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terça-feira, 19 de junho de 2018

Felicidade Nao Se Compra

                                 
                                  
Setembro nao era um mes magico ou diferente mas por ser a epoca da vindima ou apanha mudava tudo ali e era assim que comecava o principio de um vinho que os enologos tinham como sendo um dos melhores do Mundo.

Mal a altura se aproximava e ja junto dos portoes da maior herdade da regiao nas margens do Douro iam chegando pessoas que se queriam candidatar para irem trabalhar na vindima durante aquelas semanas em que a mesma tinha duracao e o impressionante e que ate gente que havia nascido e vivido por aquela bandas que haviam partido e agora eram imigrantes em outros paises vinham passar em Portugal aquela temporada unicamente para irem fazer a vindima. O facto de se ganhar consoante o que se produzia era um dos segredos de se poder ganhar muito dinheiro com aquele trabalho.

Eram de todas as idades e ate de diferentes nacionalidades, nos ultimos anos o pessoal de leste que trabalhava o ano inteiro em Portugal noutros trabalhos ou alguns que ate eram empregados rurais da herdade noutros servicos durante o resto do ano.

A concorrencia era forte sobretudo desde que os ingleses haviam chegado e comprado herdades assim como cotas de propriedade nas caves do Douro mas os Ramos Pinto ainda tinham uma palavra muito forte a dizer no mercado e a aposta fora a inovacao, a modernizacao na forma como se trabalhava.

O Patriarca da familia dono e senhor da herdade e um dos homens mais poderosos da regiao gostava de sair para o campo e ir ver o pessoal a trabalhar, segundo diziam tambem gostava de ir observar as raparigas mais novas a ver se lhe interessava alguma e tratar de elaborar logo um plano de aproximacao e de conseguir o que mais queria.

Era um homem ainda novo com trinta anos e que se tornara dono de tudo aquilo apos a morte do pai no direito de filho unico. Era agora dono e senhor de tudo aquilo, era agora poderoso como um dia fora o seu pai mas apesar de tudo as pessoas tinham-no como sendo mais brando e acessivel no entanto sabiam que se alguma empregada lhe viesse a recusar o que ele procurava esperava-a o despedimento.

Todos a olhavam e tinham a certeza de que aquela beldade lituana, loira, alta e de olhos azuis seria a proxima vitima do Patrao mas antes ela que qualquer uma das outras mais antigas que ali estavam.

Morta era a forma lituana para Martha e em portugues Marta ficara triste quando soubera o que queria dizer o seu nome em portugues "Morta" era uma coisa acabada, sem vida e ela o que tinha a mais era vontade de viver mas depois acabara por aprender a conviver com isso e ate achava uma certa graca como todos os outros.

Deixara a sua aldeia muito a Norte de Vilnius a capital para seguir a aventura para a Europa numa troca de favores entre ela e o Advogado que lhe tratara da documentacao necessaria depois dela lhe cuidar e criar  o filho durante a infancia apos o mesmo ficar viuvo. Tinham sido cinco anos naquela casa e custava-lhe a partir mas era para um destino melhor para ela, pelo menos julgava que sim caso contrario tinha ficado.

Morta como tantas fora aliciada para entrar no mundo da prostituicao mas nao se sentira capaz de optar por essa escolha, deixara a Espanha para onde fora inicialmente e depois entre Portugal e Franca optou por seguir o conselho de algumas amigas portuguesas, Franca actualmente era para os franceses, colonos africanos e muculmanos os restantes ficavam com o que eles nao queriam.

Em Portugal aprendera rapido o portugues e falava-o correctamente mas nao conseguira arranjar um trabalho ainda naquilo que queria. Embora tivesse gosto por trabalhar no campo o sonho da mesma era trabalhar em hotelaria.

A jovem beldade lituana fora finalmente notada por Diogo Ramos Pinto o grande senhor daquelas terras inclusive daquela herdade enorme estava na sua frente e nao tirava o olhar de si. Mesmo Noivo Diogo nao se preocupava de mostrar aos olhos de todos os seus servos que continuava o mesmo mulherengo e conquistador de sempre.

A Noiva era de Lisboa e so vinha ao Douro nos fins-de-semana nessas alturas Diogo tomava cuidado porque embora sendo quem era aquele era um casamento de interesse ja que o pai de Vanesa, a Noiva, era dono de uma empresa de exportacao e os vinhos dos Ramos Pinto precisavam ser exportados com toda a forca, havia outros interesses, outros negocios. Vanesa era bonita, docil mas Diogo nao se sentia apaixonado por ela mas acreditava que o amor pudesse vir depois, depois, mesmo depois do casamento.

