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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O Pai do Meu Filho

 
 
Uma mulher realizada era o que se podia considerar hoje afinal estavava-se a falar de umas das maiores especialistas dentro da sua area profissional. Enviuvara demasiado cedo ainda nao tinha completado 25 anos e hoje ja com 42 anos sentia-se uma vencedora apesar de tudo uma vencedora  como se considerava quando se olhava no espelho todas as manhas e nao conseguia deixar de mostrar um sorriso, um sorriso interior. Cedo demasiado cedo logo apos a viuvez soube quais eram muitas das dificuldades da vida e aprendera como ultrapassa-las e vence-las como ninguem.

Seu maior orgulho era sem duvida o filho Santiago, desde que ficara viuva que nao tivera mais nenhum homem e viveu todo o resto de juventude para o filho e para o trabalho e agora comecava a colheita desses frutos. O filho era um jovem e estudante exemplar, ela fora promevida e tornara-se agora Directora do Colegio Camoes em Lisboa onde dava aulas de Historia, o unico senao e que comecava com a idade, a independencia do filho a chegar-lhe cada vez mais o peso da solidao.

Comecara a sentir vontade de ter alguem perto de si, alguem amigo com quem nao tivesse segredos e pudesse compartilhar todos os seus segredos e desejos custou-lhe a aceitar a ideia e a admitir que estava era a sentir falta de um namorado... Sim! Porque nao? Santiago estava crescido, era ja maior de idade, ela fizera um bom trabalho na forma como o criara nao se sentia arrependida, antes pelo contrario. Via que o filho ja pouco parava em casa aos fins de semana mas sabia que estava tudo bem Santiago era Escuteiro e sobretudo no Verao ia acampar quase todos os fins de semana, num desses fins de semana de ausencia de Santiago deu por ela numa discoteca de Lisboa.

Ele tambem estava sozinho e bebia uma cerveja cruzaram uma vez olhares, outra e mais outra, trocaram sorrisos e a vontade de irem trocar dois dedos de conversa aumentou. Ele pediu mais uma cerveja, olhou para o que ela estava a beber vodka com laranja e pediu ao barman que fosse levar mais uma vodka com laranja a senhora do vestido castanho, foi a casa de banho.

Como ele calculara ela tinha percebido o sinal ou pelo menos mordido o isco quando ele voltou a area de diversao ela estava sentada na mesa dele esperando por ele, cumprimentaram-se com beijos no rosto, sentindo um calor enorme que lhes dava a certeza de que iriam muito mais alem, iriam ate onde a liberdade de ambos entendesse.

Ele chamava-se Salvador, Salvador Daniel como o proprio se apresentara ela vai-se la saber porque decidiu apresentar-se com nome falso e de Marisa passou a chamar-se Alda. Foram dancar e o ritmo da musica ve-los dancar lentamente e abracados, ela sorriu e nao esteve com meios termos deu-lhe um beijo, um beijo na boca que ele nunca iria esquecer.

Voltaram a mesa e ela notou, estanhou que ele comecara a ficar diferente, ja sabia que o mesmo era uns meses mais novo que o seu filho Santiago e que os pais estavam separados ele viera recentemente para Lisboa para iniciar os estudos academicos e estava a viver em casa de uma tia viuva, solteirona e demasiado religiosa segundo ele confessara.

Ela decidiu avancar, talvez os vodkas com laranja a mais estivessem a fazer efeito, jurou a si propria que da proxima vez que fizesse uma saida nocturna daquela maneira iria beber somente sumos naturais ou agua mineral, estava decidida ia quebrar o jejum de sexo. Avancara mais uma vez disse-lhe que era viuva a ja muito tempo e nao conhecera mais nenhum homem desde entao. Pensou "so se ele for mesmo burro e que nao percebe onde estou a querer chegar", mais uma vez sentiu que ele recuara e convidou-o com todas as letras para irem passar a noite num hotel, ele depois de tantos recuos aceitou.

Nao se lembraram de quase mais nada ate entrarem no quarto do hotel e onde depois de algumas caricias iniciais ele voltara a recuar, sentira-se atrapalhado ate a tirar a roupa, mas la foram tomar banho juntos e seguiram para cama. Alda que na realidade era Marisa sentira que nunca tivera tanto prazer e cedo atingira um orgasmo, logo de seguida ele tambem atingira o climax.

