exercito Repulicano Portugues.
Mas ao contrario do que era esperado, a maioria dos monarquicos nao corresponde as expectativas, pois eram germanofilos, que esperavam que a vitoria do Kaiser se saldasse pela restauracao da Monarquia. O Rei ja por seu lado acreditava que so o apoio a Gra-Bretanha garantia a manutencao das colonias portuguesas, que se perderiam para a ambicao alema em caso de vitoria destes (o que naom veio a acontecer), quer Portugal fosse uma Republica ou Monarquia. Mas somente aqueles mais proximos e fieis ao Rei se ofereceram para lutar, embora a propria Republica nao tenha aceite os servicos de nenhum Monarquico.
O proprio Monarca se pos a disposicao dos aliados para servir como melhor pudesse. Ficou no entanto no inicio um pouco desapontado quando apenas o colocaram como Oficial da Cruz Vermelha Britanica, mas os esforcos que desenvolveu ao longo da guerra, participando em conferencias e recolhas de fundos, visitando hospitais e mesmo feridos nas frentes de combate, acabou por ser muito gratificante. As visitas a frente foram sempre dificultadas pelo governo frances, mas a amizade que tinha com George V era suficiente para desbloquear qualquer um desses entraves.
O seu visivel esforco nem sempre foi reconhecido. Anos mais tarde, em entrevista a Antonio Joaquim Tavares ferro (1895-1956), Escritor, Jornalista e Politico portugues que ficou mais conhecido como Antonio Ferro, Dom Manuel II lamentou-se, "A sala de operacoes do Hospital Portugues, em Paris, durante a guerra, foi montada por mim. Sabe o que puseram na placa da fundacao? 'De um portugues de Londres' ".
Ao Rei se deveu a criacao do Departamento Ortopedico do Hospitar de Sheperds Bush, que sobretudo por sua insistencia continuou a funcionar ate 1925, assistindo aos mutilados da guerra. Uma prova do reconhecimento dos ingleses para com Dom Manuel II e tambem para com Portugal foi o facto de Jorge V te-lo convidado a ocupar um lugar a seu lado na tribuna de honra do desfile da vitoria, em 1919.
Desde de 1911 que as forcas de monarquicos exilados se centravam em Espanha, na Galiza, com o beneplacito do governo espanhol, para entrarem em Portugal e restaurarem o Regime Monarquico novamente. As mesmas forcas eram lideradas pelo carismatico Militar Henrique Mitchell de Paiva Cabral Couceiro (1861-1944), um veterano das Campanhas de Africa e o unico Oficial que se havia batido com denodo pelo regime aquando do Golpe de Estado de 5 de Outubro de 1910, e pelo Jornalista e seu braco direito Alvaro da Silva Pinheiro Chagas (1872-1935). Acreditava o Paladino (assim desse modo o alcunhava a Imprensa Republicana primeiro) que bastava uma demostracao de forca para que sobretudo o Povo Rural se erguesse em apoio da Restauracao. Os acontecimentos no entanto demostraram que estava enganado, para alem de mal preparados e tambem mal financiados, a propria reaccao popular foi contraria ao esperado nao correspondendo de todo com o mesmo apoio a Restauracao da Monarquia embora a Republica demorasse a demostrar capacidades para governar, tendo a sua apatia e a defesa das forcas republicanas batido as incursoes de volta para a Galiza.
Dom Manuel II tinha certamente ainda esperanca de vir a reinar e tornar Portugal novamente num Reino e apoiou como pode as incursoes, embora os seus proprios recursos financeiros, sobretudo nos primeiros anos de exilio, fossem bastante limitados. Igualmente se deve acrescentar de que esta mesma Primeira Incursao ter sido feita sob a Bandeira azul e branca, mas sem a coroa, e foi precedida de um Manifesto de Paiva Couceiro que identificava o Movimento como neutro, e reclamando um Plesbiscito para decidir a forma de regime. Ora como Monarca Constitucional legalmente jurado, Dom Manuel II nao aceitava de forma alguma ser sujeito a um Referendo. Foi so apos a troca de correspondencia e aceite que a restauracao seria baseada na sua pessoa e na Carta Constitucional de 1826, que o Rei passou a apoiar os exilados da Galiza.
