Ele sabia que estava a cometer um crime sendo casado com duas mulheres, tendo duas familias e ate mesmo duas vidas embora somente um nome. A sua profissao como Piloto de uma compahia aerea em voos transatlanticos facilitava-lhe a vida toda e fazia com que tudo pudesse ser perfeito e tambem ele conseguisse dar tudo o que as duas esposas precisavam sem faltar nada aos filhos e filhas tanto de um lado como de outro. Amava todos da mesma forma e rezava para que nada um dia fosse descoberto, nao o obrigassem a escolher entre uma das esposas e uma das familias era como ao faze-lo estivesse a desprezar a outra familia quando eram ambas do seu sangue das suas raizes, preferia morrer ao ter de o fazer. Nem sabia o que fazer quando se viesse a reformar. Como iria justificar as ausencias.
Sabia que um mais um nao eram tres mas era com esse resultado que toda a sua vida tinha sido desde que casara com a segunda mulher sem a menor intencao de abandonar a primeira, sentia que estava a fazer um jogo de alto risco como quem disputava uma partida de Xadrez ao mais alto nivel sem conhecer as regras, o movimento das pecas, etc. Gostava de um dia poder passar uma Noite de Natal junto com todos mas sabia que isso era de todo impossivel ou pelo menos a verdade sobre a maior falha da sua vida teria que ser descoberta.
Estava em Lisboa sentado a mesa ao Pequeno-Almoco e pensava nos seus que estavam no Rio de Janeiro no Brasil no dia seguinte sabia que seria exactamente ao contrario estaria no Rio de Janeiro a mesa ao Pequeno-Almoco e pensaria nos seus que estavam em Lisboa, no fundo eram todos dele.
Preparava-se para a viagem, o seu trabalho era viajar nada do outro mundo, despedia-se dos filhos que estavam em casa e perguntava mais uma vez a esposa de Lisboa, a portuguesa se era preciso mais dinheiro para mais alguma coisa, as despesas extras iam aparecendo conforme os filhos foram crescendo as faculdades nao eram de graca e tinha em Portugal dois rapazes que ja frequentavam as mesmas a filha ainda estava no ensino secundario. Eram despesas extras que nao afectavam em nada o orcamento financeiro daquele homem que chegava a ganhar mais de 10000 euros por mes de ordenado e tinha tambem alguns investimentos rentaveis a dar-lhe lucro como accoes na bolsa e aplicacoes bancarias seguras.
Jorge era o seu nome Jorge Aguiar. Em Portugal era casado com Amelia uma esposa dedicada, conservadora, que vivia para a casa, filhos e marido. Considerava o mesmo um bom pai, um Chefe de familia exemplar um exemplo a seguir perante a sociedade que o rodeava. Havia apenas um senao era as suas longas ausencias mas nao o condenava, sabia que a justificativa era o seu trabalho e quando casara com ele ja sabia que era assim embora na altura ele fosse ainda um jovem Piloto que fazia a ligacao de Portugal Continental com os arquipelagos da Madeira e dos Acores e voos como Lisboa-Porto mas o sonho de uma carreira brilhante fizera-o apostar nos voos de longo curso e transatlanticos e como sempre o dinheiro tambem contava.
Vestia a farda a rigor, a camisa acabada de engomar ainda estava quente, Amelia ajeitava-lhe melhor a gravata, sorria-lhe, abracava-o, com um longo beijo. Seria ele merecedor de todo aquele amor, de todo aquele carinho e afeto? Ela sem duvida iria responder que sim, ele era o seu marido, pai de seus filhos, homem fiel e a quem ela sempre havia sido fiel.
Lamentava que a mulher o visse como ele realmente nao era mas nao podia de forma alguma aceitar que ela o visse como realmente era. Sim era-lhe fiel, fiel, mas so em Portugal chegando ao Brasil as coisas iriam mudar, mudar e muito.
Conduzindo em direccao ao aeroporto sem muito transito pela frente ligou o radio numa das pausas que teve de fazer nos semaforos luminosos. A musica era uma das suas paixoes e nao escondia esse facto de ninguem no Rio de Janeiro chegava mesmo a tocar com uma banda amadora, era apaixonado por Jazz e o saxofone e trompete eram os instrumentos que tocava com a perfeicao e talento de poucos profissionais era muito aplicado em tudo que se envolvia e no seu dicionario so existia uma palavra quando entrava em novas descobertas e conhecimentos, perfeicao. A musica espalhava-se agora pelo carro cortando o silencio que envolvia o seu ambiente ate entao, Dois amores, foi a musica que envolveu o carro a seguir a um curto espaco noticiario e de publicidade. Ve-lo mais uma vez pensar se aquela nao deveria ser a musica da sua vida.