Ficaram abracados, trocando caricias, ela comecou a sentir-se arrependida, tinha feito amor com um estranho que nao voltaria a ver nunca mais muito possivelmente mas ja que ali estava queria ir ate ao fim, fizeram amor novamente e ja no final da noite de loucura que ela pensara que seria unica ele resolvera abrir o jogo e confessara-lhe tudo, todos aqueles recuos dele tinham sido receios e medo de nao saber como fazer ou o que fazer, disse-lhe com todas as letras que era virgem ate entao.

Ela ficou incredula para jovem virgem sem experiencia Salvador ate se tinha saido muito bem, tomaram banho juntos, vestiram-se, arranjaram-se, tomaram o Pequeno-Almoco na sala de refeicoes do hotel ainda com o ar de cumplicidade, terminaram, cada um foi a sua vida e nao mais se voltariam a ver, pelo menos assim pensou ela. Assim pensava ela mas o futuro ia mostrar uma realidade bem diferente.

O ano lectivo comecava e iria ser o primeiro dia de aulas isso ja era uma situacao normal para uma professora com quase vinte anos de carreira mas naquele ano a situacao dela era um pouco diferente o cargo de Directora do colegio aumentava-lhe o peso da responsabilidade que tinha perante as suas costas mas tudo ia correr na perfeicao e alem do mais nao podia deixar de pensar tambem que mesmo sendo directora do colegio iria continuar a dar aulas. O que mais a inomodava para alem de ir ser Professora do proprio filho era aquele rapaz com quem tivera uma aventura de uma noite nao lhe sair da cabeca.

Ele levantara-se com a tia aos berros e a bater na porta do quarto tinha faltado a luz durante a noite e por isso o alarme do despertador electronico nao funcionara naquela manha resumindo e concluindo ele deixara-se dormir e estava atrasado perdera a primeira aula, certamente iria perder a segunda e se nao corresse depressa chegaria atrasado bem atrasado a terceira aula. Saira a correr sem tomar Pequeno-Almoco iria faze-lo ja na cantina do colegio e no autocarro olhou o seu horario escolar, perdera uma aula de Geografia, iria certamente perder uma de Portugues nada de preocupante mas serio mesmo era a terceira aula do dia de Historia, adorava Historia e tudo o que estivesse relacionado com o assunto desde de muito jovem que decidira que iria ser Arqueologo.

Como calculara duas aulas estavam perdidas mas ia agora comecar a aula de Historia era tudo novo para ele, novo em Lisboa, novo naquela escola, as pessoas eram outras, tudo estranho. Ele ja calculara que a adaptacao nao iria ser facil e tentou meter conversa com alguem que estivesse sozinho e encontrou um. Meteram conversa faltavam alguns minutos ainda para o inicio da aula o suficiente para ele saber que ambos tinham a paixao pelo campismo na natureza e que ambos eram Escuteiros, assim como Salvador soube tambem que aquele rapaz Santiago era filho da Professora de Historia com quem iriam ter a proxima aula e que por sua vez ela era Directora do colegio tambem.

Ela abrira a porta e nao se pode dizer qual dos dois ficou com a surpresa maior, afinal para comecar ela mentira-lhe e nem se chamara Alda mas isso ja seria de esperar ele havia sido supostamente uma aventura de apenas uma noite mas a atraccao fora muito forte e agora eles estavam ali frente a frente e ainda para mais ele comecara a tornar-se bastante intimo de seu filho. Primeiro que tudo iriam ter que conversar a sos aquilo nao ia poder ficar assim nao podiam fingir agora que nao tinha havido nada, no final da aula ela fez-lhe sinal para que ele continuasse onde estava.

Marisa agradeceu a Salvador o facto de ele lhe jurar que nao ia contar nada a Santiago do que acontecera entre ambos mas ele fez-lhe lembrar que agora nada seria como dantes os destinos de ambos estavam novamente cruzados, mesmo sabendo que nao podia ou que pelo menos nao devia ela beijou-o navamente e estavam decididos agora que se tinham voltado a encontrar a manter uma relacao amorosa.

A vida de ambos ficara diferente sobretudo a de Marisa ao longo do ano por Salvador ser quem era alem de um optimo aluno comecaram a passar mais tempo juntos Santiago saia para os acampamentos ao fim de semana e Salvador passava os fins de semana em casa de Marisa estavam decididos a assumir uma relacao logo que possivel. Santiago em principio iria aceitar e pensavam que ele ate ja desconfiara e ainda fizera mais para os unir comecando a convidar Salvador para ir la a casa sem que houvesse qualquer justificacao ou razao para isso. Marisa e Salvador estavam decididos logo que ela deixasse de ser professora dele e em principio isso seria logo que ele entrasse na faculdade poderiam ate chocar a sociedade e o mundo que os rodeava mas pouco importava.