A Segunda Incursao ocorreu nao muito mais tarde da primeira, em 1912, e apesar de melhor preparada, nao encontrou um maior sucesso que a anterior. Isso deveu-se ao facto de que o Governo Espanhol, cedendo as pressoes diplomaticas, agora que a Republica ja gozava de um reconhecimento mais alargado, ter forcado os conjurados a escolherem, ou entratem em Portugal, ou serem desarmados. Apos o falhanco e retirado o Governo Espanhol desarmou os combates restantes, cuja a presenca na Galiza era, de resto, ilegal.
No entanto, e de notar que Dom Manuel II nunca teve ou fez fe na restauracao baseada na forca, e sempre defendeu que os monarquicos se deveriam organizar internamente para tentarem chegar ao poder legalmente, atraves do jogo eleitoral. Essa orientacao nao era acatada de bom grado pela maioria dos monarquicos, mais radicais nas suas accoes (logo Dom Manuel II comecava assim a ter o apoio de uma minoria mesmo entre os monarquicos), pelo que nos anos seguintes continuavam mal preparadas as tentativas restauracionistas (por exemplo, em 20 de Outubro de 1914), que no entender do Monarca apenas contribuiam para agravar a situacao Anarquica do pais. Essa preocupacao agravou-se com o comeco da Primeira Guerra Mundial. Dom Manuel II temia que a situacao do pais, combinada com a aproximacao da Espanha as potencias ocidentais, levasse a Inglaterra a substituir Portugal pelo seu vizinho como seu aliado, e que o proprio pais fosse o preco cobrado por Afonso XIII pela sua entrada na guerra.
Depois do fracasso da Primeira Incursao Monarquica, e perante o que parecia desinteresse pela parte de Dom Manuel II, ja que este nao confiava em movimentos baseados no uso da forca, ganharam vigor os apoiantes do Ramo Absolutista, que apoiavam os descendentes do ex-Infante Miguel Maria do Patrocinio Joao Carlos Francisco de Assis Xavier de Paula Pedro de Alcantara Antonio Rafael Gabriel Joaquim Jose Gonzaga Evaristo de Braganca e Bourbon (1802-1866) mais conhecido como Miguel I de Portugal, e que tinham partcipado no Movimento. Para contrariar isso, o Monarca tera entrado alegadamente em negociacoes directas com os representantes miguelistas. Pretendia-se entao que o pretendente Miguel Januario de Braganca (1853-1927) reconhecesse Dom Manuel II como Rei de Portugal e que, em troca, o Monarca reconhecesse a linhagem banida do ex-Infante Dom Miguel como segunda na linhagem de sucessao, restabelecendo-lhes direitos e conferindo a Cidadania Portuguesa aos pretendentes do Ramo Miguelista.
De acordo com uma noticia publicada na imprensa, falou-se da ocorrencia de um suposto encontro entre o Rei Dom Manuel e o pretendente Miguel Januario de Braganca, em Dover, no Sudeste de Inglaterra, Condado de Kent, a 30 de Janeiro de 1912, onde se teriam alegadamente trocado cartas protocolares. A veracidade desse encontro e os resultados efectivos sao ainda hoje bastante duvidosos. Argumentaram na altura os adversarios que o conteudo daquelas cartas nao correspondia ao que se tinha previamente acordado, tendo ficado o encontro por acordos quanto ao modo de accao na luta contra a republica, enquanto que no que toca a sucessao nenhum acordo efectivo teria sido levado a cabo. Alem disso, Dom Manuel II nao abdicou dos seus direitos legitimos como Rei. Por outro lado, e possivel que esta interpretacao tenha surgido apenas em consequencia de parcialidade por parte de alguns elementos constitucionalistas adversos ao acordo. Contudo, a situacao nao ficaria de todo resolvida, pois ainda houve uma posterior tentativa de entendimento no Pacto de Paris, mais de dez anos mais tarde em, 17 de Abril de 1922.
