Página

domingo, 14 de abril de 2019

Apaixonadamente Solitario



Ele tinha vencido, tinha conseguido dar a volta por todas as armadilhas a que estivera sujeito mas era um lutador ou um sobrevivente que lutara e defendera as suas causas, amava a vida, era feliz mesmo sozinho. Isso era o suficiente para o fazer sentir-se feliz, com a vida, com o mundo e consigo proprio.

Os vizinhos nada lhe tinham a apontar, nunca haviam tido razao para se queixar mesmo quando ele solitario como era se via envolvido em momentos menos solitarios e juntara alguma malta amiga do trabalho e de outros lados por onde passara ao longo da vida e onde conseguira fazer algumas amizades. Segundo ele podiam ser solitarios, estar bem sozinhos mas nao precisavam serem bichos para se recusarem a conviver fosse com quem quer que fosse.

Ele era um verdadeiro intelectual e via-se bem naquele papel de homem que sabe de tudo ou que de tudo sabe. Apesar de nao ser homem instruido e formado era senhor possuidor de uma Cultura e conhecimento invejavel. Era um homem de bom coracao, de muitas accoes como quem o conhecia um pouco sabia que ele era mesmo assim, tinha sempre poucas palavras para dizer mas o dom de as utilizar na hora certa.

Aquele olhar triste, aquele sorriso forcado todos sabiam que tudo aquilo so podia ter sido causado por males de amor, feridas que nao haviam sido curadas e que jamais em tempo algum... havim ficado cessadas, no entanto ele era um homem que nem era totalmente infeliz, aprendera a ser feliz ele com a solidado em que vivia, apaixonara-se pela mesma.

Apaixonadamente solitario era raro o fim-de-semana que estava em casa que os vizinhos nao o viam sair com a cana de pesca para ir pescar ali no rio perto de casa. Apaixonadamente solitario muitas vezes os vizinhos o viam sair com a sua mochila as costas contendo o material fotografico e ir ate ao parque natural tentar a sua sorte e ver se fazia uma foto suficientemente bela capaz de concorrer num dos concursos de fotografia de que tinha conhecimento.

Aquele era o resultado e culpa daquela falsa paixao e amor que alguem durante anos jurara sentir por ele. Ela destruira-lhe a vida, roubara-lhe a felicidade e fizera com que ele tivesse medo de voltar a amar, de voltar a sofrer, nao era so coisa de mulheres a historia de nao quererem entregar o coracao a alguem que os viria a fazer sofrer.

Quantas amigas nas redes sociais, que embora nao fossem muitas lhe tinham dito ja que dariam tudo para serem amadas, desejadas por um homem como ele, romantico, meigo, carinhoso mas que na hora H se tornava frio, distante e fugia de um possivel futuro relacionamento. Uma delas parecia ser uma verdadeira estrela de cinema e como ele nao estava no pais de origem, as viagens wm low-cost eram baratas, tendo ele feito o convite, viera ela ao pais onde ele estava imigrada ja a quase mais de 20 anos.

Ele optara por viver em outro pais nao so porque tinha melhores condicoes de vida mas porque achara melhor viver longe daquele amor e paixao de adolescencia que ele so conseguira mesmo viver em idade adulta e hoje pensava, talvez melhor nunca tivesse vivido. Pior do que nao ter amor, nao ser amado era quando o levavam nessa ilusao de que ele era loucamente amado e ela estava desesperadamente apaixonada poe ele.

Obrigara-o a ir uma segunda vez a Portugal, tal como fizera da primeira. Declarara-lhe que nao conseguia ficar mais um ano sem o ver, sem fazer amor com ele, e ele, atendera-lhe ao pedido, alias exigencia dela.

Nao estava preparado para tudo aquilo. Somente recebera praticamente desprezo e tivera que suportar todos os momentos e atitudes de frieza pela parte dela. Fora para isso que ela lhe pedira e por fim obrigara a ir a Portugal. Fora para o deixar isolado, escondido numa casa onde ele tinha alugado o quarto, onde ela somente o ia ver no maximo duas vezes por semana, a meio da tarde ou ao final da mesma.

Aquela forma como ela o tratara deixara-o de rastos e ele tomara uma decisao, uma importante decisao. Ele ja tinha 39 anos, nao tinha 17 como quando se apaixonara por ela e nao ia querer continuar aquela vida, nao ia querer continuar a viver aquele amor, tomara a decisao de desligar-se dela logo que chegasse de novo a casa e jurara nao mais cair nas palavras dela, nao mais atender aos seus pedidos e decidira deixa-la para sempre, afastar-se nem mais amigos seriam.

Ele para ela nao passara de um amante, fora o escape dela, a forma de obter o que o marido jamais lhe dera, nunca vira nele uma hipotese de um dia as coisas serem diferentes. Ela dera-lhe a esperanca de deixar o marido para ficar com ele sem que jamais isso lhe tivesse passado pelo cabeca, antes pelo contrario. Jura-lhe da ultima vez que so o iria abandonar se alguem a obrigasse a isso e agora ali no aeroporto estava-lhe a comunicar que decidira por ela propria terminar com tudo.

