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domingo, 30 de junho de 2024

Simples Amigos Ou Familiares



Recentemente passei por isso de ver um grande amigo partir para a sua viagem celestial. Era o meu maior amigo ingles, o meu "English Dad" como um dia os nossos colegas de trabalho alcunharam e com o tempo tomei-o mesmo como o meu "Pai Ingles" tal como a esposa a minha "English Mum" a minha "Mae Inglesa".

Creio que se nao for por uma morte provocada por uma doenca prolongada nunca estamos, ou raramente estamos preparados para ver partir alguem, e foi realmente o que aconteceu. Tive com esse casal de ingleses uma amizade que comecou em 2002 e trabalhamos juntos durante 17 anos, ate 2019 altura em que a fabrica onde trabalhavamos nao renovou o contrato com a agencia para a qual eu trabalhava e isso mesmo assim nao causou que nos tivessemos deixado de estar em contacto. Escrevo realmente este texto porque gostaria de partilhar aqui com voces, o quanto por vezes os amigos fieis acabam por ser realmente os nossos familiares.

Nao tenho uma boa relacao com a minha familia por razoes que nao valem a pena agora salientar mas tenho feito grandes amizades, amizades de onde por vezes parecem nascer parentescos familiares, 

Tenho um amigo que conheci nos meus tempos de meio a final de adolescencia no Centro de Formacao Profissional onde andei, faz ja aproximadamente 30 anos que somos como irmaos e nos tratamos dessa forma por "mano" que sabemos ser uma forma amigavel de chamar "irmao" a alguem e ate mesmo a um irmao.

Ao longo dos meus ja quase (fara dia 10 de Julho) 26 anos de Reino Unido, Inglaterra fiz muitas amizades e tomei conhecimento com muita gente, mas com um casal em particular de ingleses,

Essa amizade tornou se tao forte que levou os nossos colegas de trabalho da fabrica a alcunharem que aquele casal eram a minha "Mum and Dad" uma forma carinhosa que os britanicos tem de chamar a "Mae e o Pai" por "Mama e Papa" muito raramente referindo se ao mesmo os britanicos usam o termo "Mother and Father".

Essa minha experiencia leva me a pensar que a Natureza humana comete por vezes erros bem interessantes e torna familiares ate bem proximos dos quais acabamos por nos afastar por diversas razoes. Eu sou de uma familia onde uns se invejam os outros e nao se importam de fazer tudo o que esteja ao seu alcance, o possivel e o impossivel para os prejudicar. Por outro lado por vezes criamos amizades que ficam para o resto da vida, e com esse casal que ficou como os meus pais ingleses acabou mesmo por acontecer isso.

Familia e uma palavra muito seria ate, familia nao e o que aconteceu comigo de todos virem pedir me auxilio mas quando fui eu a precisar ninguem me conhecia, todos me viraram as costas, e em relacao a ajuda que me pediram, foi dinheiro emprestado que nunca me pagaram.

Podemos tambem ser traidos por simples ou grandes amigos mas ser traido pelo proprio sangue e algo que doi sempre mais, ou pelo menos e o sermos traidos por quem menos esperamos.

Tenho a certeza que Deus me deu uma nova familia quando colocou aquele casal ingles ocasionalmente em minha vida. Terei sempre uma grande honra em lhe ter chamado de meu "Pai Ingles" e chorei, sim chorei no seu funeral como se ele fosse meu pai, como se eu fosse seu filho.

A vida e feita de algumas injusticas e eu nao merecia ter ficado orfao novameente mas foi essa a vontade do Criador, nada mais se pode fazer, o meu "Pai Ingles" voltou a casa do Pai de todos nos.

Este nao sera um texto muito extenso mas no mesmo apenas quero deixar claro que na minha opniao a vida e feita de escolhas e somos nos quem as fazemos, quem toma as decisoes, podem por vezes ate parecer erradas mas nem sempre o sao.

O que podia eu fazer quando os meus me desprezaram, viraram as costas quando eu mais precisei depois de tudo em que os ajudei. Os meus amigos mais intimos e chegados, hoje sao os meus familiares, e os meus familiares de sangue sao pessoas, que prefiro nem ver a minha frente, a nao ser que fosse para fazermos contas do que me devem e me pagarem.

Sei que muitos passaram por uma experiencia semelhante e tem alguem amigo como sendo uma segunda mae, pai ou como um irmao.

No dia do funeral do meu "Pai Ingles" la estava eu no cemiterio depois de uma viagem de autocarro nao muito longa. Senti desde da primeira hora que tinha que fazer aquilo, era meu desejo faze-lo. Ja nao foi possivel ve-lo, o caixao nao foi aberto mas sinto que foi uma bencao ter partilhado muitos momentos de mais de duas decadas da minha vida com este homem.

Chegou um momento que nao me importo mais se estou afastado da minha familia de sangue. A culpa nao foi minha e como disse, deviam era de me pagar o que devem.

Em relacao a alguns amigos vou continua-los a ter como uma familia e penso que e assim que deve ser em vez de andarmos com guerras, invejas e odios, um dia a justica sera feita.

Dois momentos ficaram na minha memoria do funeral deste meu "Pai" por emprestimo. Ja no cemiterio quando me foram buscar ao grupo dos presentes para jogar um pouco de terra para a cova onde o caixao ja se encontrava e depois veio a agora viuva minha "Mae Inglesa" agradecer me por ter vindo e terminamos num emocionante abraco, sentiamos a mesma dor, a mesma perda ainda que de formas diferentes.

O segundo momento foi ja no Pub onde foi feito o encontro de convivio para se ir comer e beber qualquer coisa e lembrar, recordar o falecido (e tradicao aqui fazer-se isso) a viuva chamar-me e apresentar me aos pais do falecido. Entao vi-me a ser cumprimentado por um casal de ingleses certamente a aproximarem se dos 90 anos a agradecerem me por tudo o que eu tinha escrito de bom na internet nos ultimos dias acerca do filho, por sinal filho unico.

Ja na estacao de autocarros para voltar para casa ficou prometido que iriamos manter o contacto e que nao nos iriamos afastar. Seria impossivel faze-lo afastar-me de quem faz parte dos melhores e momentos mais importantes da minha vida.

                                                                                                   Manuel Goncalves

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