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domingo, 16 de novembro de 2014

Os Heteronimos de Pessoa, Fernando Pessoa

 

Na Literatura Portuguesa existe uma enorme riqueza de Escritores tanto romancistas como poetas ou ate nao desfazendo dos sehores tambem poetisas.

Porem mesmo dentro da enorme qualidade existem sempre alguns que conseguem obter maior destaque nos romances sem duvida esses notaveis sao Jose Maria de Eca de Queiros (1845-1900) mais conhecido por Eca de Queiroz e Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (1825-1890) e na poesia temos tambem dois nomes que se destacam dos restantes Luis Vaz de Camoes (C.? 1524-1580) muitos o tem apenas como Camoes e Fernando Antonio Nogueira Pessoa (1888-1935) que muitos chamam apenas de Pessoa ou Fernando Pessoa.

Esta cronica nao vai ser dedicada a nenhum destes homens da literatura mas ao trabalho de um deles ou seja de Pessoa, Fernando Pessoa e dos heteronimos de maior nome que ele criou ao longo da sua carreira, falar dos mesmos e fazer julgo eu uma analise da carreira do Poeta dai surgir a etiqueta Criticas e Analises na cronica.


Os heteronimos de Pessoa, Fernando Pessoa foram Ricardo Reis, Alvaro de Campos, Alberto Caeiro e o ou semi-heteronimo Bernardo Soares e  Alexander Search. No entanto antes de avancar para falar destes heteronimos do Poeta vou esclarecer algo para os menos informados, um heteronimo! Afinal o que e um heteronimo?

A Heteronimia (heteros = diferente; + onoma = nome) e o estudo dos heteronimos, isto e, estudo dos autores ficticios (ou pseudoautores) que possuem uma personalidade. Ao contrario dos pseudonimos, os heteronimos constituem uma personalidade. O criador do heteronimo e chamado de "Ortonimo".

Sendo assim, quando o Autor assume outras personalidades e como se fossem pessoas reais.

O maior e mais famoso exemplo da producao de heteronimos e do Poeta portugues Fernando Pessoa (1888-1935). Ele criou os heteronimos Ricardo Reis, Alvaro de Campos, Alberto Caeiro, entre muitos outros. Tambem criou o semi-heteronimo Bernardo Soares. Antes mesmo de Fernando Pessoa, o caso mais celebre de heteronimia foi o do escoces James Macpherson, Autor dos Cantos de Ossian.

Outros autores que usaram recurso de heteronimia foram: Brian O'Nolan, Kent Johnson, Romain Gary, Soren Kierkgaard e Stephen King, que criou o heteronimo Richard Bachman. Na literatura brasileira existem duas referencias de uso de heteronimos: Bruno Tolentino - com seu alter-ego Soror Katharina - e Raimundo de Moraes, que assina seus poemas atraves dos personagens Aymmar Rodriguez e Semiramis. Na Literatura Portuguesa existe ainda lugar para fazer referencia a Alvaro Cunhal, sim esse mesmo Politico que liderou o Partido Comunista Portugues (PCP) por muitos anos (1961-1992) e que escreveu varias obras com o pseudonimo ou seja heteronimo de Manuel Tiago.


Ricardo Reis (Porto,19 de Setembro de 1887- na sua biografia nao consta o ano de sua morte no entanto na obra de Jose Saramago, "O Ano da Morte de Ricardo Reis" situa a mesma em 1936) e um dos quatro heteronimos mais conhecidos de Fernando Pessoa, tendo sido imaginado de relance pelo Poeta em 1913 quando lhe veio a ideia escrever uns poemas de indole paga. Nasceu no Porto, estudou num Colegio de Jesuitas, formou-se em Medicina (profissao que nao exercia) e, por ser Monarquico, expatriou-se espontaneamente desde 1919, indo viver no Brasil. Era um Latinista por formacao classica e semi-helenista por autodidactismo. Na sua biografia nao consta dados acerca da sua morte, no entanto o Escritor Jose Saramago (1922-2010) faz uma intervencao sobre o mesmo assunto em seu livro de 1984 O Ano da Morte de Ricardo Reis, situando a morte do mesmo em 1936, portanto algures quando o mesmo tinha entre 49 a 50 anos de idade.

As suas primeiras obras foram publicadas em 1924, na revista Athena, fundada pelo proprio Fernando Pessoa. Mais tarde foram publicados oito odes, durante um periodo de tres anos entre 1927 e 1930, na revista Presenca, de Coimbra. Os restantes poemas e prosas sao de publicao postuma.


Reis era tambem Discipulo de Caeiro (outro dos heteronimos de Fernando Pessoa), admira a serenidade e a calma com que este encara a vida, por isso, inspirado pela clareza, pelo equilibrio e ordem do seu espirito classico grego-latino. procura atingir a paz e o equilibrio sem sofrer, atraves da autodisciplina e das seguintes doutrinas gregas: Epicurismo e Estoicismo.

O Epicurismo e uma doutrina baseada num ideal de sabedoria que "busca a tranquilidade" da alma atraves das seguintes regras:

. Temer a morte - Levando o Poeta ao Fatalismo, tendo a morte como a unica certeza na vida.
. Procurar os simples prazeres da vida em todos os sentidos, sem preocupacoes com o futuro (Carpe diem), mas sem excessos. - Deste modo aprende a viver cada instante como se fosse o ultimo; e faz da vida simples campestre um ideal (aurea mediocritas).
. Fugir a dor - Como defesa contra ao sofrimento, sobrepoe a razao sobre a emocao.

O Estoicismo e a doutrina que tem como ideal etico a "apatia" - ausencia de envolvimento emocional excessivo que permite a liberdade - , e que propoe as seguintes regras para alcancar a felicidade (relativa, pois nao pretende um estado de alegria mas sim um contentamento inconsciente):

. Dominar as paixoes - Suscita uma atitude de indiferenca ; Recusa o amor para evitar ter desilusoes, de modo a que nada perturbe a serenidade e a propria razao, e porque este e uma inutilidade e esta ja condenado, uma vez que tudo na vida tem um final.
. Aceitar a ordem universal das coisas, incluindo a morte - Revela a faceta conformista, considerando a vida como eferema, um fluir para a morte e essa consciencia nao lhe gera nem angustia nem revolta.

Porem Reis "admite a limitacao e a fatalidade desta condicao humana", e pretende chegar a morte de maos vazias de modo a nao ter nada a perder; e inspirado na Mitologia Classica, considera a vida como uma viagem cujo fluir e fim e inevitavel.


Poesia com muitas alusoes mitologicas, com uma lingua culta, limpa e precisa, sem qualquer espontaneidade. Estilo neoclassico influenciado pelo Poeta latino Horacio. Usa de um vocabulo curto e alatinado com principal recurso ao hiperbato. Emprego do gerundio e tambem do imperativo (ou  conjuntivo do valor imperativo) com caracter exortativo, ao servico do tom sentencioso e do caracter moralista presentes nos seus poemas.

Aspectos tematicos:

. Harmonia entre o Epicurismo e o Estoicismo.
. Autodisciplina, renunciando as fortes emocoes.
. Procura de Ataraxia.
. Renuncia da vida atraves da recusa do amor e da consciencia da inutilidade do esforco de mudanca.
. Elogio do Carpe diem.
. Elogio da vida campestre (aurea mediocritas).
. Fatalismo - o destino e a forca superior ao homem.
. Aceitacao calma do destino.
. Obsessao da efemeridade da vida.
. Consciencia da fugacidade do tempo.
. Aparente tranquilidade, na qual se reconhece a angustia existencial do "Ortonimo".
. Neopaganismo - os deuses tambem estao sujeitos ao Fado e alusoeos mitologicas.
. Intencao didactica dos seus versos.
. Elogio a carencia das ideias dogmaticas e filosoficas como meio de se manter puro e tranquilo.