Depois do falhanco das incursoes monarquicas continuam amiude os levantamentos ocasionais, sem mais que repercussao local, e que o Monarca ate condenava, exortando os seus correlegionarios a organizarem-se e a fazerem propaganda, de forma que fosse possivel restaurar-se o Regime Monarquico nao pela forca mas sim pelo voto. Esta opcao mais uma vez pareceu viavel quando a ditadura do General Joaquim Pereira Pimenta de Castro (1846-1918), em Janeiro de 1915, quebrou momentaneamente o monopolio politico do entao Partido Democratico e, numa tentativa de captar as tentativas mais conservadoras, retirou as restricoes a liberdade de associacao que desde de 5 de Outubro de 1910 limitavam os monarquicos. Entre Abril e Maio de 1915 abriram-se 55 centros monarquicos (33 no Norte e 12 no Centro do pais <<o que indica que o sul nao era demasiado monarquico>>) , mas perante esta abertura cerrou fileiras todo o espectro republicano e em 14 de Maio de 1915 a revolucao saiu a rua. Foram 15000 civis armados que sairam a rua e tambem a Marinha que em revolta manietaram o exercito fiel ao governo e ao fim de tres dias de combates, 500 mortos e mais de 1000 feridos, o Partido Democratico estava de volta ao poder e os monarquicos igualmente de volta a ilegalidade.
A opcao de eleicoes e ida as urnas voltou a ter possibilidade com a subida ao poder do Militar, Professor e Politico Sidonio Bernardino Cardoso da Silva Pais (1872-1918). Apesar de ser claramente Republicano, tambem ele mesmo procurou apoios no sector mais conservador da sociedade, estabelecendo o sufragio universal. O assassinato do Presidente-Rei levou ao poder forcas republicanas bem mais moderadas, mas nao sem oposicao. O estabelecimento de juntas militares na provincia, algumas com tendencias monarquicas e em oposicao ao governo criaram novas esperancas e expectativas de que era possivel uma nova Restauracao Monarquica atraves de um novo Golpe Militar. Por essa altura a guerra ja tinha terminado , o que com a situacao Anarquica do pais dava forcas aos que argumentavam por um golpe.
Dom Manuel II, fora de Portugal e no exilio, continuava a pedir calma, embora nao pondo de parte a ideia de uma accao pela forca num futuro proximo, insistia que se esperasse pelo fim das negociacoes de paz em Paris. Temia ele que um aumento da Anarquia prejudicasse a posicao negocial do pais. Mas ja para Paiva Couceiro e para os integralistas era chegado o momento, bastava apenas a autorizacao real na pessoa do seu lugar-Tenente. Este, Aires de Ornelas e Vasconcelos (1866-1930), recebeu o memorando que pedia autorizacao para um movimento de caracter monarquico, e convencido de que de que nao se tratava de uma accao imediata, escreveu a margem "Go on. Palavras de El-Rei" e assinava.
A 19 de Janeiro de 1919, com um milhar de soldados e algumas pecas de Artilharia, Paiva Couceiro restaurava no Porto a Monarquia Constitucional, na pessoa de Dom Manuel II. Um Governo Provisorio foi entao estabelecido, aderindo o Minho, Tras-os-Montes (com excepcao de Chaves, Mirandela e Vila Real) e parte tambem do Distrito de Aveiro. Mas, ao contrario do que esperava Couceiro, o resto do pais nao se levantou. O poder republicano continuava firme em Lisboa, onde Aires de Ornelas fora completamente apanhado de surpresa, e mais nao pode fazer do que refugiar-se, com algumas centenas de monarquicos, no Regimento de Lanceiros 2, na Ajuda, em Belem, Lisboa. Aumentando o numero de refugiados que agora temiam represalias por parte dos republicanos, o Comandante do Regimento, que era Monarquico, fez retirar a guarnicao e os civis, marchando entao para Monsanto, que na epoca tinha pouca vegetacao. Ai se juntaram outras forcas monarquicas, entrincheirando-se com parte das forcas de Cavalaria 4, 7 e 9, alem da Bateria de Belem e do Regimento de Infantaria 30. Aires de Ornelas exitou entre obedecer ao Rei e ficar a margem, correndo o risco de os intregalistas passarem sua lealdade a Miguel Januario de Braganca, ou assumir a lideranca desse Movimento Monarquico conjunto. Num terreno pouco propicio para as armas de Cavalaria, e completamente cercado por forcas republicanas, os monarquicos acabaram por se render em 24 de Janeiro de 1919.
Com o completo fracasso e falhanco da restauracao no Centro e Sul do Pais, a sorte acabou por se virar contra Paiva Couceiro. Ja a 13 de Fevereiro, a parte da Guarda Nacional Republicana (GNR) que o havia apoiado inicialmente o traiu e desertou tendo mesmo reinstaurando a Republica no Porto. Entao os monarquicos que nao conseguiram fugir foram presos e condenados a pesadas penas. O Rei, no exilio como sempre pouco podia fazer, poucas informacoes recebeu e acabou por vir a saber do falhanco atraves dos proprios jornais da epoca que lhe iam chegando ao exilio. As forcas republicanas responsaveis pela vitoria na Escalada de Monsanto repuseram no poder a "Republica Velha", o que nao facilitava a vida aos monarquicos.
