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terça-feira, 19 de março de 2024

A Filha da Empregada

 

Desde que tinha ficado viuvo que Gabriel nao tinha conseguido dedicar-se a mais nada que nao fosse a sua filha e o seu trabalho. A solidao era sua companheira, sua confidente e melhor amiga.

Parecia ser um homem frio mas na verdade era apenas alguem, apenas um homem que nao conseguira ultrapassar a maior tragedia da sua vida. Gabriel Macedo vivia dedicando se unicamente ao seu trabalho, algumas paixoes de segundo plano que ate certo ponto o tinham ajudado a sair da depresao em que vivia aos anos como a Pintura, Escrita e Fotografia e sobretudo o maior amor da sua vida, sua razao de viver, sua filha, tudo o resto era secundario para aquele Arquitecto que tivera em maos no passado grandes obras e por ele estavam a passar e iriam passar tantos outros projectos importantes no pais.

Vivia praticamente no anonimato embora fosse impossivel muitas vezes fugir aos holofotes sa imprensa em geral. Os jornais de quando em quando conseguiam publicar uma foto sua em um evento qualquer, entrevista-lo nao era impossivel mas algo muito raro sobretudo na televisao, procurava ao maxima nao se expor, nao divulgar nada da sua vida privada e sobretudo proteger e esconder ao maximo a filha, a sua amada filha, sua maior fortuna de tudo isso.

Era um homem que chegara a pouco aos 50 anos e que era viuvo quase a 20 anos. A esposa morrera num acidente pouco depois da filha nascer e Gabriel criara aquela menina e filha como pai e mae sozinho com ajuda da Empregada que tambem falecera recentemente e o deixara agora ainda mais sozinho mas ja com Sofia ja criada, a sua adorada filha,

Gabriel era um homem que gostava de luxo e requinte mas era tambem um homem simples e reservado. Seria capaz de almocar num restaurante gourmet de Lisboa com algum cliente mas ao mesmo tempo jantar numa tasca de bairro num beco ou esquina qualquer. Nao era fumador mas ao mesmo tempo nao resistia aos charutos cubanos Montecristo que Sofia lhe trazia de Cuba quando ia de ferias ou que comprava em qualquer loja do ramo, embora os que vinham de Cuba lhe parecessem serem diferentes e melhores. Nao era homem que bebesse muito mas depois do jantar raramente terminava sem beber o seu Jack Daniels com Licor de Mel.

Era uma verdadeira mistura entre o classico e o moderno na sua forma de vestir. Se no dia a dia no escritorio, em reunioes o viam com as suas camisas de marca italiana sempre com uma gravata de marca francesa, sempre bem cuidado e apresentado, jamais vestira uma camisa que nao estivesse bem engomada, jamais estivera em uma reuniao que fosse sem estar apresentavel, perfumado e todos o consideravam um exemplo a seguir na forma de se apresentar.

Chegava a casa mudava de roupa e ficava num estilo moderno e completamente desportista era como se tivesse mudado de figura, personagem ou ate de personalidade. Agora estava de t-shirt desportiva e colorida e com calcas de ganga rasgadas e blusao de cabedal, oculos escuros quando estava sol e que nunca deixava em casa quando ia a praia.

Gabriel Macedo chegara a casa e fora recebido pela filha e pela nova empregada domestica que contratara a pouco mais de tres meses apos a morte da Empregada anterior que lhe deixara uma enorme perda dentro de si ja que fora a mesma que o ajudara a criar Sofia.

A Empregada como sempre recebera-o como ele gostava mas naquele dia Sofia parecia ter visitas e nao estava em casa sozinha com a Empregada.

Quem seria aquela jovem morena que estava a conversa com Sofia que tinha igualmente idade para ser sua filha mas a quem ele nao deixava de reparar na beleza unica e que ao mesmo tempo os tracos do rosto a faziam lembrar alguem mais velha.

Nao tardara muito para tudo se explicar Ana Luisa a Empregada chegara a sala e anunciara-lhe que fazia questao de lhe apresentar a sua filha Filipa que por coincidencia Sofia ficara a saber que eram ja amigas a algum tempo por serem colegas de escola e de ginasio.

