terça-feira, 22 de dezembro de 2015
Amores de Guerra e de Africa
Nao houvera uma unica vez na vida que falasse ou lhe falassem de Africa que mesmo antes dele se recordar da savana, da selva, do calor tropical que lhe queimava a pele que ele nao recorda-se ela a sua Maria negra a mulher o amor que ele como tantos outros soldados deixara em pleno Ultramar e que jamais esquecera.
Juras de amor eterno, promessas de voltar para a ir buscar que jamais cumprira nao por culpa sua mas porque fora levado num engano. Antes de partir de regresso alguem lhe revelara que a aldeia dela tinha sido atacada por rebeldes e que nao tinham deixado sobreviventes. A historia do ataque fora-lhe confirmada o que o fez acreditar que o resto tambem fosse, mas nao era. Ele fora levado num engano e ela sem saber de nada toda a vida considerara que ele a tinha enganado e traido. Haviam ficado os dois levados uma vida num engano. Ela estava viva, tinha tido um filho seu fruto de uma gravidez que so descobrira depois dele partir de regresso e ele jamais sonhara com tal.
Maria negra era a alcunha de Maria Judite e ela fora a primeira pessoa que ele vira quando chegara aquela aldeia indigena de Angola. Aquela aldeia era igual a tantas outras iguais as que ele ja passara antes com o batalhao da tropa da qual ele era Soldado que tivera que deixar os estudos de Medicina em Portugal na Universidade em Coimbra para ir cumprir o dever militar do Servico Militar obrigatorio.
Aquela era uma aldeia da Provincia da Huila perto do Parque Nacional Bicuar onde nao havia nada mais para destruir porque aparentemente ja fora tudo destruido. Ela estava a entrada da sua cubata e nao movera um passo quando os vira chegar. Habitualmente as jovens da sua idade corriam a esconder-se com medo das ameacas e represalias. Era sabido dos problemas que alguns soldados causavam por nao esconderem o gosto que lhe dava segundo ele comer carne negra e fresca, as pretas diziam eles eram submissas na cama e adoravam o homem branco.
O homem branco jamais havia sido visto por ali antes da guerra comecar e era ainda uma novidade para alguns. Luis Antonio vinha no camiao da frente que ia levantando a poeira na estrada com tud aquilo ele so tinha vontade de ir tomar um banho e mudar de roupa mas tal nao era possivel. O batalhao chegara e logo abancara como se costumava dizer iam ficar por ali uns dias Luis Antonio estava satisfeito ia ser rendido aquela seria a sua ultima missao depois iria para Portugal e nunca mais queria por os pes naquela terra segundo ele quente como o "Inferno".
As noites eram quentes mesmo que dormisse praticamente ao ar livre. Naquela noite nao havia ordem de dormir no entanto ele estava recrutado para estar de vigilancia ao acampamento durante a noite, vira-a novamente entrando na sua cubata. Nao era credivel que vivesse ali sozinha entre os demais aldeoes, queria procura-la, meter conversa, ir ao encontro dela mas na lhe era permitido abandonar o seu posto se o Comandante sonhasse com algo do genero era castigo certo era talvez ate a licenca para voltar a Portugal que podia vir a ficar em causa.
Uma sombra fizera-se ver no escuro atraves dos movimento de andamento nao lhe era possivel ver ainda a distancia de quem se tratava mas quando estivesse mais perto ia-lhe pedir a contra-senha como mandavam as regras desde a muito nos codigos de militares sobretudo em tempos de guerra. As regras eram essas pedir a contra-senha e em caso de resposta negativa ou errada era dar o primeiro aviso e depois efectuar o primeiro disparo com uma bala de borracha. Ainda hoje se lembrava eram tres balas mas somente a ultima era real.
Nao foi preciso disparar embora nao lhe tivessem respondido correctamente como mandavam as regras, era ela.
