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quarta-feira, 25 de maio de 2022

O Grande Amor da Minha Vida



Ele era um tradicional homem solitario e solteirao a caminho dos cinquenta anos, embora ainda lhe faltassem alguns aninhos para atingir essa meta, pensava ele sorridente.

Os vizinhos pouco sabiam de si mas nada lhe tinham a apontar e respeitavam-no imenso. Era bem educado embora de poucas palavras. Alguns vizinhos nem o seu nome sabiam, mas o mais importante era saber-se que era alguem que jamais causara o mais pequeno problema e ainda era amigo de ajudar quando alguem precisava. Igualmente sabiam que era um homem que era muito solitario e estava sempre sozinho, caminhava sempre sozinho, sobretudo quando sai-a de casa para ir trabalhar.

Quando se chegava aquela idade sozinho e sem ninguem era de questionar qual a razao? Quem teria sido o grande amor da sua vida? Isso jamais fora revelado e nem os amigos mais intimos que eram poucos e os familiares mais proximos que nao eram igualmente de facto muitos o sabiam. Ricardo era um homem um pouco frio, nao tinha por habito expressar muitos sentimentos publicamente e quando abordavam o tema simplesmente desviava o assumto ou simplesmente se afastava.

Quem teria sido o grande amor daquele homem quarentao que era tao bom cozinheiro? Quem teria sido o grande amor daquele homem tao inteligente e culto que tinha a casa cheia de livros? Era de se questionar se a sua casa seria uma Biblioteca publica. Quem teria sido o grande amor da vida daquele homem que poucos amigos tinha no facebook e raramente aceitava ou enviava um pedido de amizade?

Nao seria dificil de calcular que tivera algum problema amoroso, algum desilusao que o fizera nao mais acreditar no amor da mesma forma que um dia acreditara. Talvez ate uma perda enorme ou algo assim. Na sua vida amorosa quase tudo era um enorme misterio como muitas outras coisas o eram.

Tinha uma vida que nao se podia dizer ser ma, o seu nivel de vida estava bem acima da classe media e muito distante daqueles que pareciam ser os mais necessitados. Vestia roupas caras e estava sempre apresentavel, parecia ser um homem que apesar de tudo gostava de chamar a atencao no dia-a-dia o pior viria depois quando viam que nao era pessoa que gostava de ter muitas convivencias.

Jamais falara nisso com quem quer que fosse mas de facto tivera um grande amor. Sonia como podia esquecer Sonia e tudo o que haviam vivido. Aquela mulher que mais parecia ser uma reencarnacao de Afrodite, que tudo em si respirava beleza, tinha de facto sido o seu grande amor, era-o ainda de facto.

A vida era cruel e ele amava talvez um fantasma no dia do seu aniversario nao se esquecia de ir ao cemiterio colocar um ramo de rosas vermelhas igual ao que todos os anos lhe oferecia na mesma data. Ficava parado, diante da sua campa a olhar e a recordar as melhores memorias que podia reviver dela, os melhores momentos, tudo ate chegar aquela maldita manha.

Naquela manha tinham feito amor intensamente antes de se separarem para irem para mais um dia de trabalho. Pareciam mais apaixonados que nunca sobretudo porque ele ganhara coragem e na noite anterior em um jantar romantico a pedira em casamento e para sua maior alegria... o pedido como nao podia deixar de ser fora, aceite. Estavam oficialmente noivos,,, finalmente pensara ele.

Ela sorrira e falara-lhe o quanto esperara impacientemente por aquele momento. Era o sonho de qualquer mulher chegar ao altar da igreja vestida de branco para se casar com o homem que amava e no caso dela o homem era ele.

Eles formavam um casal perfeito um Advogado que iria casar com uma Medica esperava-lhes um futuro brilante e feliz, esperava-lhes muitos momentos de felicidade mas a realidade iria ser outra bem diferente... infelizmente o sonho de ambos para alem de nao se realizar se iria transformar em um pesadelo.

