Página

sábado, 30 de maio de 2020

O Amor e a Justica



Era jovem e acabado de  se formar. Sabia que devia a si mesmo, somente a si mesmo o facto de ter chegado ate ali, fora uma longa e exaustante caminhada.

Tinha absoluta nocao do que o esperava e tao exigente ia ser aquela missao, o que acabara de terminar era somente teoria, agora e que ele iria passar para a pratica e lembrava pelos exemplo do pai e do avo que nao era de todo facil ser-se Juiz e do trabalho que se  levava para casa, era impossivel de todo estudar-se tantos casos, realizar-se tantos julgamentos e ler-se tantas sentencas depois de se ter perdido horas a estudar as mesmas unicamente durante o horario de trabalho.

Depois de se ter formado e estar ja colocado numa boa comarca era natural que comecassem a pensar na sua familia que era altura de Antonio comecar um namoro serio com uma rapariga de boas familias, bom nome e de nivel mas Antonio preferia nao o fazer, depois de se formar era altura de gozar um pouco a vida.

A Empregada Interna nova da casa era jovem e bonita, era ideal para ele ter um caso, um pouco de diversao mas tal como as raparigas dos spas de luxo que ele frequentava no maximo sigilo eram raparigas para pegar, usar e deitar fora ja que nao tinham as qualidades que nao ele mas a sua familia consideravam fundamentais para que pudessem ser aceites pela sua familia, nivel, nome e boas origens.

Nao foi dificil que Ines lhe desse um sinal de que ele nao lhe era indiferente tambem, certamente considerava que tendo algo com ele ainda que nada de serio era uma forma de conseguir alguma coisa em troca, roupas, joias, dinheiro. Antonio ficara a saber que Ines viera da provincia e era Estudante no Conservatorio Nacional, tinha a paixao pelo cinema e sonhava vir a ser uma grande Actriz ou Realizadora, queria ir para os Estados Unidos depois de terminar o curso. Realidade, sonho ou ilusao deixa-la viver.

Foi um dos seus muitos casos Antonio comecou a sentir que era capaz de gostar de alguem mas que nao se conseguia de facto apaixonar-se, isso era se apaixonar-se por uma mulher era prender-se a mesma.

Nao era Juiz a muito tempo mas tinha tido ja alguns casos que certamente o iriam marcar para toda a  sua carreira profissional. Chegara ao Tribunal e entrara no seu gabinete, estava pensativo e nao conseguia concentrar-se no seu trabalho, ia ter uma audiencia importante, mas so procurava saber uma razao, motivo para que Ines na noite anterior lhe tenha oferecido a sua virgindade. Olhara um outro processo que lhe tinha acabado de chegar a sua secretaria pelas maos da sua Assistente. Uma mulher cansada dos maus tratos de violencia domestica por parte do marido, um dia dera-lhe um tiro que o acabara por matar. Era um caso de homicidio sem duvida, fossem os motivos que fossem. Mais uma vez antes de entrar na sala de audiencias e julgamento lhe veio a mente o episodio da noite anterior. Teria sido certo ter tirado a virgindade de Ines quando nao queria nada de serio com ela? Teria sido incorrecto, sim teria, mas de lembrar que ele nao sabia de nada, ela nao lhe contara que era virgem antes deles terem ido para a cama e terem feito sexo. Nao podia preocupar-se com isso agora.

Ines acabara por lhe dizer que nao o fizera para o prender e para ele sentir que nao a podia abandonar depois de a ter tornado mulher ou para o conquistar, tambem ela nao queria nada de serio com ele. Fizera-o porque encontrara nele a pessoa certa, que merecia tal presente ao contrario dos outros namorados que tivera ate entao. Sabia que ele ia dar valor a isso enquanto para os outros seria algo banal, que eles com o tempo iriam deixar de dar valor.

Antonio realizara aquele julgamento como todos os outros com calma mas com toda a prudencia e nao deixando de mostrar autoridade quando isso lhe era exigido. Era conhecido como um Juiz muito acessivel e correcto mas que tambem sabia ter mao pesada nas sentencas que aplicava quando isso era necessario.

Fora para os copos com amigos e sozinho ao Jantar bebera duas garrafas de vinho tinto fora os moscateis e portos que foi bebendo.

Ir para casa e conduzir embriagado fora a primeira lei que violara mas o pior estava para vir. Ele sabia que os pais nao estavam em casa e que Ines era a unica Empregada a pernoitar em casa e estava a sua disposicao.

O seu estado de embriaguez alterara-o totalmente e no momento julgava considerar Ines como uma propriedade sua. Ela pertencia-lhe porque era um ser inferior, bem mais inferior que estava ao seu dispor e que ela ja possuira uma vez. Quem possui alguem uma vez pode possuir duas, tres vezes, aquelas que quisesse. Ela ate se deveria sentir feliz e realizada por entre tantas ela ser a escolhida, por ele demostrar algum interesse nela. Ele nao era assim mas a bebida tornara-o assim e naquele momento ele sentia-se todo poderoso e o Dono do Mundo ou pelo menos Dono de Ines.

Chegara a casa o barulho fora enorme, acordara Ines apenas com o barulho e ainda antes de lhe invadir o quarto. Ela ficara assustada nunca o vira assim tao alterado, nunca pensara ve-lo assim daquela forma e notou que ele estava alcoolizado e apesar de tentar resistir, ele era mais forte, bem mais forte, tentou gritar mas estavam os dois sozinhos em casa.

Ele rasgara-lhe a camisa de dormir, arrancara-lhe as roupas, agredira-lhe com bofetadas quando ela tentara resistir e em desespero tentara gritar por socorro. Ela gostava dele, queria estar com ele mas nao daquele jeito, enquanto ele a penetrava sentia-se violada.

