Era noite de Natal aquela era uma noite diferente de todas as outras sobretudo para ele naquele ano que ainda nao terminara.
A neve ia caindo e ele ia caminhando com o seu caniche pela avenida da cidade, aquele cao, fiel companheiro fora tudo o que lhe restara e tinha pelo mesmo enorme amor e grande estima sabia que aquele cao jamais o iria abandonar fosse porque fosse, aquele cao iria estar sempre com ele nao era como todos os outros que o haviam abandonado depois dele os ter ajudado tanto, aquele cao nao iria fazer isso e estariam juntos ate ao ultimo dia. Era triste a sua historia e estava agora a levantar-se da queda que dera com o sonho de voltar a ser quem era embora soubesse que isso era dificil, sim era dificil dizia-lhe a voz imaginaria que ele escutava mas nao impossivel.
Tudo o que ele fora, deixara de ser da noite para o dia e tudo o que ele tivera perdera, perdera tudo menos a honra e a dignidade era o que mais lhe importava.
Perdera tudo nos negocios que acabaram por abrir falencia por culpa de um desfalque do antigo socio, a esposa deixara-o exigira-lhe o divorcio e ele viu entao que dez anos de casamento so se conseguiram manter porque ele era rico, influente e poderoso. Renato Monteiro perdeu a mansao onde vivia, os carros de luxo que tinha e tudo mais, sobrara-lhe apenas a casa humilde que os pais lhe tinham deixado de heranca e isso so sobrara porque ele nunca se dera ao trabalho de a mudar para o seu nome.
Nao havia noite em que aquele talentoso Engenheiro Informatico nao se recordasse daquilo que fora e daquilo que era actualmente mas procurava esquecer o passado, era a unica forma de lhe segurar um futuro melhor e ele aprendera de novo a viver sem nada.
Renato deixara de ser o homem de sucesso, empresario de renome no ramo da informatica, milionario, autor de alguns efeitos especiais em filmes famosos, etc para passar a ser quase um mendigo e pedinte que chegara a sobreviver da boa vontade e piedade de antigos empregados seus, chegou a receber de oferta comida da sua antiga Cozinheira e abrigo nos primeiros tempos.
Com o passar do tempo foi-se levantando arranjara emprego numa empresa para a qual prestara servicos no passado e comecava a subir de novo mas ainda era pouco. O divorcio nao lhe custara muito passou a odiar a mulher que amara ao perceber que ela so estivera casada com ele por dinheiro, conforto e todo o luxo que Renato Monteiro milionario lhe podia oferecer, o Renato Monteiro falido nao lhe podia dar nada de tudo aquilo que o outro lhe oferecia e dava mas a diferenca estava entre o ser milionario e falido.
Quisera apontar uma pistola a cabeca e acabar com tudo mas concluira que isso nao seria a solucao e que a melhor vitoria era derrotar aqueles que o haviam deixado. Os amigos, os clientes, familiares e ate empregados quase todos o tinham abandonado. Quase todos, pensara eles, tinham sobrado meia duzia talvez nas centenas de pessoas que um dia haviam dependido de si.
Renato aproveitara aquele passeio com o cao para ir ver o extracto da sua conta era importante isso visto ser fim do mes e talvez o seu ordenado ja estar depositado na conta que um dia tivera centenas de milhares de euros e naqueles dias resumia-se ao ordenado e ao que ele conseguia poupar todos os meses. Tinha esperanca de brevemente poder abrir uma pequena empresa e comecar a seguir as pegadas daquilo que ja fora.
O Engenheiro Informatico nao se apercebeu mas alguem se aproximava de si e ele nao gostava muito quando isso acontecia e ele estava a consultar o extracto bancario ou a levantar dinheiro, era arriscado. Olhou para o lado era uma mulher menos mal, aparencia indefesa e fragil nao representava grande perigo.