Nos meses seguintes, o Monarca Dom Manuel II moveu a sua influencia na Corte Britanica de modo a que tivesse lugar uma amnistia para os seus correlegionarios. Esta teve finalmente lugar em aquando o 3º aniversario da Batalha de La Lys (1918) em 1921. Alem do absoluto fracasso do movimento em si, com o qual nao concordara e nem fora consultado, Dom Manuel II ainda teve que se confrontar com as acusacoes de desinteresse em regressar ao pais e a desercao da parte dos activistas monarquicos.
A queda da Monarquia constitucional em Portugal teve como reaccao a criacao de um Movimento Monarquico de renovacao nacional que se distanciou das formas parlamentares cujos defeitos se consideraram como responsaveis pela queda do regime. Esse movimento, conhecido como Integralismo Lusitano (1914-1932), comecou por afirmar a sua lealdade a Dom Manuel II, entao ja no exilio.
No entanto, os proponentes do movimento nunca deixaram de salientar que a forma monarquica que pretendiam diferia da que fora derrubada em 1910. A Monarquia Tradicional que defendiam, das corporacoes e dos municipios, renegava as formas de representacao parlamentar assentes exclusivamente em partidos ideologicos. Essa atitude chocava contra os principios do Rei que, embora reconhecendo defeitos na constituicao vigente antes de 1910, nao se achava no direito de ditar ou defender quaisquer alteracoes, considerando-se preso por juramento a Carta constitucional. Quaisquer mudancas, defendia assim o Monarca, teriam que ser discutidas e implementadas pelas cortes gerais da nacao uma vez que fosse restabelecida a Monarquia.
A media que ia crescendo a forca das ideias integralistas entre as hostes monarquicas, aumentavam o tom das exigencias daqueles sobre o Monarca exilado. Dada a recusa de Dom Manuel de faltar ao seu juramento, aliada ao fracasso da Monarquia do Norte, e acusando o Monarca de falta de interesse na restauracao, a Junta de Integralismo Lusitano declarou-se desobrigada de lealdade para com o antigo Monarca em Outubro de 1919. Em Julho de 1920 representantes do movimento reunir-se-iam com representantes do ramo legitimista de que resultaria a transferencia de lealdades para o terceiro filho de Miguel de Braganca, o entao ainda menor Duarte Nuno de Braganca (1907-1976) pai do actual pretendente ao Trono de Portugal caso a Monarquia seja reposta, Duarte Pio de Braganca (1945).
Tendo em conta o afastamento dos integralistas, e mais ainda o facto de depois de quase uma decada de casamento o Rei Dom Manuel II e Dona Augusta Vitoria ainda nao terem filhos, os pretendentes do ramo miguelista terao alegadamente tentado uma nova aproximacao junto do Monarca exilado. O encontro entre ambas as partes interessadas teve lugar em 17 de Abril de 1922, em Paris, nao estando presente o Rei mas estando representado por Aires de Ornelas, e pelo lado dos miguelistas o Conde de Almada, a pedido de Aldegundes de Jesus Maria Francisca de Assis e de Paula Adelaide Eulalia Leopoldina Carolina Micaela Rafaela Gabriela Gonzaga Ines Isabel Avelina Ana Estanislau Sofia Bernardina de Braganca (1858-1946), mais conhecida como Aldegundes de Braganca, Condessa de Bardi, tutora do pretendente Duarte Nuno de Braganca.
Alegadamente concordou-se que, a faltar sucessor directo ao Rei Dom Manuel II de Portugal, se reconhecia que era aceite o sucessor indicado pelas Cortes Gerais da Nacao Portuguesa. Ambos os lados colaborariam, cessando assim actividades conflituosas.