Aspectos Formais:

. Uso de vocabulario erudito e preciso.
. Recurso a arcaismos.
. Formas estroficas e metricas de influencia classica - Ode.
. Influencia latina atraves da anastrofe e do hiperbato.
. Predominio da subordinacao.
. Uso frequente de adverbios de modo.
. Recurso ao gerundio.
. Uso do imperativo como manifestacao de atitude filosofica.
. Dialogo permanente com um "tu" - coloquialidade.

Poemas de algumas de suas obras:

Amo o que vejo.

Amo o que vejo porque deixarei
Qualquer dia de o ver.
Amo-o tambem porque e.

No placido intervalo em que me sinto,
Do amar, mais quer ser,
Amo o haver tudo e a mim.

Melhor me nao dariam, se voltassem,
Os primitivos deuses,
Que tambem, nada sabem.

Ricardo Reis, in "Odes" (Inedito).
Heteronimo de Fernando Pessoa.

Tema(s): Amor.

Estas so.

Estas so. Ninguem o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada 'speres que em ti ja nao exista,
Cada um consigo e triste.
Tens o sol se ha sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte e dada.

Ricardo Reis in "Odes".
Heteronimo de Fernado Pessoa.

Tema(s): Solidao.

Segue o Teu Destino.

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto e a sombra
De arvores alheias.

A realidade
Sempre e mais ou menos
Do que nos queremos.
So nos somos sempre
Iguais a nos-proprios.

Suave e viver so.
Grande nobre e sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Ve de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Esta alem dos deuses.

Mas serenemente
Imita o Olimpio
No teu coracao.
Os deuses sao deuses
Porque nao se pensam.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heteronimo de Fernando Pessoa.

Tema(s): Destino.

Obras publicadas:

Poemas:

Odes, Livro Primeiro:

1. Seguro assento na coluna firme.
2. As rosas amo dos jardins de Adonis.
3. O mar jaz; gemem em segredo os ventos.
4. Nao consentem os deuses mais que a vida.
5. Como se cada beijo.
6. O ritmo antigo que ha em pes descalcos.
7. Ponho na altiva mente o fixo esforco.
8. Quao breve tempo e a mais longa vida.
9. Corai-me de rosas.
10. Melhor destino que o de conhecer-se.
11. Temo, Lidia, o destino. Nada e certo.
12. A flor que es, nao a que das, eu quero.
13. Olho os campos, Neera.
14. De novo traz as aparentes novas.
15. Este, seu scasso campo ora lavrando.
16. Tuas, nao minhas, teco estas grinaldas.
17. Nao queiras, Lidia, edificar no spaco.
18. Saudoso ja deste verao que vejo.
19. Prazer, mas devagar.
20. Cuidas, invio, que cumpres, apertando.

Outros:

. A abelha que voando.
. A cada qual.
. Acima da verdade.
. Aguardo.
. Aqui, dizeis, na cova a que me abeiro.
. Aqui, Neera, longe.
. Aqui, neste miserrio desterro.
. Ao longe os montes tem neve ao sol.
. Aos Deuses.
. Antes de Nos.
. Anjos ou deuses, sempre nos tivemos.
. A palidez do dia.
. Atras nao torna.
. A nada imploram.
. Azuis os montes.
. Bocas roxas.
. Breve o dia.
. Cada coisa.
. Cada dia sem gozo nao foi teu.
. Cada um.
. Da lampada.
. Da nossa semelhanca.
. De Apolo.
. Deixemos, Lidia.
. Dia apos dia.
. Do que quero.
. Domina ou cala.
. Estas so. Ninguem o sabe.
. E tao suave.
. Feliz aquele.
. Felizes.
. Flores.
. Frutos.
. Gozo sonhado.
. Ingloria.
. Ja sobre a fronte.
. Lenta, descansa.
. Lidia.
. Mestre.
. Meu gesto.
. Nada fica.
. Nao a ti, Cristo, odeio ou te nao quero.
. Nao a ti, Cristo, odeio ou menosprezo.
. Nao canto.
. Nao quero as oferendas.
. Nao quero, Cloe, teu amor, que oprime.
. Nao quero recordar nem conhecer-me.
. Nao so vinho.
. Nao so quem nos odeia ou nos inveja.
. Nao sei de quem recordo  meu passado.
. Nao sei se e amor que tens, ou amor que finges.
. Nao tenhas.
. Nem da erva.
. Negue-me tudo a sorte, menos ve-la.
. Ninguem a outra ama, senao que ama.
. Ninguem, na vasta selva religiosa.
. No breve numero.
. No ciclo eterno.
. No magno dia.
. No mundo, so comigo, me deixaram.
. Nos altos ramos.
. Nunca.
. Ouvi contar que outrora.
. O que sentimos.
. Os deuses e os Messias.
. O Deus Pa.
. Os deuses.
. O sono e bom.
. O rastro breve.
. Para os deuses.
. Para ser grande, se inteiro: nada.
. Pesa o decreto.
. Pois que nada que dure, ou que, durando.
. Prefiro rosas.
. Quanta tristeza.
. Quando, Lidia.
. Quando facas, supremamente faze.
. Quem diz ao dia, dura! E a treva, acaba!
. Quer pouco.
. Quero dos deuses.
. Quero ignorando.
. Rasteja mole pelos campos ermos.
. Sabio.
. Se a cada coisa.
. Segue o teu destino.
. Se recordo.
. Severro narro.
. Sereno aguarda.
. Sim.
. So o ter.
. So esta liberdade.
. Sofro, Lidia.
. Solene passa.
. Sob a leve tutela.
. Subdito inutil.
. Tao cedo.
. Tao cedo passa tudo quanto passa!
. Tenue.
. Tirem-me os deuses.
. Tudo, desde ermos astros afastados.
. Tudo que cessa.
. Uma apos uma.
. Uns.
. Vem sentar-te comigo, Lidia.
. Vem sentar-te comigo, Lidia, a beira do rio.
. Vivem em nos inumeros.
. Vive sem horas.
. Vos que, crentes.
. Vossa formosa.

Sem duvida analisando e fazendo uma critica a obra do Poeta teve na fase do heteronimo de Ricardo Reis um dos momentos de maior riqueza da sua carreira note-se apenas nos tres poemas que escolhi de Ricardo Reis todos do mesmo livro "Odes" uma obra poetica de grande valor. Amor, solidao, destino entre outros sentimentos sao sempre figura marcante na obra literaria poetica do Autor e talvez seja um dos seus melhores livros.

Ricardo Reis era tambem um pouco a figura do proprio Fernando Pessoa com uma escrita de atitudes filosoficas e aparentemente de personalidade de um cavalheiro aristocratico ingles talvez tudo isso vindo da personalidade de Fernando Pessoa que nao deixou de passar tracos seus da sua personalidade, opnioes, talvez ate gostos pessoais e aparencia fisica para seus heteronimos.

         
Alberto Caeiro da Silva (Lisboa, 16 de Abril de 1889 ou Agosto de 1887 - Junho de 1915) foi uma personagem ficcional (heteronimo) criada pelo Poeta portugues Fernando Pessoa, sendo considerado o Mestre Ingenuo dos restantes heteronimos (Alvaro de Campos, Ricardo Reis) e semi-heteronimo Bernardo Soares e do seu proprio Autor, apesar de apenas ter feito a instrucao primaria.