Maria Judite assim dizia se chamar mas todos a chamavam de Maria negra uma alcunha que herdara da mae "dai essa razao para lhe chamarem Maria negra, logo a ela que se via que ate era mestica" e falou-lhe um pouco de si. Maria negra tinha vindo oferecer-lhe um cafe quente que trouxera numa garrafa e que ele nao se sentiu com vontade de recusar estavam junto da fogueira e ela foi-lhe contando a sua historia. Judite como ele lhe chamara desde entao sendo a primeira pessoa a nao a chamar pela alcunha ou pelo seu primeiro nome era uma jovem sofrida e amargurada pela vida. A guerra tinha-lhe roubado e tirado tudo os pais eram os reis daquela tribo da aldeia mas haviam sido mortos pelas tropas inimigas dai a razao dela ser tao respeitada, ja quase que nao havia tribo, ja quase que nem havia aldeia mas ela continuava a pertencer a nobreza e talvez depois da guerra terminar tudo se levantasse e ela se torna-se Rainha da tribo e senhora da aldeia.
Enquanto bebia o cafe que ela lhe havia oferecido tambem ele lhe falara de si e considerava que pelo facto de ser filho de pessoas afortunadas fizera dele um privilegiado. O clima entre os dois foi-se tornando de envolvimento e cumplicidade Maria partiu naquela noite para a sua cubata sem nada acontecer entre os dois mas as coisas prometiam nao ficar por ali.
Luis Antonio nao era pessoa de muitas palavras o que nao ajudava muito naquela situacao mas era um homem ainda que jovem de muitas accoes e sobretudo de grandes paixoes que sempre soubera vive-las intensamente, estava tambem na idade das mesmas paixoes e de tantas outras descobertas. Nao tinha ninguem a prender-lhe o coracao em Portugal e nao seria o primeiro Soldado a ter algo serio com uma daquelas mulheres.
O dia comecara com os primeiros raios de sol e um camarada viera rende-lo antes de se dirigir a sua tenda fora ate ao rio lavar-se, nao dormia da mesma forma se nao fizesse o minimo da higiene pessoal, o minimo porque um banho de agua a ferver com todo o conforto era algo que nao estava ali ao alcance de ninguem.
Acordara ja tarde e preparava-se para outro noite de vigilancia era assim mesmo tocava-lhe a ele naquela semana e nao se importava muito com isso porque o vigilante nocturno nao tinha de facto nada ou muitas poucas tarefas para fazer durante o dia. Fumava agora um cigarro perto da cubata dela quando vira a mesma sair a rua, nao sabia se lhe havia de falar, nao sabia se a ideia agradava a mesma e decidira que fosse ela a tomar a mesma decisao.
Ela tinha ido lavar a roupa ao rio e depois teria que a por a secar no estendal junto da cubata podia ter sangue nobre nos seus antepassados e familiares proximos mas agora era apenas mais uma daquelas raparigas da aldeia que e era igual as mesmas nao importando o nome e se estava so ou acompanhada no mundo, ela de facto sentia que as pessoas nao a olhavam como antigamente com o mesmo respeito.
A noite caira e Judite voltara a ir ter com Luis Antonio, sabia onde encontra-lo e sabia que nao havia perigo, sabia tambem que ele estava prestes a partir e queria oferecer-lhe algo que o pudesse ajudar de alguma forma, escavou o buraco que tinha feito num canto da cubata e tirou de la uma lata ja velha onde mantinha o seu maior segredo, era onde guardava os diamantes que havia conseguido garimpar no rio antes das tropas chegarem, era isso que a mantinha e fazia ir tantas vezes a cidade mais proxima quando queria trocar algum diamante por dinheiro.
Luis Antonio recusou a oferta, sabia que o garimpo de diamantes era considerado ilegal e que era como se ela lhe tivesse a oferecer algo roubado. Sabia tambem que ele nao tinha necessidade de ajuda e que ja ela nao podia dizer o mesmo. Olharam-se nos olhos e foi como se fizessem algo telepatico a noite estava silenciosa mas eles calaram tantas suas bocas com um longo beijo, ela sorriu mas acabou por fugir assustada. Sabia que o Soldado ia querer mais que um beijo e ela nao era igual as outras chamavam-lhe Maria negra podiam tambem chamar-lhe de Maria virgem.
