Poderia parecer uma mentira mas era de facto uma realidade e estava ali bem evidente na sua opcao de escolha. O que levara o aluno com a melhor nota da melhor Faculdade de Medicina de Lisboa escolher partir para estagio para um pais de cultura completamente diferente, com outros habitos e costumes e uma Religiao diferente, cultura e que ainda para mais estava em conflitos devido a uma Guerra Civil o outrora turistico Egipto era agora um pais perigoso.
Ele Artur apenas considerava que o mesmo deveria de ir para onde mais fizesse falta o que seus pais acharam mais do que correcto, estava disposto a fazer carreira, a criar um futuro prospero e brilhante sem nunca esquecer as suas origens humildes ele bem sabia quantas dificuldades os pais tinham passado para ele poder estudar e vir a ser alguem.
A chegada ao Cairo nao se surpreendera com nada, o turismo claro havia decaido, a cidade parecia-lhe hostil e suja o ambiente era de cortar a faca o Governo havia sofrido um Colpe de Estado liderado por militares so que havia tambem militares que defendiam a continuidade do mesmo Governo e o clima era de cortar a faca.
Chegada ao hospital o famoso As-Salam Internacional Hospital com ajuda do seu ingles correcto esperava vir a conseguir uma boa comunicacao mas esperava-lhe uma surpresa agradavel, Ashia, iria ser a sua Enfermeira auxiliar e curiosamente era filha de egipcio de uma brasileira falava perfeitamente bem portugues embora nunca tivesse saido do Egipto aprendera a lingua porque era a lingua que os pais falavam em casa o pai de Ashia tinha sido um dos muitos que abandonara o Cairo e partira a aventura para terras distantes nao se pode dizer que tivesse feito uma fortuna no Brasil mas por la casara e fizera grande parte da sua vida regressara ao Cairo pouco antes de Ashia nascer e hoje era dono de casa de chas e de cachimbos tradicao do Egipto os Arguile. Ali na loja de Akbar tambem se comia o melhor Doner e o melhor Kebak, era tambem um ponto de encontro para os turistas que ainda restavam irem comprar algum souvenir e recordacao daquela viagem.
Artur passava os dias entre o hospital e o loja de comercio de Akbar era pouco o tempo que passava em casa ate porque o que ele queria mesmo era estar no hospital. Artur inicialmente queria convencer-se a si proprio de que queria estar no hospital porque era ali que as pessoas enfermas e doentes precisavam dele, nao queria amitir que a atraccao que comecava a sentir por Ashia era muito forte e que isso lhe poderia trazer problemas.
Segundo a tradicao e cultura muculmana os casamentos estavam destinados pelos pais quase desde a nascenca e provavelmente ela Ashia estava compremetida com alguem desde ha muito tempo e ele nao queria nao podia arranjar problemas, ela apesar de fria e distante como quqlquer jovem mulher muculmana para um homem sobretudo nao muculmano era ja uma amiga e o pai dela Akbar tambem ja um grande amigo.
Ashia estava de facto noiva, seu noivo estava ausente era militar e estava em missao fora do Cairo na ultima carta dizia que iria voltar em breve Artur sentia que embora aparentemente feliz Ashia parecia ter alguma incerteza, duvida e problema e sem que ele lhe pedisse ela desabafara tudo com ele pedindo-lhe o maximo segredo. Ashia confessara que em tempos amara demasiado o noivo mas que agora ate estava preferindo a ausencia dele pelo menos ate ela ter certeza de umas coisas e de seus sentimentos nesse ponto ela nao quis adiantar muito mais mas falou-lhe sobre outras coisas que lhe iam na mente. Ashia sentia que agora nao podia voltar atras a nao ser que o noivo nao a aceitasse e a acabasse por recusar na tradicao islamica e na mesma cultura uma mulher solteira que nao fosse virgem nao era aceitavel, era reprovada e considerada estragada, dificilmente alguem a aceitaria assim so alguem muito pobre e humilde e perante um bom dote, Ashia ja se tinha entregue ao noivo nao so seu corpo como sua virgindade e agora nao estava certa se amava mesmo mas pelas leis morais e religiosas da sociedade em que vivia nao podia voltar atras.