Os monarquicos constitucionalistas ficaram satisfeitos, mas entre as hostes integralistas isso de facto parece nao ter acontecido. Devia-se o desagrado ao facto do acordo, como publicado, nao fazer referencia ao aspecto tradicionalista da monarquia a ser restaurada, algo em que a Junta do Integralismo considerava mesmo como sendo fundamental. Embora nessa altura, em 4 de Maio de 1922, tivesse sido retirado o apoio publico ao acordo, este ainda se manteve, se bem com uma utilidade limitada, dado o seu falhanco em unir as forcas monarquicas, ate que em Setembro de 1925 foi mesmo formalmente repudiado por Aldegundes de Braganca, em carta escrita ao Rei Dom Manuel II, alegando nao cumprimento pela outra parte, dado continuar a funcionar o jornal constitucionalista, enquanto o orgao integralista ja havia sido fechado, e nenhum legitimista ou integralista ter sido convidado para o Conselho Superior Monarquico. Terminava assim a ultima tentativa de reconciliacao entre os dois ramos da Dinastia de Braganca (1640-1910).
Dom Manuel II sempre se havia interessado profundamente pelos livros, e nos anos de exilio dedicou-se aos estudos e escreveu mesmo um tratado sobre Literatura Medieval e Renascentista em Portugal. Nos tempos a seguir a Grande Guerra, e com mais tempo livre, embora sem descurar os contactos com as organizacoes monarquicas, o Rei passou a dedicar-se mais aos estudos, seguindo assim uma tradicao que ja vinha do seu pai.
Inicialmente planeou fazer uma Biografia, assente em fontes primarias, sobre a vida de Dom Manuel I (1469-1521), que achava ter sido maltratado pelos historiadores recentes. Para isso contratou os servicos do Bibliofilo Maurice Ettinghausen em 1919, que viria a ficar encarregue de lhe encontrar os livros antigos de que o mesmo necessitava. Essa accao foi beneficiada pela dissolucao de varias bibliotecas privadas em Portugal depois da Implantacao da Republica. Tera sido o proprio Ettinghausen que lhe sugeriu que precedesse o seu estudo pela feitura de uma lista de todos os livros antigos da sua biblioteca.
Por volta de 1926 o objectivo do Investigador Real ja havia mudado e, abandonado ate a ideia da Biografia, concentrou-se entao na descricao dos livros antigos da sua biblioteca. Mais do que uma mera e simples lista, a mesma obra foi aproveitada pelo Autor para descrever as glorias passadas de Portugal, descrevendo cada obra nao so bibliograficamente mas aproveitando tambem para acompanha-lo com um ensaio sobre cada Autor e cada assunto do livro, inserindo-o no seu contexto historico. A sua interpretacao era fundamentada, com documentos e tambem rigor cientifico, e o mesmo resultado final so pode ser criticado pelo marcado amoe a sua patria, bem patente na leitura e que o levou a uma exaltacao dos valores ancestrais da Grei, ainda assim desculpaveis num exilado.
Sendo a mesma obra de um tema especifico, o numero de exemplares era de uma tiragem com numeros limitados e podendo somente ser obtido por subscricao. Estava ilustrado por facsimilis das obras tratadas e escrito em portugues e ingles. O Primeiro Volume da Obra "Livros Antigos Portuguezes" 1489-1600, da Bibliotheca da Sua Magestade Fidelissima Descriptos por S. M. El-Rey D. Manuel em Tres volumes foi entao publicado em 1929, tendo o proprio Dom Manuel II se deslocado ao Palacio de Windsor para entregar pessoalmente e em mao um exemplar ao amigo e Rei Dom George V, que havia sido o primeiro subscritor da obra. O volume debruca-se sobre dois manuscritos, cinco incunabulos e trinta e tres livros impressos em Portugal ate 1539.
A obra recebeu excelentes criticas dos especialistas na area e o rei meteu maos a obra e dedicou-se de imediato ao Segundo Volume, que dessa vez abrangia o periodo de 1540 a 1569. O trabalho foi estafante, mas, com excepcao das sobrecapas, estava terminado em 1932. O Rei viria a falecer inesperadamente pouco tempo depois, tendo o Terceito Volume sido publicado, sob a supervisao da sua Bibliotecaria, Miss Margery Withers (1905-1999), ja postumamente. Esse Volume ja so e apenas uma listagem de obras, sem os conhecidos ensaios que tanto haviam enriquecido os volumes anteriores, e que haviam dado ao Rei a merecida reputacao de Historiador e mais erudito dos reis portugueses. O seu busto esta hoje no atrio de entrada da Biblioteca Nacional em Lisboa.