Foi um Poeta, ligado a natureza, que despreza e repreende qualquer tipo de pensamento filosofico, afirmando ate que pensar obstrui a visao ("pensar e estar doente dos olhos"). Proclama-se assim um anti-metafisico. Afirma que, ao pensar, entramos num mundo complexo e problematico onde tudo e incerto e obscuro. Na superficie e facil de reconhece-lo sobretudo pela sua objectividade de visao, que faz lembrar Cesario Verde, citado muitas vezes nos poema de Caeiro por seu interesse pela natureza, pelo verso livre e pela linguagem simples e familiar. Apresenta-se como um normal e simples "guardador de rebanhos" (certamente Pastor) que so se importa em ver de forma objectiva e natural a realidade. E um Poeta de completa simplicidade, e considera que a sensacao e a unica realidade.


Caeiro segundo a cronologia mais divulgada, nasceu provavelmente em 16 de Abril de 1889 embora existam tambem afirmacoes de tenha nascido no mes de Agosto de dois anos antes em 1887, seu nascimento tera sido em Lisboa de qualquer forma independentemente da data. Orfao de pai e de mae, nao exerceu qualquer profissao e estudou apenas ate concluir o ensino primario e fazer a 4º classe como era habitual na gente mais pobre de sua epoca. Viveu grande parte da sua vida pobre e fragil no Ribatejo na quinta de sua tia-avo ja idosa, e tera sido ai que escreveu O Guardador de Rebanhos e depois ainda mais tarde O Pastor Amoroso. Voltou no final da sua curta e dificil vida para Lisboa, onde viria a escrever Os Poemas Inconjuntos, antes de morrer prematuramente jovem de Tuberculose, em Junho de 1915 mas em dia desconhecido, quando contava apenas vinte e seis anos de idade.

" Caeiro era de estatura media, e, embora realmente fragil (morreu tuberculoso), nao parecia tao fragil como era [...] Cara rapada [...] loiro sem cor , olhos azuis". - Fernando Pessoa.


. Ideologias:

. Mestre de outros heteronimos e do seu proprio criador Fernando Pessoa Ortonimo porque, ao contrario destes, consegue submeter o pensar ao sentir o que lhe permite:

. Viver sem dor.
. Envelhecer sem angustia e morrer sem desespero.
. Nao procurar encontrar sentido para a vida e para as coisas que o rodeiam.
. Sentir sem pensar.
. Ser um ser uno (nao fragmentado).

. Poeta do real objectivo, pois aceita a realidade e o mundo exterior como sao com uma alegria ingenua e contemplacao, recusando a subjectividade e a introspeccao. O misticismo foi banido do seu universo.
. Poeta da Natureza, porque anda pela mao das Estacoes e integra-se nas leis do universo como se fosse um rio ou uma arvore rendendo-se ao destino e a ordem natural das coisas.
. Temporalidade estatica, vive no presente, nao quer saber do passado ou do futuro. Cada instante tem igual duracao a dos relampagos, ou a das flores, ou ao do sol e tudo o que se ve e eterna novidade; E um tempo objectivo que coincide com a sucessao dos dias e das estacoes. A Natureza e a sua verdade absoluta.
. Antimetafisico, pois deseja abolir a consciencia dos seus proprios pensamentos (o vicio de pensar), pois deste modo todos seriam alegres e contentes.
. Crenca que as coisas nao tem significacao: tem existencia, a sua existencia e o seu proprio significado.

Ao todo no total Alberto Caeiro tem 104 poemas: 49 em O Guardador de Rebanhos, 6 em o Pastor Amoroso e 49 em Poemas inconjuntos.

Os seguintes temas sao os mais abordados ao longo da sua poesia e os seus respectivos de identificacao sao:

. Sujetivismo:

. Atitude anti lirica.
. Atencao a eterna novidade do mundo.
. Poeta da Natureza.

. Sensacionismo:

. Poeta das sensacoes verdadeiras.
. Poeta do olhar.
. Predominio das sensacoes visuais e audovisuais.

. Antimetafisico:

. Recusa do pensamento e da compreensao (pensar e estar doente dos olhos).
. Recusa do misterio e do misticismo.

. Panteismo naturista:

. Deus esta na simplicidade e em todas as coisas.

Estilo:

, Estilo discursivo.
. Pendor argumentativo.
. Transformacao do abstrato no concreto sobre o adjectivo.
. Linguagem simples e familiar.
. Liberdade estrofica e metrica e ausencia de rima.
. Predominio do Presente do Indicativo.
. Raro uso de metaforas.

Poemas de algumas de suas obras:

Agora que Sinto Amor.

Agora que sinto amor
Tenho interesse no que cheira.
Nunca antes me interessou que uma flor tivesse cheiro.
Agora sinto o perfume das flores como se visse uma coisa nova.
Sei bem que elas cheiravam, como sei que existia.
Sao coisas que se sabem por fora.
Mas agora sei com a respiracao da parte de tras da cabeca.
Hoje as flores sabem-me bem num paladar que se cheira.
Hoje as vezes acordo e cheiro antes de ver.

Alberto Caeiro, in "O Pastor Amoroso"
Heteronimo de Fernando Pessoa.

Tema(s): Amor.

Quando vier a Primavera.

Quando vier a Primavera,
Se eu ja estiver morto,
As flores florirao da mesma maneira
E as arvores nao serao menos verdes que na Primavera passada.
A realidade nao precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte nao tem importancia nenhuma

Se soubesse que amanha morria
E a Primavera era depois de amanha,
Morreria contente, porque ela era depois de amanha.
Se esse e o seu tempo, quando havia ela de vir senao no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu nao gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo e real e tudo esta certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixao, se quiserem.
Se quiserem, podem dancar e cantar a roda dele.
Nao tenho preferencias para quando ja nao puder ter preferencias.
O que for, quando for, e que sera o que e.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos".
Heteronimo de Fernando Pessoa.

Temas(s): Morte, Natureza.

Dizem que em cada  Coisa uma Coisa Oculta Mora.

Dizem que em cada coisa uma coisa oculta mora.
Sim, e ela propria, a coisa sem ser oculta,
Que mora nela.

Mas eu, com consciencia e sensacoes e pensamento,
Serei como uma coisa?
Que ha a mais ou menos em mim?
Serei bom e feliz se eu fosse so o meu corpo -
Mas sou tambem outra coisa, mais ou menos que so isso.
Que coisa a mais ou a menos e que eu sou?

O vento sopra sem saber.
A planta vive sem saber.
Eu tambem vivo sem saber, mas sei que vivo.
Mas saberei que vivo, ou so saberei que o sei?
Nasco, vivo, morro por um destino em que nao mando,
Sinto, penso, movo-me por uma forca exterior a mim.
Entao quem sou eu?

Sou, corpo e alma, o exterior de um interior qualquer?
Ou a minha alma e a consciencia que a forca universal
Tem do meu corpo por destino, ser diferente dos outros?
No meio de tudo onde estou eu?

Morto o meu corpo,
Desfeito o meu cerebro,
Em coisa abstrata, impessoal, sem forma,
Ja nao sente o eu que eu tenho,
Ja nao pensa com meu cerebro os pensamentos que sinto meus,
Ja nao move pela minha vontade as minhas maos que eu movo.

Cessarei assim? Nao sei.
Se tiver de cessar assim, ter pena de assim cessar,
Nao me tomara imortal.

Alberto Caeiro, in "Poemas inconjuntos".
Heteronimo de Fernando Pessoa.

Tema(s): Pensamento, ser.

Alberto Caeiro nasceu em Lisboa mas o seu criador levou-o para a provincia levando-o para lugares que lhe eram um pouco desconhecidos. Afinal Fernando Pessoa era um homem conhecedor do mundo tendo passado a sua juventude em Durban na Africa do Sul. Nao deixa de ser curioso que Alberto Caeiro morre de Tuberculose a mesma doenca que vitimara o pai do seu criador a 13 de Julho de 1893 deixando a familia com certas dificuldades financeiras tal como viera a acontecer com Alberto Caeiro ao longo da vida.