Artur ficou com aquela conversa no pensamento, aquilo perturbava-lhe o sossego das ideias se ja era forte o que ela lhe contara nem queria pensar naquilo que ela nao lhe quisera contar. Olhou o relogio era altura de preparar para uma nova cirugia ele e depois ir para o banco de urgencias a nova epidemia do Virus Oeste do Nilo voltava a aumentar e tinha muito trabalho pela frente. Ashia naquele dia faltara ao trabalho pelo que o corpo auxiliar do hospital lhe mandara uma outra Enfermeira a ideia nao lhe agradara alem de estar ja habitaudo a forma como Ashia trabalhava e ja se comunicavam com perfeicao alem do mais uma cirugia era sempre uma cirugia.
Ashia chegara ao hospital vestida com uma mistura de trajes islamicos e europeus, trazia um veu Shayla ela tinha o privilegio de escolher como se queria vestir e apresentar o pai dera-lhe esse direito de escolher no entanto advertiu-a de que um dia nao seria ele a consentir e nem ela a decidir como se havia de apresentar ou trajar Ashia nunca usara uma Burca na vida ou ate mesmo um Niqab mas raramente deixara de usar Sari hoje estava ali de jeans e tenis desperada e numa enorme choradeira.
Demorara algum tempo a que Artur conseguisse o seu intento principal desde que a vira naquele estado e quando ela acalmou la lhe contou Sajid o noivo havia morrido em combate ela estava ou pelo menos sentia-se perdida alem de perder o noivo ainda estava impropria para servir de esposa para quem quer que fosse e quando o pai viesse a saber isso ia-lhe cair tudo em cima. Que fazer?
Ashia contou-lhe finalmente o segredo que nao tinha querido compartilhar com ele, ela estava atraida e a sentir-se apaixonada por outro homem, outra pessoa se agora as coisas pudessem ser diferentes havia ainda um ultimo obstaculo ele nao era muculmano quando ele lhe perguntou quem era essa pessoa ela respondeu apenas secamente antes de fugir que era a pessoa com quem ele estivera a falar naquele momento.
Durante dias ele nao a viu, ela tinha sido dispensada do trabalho e so queria mesmo estar sozinha e sem ninguem a sua volta ele nao assistira ao funeral de Sajid e nem voltara a frequentar a loja de comercio de Akbar fora o mesmo Akbar que o procurara.
Ashia estava perdida ele ja sabia de tudo e nao queria que seu nome ficasse sujo nem ver o mesmo nas bocas do povo e sobretudo da comunidade islamica do Cairo da qual ele era um dos lideres a ideia dele era levar Ashia para fora dali sem levantar suspeitas algo que estava bem complicado, contou-lhe o seu plano Ashia iria com ele para Portugal e ele dar-lhe-ia toda a ajuda que pudesse em Portugal ela decidiria o que fazer da sua vida e como ou com quem a pretendia viver.
Artur aceitou a proposta impondo uma condicao ele casaria com Ashia em Portugal ou onde quer que fosse ele queria que Akbar lhe entregasse a filha dele da mesma forma que um dia acordara entrega-la a Sajid nem que para isso e para o matrimonio ser aceite pela sociedade ele se tivesse que converter ao islao, Akbar esticou-lhe a mao, apertaram as maos, o negocio estava feito do valor do dote logo se falaria, Artur recusou essa ideia.
A jovem muculmana nao ficou descontente com a ideia do casamento com Artur alem de que sempre sonhara partir para a Europa e tinha agora a sua oportunidade e nao negava que embora nao se sentisse verdadeiramente apaixonada como estivera por Sajid um dia quando se entregou a ele de alma e coracao mas achava Artur alem de um bom homem carinhoso, atencioso, meigo com ela via-o igualmente como um homem tipicamente europeu de ideias liberais, Artur era tambem bastante bonito e inteligente. Ela so tinha a ganhar com aquele matrimonio.
Havia que se dar um tempo para se respeitar o luto por Sajid ele Artur sabia que o tempo de luto na Religiao muculmana era de quatro meses e dez dias esse tempo estava longe de chegar e ele sabia que o seu estagio estava a terminar e logo de seguida terminaria seu visto e ele nao podia ficar no Egipto.