Novo dia Luis Antonio acordou com a sensacao de estar no fim do mundo onde nada se passava e nada se fazia, olhou o horizonte ao sair da sua tenda e viu que Judite conversava com alguem junto de um carro como se tivessem a combinar alguma coisa, estavam de facto. Judite queria ir a cidade e sabia que so a boleia no carro tornava as coisas mais rapidas e confortaveis porem tinha que negociar isso de alguma forma e o Soldado que estava prestes a ir a cidade levar as cartas estava a tentar tirar proveito da situacao, achava pouco as cinco moedas que ela lhe oferecera.
Apos muitas conversacoes ela la foi e ele Luis Antonio presentia que tudo aquilo nao ia ter um final muito feliz, o camarada que transportava o carro nao lhe inspirava confianca e tinha ma fama em relacao a forma como lidava com as mulheres. Porem ele considerava que Judite era alguem que se sabia defender muito bem ainda que o combate fosse uma especie de David contra Golias.
Era mais uma noite Luis Antonio nao se importava com ter que estar acordado de vigilancia isso poupava-o a muitas tarefas durante o dia e sobretudo era um excelente modo de preparacao para quem quando se acabasse de formar em Medicina teria muitas noites de plantao nos bancos de hospital.
Era ate entao uma noite como todas as outras ali passadas sem qualquer incidente ate que viu um vulto caminhar discretamente em direccao ao sul zona onde ficava o rio que atravessava a aldeia e era naquele local que tambem ficava algumas das cubatas dos nativos daquela tribo inclusive a cubata de Maria negra, pela primeira vez pensou nela com esse nome e nao com o seu nme verdadeiro Judite ou Maria Judite, tinha e sentia obrigacao de ir ver o que se passava ou ia passar era seu dever por estar a exercer aquele servico e tambem por sentir vontade e igualmente obrigacao em defender a jovem negra. Ela afinal nao tinha mais ninguem e em certos momentos sobretudo os mais inesperados sua aparente forca poderia ser uma verdadeira fraqueza.
Fosse quem fosse conhecia bem o local pois apesar do escuro movimentava-se com demasiada facilidade ainda que de uma forma muito lenta e discreta mas isso era sinal e amostra que era alguem que nao queria fazer o minimo de barulho para nao ser notado. Luis Antonio seguia o mesmo com a certeza de que ia haver confusao e aquela ja nao seria uma noite calma, sentia que tambem nao podia dar o alerta porque isso seria chamar a atencao do vulto que perseguia ainda com mais cuidado.
O vulto entrara justamente na cubata de Judite e depois de um pequeno barulho inicial que nao deu para despertar ninguem das cubatas vizinhas, silencio absoluto. Luis Antonio pegou a espingarda em punho e entrou tambem ele dentro da cubata. A pouca luz ali presente dava para ver de quem era o vulto misterioso, era do Soldado que naquela tarde tinha querido recusar-se a transportar Judite ate a cidade mais proxima.
Judite lutava em silencio no chao porque o mesmo lhe tapara a boca com a mao e ja com as roupas rasgadas lutava desesperadamente para evitar a violacao que parecia mais que certa pois as forcas faltavam-lhe ja. De um momento para o outro a jovem africana sentiu-se mais livre o corpo do homem que a tentava violar ja nao estava em cima de si e com uma forca impensavel a mesma levantou-se e procurou fugir e pedir ajuda quando viu que Luis Antonio e o outro que ela finalmente reconhecera agora lutavam os dois. Queria correr a pedir ajuda via-se que Luis Antonio estava a perder a luta quando se lembrou da faca de mato que tinha escondida de baixo da cama para sua defesa pessoal. E pela primeira vez Judite fizera uso da mesma arma espetando-a nas costas do homem que segundos antes a tentara violar.