Caeiro parece ser uma pessoa demasiado culta para alguem que tinha apenas o ensino primario, apesar das poucas habilitacoes literarias tornou-se um Mestre ainda que ingenuo para os restantes heteronimos e ate para o seu proprio criador. Tambem de notar que sendo o Poeta Fernando Pessoa considerado um Filosofo o mesmo heteronimo Alberto Caeiro por si criado venha a ser um anti-filosofo, um anti-pensador considerando mesmo que "pensar era estar doente dos olhos" penso que se pode assim considerar que o mesmo acreditava que ainda de forma virtual o pensamento poderia levar a cegueira.

Caeiro ao contrario de Ricardo Reis nao era tao parecido com o seu criador, Caeiro era mais aldeao e provinciano mesmo por isso o seu criador acabou por o trazer para Lisboa para ficar mais dentro do seu proprio contexto no entanto o facto de Caeiro ser um provinciano talvez o tenha ajudado na sua poesia onde nunca de esqueceu de prestar a sua homenagem a bela mae natureza. Alberto Caeiro demostra na sua poesia ser alguem que nao tem medo da morte, talvez ate tenha curiosidade em conhecer a mesma e o que esta por detras desta passando para os seus poemas alguma da parte mistica e das forcas do ocultismo do qual Fernando Pessoa era apreciador e seguidor.


Alvaro de Campos (Tavira ou Lisboa, 13 ou 15 de Outubro de 1890 - ? (provavelmente 1935) e um dos heteronimos mais conhecidos, verdadeiro Alter ego do Escritor portugues Fernando Pessoa, que fez uma biografia para cada uma das suas personalidades literarias, a quem chamou de heteronimos. Como Alter ego de Pessoa, Alvaro de Campos sucedeu a Alexander Search, um heteronimo que surgiu ainda na Africa do Sul, onde Pessoa como se sabe passou parte da sua vida repartida entre a sua infancia e adolescencia. Depois de "uma educacao vulgar de Liceu" Alvaro de  Campos "foi estudar Engenharia, primeiro Mecanica e depois Naval" em Glasgow, realizou uma viagem ao Oriente, registada e recordada no poema "Opiario", e trabalhou em Londres, Barrow-in-Furness e Newcastle upon Tyne (tradicionalmente conhecida apenas por Newcastle) em 1922. Desempregado, teria voltado para Lisboa em 1926, tendo entao mergulhado num pessimismo decadentista.


Em 13 de Janeiro de 1935, Fernando Pessoa escreveu entao uma longa carta ao Escritor e Critico Literario Adolfo Casais Monteiro, que lhe solicitara a resposta a algumas questoes, designadamente sobre a genese dos heteronimos. Em resposta, Fernando Pessoa fez uma <<historia directa>> dos seus principais heteronimos, que considera serem Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Alvaro de Campos. "Eu vejo diante de mim, no espaco incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Alvaro de Campos. Contrui-lhes as idades e as vidas".

"Criei, entao, uma conterie inexistente. Fixei aquilo tudo em moldes de realidade. Graduei as influencias, conheci as amizades, ouvi, dentro de mim, as discussoes e as divergencias de criterios, e em tudo isto me parece que fui eu, criador de tudo, o menos que ali houve. Parece que tudo se passou independentemente de mim. E parece que assim ainda se passa. Se algum dia eu puder publicar a discussao estetica entre Ricardo Reis e Alvaro de Campos, vera como eles sao diferentes, e como eu nao sou nada na materia".
                                                                 
                                                            Fernando Pessoa, Correspondencia (1923-1935).
                                                           Edicao: Manuela Parreira da Silva, Lisboa: Assirio & Alvim, 1999, pp. 343-344.

Quanto a Bernardo Soares, "ajudante de Guarda-livros na cidade de Lisboa" e Autor do Livro do Desassossego, uma das suas mais conhecidas personalidades literarias, Pessoa esclarece que ele nao e um verdadeiro heteronimo: "O meu semi-heteronimo Bernardo Soares, que alias em muitas coisas se parece com Alvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocinio e de inibicao; aquela prosa e um constante devaneio. E um semi-heteronimo porque, nao sendo a personalidade a minha, e, nao diferente da minha, mas uma simples mutilacao dela. Sou eu menos o raciocinio e a afectividade".

Na referida carta para Adolfo Casais Monteiro, Pessoa afirma que entrava na personalidade de Alvaro de Campos quando sentia "um subito impulso para escrever" e nao sabia o que, exprimindo atraves dele "toda a emocao" que nao dava nem a si nem a vida:

"Passo agora a responder a sua pergunta sobre a genese dos meus heteronimos. Vou ver se consigo responder-lhe completamente.

Comeco pela parte psiquiatrica [...]

Se eu fosse mulher - na mulher os fenomenos histericos rompem em ataques e coisas parecidas - cada poema de Alvaro de Campos (o mais histericamente histerico de mim) seria um alarme para a vizinhanca mas sou homem - e nos homens a histeria assume principalmente aspectos mentais; assim tudo acaba em silencio e poesia [...].

E, de repente, e em derivacao oposta a de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo individuo. Num jacto, e a maquina de escrever, sem interrupcao, sem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Alvaro de Campos - a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem. [...]

Quando foi a publicacao de "Orpheu", foi preciso, a ultima hora, arranjar qualquer coisa para completar o numero de paginas. Sugeri entao a Sa-Carneiro que eu fizesse um poema <<antigo>> do Alvaro de Campos - um poema de como o Alvaro de Campos seria antes de ter conhecido Caeiro e ter caido sob a sua influencia. E assim fiz o Opiario, em que tentei de todas as tendencias latentes do Alvaro de Campos, conforme haviam depois de ser reveladas, mas sem haver ainda qualquer traco de contacto com seu mestre Caeiro. Foi dos poemas que tenho escrito, o que me deu mais que fazer, pelo duplo poder de despersonalizacao que tive que desenvolver. Mas, enfim, creio que nao me saiu mal, e que da o Alvaro em botao [...].

Alvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 (as 1.30 da tarde, diz-me o Ferreira Gomes e é verdade, pois, feito o horoscopo para essa hora, esta certo). Este, como sabe, e Engenheiro Naval (por Glasgow), mas agora esta aqui em Lisboa em inactividade. [...]

Alvaro de Campos e alto (1, 75 m de altura, mais 2 cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-se. Cara rapada [...] entre branco e moreno, tipo vagamente de Judeu portugues, cabelo, porem, liso e normalmente apartado ao lado, monoculo. [...]

Alvaro de Campos teve uma educacao vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Escocia estudar Engenharia, primeiro Mecanica e depois Naval. Numas ferias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiario. Ensinou-lhe latim um tio beirao que era Padre. [...]"

                                                            Fernando Pessoa, Correspondencia (1923-1925). 
                                                           Edicao: Manuela Parreira da Silva, Lisboa: Assirio & Alvim, 1999, pp. 340-344.

No poema "Opiario", publicado no primeiro numero da revista portuguesa Orpheu, supostamente escrito em Marco de 1914, no "Canal de Suez, a bordo", e dedicado ao "Senhor Mario de Sa-Carneiro", Alvaro de Campos descreve-se assim:

"Eu, que fui sempre um mau estudante, agora
  Nao faco mais que ver o navio ir
 Pelo Canal de Suez a conduzir
 A minha vida, canfora na aurora.

[...]

 E fui crianca como toda a gente.
 Nasci numa provincia portuguesa
 E tenho conhecido gente inglesa
 Que diz que eu sei ingles perfeitamente.