O sinal do semaforo ficara vermelho e ela ia atravessar a passadeira. A manha estava chuvosa e ela optara por nao ir de carro, assustava-a o facto de conduzir quando o piso do asfalto estava assim tao escorregadio, preferia apanhar o autocarro e depois caminhar um pouco ainda que debaixo de chuva mas bem agassalhada. Tirara a carta de conducao a pouco tempo, tinha ainda muitos receios e medos da sua falta de experiencia e pratica a conduzir.

Ele oferecera-se para lhe dar boleia e a ir levar ao trabalho. Ela teimosamente recusara a oferta de boleia e ele desde daquele momento toda a vida pensara que deveria ter insistido, deveria ter sido mais teimoso que ela, nao o fora, fora incapaz de o ser e resultado estava a vista.

Quando ela ia a atravessar a passadeira depois de sair na sua paragem de autocarros um automobilista irresponsavel que ia em excesso de velocidade e com uma taxa de alcool no sangue bem acima do que era permitido fora incapaz de conseguir travar. O corpo dela fora cuspido por varios metros e quando os bombeiros e paramedicos chegaram apenas lhes restara declarar o obito daquela vitima mortal que estava deitada ja sem vida diante daquele banho de sangue enquanto o causador de tudo aquilo estava ali com vida, unicamente esperando que a Policia chegasse e o levassem. A vida era de facto injusta e cruel pensavam as testemunhas oculares que tinham assistido a tudo.

Rodrigo ficara sem reaccao ao receber a noticia, quisera inclusive acabar com a propria vida mas antes, primeiro antes que tudo tinha desejo, fome de vinganca. Como Advogado nao ia deixar aquilo ficar assim e a morte da sua amada ia sair bem cara ao causador da mesma.

Em Tribunal com ele tornando-se Advogado da acusacao facilmente se podia adivinhar que o causador da morte de Sonia nao iria sair impune e talvez ate apanhasse uma pena mais pesada do que seria de esperar. Conducao imprudente perante a forma como estava o piso naquela manha, conducao acima de tudo perigosa devido ao excesso de velocidade, mas o mais grave ainda estava para ser julgado. Conduzir embriagado e por fim com um carro que nem seguro tinha.

Rodrigo sorriu ao ouvir a sentenca e tinha sido aquele pelas razoes que eram evidentes um dos casos mais importantes da sua vida. O motivo de ele sorrir nao era apenas o de ter vencido a causa mas de a justica ter sido feita embora nada trouxesse a vida da sua amada de volta mas realmente aquela sentenca de doze anos de cadeia era um pouco como que fazer-se justica.

Rodrigo tentara mas nunca mais conseguira ser o mesmo e aquele promissor Advogado foi caindo em decadencia, perdendo causas em que a vitoria era quase certa. Perdendo a vontade de viver e o interesse por tudo. Afastou-se por um tempos e quando regressou so aceitava causas em que iria defender pessoas carenciadas sem condicoes de pagar a um outro Advogado. Chegara a ter causas em que defendia pessoas sem ganhar um unico tostao.

Estivera assim muitos anos e so a morte dos progenitores quase que em simultaneo o levaram a entender de uma vez por todas que era hora de comecar a viver a sua vida novamente mesmo que sentisse que muito de si ja nao vivia, que uma parte de si, talvez ate a maioria do seu interior morrera juntamente com Sonia.

Foi um dia em que a fora visitar a sua campa no cemiterio que sentia que talvez tivesse cometido o maior erro da sua vida. Ela nao o ia querer ver assim quase sem vida, entregue ao alcool e a viver sem quanquer interesse pela vida. Acontecera o milagre que iria comecar de novo com uma pequena mudanca na sua vida e com a qual ele iria comecar a habituar-se a viver, a viver sem ela, sem aquele que fora e ainda era o grande amor da sua vida.

                                                                                                      Manuel Goncalves 

 

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