Embora nenhum dos alegados pactos reais entre os dois ramos da Dinastia de Braganca tenha levado, como se viu, a um acordo definitivo para alem de qualquer duvida, e de notar que, ao longo de todo o exilio, o Rei Dom Manuel II nunca procurou se entender quer com o Ramo Brasileiro da Casa Orleaes-Branganca, quer tambem com a linhagem do Duque de Loule no que toca a sua propria sucessao. Apesar de todas as dificuldades criadas pelas diferentes inclinacoes politicas e pela mudanca de lealdade dos integralistas, o Rei jamais teve duvidas de onde estava a legitimidade.
Tendo isto em conta, alem do proprio peso do Movimento Integralista, aquando do falecimento subito do Monarca, o Movimento Causa Monarquica declarou-se, embora sem legitimidade para tal, como Cortes Gerais da Nacao e aclamou o pretendente Duarte Nuno de Braganca como alegado "Rei de Portugal". Para esse pretendente, primo ja muito afastado de Dom Manuel II e neto do ex-Infante Dom Miguel de Braganca tera sido passada a chefia da Casa Real Portuguesa, ao abrigo das pretensoes definidas pelos miguelistas.
Por seu lado, a alegada meia-irma do ultimo Monarca no Trono de Portugal, Dona Maria Pia de Saxe-Coburgo Gotha e Braganca (1907-1995), sempre contestou as pretensoes dos descendentes do Ramo Miguelista e, alegando a existencia de lacos familiares directos com o Rei Dom Manuel II com ela na qualidade de sua meia-irma sendo ela filha de uma relacao adultera do Rei Dom Carlos I e Maria Amelia Laredo e Murca (1883-1958), apesar de nunca nada se ter provado oficialmente, reivindicou-se como sendo legitima sucessora na chefia da Casa Real Portuguesa e por isso a herdeira dos bens da familia real.
Apos a morte de Dom Manuel II, o Governo de Antonio de Oliveira Salazar (1889-1970) instituiu a Fundacao Dom Manuel II com os bens pessoais do Monarca e a Fundacao da Casa de Braganca com os bens das extintas Casa de Braganca e Casa de Braganca-Saxe-Goburgo-Gota.
Dados pessoais de Dom Manuel II:
Nome: Manuel Maria Filipe Carlos Amelio Luis Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Eugenio de Braganca Orleaes Saboia e Saxe-Goburgo-Gotha.
Nascimento: Santa Maria de Belem, Lisboa, Reino de Portugal, 15 de Novembro de 1889.
Morte: Twickenham, Londres, 2 de Julho de 1932 (42 anos).
Sepultamento: Panteao Real da Dinastia de Braganca, Lisboa.
Pai: Dom Carlos I (1863-1908).
Mae: Dona Amelia de Orleaes (1865-1951).
Reinado: 1 de Fevereiro de 1908 - 5 de Outubro de 1910.
Coroacao: Lisboa, 6 de Maio de 1908.
Antecessor: Dom Carlos I.
Esposa: Augusta Vitoria Guilhermina Antonia Matilde Luisa Josefina Maria Isabel de Hohenzollern-Sigmaringen.
Herdeiro(a): Dom Afonso de Braganca (1865-1920) - (tio).
Sucessor(a): Republica.
Casa Real: Braganca-Saxe-Goburgo-Gota.
Dinastia: Braganca.
Titulo(s): O Patriota, O Desventurado.
Dom Manuel II faleceu inesperadamente na sua residencia, em 2 de Julho de 1932, sufocado por um Edema de Glote (uma reaccao alergica grave). O Governo Portugues, chefiado por Antonio de Oliveira Salazar, autorizou a sua sepultura em Lisboa, organizando mesmo um funeral com honras de Estado. Os seus restos mortais chegaram a Portugal, em 2 Agosto, sendo sepultados junto dos seus familiares e antepassados no Panteao Real da Dinastia de Braganca, no Mosteiro de Sao Vicente de Fora em Lisboa.
Titulos, Estilos e Honrarias:
. Titulos e Estilos:
. 15 de Novembro de 1889 - 1 de Fevereiro de 1908: Sua Alteza, O Serenissimo Infante Manuel de Portugal, Duque de Braganca.
. 1 de Fevereiro de 1908 - 5 de Outubro de 1910: Sua Majestade Fidelissima, El-Rei de Portugal e dos Algarves.
. 5 de Outubro de 1910 - 2 de Julho de 1932: Sua Majestade Fidelissima, El-Rei Dom Manuel II.