[...]

 Eu fingim que estudei Engenharia.
 Vivim na Escocia. Visitei a Irlanda.
 Meu coracao e uma avozinha que anda
 Pedindo esmolas as portas da Alegria.

[...]

 Volto a Europa descontente, e em sortes
 De vir a ser um Poeta sonambolico.
 Eu sou Monarquico mas nao Catolico
 E gostava de ser as coisas fortes.

[...]

 Pertenco a um genero de portugues
 Que depois de estar a India descoberta
 Ficaram sem trabalho. A morte e certa.
 Tenho pensado nisto muita vezes.

[...]

 Caio no opio por forca. La querer
 Que eu leve a limpo uma vida destas
 Nao se pode exigir. Almas honestas
 Com horas para dormir e para comer,

[...]

 Um inutil. Mas e tao justo se-lo!
 Pudesse a gente despresar os outros
 E, ainda que co'os cotovelos rotos,
 Ser, heroi, doido, amaldicoado ou belo!

[...]

 E afinal o que quero e fe, e calma,
 E nao ter estas sensacoes confusas.
 Deus que acabe com isto! Abra as eclusas -
 E basta de comedias na minha alma!"

                                                                             Orpheu - Revista Trimestral de Literatura,
                                                                             N.º - Janeiro-Fevereiro- Marco de 1915, pp. 71-76.


Entre todos os heteronimos, Alvaro de Campos foi o unico a manifestar fases poeticas diferentes. Houve entao tres fases distintas na sua obra. Comecou a sua trajectoria como decadentista (influenciado pelo Simbolismo), mas logo adere ao futurismo: e a chamada Fase Sensacionista, em que produz, com um estilo assemelhado ao de Walt Whitman (a quem dedicou um poema, a Saudacao a Walt Whitman), versilibrista, jactante, e com uma linguagem euforica onde abundam onomatopeias, uma serie de poemas de exaltacao do Mundo moderno, do progresso tecnico e cientifico, da industrializacao, e da evolucao da Humanidade: Alvaro de Campos e muito influenciado por Marinetti, o real fundador do futurismo. Apos uma serie de desilusoes e crises existenciais, o seu niilista ou intimista: e conhecida como a Fase Abulicolica, e assemelha-se muito, sobretudo nas tematicas abordadas, a obra do Pessoa ortonimo: a desilusao com o mundo em que vive, a tristeza, o cansaco (<<o que ha em mim e sobretudo cansaco>>, assim da inicio ao comeco de um dos seus maiores e famosos poemas) leva-o a reflectir, de modo assaz saudosista, sobre a sua infancia, passada na <<velha casa>>: infancia arquetipica, de uma felicidade plena, e o contraponto ao seu presente. Uma fase caracterizada pelo cansaco e pelo sono que se denota bastante no poema pessimista Dactilografia da obra Poemas:

"Que nausea de vida!
 Que abjeccao esta regularidade!
 Que sono este ser assim!"

No poema Aniversario Alvaro de Campos compara a sua infancia, <<o tempo em que festejava o dia dos meus anos>> com o tempo presente, em que, afirma <<ja nao faco anos. Duro. Somam-se-me dias>>. Este e talvez ou ate mesmo certamente o exemplo mais acabado - e mais conhecido - dessa mitificacao da infancia, por contraste a tristeza e descrenca do Poeta no presente.

E facilmente possivel verificar-se que existem tres fases na escrita de Alvaro de Campos (na realidade e a meu ver na escrita de Fernando Pessoa): a primeira, a decadentista, e a que no fundo mais se aproximavava da nossa poesia no final do seculo; a segunda, a modernista, que no fundo corresponde a experiencia da vanguarda iniciada com Orpheu; e a terceira e a negativista, na qual a angustia de existir e ser mais se evidencia e se radicaliza.

1ª Fase - Decadentista.

Esta e a fase em que o Poeta exprime o tedio, o cansaco e a necessidade de novas sensacoes ("Opiario"). Tambem o decadentismo surge como uma atitude estetica finissecular que passa a exprimir nao o o tedio mas tambem o cansaco, o enfado, a nausea, o abatimento e a real necessidade de novas sensacoes. Esta fase expressa-se com a falta de um verdadeiro sentido para a vida e a necessidade de fuga a monotomia, com preciosismo, simbolos e imagens apresenta-se marcada pelo Romantismo e pelo simbolismo.

Citacoes que sintetizam a fase:

"E afinal o que quero e fe, e calma / E nao ter estas sensacoes confusas".
"E eu vou buscar o opio que consola".
"E antes do opio que minha alma e doente".

2ª Fase – Futurista / Sensacionista.

Esta foi uma fase e epoca que o heteronimo de Fernando Pessoa, Alvaro de Campos, foi bastante marcada por Walt Whitman (Manifesto Futurista), na mesma, Alvaro de Campos celebra o triunfo da maquina da civilizacao moderna. Sente-se tambem nos seus poemas uma atraccao quase erotica pelas maquinas, simbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos "maquinismos em furia" e da forca da maquina por oposicao a beleza tradicionalmente concebida. Exalta sempre o progresso tecnico, essa "nova revelacao metalica e dinamica de Deus". A "Ode Triunfal" ou a "Ode Maritima"  sao bem a amostra e o exemplo desta mesma intensidade e totalizacao das sensacoes. A par da paixao pela maquina, ha ainda a nausea, a neurastenia provocada pela poluicao fisica e moral da vida moderna. O futurismo nesta fase e visivel no elogio da civilizacao industrial e tecnica ("O rodas, o engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!", Ode Triunfal), na ruptura com o subjectivismo da lirica tradicional e tambem na transgressao da moral estabelecida. Em relacao ao sensacionismo, este revela-se na vivencia em excesso das sensacoes ("Sentir tudo de todas as maneiras" - afastamento de Caeiro), no masoquismo ("Rasgar-me todo, abrir-me completo, / tornar-me passento / A todos os perfumes de oleos e calores e carvoes...", Ode Triunfal) e na expressao do Poeta como Cantor lucido do mundo moderno.

Citacoes que sintenizam a fase:

"Quero ir na vida como um automovel ultimo modelo".
"Quero sentir tudo de todas as maneiras".

3ª Fase – Intimista/Pessimista.

A fase intimista e aquela em que, perante a incapacidade das realizacoes, traz de volta o abatimento que provoca "Um suprimissimo cansaco, /Issimo, issimo, issimo, issimo, /Cansaco..." Durante esta fase Campos sente-se um vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. Como tematicas destacam-se: a solidao interior, a incapacidade de amar, a descrenca em relacao a tudo, a nostalgia da infancia, a dor de ser lucido, a estranheza e ate a perplexidade, a oposicao sonho/realidade - frustacao (um exemplo bem visivel esta no poema "Tabacaria"),a dissolucao do "eu", a dor de pensar e o constante e sempre conflito entre a realidade e o proprio Poeta.

Citacao que sintiza a fase:

 "issimo, issimo, issimo, cansaco".

A expressividade da linguagem tambem se divide em diferentes niveis:

Nivel Fonico.

A) Poemas muito extensos e poemas curtos; B) Versos brancos e versos rimados; c) Assonancias, onomatopeias exageradas, aliteracoes ousadas; D) Ritmo crescente / decrescente ou lento nos poemas pessimistas.

Nivel Morfo-sintactico.

A) Na sua fase futurista, excesso de expressao: enumeracoes exageradas, exclamacoes, interjeicoes variadas, versos formados apenas com verbos, mistura de niveis de lingua, estrangeirismos, neologismos, desvios sintacticos; B) Na fase intimista, modera o nivel de expressao, mas nao abandona a tendencia para o exagero.