O barulho havia sido demasiado para as noites calmas e silenciosas daquela aldeia quase deserta no meio da savana e atraiu curiosos, finalmente havia chegado socorro.
Pouco se pode fazer senao dar-se socorro a Luis Antonio e levar o corpo do outro. O Comandante do batalhao ordenou que se fosse escrito nos documentos de obito que o mesmo Soldado havia sido morto em combate e assim foi. O mesmo superior nutria uma especial amizade por Luis Antonio como quase todos os restantes camaradas e desse modo evitou-se que pudesse haver um processo militar que custasse a Luis Antonio o ter que permanecer mais tempo ainda em Africa e ate pudesse custar uma pena de prisao a Judite, afinal havia morrido um homem naquela historia, um homem que segundo todos nao valia nada.
O jovem recuperara dos ferimentos e mazelas que a luta lhe causara e estava quase que de partida para Portugal, Judite naquela manha pedira-lhe que fosse a noite ate a sua cubata o jovem tinha prometido voltar logo que pudesse amava-a e queria ficar com ela logo que fosse possivel queria vir busca-la. A negra sorriu todos diziam a mesma coisa para iludir as raparigas mas fosse ilusao ou verdade a mesma estava disposta a dar-lhe o que ele queria se havia homem que merecesse isso era ele.
Fizeram amor depois da surpresa geral e de Luis Antonio lhe confessar pedindo-lhe segredo total pelo menos enquanto ali estivesse ainda de que ele tambem era novato naquelas andancas ou seja tambem era virgem. Amaram-se de forma louca e com todas as forcas ate cairem nos bracos um do outro e adormecerem, ja o sol ia alto quando acordaram e por mais que tentassem nao conseguiram esconder que tinham passado a noite juntos, havia sempre olhos a ver e a espalhar a noticia do sucedido. Judite abracara-o e beijara-o antes do mesmo partir ele era agora o seu homem e ela ja nao era mais vista como uma menina dali para a frente seria uma mulher.
Era ja mais do que oficial Luis Antonio tinha ordem e data para regressar a Portugal e iria partir no dia seguinte. Naquela noite amaram-se com a mesma intensidade e loucura de outras noites e despediram-se ja de manha de lagrimas nos olhos ele jurara que voltaria o mais breve possivel para a vir buscar e ela apenas pensava que depois da guerra acabar nao iria querer deixar aquele lugar, era a terra dela, as suas raizes, era ali que todos os seus antepassados proximos e distantes estavam enterrados ele no entanto era o homem que amava e consideirava que seu lugar era junto dele fosse onde fosse, ele era a unica coisa que ela tinha para la dos diamantes que mantinha escondidos religiosamente.
Ja em Portugal ele procurava cumprir a sua promessa e comecava a tratar no Ministerio de formular um pedido para que Maria Judite, a sua amada Maria Judite fosse considerada uma refugiada e pudesse ser legal em Portugal. Fora nessa altura que tivera a noticia mais triste da sua vida e nem se preocupou em confirmar a vericidade da mesma tal nao fora a sua dor.
Oficialmente a aldeia havia sido atacada pelas tropas inimigas dias depois daquele batalhao partir e considerava-se tambem que nao tinham sido deixados sobreviventes, todos os habitantes da aldeia haviam morrido e ele ainda se dera ao trabalho de ver a lista do nome dos mortos nde realmente nao constava o nome dela mas foi-lhe explicado de que se o nome dela nao constava na lista era porque nao havia sido registada a nascenca como muitas criancas das aldeias remotas nao estavam.
Ela na verdade escapara milagrosamente ao mesmo destino dos restantes habitantes da aldeia, alguns dos diamantes conseguiram comprar-lhe a vida e faze-la escapar da morte, aquelas pedras preciosas mudaram-lhe o destino e pouparam-lhe a morte. Fora levada dali para a cidade onde ficara bem protegida e dali fora para os Estados Unidos.