Bomba de ultima hora nao podia acontecer aquilo nao podia ser verdade mas ela comecara a ter a certeza de que era e agora nada mais iria poder ficar escondido ela estava gravida e o pai claro era Salvador. Como iria ele reagir, tao novo e jovem com tudo ainda para viver. Ela sentia que nao podia exigir tanto dele era como lhe estar a roubar o fim da adolescencia como poderia exigir que ele assumisse um filho ainda para mais daquela maneira.

Salvador reagiu como um louco mas louco de alegria falou que se a dois ja estava bom a tres estaria ainda melhor ela nao esperava uma reaccao destas da parte dele, tao positiva, mostrando tanta responsabilidade, determinacao em assumir as suas obrigacoes nao so como de homem mas como de pai. Estavam loucos de felicidade e alegria mesmo sabendo que nao iria ser facil quando todos soubessem, foram comemorar toda aquela felicidade num passeio a beira mar com o anoitecer como pano de fundo.

Estava quase em final de tempo ninguem no colegio sabia quem era o pai daquela crianca que iria nascer dentro de semanas iria ser um rapaz o que deixara Salvador ainda mais feliz e radiante e logo que soube que iria ser pai procurou um part-time e ia economizando tudo o que podia embora Marisa sempre lhe dissesse que nao era necessario. Ela sentia-se culpada devia ter tido os devidos cuidados para evitar aquela gravidez.

Naquela manha o Salvador faltara a primeira aula com ela, facto que ela notara mas nao dera grande importancia era normal isso acontecer ainda para mais agora que ele estava trabalhando ate tarde no part-time. Um auxiliar de educacao viera avisa-la a correr no final da aula, um aluno seu acabara de ser atropelado junto do portao do colegio e o caso parecia ser grave.

Ela temeu logo o pior, tinha esperanca que nao fosse ele, que nao fosse nada de grave e fosse um aluno de outra turma. Quando chegou no local ja la estava Ambulancia, paramedicos e um enorme aparato. Infelizmente era ele era Salvador a vitima de um atropelamento provocado por um condutor embriagado e que a policia ja levara detido, ele estava mal mesmo mal era demasiado sangue a sua volta e ainda estava consciente, respirava com dificuldade. Ela pediu a Deus por tudo que nao o levasse mas parecia que estava dificil. Ele olhou-a num esforco desumano apenas conseguiu dizer-lhe algo antes do ultimo suspiro.

- Marisa, amor - colocou o olhar sobre a sua barriga. - Chama-lhe Salvador.
- Que assim seja Daniel - era a primeira vez que ela lhe chamara pelo seu segundo nome. - Juro-te aconteca o que acontecer e assim que vai ser.

Foram as suas ultimas palavras mas Marisa realizou seu pedido. Marisa nao tivera mais homem nenhum, nao acreditava que houvesse outro meigo, romantico, carinhoso como Salvador. No aniversario dele ia sempre ao cemiterio colocar flores em sua campa mas daquela vez tinha um momento especial era a primeira vez que o fazia levando com ela um menino de tres anos esse menino era o filho dela, dela e de Salvador, levara-o ali finalmente porque acontecera o que ela mais temera ele lhe perguntara pelo papa. Como a vida era injusta pensou enquanto pegava ao colo Salvador filho e ia no carro que Santiago conduzia, como ela dava tudo para o ter ali agora. Sentia que ele Salvador Pai apenas tinha existido para lhe dar uma nova razao de viver e o resultado estava ali com Salvador filho.

                                                                                                        Manuel Goncalves








3 comentários:

  1. É uma história muito emocionante, que gostei de ler, embora tenha tido um final triste. É uma história sobre o amor que nasce e permanece, não obstante as diferenças entre os dois, tal como na vida também acontece.

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    1. Sim e emocionante talvez juntamente com o conto breve "Tenho saudades" o mais emotivo que ja escrevim. Um amigo meu do facebook disse que gostou embora o fim seja tragico. Eu respondim que nem sempre podia acabar tudo bem e de forma azul porque a vida nao e apenas o amor e uma cabana e muito menos um mar de rosas, estava na hora de apostar numa outra realidade.

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  2. Ja ando nisto a algum tempo actualmente ja escrevi quase 90 contos breves(estou com 87) e este o Pai do Meu Filho, O Tenho Saudades e o Tarde Demais Para Dizer Que te Amo continuam a ser os meus de eleicao.

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