Nivel Sematico.

A) Apostrofes, anaforas, personificacoes, hiperboles, oximoros, metaforas ousadas, polissindetos.


Poemas de algumas de suas obras:

Todas as Cartas de Amor sao Ridiculas.

Todas as cartas de amor
sao Ridiculas.
Nao seriam cartas de amor se nao fossem
Ridiculas.

Tambem escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridiculas.

As cartas de amor, se ha amor,
Tem de ser
Ridiculas.

Mas, afinal,
So as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
E que sao
Ridiculas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridiculas.

A verdade e que hoje
As minhas memorias
Dessas cartas de amor
E que sao
Ridiculas.

(Todas as palavras esdruxulas,
Como os sentimentos esdruxulos,
Sao naturalmente
Ridiculas.)

Alvaro de Campos, in "Poemas".
Heteronimo de Fernando Pessoa.

Tema(s): Amor.

Aniversario.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguem estava morto.
Na casa antiga, ate eu fazer anos era uma tradicao de ha seculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma Religiao
qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saude de nao perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a familia,
E de nao ter as esperancas que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperancas, ja nao sabia ter esperancas.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coracao e parentesco.
O que fui de seroes de meia-provincia,
O que fui de amarem-me, e eu ser menino,
O que fui - ai, meu Deus!, o que so hoje sei que fui...
A que distancia!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje e como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que sou hoje (e a casa dos que me amaram treme atraves
das minhas lagrimas),
O que eu sou hoje e terem vendido a casa,
E terem morrido todos,
E estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fosforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo fisico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafisica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pao de fome, sem tempo de manteiga
nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que ha
aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na
Loica, com mais copos,
O aparador com muitas coisas - doces, frutas o resto na
sombra debaixo do alcado,
As tias velhas, ou primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Para, meu coracao!
Nao penses! Deixa o pensar na cabeca!
O meu Deus, o meu Deus, o meu Deus!
Hoje ja nao faco anos.
Duro.

Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de nao ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Alvaro de Campos, in "Poemas".
Heteronimo de Fernando Pessoa.

Tema(s): Idade.

Poemas:

. A Casa Branca Nau Preta.
. A Fernando Pessoa.
. A Frescura.
. A placida face anonima de um morto.
. A Praca.
. Acaso.
. Acordar.
. Adiamento.
. Afinal.
. Ah, Onde Estou.
. Ah, Perante.
. Ah, um soneto...
. Ali Nao Havia.
. Aniversario.
. Ao Volante.
. Apontamento.
. Apostila.
. As vezes tenho ideias felizes.
. Barrow-on-Furnes.
. Bicarbonato de Soda.
. Chega Atraves.
. Clearly non-Campos!
. Comeca a Haver.
. Comeco a conhecer-me. Nao existo.
. Conclusao a sucata!... Fiz o calculo.
. Contudo.
. Cruz na Porta.
. Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa.
. Datilografia.
. De la Musique.
. Demogorgon.
. Depus a Mascara.
. Desfraldando ao conjunto ficticio dos ceus estrelados.
. Dobrada a Moda do Porto.
. Dois Excertos de Odes.
. Domingo Irei.
. Encostei-me.
. Escrito Num Livro abandonado em Viagem.
. Esta Velha.
. Estou.
. Estou Cansado.
. Eu.
. Farois.
. Gazetilha.
. Gostava.
. Grandes sao os desertos, e tudo e deserto.
. Ha mais.
. Insonia.
. La-bas, Je Ne Sais Ou...
. Lisboa.
. Lisbon Revisited (1923).
. Lisbon Revisited (1926).
. Magnificat.
. Marinetti Academico.
. Mas Eu
. Mestre.
. Na Casa Defronte.
. Na Noite Terrivel.
. Na Vespera.
. Nao Estou.
. Nao, nao e cansaco...
. Nao: Devagar.
. Nas Pracas.
. No Fim.
. No lugar dos palacios desertos.
. Nunca, por Mais.
. Nuvens.
. O Binomio de Newton.
. O Descalabro.
. O Esplendor.
. O Florir.
. O Frio Especial.
. O Mesmo.
. O Que Ha.
. O Sono.
. O ter deveres, que proxila coisa!
. O Tumulto.
. Ode Marcial.
. Ode Maritima.
. Ode Triunfal.
. Opiario.
. Ora.
. Os Amigos.
. Passagem das Horas.
. Pecado Original.
. Poema em Linha Reta.
. Psiquetipia (Ou Psicitipia).
. Quando.
. Que lindos olhos de azul inocente os de pequenito do agiota!
. Que Noite Serena!
. Quero Acabar.
. Realidade.
. Reticencias.
. Saudacao a Walt Whitman.
. Se te Queres.
. Simbolos.
. Soneto Ja Antigo.
. Sou Eu.
. Tabacaria.
. Tenho.
. The Times.
. Todas as Cartas de Amor sao Ridiculas.
. Trapo.
. Vai pelo cais fora um bulicio de chegada proxima.
. Vilegiatura.

Se Caeiro pouco tem a ver com a personalidade do seu criador e vai ate de contra a alguns pensamentos do mesmo visto que pessoa e visto como um Filosofo e ate um sonhador Caeiro e visto como alguem que so acredita na realidade e sobretudo e apontado como um anti-filosofo considerando mesmo que pensar era estar doente dos olhos. Alvaro de Campos pelo contrario e o Poeta por completo.

Alvaro de Campos e um homem do mundo tal como o seu criador, conhecedor de outras linguas e de aparencia bastante culta ao contrario de Caeiro e um pouco a semelhanca de Ricardo Reis os temas das suas poesias nao divergem muito sempre amor, tristeza, saudade,melancolia e desencanto etc no entanto cada um no seu estilo. Num Almoco que habitualmente costumo ter com um amigo aos sabados ele e bem considerou que as personalidades e a forma escrita de um e de outro nao tinham comparacao era um pouco como estar a comparar a lua com o sol.

Alvaro de Campos para mim e talvez o heteronimo do Poeta Fernando Pessoa de maior destaque, valor e impotancia nao desfazendo de Alberto Caeiro e Ricardo Reis e considerando ja que essa era a opniao do proprio Poeta e criador dos mesmos de que Bernardo Soares e apenas um semi-heteronimo onde a personalidade do Poeta nao esta enraizada e Alexander Search e quase um desconhecido mesmo de alguns amantes da literatura e conhecedores da obra do Poeta no entanto iria considerar este trabalho como incompleto se nao fizesse referencia aos mesmos, apesar de nao serem verdadeiros heteronimos.


Bernardo Soares e um tipo particular dentre os heteronimos do Poeta e Escritor portugues Fernando Pessoa. E o Autor do Livro do Desassossego, que fora escrito em forma de fragmentos. Apesar disso mesmo de ser uma obra literaria fragmentaria, o livro e considerado uma das obras fundadoras da ficcao portuguesa no Seculo XX, ao encenar na linguagem categorias varias que vao desde o pragmatismo da condicao humana passando ate o absurdo da propria Literatura.

Bernardo Soares e, dentro da ficcao de seu proprio livro, um simples ajudante de Guarda-livros na cidade de Lisboa. Conheceu o Poeta Fernando Pessao numa Casa de Pasto que era frequentada por ambos. Foi ai nessa mesma casa que Bernardo Soares deu a ler a Fernando Pessoa o seu "Livro do Desassossego".

E considerado nao um verdadeiro heteronimo mas um semi heteronimo porque, como o seu proprio criador refere e explica "nao sendo a personalidade a minha, mas uma simples mutilacao dela. Sou menos raciocinio e afectividade".