Judite estava gravida, fruto do amor que vivera naquelas noites intensas com Luis Antonio. Toda a vida o considerara um crapula e mentiroso e tambem ela nao tinha forma de o contactar. Nos Estados Unidos conseguira vencer na vida montando uma empresa de importar e exportar produtos angolanos e criara o filho sozinha jamais conseguira acreditar novamente em qualquer outro homem, tornara-se uma mulher, triste e fria que tivera apenas como objectivo criar o filho da melhor maneira e expandir o negocio no entanto jamais aceitara voltar a sua terra natal.
Luis Antonio passado mais de vinte e cinco era hoje chefe de uma Equipa Medica no principal hospital de Lisboa e tambem ele jamais voltara a encontrar o amor. Toda a vida sentira-se culpado por nao ter protegido a mulher que amava da forma adequada, jamais se perdoara.
O Medico tinha tudo na vida, uma carreira brilhante, um bom nome, carro de luxo e um apartamento enorme onde por vezes para nao se sentir tao solitario alugava um dos quartos a medicos estagiarios no hospital como era agora o caso acutal embora no momento fosse um pouco diferente. O jovem a quem ele alugara o quarto era um talentoso e promissor Medico com muito potencial, talvez ate com o tempo se torna-se melhor Medico que ele mas nao sentia o seu posto em risco.
Renato era o nome do jovem e Luis Antonio gostava de o ouvir quando ele falava de Africa, de Angola que abandonara em crianca para ir com a mae para os Estados Unidos onde a mesma ainda hoje se mantinha e era uma das empresarias bem sucedidas fazendo da mesma uma das personalidades femininas angolanas de maior sucesso. Renato nunca lhe falara do pai certamente era orfao, devia ser a guerra fizera muitos orfaos, muitas criancas ficarem sem conhecer seu pai e em casos extremos sem conhecer ninguem da sua familia. Entre Luis Antonio e Renato nascera uma amizade que ia quase de pai para filho e Luis Antonio tinha o jovem como tal, via-o dessa forma logo ele que nao tinha filhos, Renato enquadrava no perfil perfeitamente para ser o filho que o destino nao quis que ele e Maria Judite tivessem tido.
O jovem recebera um telefonema dias antes do seu aniversario de que a mae o viria ver a Portugal. A mae ja havia ate reservado quarto num hotel quando Luis Antonio de opos a mae de Renato, a mae do seu filho de emprestimo so podia ficar em sua casa enquanto estivesse em Lisboa e nao aceitava que fosse diferente, era de facto bem humorado, simpatico mas era levado por uma enorme teimosia quando metia algo na sua cabeca. No fundo ele queria juntar aquela mae e aquele filho que era como se fosse seu e sentir pela primeira vez a sensacao que era ter uma familia junta em sua casa, pensar e idealizar de que aquela era a sua familia.
O dia da chegada da mae do jovem chegara mas o mesmo estava de plantao no hospital no entanto Luis Antonio, o seu pai a titulo de emprestimo estava de folga. Ainda pensaram trocar o dia da folga de um pelo o outro mas era tudo em cima da hora e complicado bastante mais facil seria ser Luis Antonio a ir ao aeroporto buscar a mae de Renato.
Naquele dia sem saber porque razao o Medico estava com a sensacao de nervoso como se fosse fazer uma operacao cirugica pela primeira vez ou como se fosse para um encontro amoroso. Recordara que so se sentira assim naquela noite em que fora a cubata de Maria Judite e fizera amor com a mesma pela primeira vez. Maria Judite, pensara ele o quanto a amara e o quanto o destino era cruel. Tudo poderia ter sido diferente se nao fosse aquela maldita e amaldicoada guerra onde no fundo se via que no final ninguem ficara a ganhar nem os vencedores muito menos os vencidos, todos haviam ficado a perder. As guerras eram uma estupidez pensara enquanto se barbeava em frente ao espelho naquela manha.