Durante o voo desviava o assunto de tudo e de todos a sua volta unicamente se concentrava na sua missao, no seu trabalho e era talvez essa sua qualidade que fazia de si um bom Piloto talvez ate dos melhores que a compahia aerea tinha. Naquele momento pensava somente na seguranca daquelas pessoas, na vida das mesmas, tudo dependia do seu trabalho e conhecimento. Bastaria um erro, uma distraccao e tudo poderia ser fatal e tragico. Ele num aviao cheio tinha a vida de mais duas centenas de pessoas nas maos e sabia o quanto isso era uma enorme responsabilidade nao so por aquelas pessoas mas por quem estava dependente dos mesmos. Agradecia a Deus sempre que o aviao batia no solo em seguranca significando uma aterragem perfeita.
Ja no Rio de Janeiro saia do aeroporto e seguia para casa tinha a familia brasileira a sua espera e oxala agora que estavam quase a entrar de ferias nao lhe viessem novamente a insistir na ideia de quando e que ele os levaria de ferias a Portugal. Nao era uma ideia de todo arriscada mas na qual preferia nao apostar, teria de alugar uma casa e simular aos olhos da familia portuguesa de que estava no brasil assim como iludir a familia brasileira de que aquela era a sua casa onde morava sozinho.
Agora que estava a caminho de casa tinha que esquecer um pouco os seus que estavam em Portugal tinha que ter o maximo de cuidado a comecar por nao poder trocar os nomes as mulheres e aos filhos sem esquecer uns e outros. Todo o cuidado era pouco e trocar o nome as mulheres poderia deitar tudo a perder, nasceria pelo menos uma desconfianca. Amelia e Kellen tiham muitas coisas em comum o ciume extremo e quase doentio era uma.
Kellen era uma mulher menos conservadora que Amelia e nao abandonava a casa e os seus deveres familiares, desempenhava igualmente o papel de mae mas nao aceitara de forma alguma deixar o seu trabalho e carreira e tornara-se uma das arquitectas mais conhecidas do Rio de Janeiro.
Kellen recebera-o da mesma forma calorosa de sempre, sorriso aberto, caloroso e mais uma vez ele se perguntara se era merecedor de tudo aquilo. A esposa no entanto estava com algum problema a perturba-la a Empregada Interna se havia demitido tinha conseguido um visto para ir trabalhar para Portugal, a proposta era irrecusavel e a mesma nem pensara duas vezes iria ganhar numa semana em Portugal mais que em cinco meses naquele trabalho e enquanto nao encontra-se uma substituta a altura a casa iria ter um pouco a deriva.
Jorge conhecia pouco a Empregada e nao se mostrou muito preocupado com o caso mas nao gostou de ver a casa naquele estado e naquela forma ordenou a Kellen que arranja-se alguem o mais rapido possivel ou que deixa-se o trabalho de Arquitecta para se dedicar aos deveres domesticos. Kellen nao suportou tal ideia e aquele casal que raramente discutia teve uma briga forte, talvez a primeira desde que se haviam casado. A Arquitecta acusou o marido tambem ele de nao desempenhar as suas funcoes de marido devidamente derivado ao mesmo estar constantemente ausente.
O Piloto retirara-se um pouco e foi ate ao terraco apanhar ar. Jorge reconhecia que se excedera e nao se lembrava nunca de ter uma discussao tao forte tanto com Kellen como com Amelia ou com quer que fosse. Era ou pelo menos considerava-se um homem calmo e acessivel mas aquele episodio fizera-o o pensar novamente. Se ele fazia toda aquela guerra por chegar a casa nao ter o jantar a horas e quem o servisse o que iria pensar Kellen se soubesse que ele era casado com outra mulher em Portugal? Que embora casada com ele ela era a sua segunda esposa nao a primeira e unica ou a legitima? Que iria pensar ela?