A instancia da ficcao que se desenvolve no livro e quase insignificante, porque se trata de uma "autobiografia sem factos", como o proprio Fernando Pessoa situa o livro. Dessa mesma forma, o que interessa na prosa fragmentaria que Bernardo Soares vai desenvolvendo ao longo da obra e a dramaticidade de reflexoes humanas que vao surgindo a tona na insistencia de uma escrita que se reconhece inviavel, inutil e ate mesmo imperfeita, a beira mesmo do tedio, do tragico e da indiferenca estetica. Por essa razao, diversos fragmentos do livro sao nao menos nem mais do que investigacoes intimas das sensacoes provocados pelo anonimato, pela cotidianeidade da vida comim e todo o "universo" da Baixa Lisboa.

Apesar do facto do Poeta Fernando Pessoa considerar (em cartas e ate em anotacoes pessoais) Bernanrdo Soares nao um heteronimo mas um semi-heteronimo faz ate pensar na proximidade de temperamento entre Bernardo Soares e Fernando Pessoa. A critica especializada tem procurado demostrar que e exactamente esse jogo de mascara praticado por Soares, entre a heteronimia e a semi-heteronimia, o que permite e leva a pensar como ainda o mais relativo o estatuto de ortonimo que Fernando Pessoa confere a si mesmo quando escreve em nome da sua propria personalidade literaria. Nesse sentido, para alguns, o jogo heteronimico ganha em complexidade e Pessoa logra o exito da construcao de si mesmo com o mais instigante mito literario portugues da Modernidade.

Fernando Pessoa faz um retrato de Bernanrdo Soares e decreve o mesmo como um homem que aparentava trinta anos e que vestia de forma desleixada, sendo tambem de uma estatura nao muito bem definida no entanto considerando ser mais alta do que baixa. Seria tambem uma pessoa que parecia exageradamente curvada quando estava sentada mas nao tanto quando estava de pe. Jantava sempre pouco e acabava sempre por fumar tabaco de onca, a sua voz seria baca e tremula e vivia num quarto alugado.

Algures li tambem que Fernando Pessoa considerava que havia muito de Alvaro de Campos em Bernardo Soares sendo o primeiro dos tres reais heteronimos do Poeta que mais se assemelha com o mesmo e nao considerando Bernardo Soares um verdadeiro heteronimo mas semi-heteronimo por as suas personalidades serem diferentes leva a crer que alguns habitos do dia a dia fossem semelhantes como por exemplo o de almocarem em Casas de Pasto como esta descrito quando Pessoa descreve a forma como conheceu o mesmo. Bernardo Soares e tambem quase descrito como um homem solitario que vivia num quarto alugado a solidao tambem me parece que tenha sido uma acompanhante da vida de Fernando Pessoa.


Alexander Search e um dos varios heteronimos criados pelo Poeta e Escritor portugues Fernando Pessoa, desconhecido de muitos mesmo daqueles que conhecem um pouco da obra e dos heteronimos do Poeta luso. Foi criado em 1899, quando Pessoa ainda era um jovem estudante e vivia na Africa do Sul (1896-1905) acompanhado da mae e do padrasto que era Diplomata. Com este mesmo nome, o Poeta ia escrevendo cartas a si proprio, alem de poemas escritos em ingles e portugues em 1903. Alem deste heteronimo, Fernando Pessoa criou ao longo da sua vida imensos outros, incluindo mesmo alem de Ricardo Reis, Bernardo Soares, Alberto Caeiro e Alvaro de Campos um irmao deste Alexander Search ao qual viria a dar o nome de Charles James Search que supostamente seria dois anos mais velho que Alexander em alguns documentos literarios afirma-se mesmo que Charles nascera no dia 18 de Abril de 1886.

E possivel, apesar do pouco que se conhece desta parte da obra do Autor, dar a estes poemas a sua autoria: Ao Meu Maior Amigo; Sonhos; Fraternidade; Piedade? Nao!; O Mundo; Mania da Duvida; Quem Sonha Mais?; Dor Suprema; Morte em Vida; Sonhos; Homens do Presente; Soneto de um Ceptico; Perfeicao; Perseveranca, entre outros.

Poemas de algumas de suas obras:

Sonhos.

Cada dia que passa Faz-me pensar
E reflectir sobre quem ele traiu,
Que enquanto viveu nada fui ganhar
Com a lama vil onde a alma caiu.

Ate de meus sonhos a vida me deixa
Na mare nu, na areia, em solidao,
Desolado que, inda vivo, nao esteja
Seguindo veloz no barco da accao.

Ha uma beleza no mundo exterior,
No monte ou a planice onde chega a vista
Que ja e consolo a duvida e a dor,
Mas, Oh! A beleza que o mundo conquista

Nem Palavra ou verso a pode imaginar
Nem a mente humana, so por si, forjar!

Alexander Search, in "Poesia".
Heteronimo de Fernando Pessoa.

Tema(s): Sonho.

Ao Meu Maior Amigo.

Quando eu morrer, eu sei, tu escreveras
Triste soneto a morte prematura;
Diras que a vida cansa em amargura
E, palido e frio tu me cantaras.

Nas quadras, reflectido se lera
De como, va e breve, a vida expira
E como em terra funda, dura e fria,
A vida, ma ou boa, acabara.

A seguir, nos tercetos, tu diras
Que a morte e misterio, tudo fugaz,
Verdadeira, talvez, a vida alem.

Por fim poras a data, assinaras.
E, relido o soneto, ficaras
Contente por te-lo escrito bem.

Alexander Search, in "Poesia".
Heteronimo de Fernando Pessoa.

Tema(s): Amizade, Morte.

Morte em Vida.

Um dia mais passou e ao passar
Que pensei ou li, que foi criado?
Nada! Outro dia passou desperdicado!
Cada hora ja morta ao despontar!

Nada fiz. O tempo me fugiu
E a Beleza nem uma estatua ergui!
Na mente firme nem credo ou sonho vi
E a alma inutil em vao se consumiu.

Entao me cabera sempre ficar
Qual grao de areia na praia pousado,
Coisa sujeita ao vento, entregue ao mar?

Ah, esse algo a sofrer e a desejar,
Inda menos que um ser inanimado
Sempre aquem do que podia alcancar!

Alexander Search, in "Poesia".
Heteronimo de Fernando Pessoa.

Temas: Frustracao, Viver.

Nao e necessario ser-se um grande amante de literatura, um apaixonado por poesia ou ate mesmo pela obra de Fernando Pessoa para se concluir facilmente que desde muito jovem o seu enorme talento para escrever poesia estava bem patente em si.

Tendo o Poeta nascido a 13 de Junho de 1888 e criado o heteronimo Alexander Search em 1899 na Africa do Sul facilmente se pode dizer que o mesmo criou o mesmo entre os 10 ou 11 anos no entanto nao deixa de ser clara e evidente que nos poemas que assina com o nome do mesmo heteronimo ja nessa mesma altura envolviam como foram envolvendo ao longo da vida assuntos que abordavam a solidao, tristeza, vida amargurada,a melancolia e o proprio desencanto, etc. Lamentavelmente nao se sabe muito acerca de Alexander Search Pessoa nem lhe deu data de nascimento e nem o matou como fez com Caeiro.

 
Tirei esta foto ja a alguns anos posso ate dizer para ser mais claro na tarde do dia 17 de Maio de 2007, nao a estou a publicar agora para simplesmente mostrar ou dizer que tambem eu fui um dos muitos amantes da poesia que tiraram uma foto junto a esta estatua que e no fundo uma justa homenagem ao Poeta portugues. Publico esta foto porque a mesma tem uma historia que so para quem assistiu para la de caricato nao deixa de considerar o seu lado comico.