Fazia tempo que Gabriel nao se sentia tao bem e nao resistira a anunciar que naquela noite fazia questao de ir jantar com aquelas tres mulheres a filha, a Empregada e a filha da Empregada no seu restaurante de eleicao em Lisboa e quando todos deram conta estavam no Fifty Seconds situado no topo da Torre Vasco da Gama no Parque das Nacoes.

Gabriel era ali bem conhecido porque entre outras coisas aquela torre fora projectada por si e era considerado e chamado ali como o "Pai da Torre Vasco da Gama".

Durante todo o jantar nao deixara de reparar em Filipa, a filha da sua Empregada Domestica e nao deixara de notar o quanto a mesma estava deslumbrada com todo aquele ambiente ao qual certamente nao estaria muito habituada. 

Os dias foram passando e quase sempre Filipa estava la em casa com Sofia e Ana Luisa quando Gabriel chegava a casa. Comecara a notar que a filha da Empregada nao tirava os olhos de si mas parecia afastar-se quando o mesmo procurava aproximar-se.

Gabriel pensara que estava viuvo quase a vinte anos e que tinha o direito de recomecar a sua vida, procurar encontrar outra pessoa sobretudo agora que Sofia estava adulta, mais que criada e qualquer dia casava e o deixava sozinho. Quisera viver para o seu trabalho e para criar aquela filha da melhor maneira possivel mas nesse ponto de criar a filha notara finalmente que, a sua missao estava cumprida.

O Arquitecto comecara a pensar tambem que devia tomar juizo. Era certo procurar alguem para comecar uma nova relacao mas nao completamente certo alguem que tivesse idade para ser sua filha como era o caso de Filipa e para quem ele ultimamente tinha reparado e sentido alguma coisa de especial ou pelo menos de diferente.

Tinha um jantar de negocios com um dos principais vereadores da Camara Municipal de Lisboa e nao arriscara tentar convidar Filipa a ir fazer-lhe companhia ate porque sabia ja por nao ser a primeira vez que tinha um jantar de negocios com tal Vereador de que o mesmo tambem iria sozinho. Alem do mais iam falar de negocios, projectos e certamente isso nao seria do interesse de Filipa.

Iam discutir a hipotese de umas alteracoes no Parque das Nacoes, desde que a Expo terminara que havia muita coisa que estava ali um pouco ao abandono e nao queriam que muita coisa ali voltasse a ser o que fora anteriormente antes da Expo isto em 1998 a mais de 20 anos e que quando Gabriel tocara naquele projecto tudo aquilo eram pouco mais que armazens do Porto Fluvial de Lisboa.

Fazia algum tempo que Gabriel defendia a essa ideia era preciso inovar algum daquele espaco e um daqueles armazens grandes que estavam fechados dariam um optima casino, discoteca ou espaco de diversao noturna e finalmente parecia que lhe comecavam a dar ouvidos.

Depois do jantar e ja talvez com um copo de tinto que deixara o Bacalhau Assado no Forno ficar bem regado sobretudo porque tinham conseguido chegar a um acordo acerca do que fazer ali naquele espaco o Vereador fizera-lhe um convite nao muito propio mas que sem saber a razao ele optara por aceitar. A ideia do Vereador e que nao podiam terminarem a noite sem irem os dois as gajas.

Tinham que ir as gajas para celebrar aquilo mas tambem nao era as gajas de rua do velho Intendente ou Bairro Alto, nem mesmo as gajas de um bar qualquer. O Vereador garantiu-lhe que o ia levar a melhor casa de gajas que conhecia em Lisboa.

Gabriel recordara que fizera daqueles jogos na sua juventude e que o Vereador era bem mais novo que ele, recordara igualmente que fazia bastante tempo que nao estava com uma mulher. Coseguira pensar que naqueles anos de viuvez tinham sido cinco ou seis vezes que estivera com uma mulher e sempre com acompanhantes, preferia chamar aquelas mulheres de acompanhantes ao contrario do Vereador que insistia em chamar aquelas mulheres de gajas.

Dera por si com o Vereador a parar o carro e a entrar num enorme casarao do outro lado de Lisboa, estavam agora em Belem.