O Estilo Oficial de Dom Manuel II enquanto Rei de Portugal:
Pela Graca de Deus, Manuel II, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquem e d'Alem-Mar em Africa, Senhor da Guine e da Conquista, Navegacao e Comercio da Etiopia, Arabia, Persia e India, etc.
. Honrarias:
Enquanto Monarca de Portugal, Dom Manuel II foi Grao-Mestre das seguintes Ordens:
. Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo.
. Ordem de Sao Bento de Avis.
. Antiga, Nobilissima e Esclarecida Ordem de Sant'lago da Espada.
. Antiga e Muito Nobre Ordem da Torre e Espada.
. Real Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceicao de Vila Vicosa.
Passou a Historia com os cognomes O Patriota, pela preocupacao que os assuntos da Patria sempre lhe causaram; O Desventurado, em virtude da Revolucao que lhe retirou a Coroa; O Estudioso ou o Bibliofilo (devido ao seu amor pelos livros antigos e pela Literatura Portuguesa). Os monarquicos chamavam-lhe O Rei-Saudade, pela saudade que lhes deixou apos a abolicao da Monarquia.
Estilo Real de Tratamento de Dom Manuel II:
Estilo Real: Sua Majestade Fidelissima.
Tratamento Directo: Vossa Majestade Fidelissima.
Estilo Alternativo: Senhor.
Na televisao tambem ficou marcado a passagem de uma Serie Televisiva que demostrava em ficcao o que fora uma parte da vida de Dom Manuel II:
Televisao:
. O Dia do Regicidio. - Produzida pela RTP em 2008.
Caro(a) leitor(a) espero que este meu regresso a cronicas com o tema envolvente sendo a Historia de Portugal e embora nao muito frequente nao deixa de ser um dos meus preferidos de eleicao tenha sido do seu agrado. Podem perguntar porque falta aqui na mesma Cronica etiquetas como Golpes de Estado ou Revolucoes a resposta e simples primeiro pela falta de espaco devido ao mesmo ser limitado e segundo porque a intencao da Cronica nao era falar do Golpe de Estado, da Revolucao em si mas sim fazer uma Biografia do que foi a vida de Dom Manuel II e talvez pelo mesmo actualmente nao ser muito idolatrado mas permaneceu com Idolos na lista de etiquetas, penso que o mesmo nao seja actualmente um Idolo para esta geracao e talvez nem para as geracoes anteriores mas nao deixando de ser considerado um Grande Portugues eis a razao de ai permanecer essa etiqueta, penso que no fundo talvez acabe tudo por ser meros casos de Opniao Publica em que cada um pensa a sua maneira e por vezes um conjunto consegue fazer uma maioria. Ate a proxima, abraco.
Manuel Goncalves
Dizia um primo de meu pai, clérigo, que um filho ou filha de Francisco Rodrigues Araújo Coutinho casou com um neto ou neta de D.Carlos I, em Londres.
ResponderEliminarPode dizer-me algo sobre o assunto.
Caro leitor e amigo, desculpe a liberdade de o tratar assim mas a verdade e que eu vejo em casa leitor um amigo, vamos a factos.
EliminarO Rei Dom Carlos I teve dois filhos legitimos teve Dom Luis que foi vitima mortal no regicidio em que o alvo era o mesmo Dom Carlos I e teve Dom Manuel II que viria a ser o sucessor do pai. Tanto Dom Luis como Dom Manuel morreram sem herdeiros logo nao podiam oferecer um neto legitimo ao pai.
Dom Carlos alegadamente teve uma filha bastarda Maria Pia de Braganca pode ter sido que tal pessoa tenha casado com uma filha ou filha de Maria Pia de Braganca e mesmo assim o neto ate poderia der de Dom Carlos mas sempre bastardo.
Deixe-me lembra-lo que o herdeiro e pretendente ao trono de Portugal Dom Duarte Pio encontra-sse em 9 grau de parentesco com o ultimo Rei de Portugal e penso que nem sao da mesma linhagem visto Dom Duarte Pio ser descendente de um irmao ou tio de Dom Carlos I, nao creio que essa historia possa ser real mas atencao eu sou apenas um apaixonado pela historia, nao sou formado, nao sou nenhum leigo, aconselho-o se quiser analisar o caso a fazer uma arvore geneologica dos mesmos ou tentar consultar algum arquivo na Torre do Tombo em Lisboa.