Artur ja frequentava a Mesquita regularmente e orava como os outros eles tratavam-no como um semelhante. Artur a pedido de Ashia orava agora por Akbar que estava cada vez mais doente e fraco, restava-lhe pouco tempo assim como restava pouco tempo a Artur para poder permanecer no Cairo. Ashia chorava, Akbar estava cada vez mais doente e ja perdera a lucidez e Artur via o seu tempo a esgotar-se.
Tudo chegara ao fim pelo menos ali no Cairo ficara combinado que logo que o luto de Sajid chega-sse ao fim ela iria para Lisboa ter com ele e entao casariam, como noiva fiel e obediente ela suplicou a ele que a deixasse ficar mais um tempo gostaria de passar os ultimos tempos de vida do pai com ele mas isso so seria possivel se o futuro marido consentisse, ele abracou-a explicou-lhe que embora agora ele fosse um muculmano a considerava livre de escolher e decidir, era um direito dela, abracou-a uma ultima vez.
Em Lisboa tudo parecia diferente os pais aceitaram as decisoes dele, tinham orgulho naquele filho era o mais importante, os amigos alguns olhavam incredulos aquele mudanca em Artur que parecia distante dos locais, habitos e costumes de antigamente alguns consideravam mesmo que a mudanca havia sido benefica e aos poucos ja todos aceitavam que nao havia diferenca entre Artur e Abdul como o mesmo agora queria ser chamado.
Artur ou melhor Abdul acabara de acordar tinha uma carta de Ashia na mesa de cabeceira deixada pela mae. Ele tinha decidido continuar a viver com os pais enquanto Ashia nao chegasse e enquanto o casamento nao se realizasse. Ashia na carta dizia-lhe que restavam semanas, talvez dias, jamais meses a Akbar o cancro se espalhara por todo o corpo e inclusive ele ja nem estava mais em casa, tinha sido levado para o hospital nao reconhecia ninguem nem mesmo a esposa. A familia que era apenas ela, a mae e o irmao ja tinham decidido o que fazer para nao haver problemas a casa da familia nao seria vendida mesmo depois dela ir para Portugal e a loja seria vendida e o dinheiro dividido entre todos depois de decidir isso ela iria para Portugal sem olhar para tras.
A campainha tocara ninguem em casa como sempre portanto la fora ele abrir, era Ashia estava quase irreconhecivel. Estava abatida, palida e evidenciava o cansaco da viagem que era longa. Ele agora Abdul abracou-a e elogiou a forma como ela se vestia tenis, jeans e t-shirt como era normal numa jovem como ela, o cabelo tambem estava solto e brilhante, ainda mais brilhante.
Depois da surpresa feita e refeito do efeito da mesma sentaram-se a conversa no sofa e logo combinaram que depois de conversarem o que tinham a falar no momento iam dar um passeio por Lisboa, ele Artur ou Abdul tanto fazia ambos era so uma pessoa queria leva-la a ver os bairros historicos da cidade, iriam ate a Mesquita e ele queria tambem leva-la a uma casa de fados para ela ouvir ao vivo a musica que no Cairo ele tanto gostava de escutar. Por fim Ashia explicou-lhe que depois de lhe enviar a ultima carta aquela que ele tinha recebido minutos antes ela fora para o hospital e fora a propria mae a dar-lhe a noticia Akbar ja nao era vivo, ja nao estava entre eles. Logo ela decidiu mesmo antes de se ver a venda loja que ia para Lisboa se ate ao momento o lugar de boa filha era ao lado do pai ate ao ultimo momento agora considerava que o lugar de uma boa futura esposa era junto do futuro marido e partira dois dias depois do funeral, estava ali agora cumprindo o que a sua mente lhe dizia que deveria ser feito.
Pobre Akbar pensara ele, pobre velho amigo que no Cairo o tratara como um filho desde o inicio, homem bondoso e integro um exemplo de homem que ele sonhara seguir. Olhou-a de novo beijou-a e foram para a rua ver a cidade, passear abracados na avenida, ele e Ashia, sua futura esposa, sua amada muculmana.
Manuel Goncalves
Gostei muito de ler, eu não teria tanta imaginação e conhecimentos para escrever algo sobre o Cairo. Muito bem!
ResponderEliminarCaroline, as ideias criam-se depois escolhem-se os locais por fim nao ha nada que uma boa pesquisa nao consiga resolver ou pelo menos ajudar, foi o que aconteceu para ter o nome do melhor hospital do Cairo fui pesquisar.
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