Os ultimos dias tinham sido os piores que ele se lembrara de ter tido, ela recusara-se sequer quase a que ele lhe beijasse, tocasse e muito menos viessem a fazer amor. Aquilo era uma ofensa para ele porque ela daquela forma demostrara que tinha nojo dele, a mulher que obrigara a ir a Portugal porque nao conseguia estar mais um ano sem o ver, sem fazer amor com ele, andara dias a evita-lo, a despreza-lo e agora aquela puta, aquela cabra abandonava-o.

Regressara um pouco aliviado ate e sentia que tinha sido melhor assim. Era para acabar, era para aacabar, antes agora que estar mais anos a manter uma ilusao. Jurara a si mesmo que dai para a frente ela teria dele o mesmo que se queixava sentir falta no marido, falta de amor, falta de afeto, falta de carinho, falta de atencao, para ela, ele e o marido agora seriam iguais.

Sentia-se ferido e magoado apesar de ter continuado a viver sentia que algo morrera e sabia bem o que era. Ele nunca mais teria vontade, coragem de amar uma mulher como a amara a ela. Sentia que isso era quase impossivel e poucas, muito poucas mulheres teriam sido tao amadas como ele a amara. Ele so nao podia ama-la acima da vida dele, nao ia morrer por ela. Sozinho mas bem aocmpanhado iria refazer a sua vida e nao mantivera mais conversa com semelhante pessoa.

Ela sabia que ele estivera gravemente doente e mesmo assim nao o poupara a mais um novo sofrimento, mais uma dor e mais uma vez o magoara como nunca se deveria magoar ninguem, pensara somente nela, egoista e cinica ainda por cima porque sentia que ainda estava cheia de razao, tudo bem a brincadeira ia-lhe sair bem cara. Sentia que ela continuava a mesma pessoa que muitos anos dela para salvar a sua pele, o seu estatuto de Doutora e nao ter problemas inclusive judiciais nao se preocupara nada de o prejudicar a ele, deixa-lo como lobo e ela como cordeiro quando a realidade era outra. Por culpa dela ele foi humilhado, pessoas deixaram de lhe falar e mais tarde ainda foi expulso da escola onde andava, por culpa dela. Ela nao mudara e jamais iria mudar.

Ele tivera uma recaida quando lhe morrera alguem muito querido e chegado no entanto todas as mensagens que ele lhe mandara ficaram sem resposta, sentia-se sozinho e infeliz mas suportara tudo isso. O desprezo e a ignorancia dela. Ja la iam quase tres anos e a ultima pessoa a correr com a outra tinha sido ele.

Agora que ele fazia anos aquela puta, nao lhe podia chamar mais nada, mandava-lhe um mensagem, uma simples mensagem de Feliz Aniversario, com que direito, com que direito ela vinha agora estragar-lhe um dia de alegria e felicidade, com que direito o fazia recuar no tempo e lembra-lo que coisas que ela lhe pedira para ele se esquecer.

Fora quase uma ordem que ela lhe dera na ultima conversa que tinham tido, "ve se me esqueces de uma vez por todas, nao estou para estar nesta situacao pondo em risco a continuidade da minha familia se o meu marido descobrir para manter uma relacao que ja sabemos nao nos vai levar a lugar nenhum, acabamos aqui". Foi este o resumo das palavras que ela lhe dizera no final da conversa que haviam tido. Fora ela que o forcara a estar ali aquele tempo todo e agora parecia culpa-lo.

Ele aceitara as coisas como ela quisera, nao a podia obrigar a nada diferente ate porque a escolha era dela. Considerara apenas que se ela tivesse deixado o marido para ficar com ele, deixado o marido nao os filhos era o minimo que podia fazer para o compensar por todo o sofrimento e dor que lhe causara tantas vezes no passado. Se o amor que ela dizia sentir por ele fosse verdadeiro e a paixao tambem fosse real era o que ela deveroa ter feito. Tudo o que ela lhe prometera e jurara jamais cumprira. Era o fim.

Sobreviveu e era esta a historia daquele homem que era um apaixonado solitario pelas coisas que gostava de fazer, fazer sempre com a solidao como companhia. Deus havia de fazer justica e faze-la pagar por todo o mal que ela lhe causara porque uma coisa era certa. Muitas vezes ele nao passara de uma vitima nas maos dela que se deixara manipular pelo amor que sentia nao so por ela mas por acreditar na palavra dela, nas promesas e juras dela, Deus havia-o de perdoar a ele porque o castigo que ele merecera ja o tivera com tudo o que sofrera com ela ao longo dos anos. Ela ainda haveria de chorar por ele, arrependida do que lhe fizera.

                                                                                                             Manuel Goncalves






Sem comentários:

Enviar um comentário