Diogo dera ordens ao Capataz para mandar Morta passar na casa grande depois do trabalho se apresentar para falar com ele e que fosse sem falta.

A partir daquele momento ja todos sabiam que o assedio ia comecar e que se Diogo conseguisse o que queria durante algum tempo Morta seria bem tratada, seria uma verdadeira Rainha depois como todas as outras quando Diogo ja estivesse cansado dela ou com os olhos na sua proxima vitima, Morta deixaria de existir, como todas as outras seria corrida, mandada embora. Se ela tivesse a ideia de conquistar o coracao do mesmo e casar com ele, tornar-se senhora de todas aquelas terras e negocios bem podia tirar o cavalo da chuva.

Morta nao pensava em nada que as outras vitimas de Diogo tinham pensado. Ela pensava apenas em encontrar o amor, um homem, um marido, fosse rico ou pobre. Tinha o sonho de conseguir obter uma vida melhor e talvez ate voltar para a sua terra se esse fosse o destino que lhe estivesse destinado.

Sonhadora, romantica, ingenua demais para pensar em tirar vantagem dos avancos do Patrao e so mesmo pela necessidade de manter o seu posto de trabalho poderia vir a ceder aos mesmos intentos de Diogo, Senhor Diogo, como todos lhe chamavam.

Ja no casarao depois de se ter apresentado a Empregada que a viera receber foi levada para a sala onde habitualmente as visitas ficavam a espera. Morta nao deixava de observar a sua volta e olhar para as esculturas, pinturas e outras pecas de arte que evidenciavam os sinais de riqueza enorme que pertenciam aquela familia. Uns com tanto e outros sem nada, pensou Morta. Quantos empregados da vindima alguma vez haviam tido a sorte de ter entrado no casarao e de estarem ali como ela estava a espera do Patrao.

Entretida com os seus pensamentos nem notara que ele, o Patrao, chegara a sala onde ela se encontrava a quase uma hora.

Diogo convidou-a para Jantar ali em casa mesmo antes de a convidar a sentar-se e comecou por explicar-lhe que reparara nela enquanto a mesma trabalhava na vindima na apanha dos cachos de uvas e achou que a mesma era demasiado bonita para um trabalho tao arduo e queria oferecer-lhe algo melhor, ir passar a trabalhar no casarao como Empregada Interna.

Morta estranhou a gentileza de Diogo mas ja estava habituada a passar por situacoes semelhantes. Nem sempre com segundas intencoes tivera ofertas de ajuda mesmo de homens mas estava longe de acreditar que Diogo ja estivesse com segundas, terceiras e ate quartas intencoes. Morta estava longe de acreditar que havia pessoas que nao olhavam a meios para atingir os seus fins e que na sua frente estava uma delas. Ela nao era ambiciosoa por ali alem, era ingenua mas nao era parva e pensara que se o Senhor Diogo tinha algum interesse nela ela nao tinha nada a perder, ele nao era uma pessoa qualquer mas ela tambem nao se ia vender a qualquer preco.

Desde daquele dia a rapariga nao tivera descanso nao tentando escapar as investidas de Diogo mas adiando o inevitavel e tentando tirar o maximo de proveito disso, podia ate ir para a cama com ele mas pelo valor justo. Nao era nada assim de tao ruim, tivera namorados bem piores que Diogo e sabia que ele nao a amava, nao estava apaixonado por ela, talvez atraido ou simplesmente com o desejo de a ter como mais uma na sua estante de trofeus.

Diogo queria estar com ela mas nao lhe fizera ainda qualquer oferta que fosse bem clara daquilo que queria. Ele tambem nao era parvo de todo e esperava pela altura certa, a melhor oportunidade seria quando Morta fosse ter com ele a precisar de alguma coisa.

Ela era pobre, familias humildes e necessitadas como todas as outras dos emigrantes que trabalhavam para ele e que constantemente apelavam a sua ajuda e ele fazia-o sem segundas intencoes. Os empregados viam-no como uma boa pessoa mas era quando nao havia jogo de interesses como no caso de Morta, era hora de ela lhe dar o que ele queria.

Diogo nao podia esperar mais correu para o quarto dela e abriu a porta a mesma estava semi-nua e nao podia esperar aquela invasao. Morta nao ofereceu resistencia, ofereceu-se para ele o que tivesse a ganhar com isso poderia vir depois, nem ela tinha forcas para resistir aos avancos de Diogo, gritar tambem seria um erro e se era para ser possuida entao que fosse com algum prazer e nao a forca como estava a ser praticamente ate ao momento.