Quem sabe e conhece a zona concorda comigo que tem alturas que sao mais turistas estrangeiros que portugueses ali no local, estando eu a observar a estatua e a ver se encontrava alguem de confianca a quem pudesse pedir para me tirar a foto sai uma jovem mulher ai dos seus 20 ou 30 anos da Estacao do Metro que e mesmo ali ao lado, sorridente e radiante corre para a estatua deixando o seu companheiro de passeio meio envergonhado. Ela abraca a estatua, beija a mesma e com sotaque brasileiro justifica a sua atitude emocionado diz que aquele era Pessoa, Fernando Pessoa o seu Escritor portugues preferido, sentia-se emocionada de estar ali sentada no mesmo lugar onde quem sabe o Poeta idealizou e criou alguns dos seus famosos poemas. As pessoas a volta que entendiam portugues sorriram, penso que desculparam a atitude da mesma. O companheiro la ia servindo de Fotografo com toda a paciencia umas vezes beijando a estatua outras abracando a mesma la foi tirando as fotografias que queria, porem quando chegou a altura de tirarem uma foto juntos ela e o companheiro olharam a sua volta... Sobrou para mim. No fim trocamos os papeis e ai esta o resultado.

Sei que dificilmente algum dia ela ira ver esta cronica e sobretudo se ainda hoje ao ver esta foto se lembraria deste momento, tiramos as fotos uns aos outros mas pouco falamos alem das palavras que fazem as trocas de agradecimentos habituais. Espero que no fundo a mesma cronica sirva para informar os fans do Poeta de uma ou outra coisa que nao saibam se servir mesmo que nao saiba penso que ja valeu a pena escreve-la.

Quase a terminar em genero de analise a obra dos heteronimos de Fernando Pessoa devo dizer que considero que o mesmo excluindo Bernardo Soares como ele proprio o afirmou passou sempre para os seus heteronimos algo de si, da sua personalidade, talvez ate dos seus habitos do dia a dia. Penso que o Poeta agia assim sobretudo por segundo o que parece ser uma pessoa sofrida e solitaria e criava os heteronimos um pouco como Anne Frank criou a tal amiga imaginaroa Kitty num certo sabado no dia 20 de Junho de 1942 com ia escrevendo cartas no seu Diario e a quem ia contando o dia a dia e o que se passava no anexo onde ela, a famila e alguns amigos se mantiveram escondidos ate ao dia da sua detencao na terca-feira do dia 1 de Agosto de 1944. A primeira vista parece que ambas as historias nao fazem sentido mas parece-me que para alem de tudo Fernando Pessoa criou os heteronimos e no fundo os tinha como amigos... Amigos imaginarios claro. Parece-me ou da-me a sensacao que os mesmos poderiam ser os filhos que o Poeta nunca tivera.

A sua vida sofrida, triste e solitaria nunca deixou de estar presente nos poemas dos seus heteronimos onde os temas relacionados sempre passaram junto disso, amor, solidao, tristeza,melancolia, desencanto e ate um certo sentimento de fracasso etc. O caso mais flagrante parece-me ser a morte de Alberto Caeiro que morre tuberculose em 1915 evidentemente porque o seu criador assim o entende, Caeiro morre com a mesma doenca que o pai do Poeta morrera em em 1893 no dia 13 de Julho curiosamente no dia em que o Poeta completou cinco anos e um mes de vida.

A sua vida sempre fora solitaria e a mesma solidao e passada para alguns dos seus poemas. Em 1920 conhece aquela que se pode chamar o amor da sua vida Ofelia Queiroz, mas logo ganha uma depressao que o leva a internar-se numa Casa de Saude e acaba por romper com Ofelia. A vida vai continuando e em 1925 no dia 17 de Marco falece a mae do Poeta. Ja em 1929 volta a relacionar-se com Ofelia no entanto ropem de vez dois anos mais tarde em 1931.

Ofelia no entanto no meu entender encorpora-se perfeitamente para servir um pouco de Musa inspiradora para o Poeta que atraves de Ricardo Reis escreve alguns Poemas dedicados a uma tal de Lidia os dois mais reconhecidos sao: Vem sentar-te comigo Lidia e Vem sentar-te comigo Lidia, a beira do rio.

Talvez o estado de solidao tenham colocado no Poeta o vicio do alcoolismo seja verdade ou nao a verdade e que o mesmo faleceu no dia 30 de Novembro de 1935 depois de ter sido internado um dia antes com o diagonostico de uma colica hepatica ou seja um mal no figado orgao que habitaulmente e frequentemente atingido pelos males do alcoolismo sendo o mais conhecido a cirrose.

Sem duvida alguma o Poeta desde cedo comecou a demostrar o seu talento eu tambem desde cedo comecei a escrever e escrevi alguns poemas tambem talvez um dia publique aqui neste blog alguns mas estou certo que nao tem metade da qualidade e valor das do Poeta Fernando Pessoa e sem duvida um dos maiores valores da literatura portuguesa ao ponto de quase eloquecer uma fan sua que foi visitar a sua estatua em Lisboa no local onde o mesmo tinha por habito ler o seu jornal.

Criei pela primeira vez a etiqueta Criticas e Analises e tambem pela mesma razao Criticas e Analises Literarias podia-se dizer que nao e a primeira vez que escrevo uma cronica analisando um certo assunto ou tema a cronica onde isso anteriormente podera estar mais evidente foi logo na primeira do ano de 2014 em que o titulo e "Analise e resumo do ano 2014". No entanto nao tinha criado a mesma etiqueta anteriormente por querer que a as mesmas criticas e analises fossem cronicas somente relacionadas com temas relacionados com as artes, literatura, cinema e musica.

Tambem confesso que nao gosto muito de me por a criticar ou a analisar algo isto porque quando se critica ou analisa algo a primeira vista temos que mostrar que conseguimos fazer melhor do que aquilo que estamos a criticar e isso nem sempre e facil, no caso de criticar os poemas ou a obra de Fernando Pessoa e uma tarefa dificil porque dificilmente aparecera visto que julgo ainda nao ter aparecido um Poeta que escreva poemas melhores que os de Pessoa, Fernando Pessoa.

Caro(a) leitor(a) sinto uma honra em apresentar este mesmo trabalho foi mesmo dos que me deu mais prazer ate ao momento nao so por glorificar a literatura portuguesa mas no fundo tambem as artes e a cultura e tambem a prova viva de que ao contrario do que muitos dizem no dia em que abandonei a minha Patria desprezei as minhas raizes e os seus valores. Espero mais uma que a mesma tenha sido do seu inteiro agrado, ate a proxima.

                                                                                                                  Manuel Goncalves






























 








  






 

3 comentários:

  1. Este trabalho é de facto muito completo, quase tão extenso e variado como as personaliaddes do poeta. Houve uma altura em que gostava imenso de Fernando Pessoa, agora já nem tanto, mas reconheço a sua genialidade. Era uma alma torturada, pelo sofrimento e pelo amor... tal como todos nós...

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  2. Eu nunca li um livro de Fernando Pessoa ou dos seus heteronimos mas claro conheco a sua extensa obra poetica. Adoro um poema do mesmo que penso que invoca a altura dos descobrimentos que se chama Mar Portugues, magnifico.

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  3. MAR PORTUGUÊS

    Ó mar salgado, quanto do teu sal
    São lágrimas de Portugal!
    Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
    Quantos filhos em vão rezaram!

    Quantas noivas ficaram por casar
    Para que fosses nosso, ó mar!
    Valeu a pena? Tudo vale a pena
    Se a alma não é pequena.

    Quem quere passar além do Bojador
    Tem que passar além da dor.
    Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
    Mas nele é que espelhou o céu.

    Fernando Pessoa.

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