Ela era jovem e parecia ser bonita apesar de estar mal apresentada, a roupa suja e maltratada, era sem duvida uma sem-abrigo daquelas que vivia na cidade e dormia a noite na rua. Sorriu-lhe e ele teve a certeza do que se seguiria, uma oferta de sexo. Fazia tempo que ele nao tinha sexo com ninguem e nao estava com vontade disso, nunca pagara para isso e nao seria agora que o iria fazer.
A tipa que afinal se chamava Carla meteu conversa com ele, era a primeira entrada e ele foi claro desde o inicio. Dinheiro como ela lhe pedia ele nao lhe ia dar mas se ela quisesse comer, ele nao tinha muita coisa de valor em casa mas comida nao faltava.
Renato viu-se pouco tempo depois a comer o seu bacalhau da noite de Natal sentado a mesa com uma desconhecida, ou alguem que ate bem a poucas horas atras ele nunca vira.
Sentia-se feliz mais feliz do que quando era rico e isso demostrava que a fortuna nao fazia a felicidade, sorriu quando lhe fez um brinde, o que estaria por detras daquela noite, o que se seguiria pensavam ambos.
Era tarde e Renato ofereceu cama a Carla por uma noite no quarto que tinha disponivel e ela sem que ele pudesse evitar comecou-se ali a despir na frente dele. Ela sabia bem qual era o preco que os homens lhe pediam por ajudas muito menores e era tempo de pagar. Ele no fundo parecia-lhe diferente dos outros com quem estivera embora nao tivesse estado com tantos assim. Fazia aquilo quando estava mesmo necessitada de dinheiro, era o caso no momento.
Renato pediu-lhe que se vestisse, nao havia nada a pagar e muito menos com sexo, podia comecar ali uma boa amizade e ele nao queria estragar tudo. Sem mais incidentes foram dormir e Renato no outro dia ficou sem palavras para o que tinha acontecido.
Carla levantara-se mais cedo e arrumara e limpara-lhe toda a casa assim como tambem lhe tinha feito o Pequeno-Almoco. Renato estava sem uma palavra sentou-se a mesa e comeu, nada, absolutamente nada na vida alguma vez lhe soubera tao bem. Torradas com sumo de laranja pela manha era bem melhor do que lagosta ou caviar. Antes da jovem partir a sua vida com muita insistencia da parte do mesmo Carla aceitou vinte euros que ele lhe oferecera.
Tudo aquilo fora no inicio da semana e Renato pensara muito no assunto mas via-se obrigado a esquece-lo, talvez, certamente nunca mais voltaria a ver Carla, chegava a ter pena por isso.
O que Renato pensara, havia sido meramente um engano. Regressado a casa num sabado vindo do trabalho Carla saiu-lhe dum carro de luxo e muito bem vestida. Cumprimentou-o com dois beijos no rosto e apos os primeiros momentos de conversa ele convidou-a de novo a entrar em sua casa.
O que se passara explicou Carla e que com o dinheiro que ele lhe dera ela jogara no Euromilhoes algum e ganhara o primeiro premio sozinha, significava isso que ela era agora milionaria como ele fora um dia. Carla abriu a carteira, entregou-lhe um cheque e pediu-lhe que ele aceitasse. Dois milhoes de euros, era muito dinheiro e ele sabia que com o mesmo podia ter muita coisa, podia voltar a ter tudo o que tivera no passado e muito mais. Nao queria aceitar mas Carla insistiu e para quem ganhara mais de oitenta milhoes aquilo nao era nada.
Passara-se alguns anos e nada mudara Renato chegara a casa vindo da empresa e sempre trazia alguma coisa para oferecer a esposa, rosas, perfumes, valia tudo para dizer que a amava e o quanto lhe era grato por ela ter feito dele novamente tudo o que ele fora e era agora.
Manuel Goncalves
PS: Caro(a) leitor(a) Feliz Ano Novo 2018 que se aproxima, saude, paz e amor para todos.
Sem comentários:
Enviar um comentário