Pouca coisa mudou desde entao e certo que Diogo lhe dava algum tratamento especial como sua Empregada, dava-lhe algum dinheiro extra e ate a chegara a levar a Jantar ao Porto mas nao passava dai, ela nao esperava vir a ser sua esposa mas pensava que viria a ser mais priviligiada mas afinal ele praticamente so a tratava de igual para igual quando estavam na cama.

Acontecera o pior ela estava gravida e recusava abortar, era contra a isso e jamais o faria. Para Diogo ter aquele filho estava fora de questao quando ele estava de casamento marcado ja com a Noiva e o escandalo adivinhava-se.

Morta aceitava ir embora mas nao de maos a abanar, nao queria apenas dinheiro. Ja que Diogo a engravidara e nao queria assumir a paternidade, ele, sim, ele que lhe arranjasse um pai para o seu filho e um marido para ela.

O caso parecia complicado mas Diogo acabara por resolve-lo a troco de algum dinheiro e como pagamento de favores acabou por levar um pequeno Empresario de Lisboa da area da importacao e  exportacao a casar com Morta e a assumir o filho de ambos como sendo o pai em troca alem de algum dinheiro a empresa do futuro marido de Morta iria assumir o trabalho de exportar os vinhos do Porto dos Ramos Pinto o que garantia uma enorme expansao e crescimento a empresa que iria ser tambem de Morta ja que Diogo exigira que 50% por cento da mesma ficasse em nome dela.

Os anos passaram e o filho de Morta e Diogo crescera so quando o marido da mesma morrera e que ele soube que nao era seu filho e teve conhecimento de toda a verdade, nao dava mais para esconder segundo Morta, nao queria morrer com esse peso na conciencia, nao queria levar aquele segredo para a cova.

O filho de Diogo e Morta crescera e tornara-se um dos melhores neurocirugioes do Mundo e Diogo sabia disso mas nem com a morte da sua esposa, mesmo nao tendo herdeiros legitimos teve vontade de conhecer o seu filho. O filho que seria o orgulho de qualquer pai.

Morta tambem vivia amargurada e sentia que quem pagara pela sua ambicao quando jovem tinha sido o filho ao ser filho de um pai que sempre o desprezara. Era altura de se fazer justica, mas como? Diogo Ramos Pinto era um dos empresarios de maior sucesso em Portugal e um dos homens mais ricos e influentes em varias areas.

Diogo Ramos Pinto, fora ja Deputado, fundara uma fundacao com o seu nome e fora Presidente de um clube de Futebol. Comprara bancos no estrangeiro mas nunca dera um tostao que fosse para os estudos, alimentacao e educacao do filho, do filho que muitos poucos sabiam ser seu.

A noticia abrira noticiarios e certamente iria ser capa de jornais no dia seguinte. Diogo Ramos Pinto sofrera um acidente de viacao quando se dirigia para Lisboa e estava internado em estado critico nos cuidados intensivos de um dos melhores hospitais de Lisboa.

Os medicos alem de esperarem que chegasse o unico Neurocirugiao que viam capacitado para o operar deparavam-se com um problema o seu tipo de sangue AB que era dos mais raros existentes e nao encontravam ainda dador para o mesmo e nem havia o mesmo tipo de sangue em nenhum banco de sangue.

O Medico Neurocirugiao que era visto como o unico capacitado de operar Ramos pinto chegara ao hospital e era o seu filho que se considerava tudo menos um Ramos Pinto.

Joao Carlos era esse o Medico Neurocirugiao que operava agora o proprio pai e sabia que tinha ali como paciente nao o pai mas o homem que o renegara, que se recusara a cria-lo e assumi-lo como filho e que no fim depois da operacao ainda iria doar sangue ao proprio pai que sempre o vira como um bastardo.

O bastardo e filho desprezado salvara-lhe a vida e quando voltara ao normal ficou a saber disso. Diogo olhava os seus bracos e via que era agora tambem o sangue do seu filho que corria nos proprios bracos.

Ele perdera a propria vida sempre a fazer negocios e mais negocios, aumentar a fortuna e julgava que isso era o mais importante quando agora devia a propria vida ao que menos o preocupara e interessara ao longo da mesma vida. Sabia agora que errara, podia procurar o perdao do filho mas era tarde demais para voltar atras e nao errar.

Diogo Ramos Pinto sentia-se um homem infeliz, poderoso sim, mas que nunca soubera o que era a felicidade. Casara com uma mulher que nao amava e sentia que ela tambem nao o amava a ele, nunca fora feliz e agora via que aqueles que ele desprezara o eram tal como era Morta e o seu filho, estava encerrada a maior licao da sua vida.

                                                                                                     Manuel Goncalves











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