Estava sentado num bar de uma avenida que ele mal conhecia e que estava na divisao dos bairros de Ipanema com Copacabana. Nao era muito frequentador daqueles lugares, devido a sua profissao tinha de passar algumas horas sem beber e quando bebia habitualmente era sempre em casa. Gostou do ambiente, da musica ao vivo e do ar que se respirava sem dar por ele ja ia na quinta, sexta ou talvez setima caipirinha quando resolveu ganhar coragem e ser homem pelo uma vez na vida, assumir um erro, ir para casa e pedir desculpa para Kellen rever os filhos que nao via a mais de um mes e aproveitar aquela estadia de duas semanas ao maximo com eles. Nao se sentia capaz de conduzir, sentiu um vazio imenso, triste e sozinho nao sabia que eram sinais tipicos da embriaguez mas nao deixou de pensar correctamente e passar numa florista comprar um boquet de rosas para Kellen.
Sentados a mesa pareciam uma familia exemplar e seriam-no de facto se nao fosse aquela mentira que desconheciam e na qual Jorge queria mante-los a qualquer preco. Era o preco a pagar de manter todos felizes. Jorge as vezes pensava como seria quando ele se viesse a reformar por isso mesmo estava a criar negocios para poder justificar as suas longas ausencias tanto a familia em Portugal como a familia no Brasil. Kellen sorriu-lhe e serviu-lhe o Jantar, Bacalhau com Natas e prometera-lhe fazer um Feijoada a Transmontana no final de semana quando tivesse mais tempo. Ele sabia que ela estava a esforcar-se, a aplicar-se por ser a dona de casa que ele desejava e queria que ela fosse, fazer-lhe as comidas que ele adorava era uma amostra disso, era bem mais, muito mais do que ele realmente merecia.
Todo o tempo restante que ele passara no Rio de Janeiro naquela estadia correra sem mais incidente Kellen contratara uma nova Empregada Interna e tudo voltava ou comecara ainda a voltar a normalidade. Jorge saia agora do aeroporto e seguia para casa.
Em casa Jorge tinha que disfarcar a situacao as camisas nao podiam estar engomadas como Kellen as engomara tinha que dar a entender que trazia roupa para ser lavada e tratada com Amelia era mais complicado esconder essa ausencia de roupa para ser lavada e engomada ja que era ela Amelia que como domestica tratava disso em casa.
Amelia recebera-o com alegria o mesmo sorriso de orelha a orelha de sempre e ali nao notara nada fora da rotina mas notara que apesar de tudo ela tinha algo para lhe contar, algo importante e Jorge esperou ela decidir falar o que tinha para falar esperou que nao fosse nada de preocupante. Estivera quase um mes ausente Amelia devia ter novidades para lhe contar.
A novidade e que ela, Amelia, e uma amiga tinham decidido abrir um restaurante de comida exotica, afrodisiaca num dos centro comerciais mais frequentados de Lisboa. A ideia agradou a Jorge a mulher nao podia viver para a casa e a familia, os filhos ja estavam crescidos era bem pensado ela arranjar algo com que ocupar o seu tempo e se entreter. O investimento era pequeno apenas umas obras e o aluguer do mesmo e o lucro de retorno era garantido a curto prazo.
Tinham acabado de chegar a festa de inauguracao Jorge estava prestes a partir para mais um temporada no Brasil. Ja conhecia o restaurante e o local mas ainda nao conhecia os funcionarios do restaurante de Amelia. A esposa correu para a cozinha e entretanto quando regressou chamou uma das empregadas de mesa.
A surpresa foi geral tanto para Jorge como para a mesma felizmente conseguiram disfarcar e nem Amelia notou. A mesma funcionaria era nem mais nem menos do que Luana a antiga Empregada Interna da sua casa e da sua familia no Brasil. A partir daquele momento aquele segredo da sua vida deixava de ser apenas seu e nao sabia como Luana iria reagir mas certamente iria tentar tirar proveito da situacao.
Jorge deixara passar alguns dias queria encontrar a mesma sozinha e sem ser ali no restaurante talvez o melhor ate fosse esperar que a mesma desse o primeiro passo tentar esconder a preocupacao mas nao foi capaz deu por si a espera da mesma chegar ao centro comercial para a chamar e irem conversar.
Luana nao se mostrou muito preocupada com o facto de Jorge trair ao mesmo tempo a antiga Patroa do Brasil e a nova Patroa em Portugal achou tudo uma feliz coincidencia. Jorge nao teve duvida para ela achar uma feliz coincidencia ia chantagea-lo.
A jovem lembrou que Jorge cometera um crime de bigamia tanto no Brasil como em Portugal o mesmo iria preso mas o seu silencio tinha um preco exigiu-lhe 200 mil reais. Eram 50 mil euros e Jorge podia paga-los ali no momento com um cheque mas pediu-lhe um tempo nao para pensar mas para arranjar o dinheiro.