Notara que o Vereador era ali bem conhecido, cliente habitual seria mais que certo e mesmo antes do levarem a tomar qualquer coisa por conta da casa ja reparara em algumas caras que nao lhe eram desconhecidas. Ali era o ponto de encontro secreto de alguns Ministros, Deputados, malta do governo com cargos politicos importantes, embaixadores, etc. Se houvesse ali uma rusga naquele momento havia de ser uma coisa interessante havia.

Gabriel perguntara-se a ele proprio o que estava ali a fazer, talvez se tivesse precipitado em aceitar o convite do Vereador so para agradar o mesmo mas nao queria que comecassem a dizer que ele Gabriel Macedo ia a uma casa de meninas, de acompanhantes ou gajas e que nao comia nenhuma. Amanha ou depois comecavam os boatos que um dos arquitectos mais famosos do pais nao gostava de mulheres.

Estava decidido por mais que aquele ambiente lhe fosse estranho, por mais que lhe parecesse ser identico ao escandalo de sexo que abalara o Estado Novo, Ballet Rose, ele nao podia ser diferente dos outros, tinha que ser igual e tambem sentia esse desejo, essa necessidade como homem em estar com uma mulher.

Entrou numa sala chamada de sala vip onde lhe iriam ser apresentadas algumas das novas e melhores raparigas da casa. Para aquele novo cliente segundo a Governanta da casa tinha que ser do melhor que a casa tivesse, tinha que ser carne mesmo fresca, com pouco uso e experiencia.

Mandaram chamar uma rapariga que a Governanta lhe garantia ser do melhor segundo comentarios de outros clientes embora a rapariga estivesse ali a menos de um mes, fazia um enorme sucesso.

A rapariga entrara no quarto para onde tinham levado Gabriel e pedido a ele que aguardasse pela mesmao. 

Olharam se nos olhos e nao se podia dizer qual dos dois ficara mais espantado, qual dos dois havia sofrido a surpresa maior. A rapariga que acharam ser ideal para agradar Gabriel era Filipa.

Filipa tentara-lhe explicar porque razao ali estava. Tudo tinha um preco, um valor, as propinas na Faculdade eram caras, as coisas que ela gostava de comprar tambem e nao seria com um emprego de Empregada de Balcao numa loja de um Centro Comercial qualquer que iria conseguir pagar as propinas, compras as roupas de marca que vestia, os sapatos e perfumes.

Gabriel escutara-a atenciosamente e acalmara a jovem. Prometera-lhe que nem a mae dela e nem a filha dele saberiam que a mesma trabalhava ali, fazia daquilo a sua vida. Filipa jurara-lhe que iria deixar tudo aquilo assim que terminasse o seu curso na faculdade, era para conseguir termina-lo que ela ali estava, ali trabalhava.

Segundo ela os clientes nao eram assim tao maus, eram educados, pessoas importantes e nao a tratavam mal. Acordaram os dois que aquele seria um segredo deles e que se Filipa nao contasse a Sofia que o pai frequentava aquele lugar ele Gabriel nao contaria a Ana Luisa que a filha trabalhava como acompanhante numa das casas de acompanhantes ou de gajas como dizia o Vereador, auqele fora um ponto que ficara combinado entre ambos logo inicialmente depois de se acalmarem da surpresa de se encontrarem um ao outro ali.

Mas o que iriam fazer agora, entre eles? Gabriel confessara que gostaria de estar com ela mas nao daquela forma como cliente e Filipa confessou-lhe algo que ele nem sequer podia imaginar.

Ela apaixonara-se por ele desde do primeiro momento que o vira, nao se importando com a idade dele, nao se importando que ele fosse Patrao da sua mae ou pai da sua melhor amiga. Mantivera-o sempre um pouco afastado dela, nao o deixara aproximar se de si justamente por nao se querer envolver com nenhum homem de foram seria trabalhando ali e fazemdo aquela vida. Por outro lado agora naquele momento se ele aceitasse estar com ela tambem nao se sentiria capaz de cobrar um tostao, fosse o que fosse para ele estar com ela como se fosse um simples cliente.

Acabaram por nao ter nada naquela noite mas sabiam que no futuro seria diferente. Agora ja nao havia nada a esconder e ela iria ser o novo amor da vida dele e nao apenas a melhor amiga da sua filha e muito menos somente a filha da Empregada.

                                                                                                                   Manuel Goncalves

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