Renato descrevera-lhe a mae fisicamente de momento nao tinha ali nenhuma foto recente para lhe mostrar e para facilitar o encontro entre os dois no aeroporto entregara-lhe uma placa onde apenas se podia ler o nome Maria J Gomes, estava com muita pressa naquela manha mas nao se preocupara com o facto de ser Luis Antonio a ir-lhe buscar a mae ao aeroporto tinha plena confianca no mesmo, tal como teria num pai, ele Luis Antonio era como se fosse seu pai mas nao o era de facto "infelizmente" pensavam ambos mas era com toda a certeza o seu maior amigo. Havia duas pessoas por quem o jovem sentia que era capaz de dar a vida, a mae e aquele amigo.
Perfumado e bem arranjado naquela manha Luis Antonio preparara tudo ao detalhe Renato so estaria em casa ao inicio da noite entao ele iria buscar a mae do jovem e levaria a mesma a almocar pelo que depois se seguiria um passeio turistico para mostrar-lhe um pouco de Lisboa no entanto sentia que deveria tentar respeitar a senhora ao maximo, era a mae de alguem que ele tinha como se fosse seu filho, seu unico filho.
O aviao ja aterrara e alguns passageiros iam chegando a sala de chegadas, beijos, abracos os habitos de costume daqueles momentos, ela devia estar a aparecer e ele estava com o papel que Renato escrevera a espera que Maria J Gomes viesse ter consigo. Por momento pensou que seria aquele J, Maria Julia, Maria Juliana, talvez Maria Jandira, ou sorriu Maria Judite sorriu aquele nome vinha-lhe sempre a memoria mas recordara que no fundo ele jamais soubera o nome completo de Judite.
Uma senhora meio negra, meio branca se aproximara dele e o rosto era familiar. Conheceram-se um ao outro no momento e depois da surpresa tentaram falar, justificar-se ela finalmente soube o que se passara e que ele nao era igual a tantos outros soldados que enganavam as negras para as levar para a cama. Tambem ele considerara um erro fatal nao ter investigado melhor o que se passara, deveria ter mesmo ido a Angola a aldeia no coracao do Huila investigar tudo.
Tinham perdido anos de feliciddade os dois mas cedo perceberam que iam recuperar muito do que tinham perdido o melhor ja tinham conquistado que era aquele filho maravilho que tinham tido, Renato.
O jovem tal como os pais nao coube de feliz ao saber toda a verdade, ao saber que a vida as vezes tinha coincidencias unicas. Como era possivel o destino te-los juntado de novo daquela maneira tao inesperada depois do mesmo destino e da vida os ter separado a todos daquele modo tao cruel. Era de facto coisas que davam que pensar mas agora o jovem nao se preocupava muito feliz sentia-se bem ao ver os pais juntos e ver que afinal Luis Antonio nao era seu pai apenas de coracao e de emprestimo mas de sangue e que apesar dos negocios da mae pelo mundo fora ja nada os ia separar aos tres eram uma familia pequena mas mais importante que tudo demasiadamente unida.
Manuel Goncalves
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Muito bonito. Espero que o autor esteja de boa saúde, especialmente nesta altura do Inverno. Sim, a guerra levou a muitos desencontros, nalguns casos as pessoas voltaram a encontrar-se e a reconstruir a vida. Um abraço ao autor, também pela coragem.
ResponderEliminarEncontros e desencontros quem quiser me encontrar nada melhor aqui no Blog :) porem vou apenas escrever mais uma cronica (este ano para desanimo daqueles que queriam que eu terminasse de vez) e terminar o ano em beleza. Igualmente preparar ja a cronica do resumo daquilo que foi o ano 2015 que sera publicada ja em 2016. Muito trabalho e dedicacao e tudo o que prometo no proximo ano.
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