Na ideia de Jorge havia o risco de Luana continuar com a chantagem e isso poderia ser prejudicial era preciso descobrir algo sobre a mesma para conseguir cala-la. Jorge estranhou como e que uma simples Empregada de Mesa em Portugal conseguia ganhar mais numa semana em Portugal que em cinco meses no Brasil, isso era impossivel! Jorge contratou um Detective para seguir Luana, descobrir tudo sobre a sua vida actual e sobre o seu passado.
Nem o seu regresso ao Brasil deixou a sua mente perturbada se o amigo Detective nao descobrisse algo serio sobre Luana o mesmo estaria em suas maos e nesse caso Jorge chegou ate mesmo a pensar em contratar um Matador Profissional para acabar com a mesma. Ele estava por tudo, disposto a tudo para que nada se viesse a saber. Era fundamental seriam duas familias destruidas, seria a felicidade de Amelia e Kellen e nao permitia de forma alguma que alguem viesse a provocar a infelicidade dos seus filhos.
Chegara de regresso tanto o Detective contratado como Luana o haviam tentado contactar pelo telemovel portugues. Inteligentemente resolveu por bem ir ter com o primeiro ate porque o mesmo numa mensagem garantia-lhe ter boas noticias para dar e o que o mesmo lhe tinha para dizer podia ajuda-lo a confrontar Luana, chantagea-la de igual modo e ficarem em par de igualdade.
O Detective que Jorge contratara tinha-se saido aparentemente muito bem. Descobrira que Luana trabalhava so no restaurante por fachada e que onde ela ganhava mesmo dinheiro era numa casa de massagens, uma das melhores e mais frequentadas de Lisboa. Luana tambem nao estava em situacao totalmente legalizada em Portugal. O mesmo apresentara tudo a Jorge documentos, fotos de Luana com clientes em restaurantes e bares e ate numa cena de sexo dentro do carro que alem de fotografada estava filmada. Jorge agradeceu, considerou que o mesmo fizera um bom trabalho, pagou e foi ao encontro de Luana. Agora estavam em par de igualdade.
Logo que chegou Luana nao perdeu tempo e perguntou-lhe se o mesmo ja tinha arranjado o dinheiro Jorge resolveu brincar com a situacao e entregou um envelope a Luana onde supostamente estaria o dinheiro. A mesma sorriu e abriu seriam 200 mil reais no Brasil mas... o envelope nao tinha dinheiro e Luana comecou a ver a fotos que a deixavam comprometida, que lhe mostravam e provavam a sua vida dupla que levava e que em Portugal ninguem suspeitava no Brasil ninguem imaginava.
Jorge nao perdeu tempo e lembrou-a, perguntou-lhe o que iria pensar a familia dela no Brasil ao saberem que a mesma era uma Garota de Programa, Jorge sorriu, a Empregada Domestica dele no Brasil em Portugal era Puta e simulava ser Empregada de Mesa num restaurante.
Luana implorou a Jorge pelo seu silencio um iria silenciar o segredo do outro e largou num choro pranto confessou que fazia aquele trabalho para juntar dinheiro para pagar a operacao da mae no Brasil e que viu na descoberta do segredo de Jorge uma forma de conseguir esse dinheiro mais rapida e segura. A familia nao podia nem sonhar ou pensar que a mesma era Escort em Portugal quanto mais ter a certeza disso, seria uma vergonha e jamais a perdoariam.
Jorge viu que a mesma estava a ser sincera como se veio a comprovar mais tarde e decidiu ajudar a jovem a salvar a mae, emprestou-lhe o dinheiro que era preciso Luana nao queria nem acreditar como depois de tudo o que ela tentara fazer o mesmo ainda a ajudava daquela maneira. Luana ao enviar o dinheiro para o Brasil que faltava para a mae poder ser operada. Jorge podia ser de facto um homem com uma vida dupla tal como ela propria ainda que em sentidos diferentes mas nao deixava de ser um bom homem pensou Luana e agora so queria mesmo arranjar maneira de pagar o mesmo emprestimo a Jorge o mais rapidamente possivel, olhou o relogio tinha que se despachar os clientes na casa de massagens nao esperavam.
Manuel Goncalves
Gostei muito da história. Por vezes, desejamos que algo semelhante aconteça connosco :) Grande abraço
ResponderEliminarSim e ja um dos meus preferidos de eleicao e sem duvida tem tudo para ser um dos melhores senao o melhor Conto Breve do Blog de 2016.
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