Depois de a possuir uma primeira e segunda vez obrigara-a a praticar coisas que ate entao ela nunca fizera e que ate considerava nojento vir a fazer como sexo oral, quase vomitara quando ele a obrigara a engolir o seu semen e por fim para finalizar aquele massacre a colocara numa posicao favoravel e praticara sexo anal com ela. Nunca sentira nada tao doloroso e certamente pelos gritos de dor onde expressava bem o sofrimento por que passava viriam em seu socorro nao fosse o facto de estarem sozinhos naquele enorme casarao. Agora um silencio enorme, Antonio estava deitado em silencio parecia pensativo, levantara-se e deixara-a sozinha ainda a chorar e incredula com o que acontecera nao o conhecia profundamente mas sabia que o verdadeiro Antonio era um homem meigo, carinhoso e nada a ver com aquele mesmo Juiz frio e implacavel que se comecava a tornar.

Nao trocaram uma unica palavra sobre o sucedido na manha seguinte quando se encontraram para ela lhe servir o Pequeno-Almoco. Ela estava de uniforme a sua espera na sala como sempre o fizera para o servir.

Ines estava de facto assustada ou pelo menos com medo do que viesse a fazer a seguir, nao acreditava que fosse capaz de repetir tal acto, mas nunca se sabe. Tinha vontade de ir embora, mas ali em Lisboa sozinha, ir-se embora para onde? Tinha sonhos objectivos para cumprir e realizar, atingir coisas que sempre sonhara atingir.

Ele violara-a era um facto era algo traumatico mas que para ja ela sentia que seria ultrapassavel. Ele estava bebado e ela comecou a pensar que ele nem se lembraria de nada.

Lembrava-se e estava nervoso, queria falar com ela mas nao sabia como abordar o assunto. Queria saber se ela iria apresentar queixa contra ele na Policia ou se iria contar aos pais o que se tinha passado. Perguntou-lhe entao, claramente, se ela iria apresentar queixa ou contar a alguem? Respirou de alivio quando ela lhe garantira que nada iria fazer na condicao de ele nao repetir o mesmo, jurara-lhe entao que jamais tocaria nela sem a sua concordancia.

Chegara a sala de audiencias, iria ele enquanto Juiz e Magistrado julgar um caso de violacao. Queria concentrar-se no trabalho e em tudo o que se passava naquele momento, mas so lhe vinha a ideia uma coisa. Ele estava a julgar um violador, ia ao que tudo indicava condenar um violador a 8 anos de cadeia, ia manda-lo para um presidio onde certamente os outros presos lhe iriam fazer-lhe a vida negra, talvez, ate viola-lo e mata-lo. Ele voltara a pensar, ia condenar um violador e ele desde da noite anterior tornara-se o que? Tinha capacidade, poder para o fazer porque era Juiz, estudara para isso mas que dignidade e moral tinha ele agora para o fazer.

Dera por si a comprar um ramo de flores e a entrega-lo a Ines era uma forma de lhe mostar arrependimento, mais uma forma de demostrar que se sentia arrependido e mal com o que tinha feito. Chegara a casa e entregara-lhe as flores, convidara-a para Jantar fora. Antonio sentia agora que eram pequenos gestos como aqueles que o faziam ser um violador diferente daquele que ele tinha condenado naquela tarde. Ele era um violador arrependido que procurava o perdao da vitima.

Iam a sair para o Jantar quando o telemovel dele tocara era a tia que vivia em Milao e que os pais tinham ido visitar. Recebera ali a pior noticia que alguem podia desejar receber. O barco onde os pais tinham ido dar um passeio naufragara e eles acabaram por cair ao mar e morrer afogados.

Era castigo por tudo o que ele andara a fazer aproveitando-se do seu estatuto, poder e forca acabara por condenar criminosos, era o seu trabalho mas no fundo eram criminosos de facto mas que haviam cometido os mesmos crimes que ele. Perante a Justica dos homens ele ficara impune mas sentia que Deus o condenara pelos seus erros e falhas.

Quem ia agora gerir os negocios da familia. Ele sabia que um dia essa tarefa lhe seria entregue mas de momento ele era um Juiz, Magistrado nao era nenhum Industrial ou Empresario. Era o pai que ate entao tratara disso e gerira tudo, ele nao sabia agora se podia confiar nas pessoas que estavam a sua volta. Ele sabia que corria o risco de remar para uma profunda falencia nas suas empresas, teria que dedicar-se aos negocios a tempo inteiro e ele so queria continuar a ser Juiz.

O funeral, a aprendizagem de uma nova vida e Ines ali sempre a seu lado, deixara de ser uma simples Empregada e tornara-se sua assistente que ele transformara em sua amiga e confidente. Ines deixara quase tudo para tras os objectivos que sempre sonhara realizar para aprender tudo acerca de gerir as empresas e negocios de Antonio e estava-se a sair muito bem, fechara bons negocios e obetera bons contratos para a exportacao de vinhos.

Ela era pobre e de raizes humildes e ele nao via crime nisso. Ela era pobre porque no pouco tempo que geria os seus negocios se recusara a tocar num tostao que nao fosse seu. Ela nao o roubara e isso era notavel nem mesmo quando tivera que lhe pedir dinheiro emprestado para pagar a operacao da mae as cataratas.

Nao queria esperar mais tempo sobretudo agora que ela lhe contara que a noite em que ele a possuira a forca trouxera-lhe algo de bom, ela estava gravida. Ele naquele momento tivera a certeza que aquele erro havia trazido coisas boas e positivas, era a ela que ele amava, era com ela que ele queria casar, era ela que iria ser a mae do seu futuro filho.

                                                                                                                   Manuel Goncalves







Sem comentários:

Enviar um comentário