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quinta-feira, 23 de setembro de 2021

O Aniversario de um Homem So



Era o dia do seu aniversario e tantas memorias tinha para recordar daquele dia em anos anteriores. Umas boas, outras menos boas e havia ainda as que realmente nao eram nada boas, eram essas que ele preferia que nunca tivessem existido.

Nao deveria ser facil viver-se assim como ele vivia, sempre sozinho ou simplesmente acompanhado da solidao. Uma amiga fez referencia a isso no facebook e ele simplesmente respondera que nao se sentia sozinho, era um homem de fe e crente, sabia que em cada momento e em cada passo Deus o acompanhava, era o suficiente. Por outro lado continuava a achar um pensamento errado o facto de dizerem que ele estava sempre sozinho, se por exemplo no dia do seu aniversario restava-lhe muitos amigos com quem podia estar, celebrar e beber uns copos. Era um homem sozinho e sentia-se feliz por isso porque nos dias que corriam estava sozinho por iniciativa e decisao propria.

Considerava mesmo que tinha grandes amigos e amigas para isso lhe tinham servido as redes sociais em que ele estava inscrito que mesmo assim nao eram tantas como isso. Seguia o Facebook com muita frequencia, o Telegram e mais uma ou outro que raramente usava.

Tinha comecado recentemente a conversar com uma nova amiga Professora de Historia, tambem uma mulher que era solteira e que se sentia bem com isso como ele. Tinham tido conversas agradaveis com o tema quase sempre a envolver assuntos relacionados com Historia, ela porque era a sua area e ele porque embora nao fosse a sua area, era, a paixao em que ele tinha sonhado vir a formar-se. Na sua adolescencia vendo os programas na televisao do velho e culto Jose Hermano Saraiva, sonhara um dia vir a ser como aquele homem mas cedo lhe faltaram as oportunidades e viu-se com as pernas cortadas como se costumava dizer.

Emigrara e nao se sentia arrependido com isso, tinha sido o melhor que lhe acontecera na vida. Por terras de Sua Majestade trabalhara mais de duas decadas e tinha ideias de continuar mais de duas para vir a reformar-se e seguir depois para terras lusitanas onde tinha o sonho e desejo de gozar uma calma e descansada reforma e velhice.

As idas a Londres no ultimo mes eram agora uma exigencia ja que precisava de novos documentos de identificacao e com a pandemia era complicado ir ate Portugal, restava-lhe as idas ao Consulado Portugues em Londres para o qual tinha esperado cerca de sete meses por uma marcacao. Depois de ter estado duas semanas antes para fazer novo Cartao de Cidadao, era agora tempo de o ir buscar ou ter que esperar dois meses que o mandassem pelo correio. Estava de ferias, servia de passeio e chegara o dia da ida a capital inglesa.

A nova amiga mal soubera da sua ida ate Londres pedira-lhe se ele nao lhe podia comprar uma recordacao londrina e enviar-lhe pelo correio. Comprara entao duas T-shirt's uma para ele e uma para a nova amiga e mandara-lhe logo no dia seguinte.

Eram momentos como aqueles em que criara nao so boas amizades mas lacos muito fortes com pessoas que ele gostava de criar. A situacao mais marcante fora a de uma amiga do Porto que depois de meses de conversa e amizade recebera o convite de vir ao Reino Unido, ir dar um passeio a Londres como ela desejava e ficar hospedada em casa dele. Foram momentos inesqueciveis, tao diferentes daqueles que ele queria tanto esquecer e que passara com outra pessoa, em parte tambem ali, em Londres.

Sentia-se novamente apaixonado mas tanto ele como ela decidiram nao seguir em frente para uma relacao amorosa, ambos queriam, mas com a distancia que os separava seria impossivel manter um relacionamento assim, para que nenhum se magoasse demasiado fora decidido por ambos ficarem assim, somente amigos. Ficaram amigos mas era ela a sua musa inspiradora em alguns dos seus poemas e contos breves, ela ficava feliz por saber isso porque tambem ele nao lhe tinha ficado indiferente.

Agora era aquele o dia do seu aniversario, era apenas mais um ano e sentia-se triste porque tinha pensado ir a Portugal mas as dificuldades e burocracias causadas pela pandemia fizeram-no desistir. Pensava que no proximo ano tudo seria mais facil, sobretudo porque apanhara ja as duas doses da vacina contra o Covid-19.

Recordava as recordacoes menos boas que tinha do seu aniversario. Iria fazer exactamente dez anos que iludido e julgando-se apaixonado seguira ate Portugal muito forcado por alguem que se dizia apaixonado por ele para no fim nao ter ficado com ele mas terem mantido aquela relacao, fora um erro, se ela nao o queria, era terminar a relacao. No ano seguinte fora a vez dela o visitar em Londres e mais uma vez terem cometido coisas que jamais deveriam ter cometido. Aquela relacao fora um erro, jamais deveria ter existido.

Nao se ficara por ali anos depois e ja com um rompimento ela mais uma vez o obrigara a vir a Portugal com a ameaca de terminarem o relacionamento. Ele viera porque ela nao se sentia capaz de estar mais um ano sem o ver, mais um ano sem fazer amor com ele. Ele viera um pouco contrariado, mas viera porque a amava e nao queria ficar sem ela. Resultado final, na sua despedida de Portugal ela simplesmente lhe comunicara que queria acabar tudo com ele.

Nao fora um balde de agua fria porque com tudo o que se tinha passado naquelas ferias comecava a ser desejo seu acabar com aquela relacao mas faltava-lhe a coragem, como terminar algo com alguem que ele dizia no passado amar tanto?

Ele ia fazer 44 anos e aquela mulher fora o seu amor e paixao dos 17 anos ate aos 39. Perdera muita coisa para la de 22 anos de vida a ama-la em parte iludido pelas falsas promessas dela e juras que acabara por quebrar.

Qual tinha sido o resultado de tudo aquilo, acabara por ganhar um odio, odio de morte aquela mulher com quem um dia fizera amor, com quem dera tudo de si e para ela nada parecia ter tido valor do que ele fizera por ela. Tentara esquecer, desviar os pensamentos para coisas mais positivas, amanha seria o seu aniversario e ele queria estar um pouco envolvido com pensamentos bons, era melhor nao se lembrar de alguem que nunca o amara. O aniversario esse como ja era habitual em anos anteriores, seria passado no restaurante de uns amigos.

                                                                                                  Manuel Goncalves

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